quarta-feira, 8 de julho de 2009

Garrastazu

Esses dias eu fiquei pensando em como temos necessidade de expor nossas vidas, nossos sentimentos, nossas dúvidas e nossos medos. Minha irmã não só se abriu para um desconhecido em uma mesa de bar, como publicou isso. A gente faz esse tipo de coisa o tempo todo, conta nossa vida inteira pra alguém e depois tem a cara-de-pau de dizer "Ah, mas o Fulano é de confiança, a Beltrana é minha amiga íntima. MENTIRA! É a língua que parece que tem formiga. Tem gente que até toma umas pra justificar depois, já sabendo que vai ser repreendido por ter falado mais que a boca. Tem aquela de "quem tem boca vai a Roma", mas quem tem boca também se afoga no mar, toma porrada e vai parar no hospital, porque, afinal, podem sair cobras e lagartos dessa boquinha santa, né mes? Agora já existe até desabafo virtual - se a pessoa está longe, a gente simplesmente manda um email gigantesco pra ela tentando lembrar com detalhes todas as nossas velhas e novas peripécias. E se ninguém responde, a gente vai mais além: CRIA UM BLOG pra lavar a roupa em praça pública, até alguém resolver acender um cigarrinho, puxar um banquinho e prestar atenção nas nossas confissões universais. Conversei isso com um amigo meu muito sábio, de codinome assaz interessante, e ele me disse que é uma bobagem ter essa preocupação, porque se a vida de todo mundo é igual, qual é o problema em contar a sua? Nada do que você disser há de causar qualquer tipo de surpresa, porque com certeza alguém já passou por isso antes de você, e toda a torcida do Galo (gente pra carvalho) vai se identificar com seu fantástico mundo de Bobby, que você achava que era tão seu... É... quem sabe é isso mesmo? Pode ser, né?
NÃO PODE, NADA!!! NÃO PODE, NÃO, NADA DISSO!!! Que isso, a minha vida é minha, uai, só minha, e tuuuuuudo que acontece nela é diferente - mesmo que as raízes das questões possam ser as mesmas, a frutinha que nasce no meu pé é bem diferente da sua, viu? Analista pode até ajudar, mas da sua frutinha quem sabe é você, e é você quem tem que descobrir se come, se dá pra alguém, se espera apodrecer e joga fora ou se espera apodrecer pra jogar em alguém. Nesse meio-tempo, a gente se joga e depois recolhe os caquinhos; anda pé-ante-pé até o quarto da irmã só pra acender a luz e gritar bem alto; aproveita os piques de luz e realiza atividades ilícitas no escuro... a gente vai andando na corda bamba e pensando que se cair, fazer o quê? E assim caminhamos, e jogamos esse balde de roupa suja nas costas de um desconhecido, ou de um conhecido, ou de Deus, pra dar conta desse bate-e-sopra. Ainda bem que as minhas mentiras e verdades estão bem escondidas, dentro do meu garrastazu...
* Nota: No livro de Nelson Motta sobre Tim Maia, o autor menciona que garrastazu era a palavra utilizada pelo doidão pra definir os esconderijos que arrumava em casas de show e lugares em que fosse tocar, onde ele podia fumar todos os bauretes do mundo sem ser incomodado pela polícia. Melhor que isso só o "Sexy People"!

4 comentários:

  1. PRIMEIRO COMENTÁRIO... UHUUUU.... ADOREI OS VÁRIOS RECADOS DADOS NO TEXTO!

    BRUNO COIMBRA

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  2. UHUUUUUUUUUU, adorei te ver por aqui, priminho!!! Mil beijos!

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  3. Hei Érika!
    Legal demais o blog!
    Outro dia descobri pq algumas amigas e amigos me confidenciam suas inquietudes. Não é porque eu sou um bom conselheiro, geralmente não falo nada, é porque eu esqueço tudo no dia seguinte. Uma semana depois a pessoa chega:
    -Ah, sabe aquele lance que te falei?
    -Que lance?
    -Porra Fidel, conversamos horas outro dia, te contei daquele confusão...
    -Ah sei... (tentando lembrar)
    -Depois que conversei com vc conclui que era melhor deixar quieto, ele não merece.
    E eu continuo tentando lembrar do que se trata!
    ahahahahahahahahahahaha...
    Viva Tim Maia, viva Érika Amancio.
    Bjo,
    Fidel

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  4. Mas que visita boa, sô! Essa é uma ótima razão pra ser um bom confidente - pense que vc nunca vai precisar ter medo de ser infeliz ao deixar escapar uma informação... ;) Bjinhos!
    PS: Adorei seu conto da Cibele!!!

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