terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Convalescência

É bizarro assistir ao dueto prazer e culpa como mero espectador. Quase tão estranho quanto aquelas mulheres que usam calcinha fio dental com calça de viscolycra e acham que todo mundo tem algo melhor pra fazer do que notar aquilo. Incômodo como passar alguns bons minutos no balcão da pastelaria esperando pelo seu pedido e não ouvir nenhum por favor ou obrigado nesse intervalo. É como os alunos do cursinho de inglês classe AB, que de tão mal criados acham educado quando os funcionários respondem à sua indiferença. Comer um pastel enquanto um moço cheio de viço - e Madonna no ouvido - passa pingando pela estrada afora é um sacrilégio que pede Coca zero com trinta minutos de esteira, quinze de bicicleta e uma nova avaliação física. O lema é seguir o que manda o coração, e sem muito conhecimento de biologia é fácil confundi-lo com o amigo logo abaixo que, você acredita, tem quase a mesma proporção. Nos embalos de domingo à tarde, viajar é igual a  mergulhar de cabeça nos quitutes de uma terra distante, ainda que congelados e made in somewhere else. A anarquia é tamanha que os propósitos de outrora se perdem como os garotos presos à Caverna do Dragão, até aquele velho par de jeans denunciar cada flácido exagero. Frente ao espelho, potranca ou pelanca soam como uma palavra só, a render as outras como dor de cabeça em dia de ressaca. Sem exercício ou alegria que o saúde, o carro te abraça livre de julgamentos; ao som de You only live once, aquele cara de camisa preta fica parado enquanto você passa, e você acena enquanto pensa que ele está mais bonito do que nunca, porque certamente se encontrou na vida, ele que era tão franzino e inexpressivo e ainda assim te encantava. Você tenta guardar aquela imagem com cuidado, com força, quer que ela rodopie outras tantas vezes pela sua cabeça, até você esquecer que na verdade nunca se lembrou daquela cara desde que fechou-se a porta; até você lembrar que sempre se esquece que prazer e culpa soam como uma palavra só, a render as outras como dor no olho em dia de muito sol. Até você esquecer que se lembra; lembrar que não se pode mais esquecer coisa alguma. A noite cai; é hora de voltar para casa.

Convalescência

É bizarro assistir ao dueto prazer e culpa como mero espectador. Quase tão estranho quanto aquelas mulheres que usam calcinha fio dental com calça de viscolycra e acham que todo mundo tem algo melhor pra fazer do que notar aquilo. Incômodo como passar alguns bons minutos no balcão da pastelaria esperando pelo seu pedido e não ouvir nenhum por favor ou obrigado nesse intervalo. É como os alunos do cursinho de inglês classe AB, que de tão mal criados acham educado quando os funcionários respondem à sua indiferença. Comer um pastel enquanto um moço cheio de viço - e Madonna no ouvido - passa pingando pela estrada afora é um sacrilégio que pede Coca zero com trinta minutos de esteira, quinze de bicicleta e uma nova avaliação física. O lema é seguir o que manda o coração, e sem muito conhecimento de biologia é fácil confundi-lo com o amigo logo abaixo que, você acredita, tem quase a mesma proporção. Nos embalos de domingo à tarde, viajar é igual a  mergulhar de cabeça nos quitutes de uma terra distante, ainda que congelados e made in somewhere else. A anarquia é tamanha que os propósitos de outrora se perdem como os garotos presos à Caverna do Dragão, até aquele velho par de jeans denunciar cada flácido exagero. Frente ao espelho, potranca ou pelanca soam como uma palavra só, a render as outras como dor de cabeça em dia de ressaca. Sem exercício ou alegria que o saúde, o carro te abraça livre de julgamentos; ao som de You only live once, aquele cara de camisa preta fica parado enquanto você passa, e você acena enquanto pensa que ele está mais bonito do que nunca, porque certamente se encontrou na vida, ele que era tão franzino e inexpressivo e ainda assim te encantava. Você tenta guardar aquela imagem com cuidado, com força, quer que ela rodopie outras tantas vezes pela sua cabeça, até você esquecer que na verdade nunca se lembrou daquela cara desde que fechou-se a porta; até você lembrar que sempre se esquece que prazer e culpa soam como uma palavra só, a render as outras como dor no olho em dia de muito sol. Até você esquecer que se lembra; lembrar que não se pode mais esquecer coisa alguma. A noite cai; é hora de voltar para casa.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Dia 223

Olá, queridos todos! Nas férias as coisas vão um pouco devagar, mas a gente acaba correndo atrás do prejuízo... Em homenagem à minha linda amiga Maria do Bairro, à Itália e ao amor, uma música maravilhosa pra sonhar ao som da chuva num domingo assim:

I wish I knew how it would feel to be free

Dia 223

Olá, queridos todos! Nas férias as coisas vão um pouco devagar, mas a gente acaba correndo atrás do prejuízo... Em homenagem à minha linda amiga Maria do Bairro, à Itália e ao amor, uma música maravilhosa pra sonhar ao som da chuva num domingo assim:
I wish I knew how it would feel to be free

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pra entender de mulheres

Sempre achei engraçado quando alguns caras suspiravam e lamentavam indignados que não conseguem definitivamente entender as mulheres. É verdade que de mulher pra mulher, as coisas não são lá tão previsíveis, admito. Hoje, por exemplo, numa bela tarde de sol e calor, estava eu dirigindo pela Contorno, quando fui interceptada/interrompida/surpreendida por um Camaro amarelo. Quando vejo uma obra de arte  desse calibre, não me ocorre conhecer o dono dele ou pagar de gatinha no banco do carona; em meus devaneios mais materialistas, sou obviamente a dona do Camaro amarelo, envolvida pelo banco de couro, volante girando fácil na mão esquerda, motor que canta sua música preferida a cada vez que você acelera...  Será que isso é um sinal de que eu sou o homem da relação? Que nada! É só mais um tipo de mulher pra vc tentar entender...

Pra entender de mulheres

Sempre achei engraçado quando alguns caras suspiravam e lamentavam indignados que não conseguem definitivamente entender as mulheres. É verdade que de mulher pra mulher, as coisas não são lá tão previsíveis, admito. Hoje, por exemplo, numa bela tarde de sol e calor, estava eu dirigindo pela Contorno, quando fui interceptada/interrompida/surpreendida por um Camaro amarelo. Quando vejo uma obra de arte  desse calibre, não me ocorre conhecer o dono dele ou pagar de gatinha no banco do carona; em meus devaneios mais materialistas, sou obviamente a dona do Camaro amarelo, envolvida pelo banco de couro, volante girando fácil na mão esquerda, motor que canta sua música preferida a cada vez que você acelera...  Será que isso é um sinal de que eu sou o homem da relação? Que nada! É só mais um tipo de mulher pra vc tentar entender...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dia 222

Drive
Música 3: Real hero

PS: Posso só falar que esse Ryan Gosling é foda? Com PH!

Dia 222

Drive
Música 3: Real hero

PS: Posso só falar que esse Ryan Gosling é foda? Com PH!

Dia 221

Drive
2a música: Under your spell

Dia 221

Drive
2a música: Under your spell

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Dia 220

Um filme surpreendente, maravilhoso na essência da palavra.

Em sua homenagem, bits da trilha sonora que também achei muito interessante:

Drive
1a música: Nightcall

Dia 220

Um filme surpreendente, maravilhoso na essência da palavra.

Em sua homenagem, bits da trilha sonora que também achei muito interessante:

Drive
1a música: Nightcall

Salto alto

Essa noite sonhei com você. Sua silhueta surgia em tons diferentes ao longe, e as cores de sua pele se esvaíam em meio à areia branca. Sua sombra caminhava devagar, ginga doce e sorrateira ao barulho do vento. Sua presença roubava a cena sem pretensão alguma; sua carcaça voraz se aproximava... mas não fiquei pra ver o que acontecia. Fui logo abrindo os olhos, disse em voz alta meio suspirado Ai, mas que perda de tempo e num instante já apagava um cigarro lá de cima do meu salto alto, completamente imersa em uma nova história, fazendo outra coisa que não te interessa.

Salto alto

Essa noite sonhei com você. Sua silhueta surgia em tons diferentes ao longe, e as cores de sua pele se esvaíam em meio à areia branca. Sua sombra caminhava devagar, ginga doce e sorrateira ao barulho do vento. Sua presença roubava a cena sem pretensão alguma; sua carcaça voraz se aproximava... mas não fiquei pra ver o que acontecia. Fui logo abrindo os olhos, disse em voz alta meio suspirado Ai, mas que perda de tempo e num instante já apagava um cigarro lá de cima do meu salto alto, completamente imersa em uma nova história, fazendo outra coisa que não te interessa.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Dia 219

Sorry, but I don't feel anything... Not even when you try to reach me in your dreams, or when you insist on standing there, looking at me - I don't see it at all; I was once what you seem to hate: intense, dellusional, sorry for myself (suffering for a plot that I alone had created) until I got back to my old motto - I don't care, and don't expect anybody to do it for me. Today I woke up thinking of last year and I realised how productive it had been (specially compared to the previous one) just because I decided to suffocate my essence. After endless attempts, I finally managed to stop wanting. Hoping. Needing. Yelling. Losing. Accept. Adapt. Change. Grow up!, I told myself - and like magic, the ground under my feet started spinning, the air I breathe got scentless. There ain't got no room for weeping in real life - even for a woman.


Dia 219

Sorry, but I don't feel anything... Not even when you try to reach me in your dreams, or when you insist on standing there, looking at me - I don't see it at all; I was once what you seem to hate: intense, dellusional, sorry for myself (suffering for a plot that I alone had created) until I got back to my old motto - I don't care, and don't expect anybody to do it for me. Today I woke up thinking of last year and I realised how productive it had been (specially compared to the previous one) just because I decided to suffocate my essence. After endless attempts, I finally managed to stop wanting. Hoping. Needing. Yelling. Losing. Accept. Adapt. Change. Grow up!, I told myself - and like magic, the ground under my feet started spinning, the air I breathe got scentless. There ain't got no room for weeping in real life - even for a woman.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Dia 218

Apologias à parte, essa música é o máximo!!! Com vcs, MINHA GALERA!



Dia 218

Apologias à parte, essa música é o máximo!!! Com vcs, MINHA GALERA!



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Dia 217

Mais uma música diretamente da balada suíça:

Brigitte, "Battez vous"

Bom ou não? Eu adorei...

Dia 217

Mais uma música diretamente da balada suíça:

Brigitte, "Battez vous"

Bom ou não? Eu adorei...

domingo, 15 de janeiro de 2012

Dia 216

Para que se aprenda uma língua, só é necessário uma coisa na verdade: PROPÓSITO. Eu tenho um propósito para aprender francês agora: entender músicas belíssimas como essa. E para as pessoas que, como eu, não são exatamente tecnológicas mas têm um Itouch ou um Iphone, existe um aplicativo chamado Shazam que identifica a música que está tocando no ambiente e dá o nome e o cantor. Foi por causa disso que vou ter a oportunidade de postar uma música belíssima no dia de hoje, inverno bucólico cheio de sol...

Beijos a todos!


(te amo ao vento - !!!!!!!!!)

Dia 216

Para que se aprenda uma língua, só é necessário uma coisa na verdade: PROPÓSITO. Eu tenho um propósito para aprender francês agora: entender músicas belíssimas como essa. E para as pessoas que, como eu, não são exatamente tecnológicas mas têm um Itouch ou um Iphone, existe um aplicativo chamado Shazam que identifica a música que está tocando no ambiente e dá o nome e o cantor. Foi por causa disso que vou ter a oportunidade de postar uma música belíssima no dia de hoje, inverno bucólico cheio de sol...

Beijos a todos!


(te amo ao vento - !!!!!!!!!)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Dia 215

Quando vc pensa na Suíça, o que vem na sua cabeça? Queijos mil, chocolates, montanhas de gelo, fondue e muita gente falando francês (ou italiano e alemão), certo? Errado! Diretamente de Bulle, com participação especialíssima de minha amiga Milena FODA Antunes, a hell of a host, olha a trilha sonora que iniciou nosso dia de hoje:


Enjoy - and drop it like it's hot!!!

Dia 215

Quando vc pensa na Suíça, o que vem na sua cabeça? Queijos mil, chocolates, montanhas de gelo, fondue e muita gente falando francês (ou italiano e alemão), certo? Errado! Diretamente de Bulle, com participação especialíssima de minha amiga Milena FODA Antunes, a hell of a host, olha a trilha sonora que iniciou nosso dia de hoje:


Enjoy - and drop it like it's hot!!!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Dia 214

Closing time
Every new beginning comes from some other beginning's end

I know who I want to take me home. You?

Dia 214

Closing time
Every new beginning comes from some other beginning's end

I know who I want to take me home. You?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Roda da fortuna

Eu poderia começar essa história dizendo que era uma vez, em um reino muito, muito distante, uma bela princesa, que um dia teve a urgência de saber sobre seu futuro. Erros eram uma constante para ela, mas nada poderia sair errado dessa vez: a princesa estava prestes a se casar. Sua vida sempre fora recheada de perigos e todo o tipo de surpresas - por esse motivo, nossa princesa havia decidido que nunca a enfrentaria só. Ela chorou, rezou e esperou, até que um dia concluiu o óbvio: precisava descobrir o que aconteceria depois. 

Poderia continuar dizendo que o motivo de tal aflição era a quantidade de pretendentes. Havia o amante latino, o namorado antigo e o príncipe encantado - e era sabido que o curso natural das coisas é geralmente ficar com o certo  e sonhar esporadicamente com o duvidoso. Isso certamente poderia ter acontecido sem prejuízo a parte alguma, mas a princesa não se conformava com esse final nada apropriado para um conto de fadas que se preze. Atendendo às recomendações de uma amiga experiente em questões que não se explicam - e sentindo-se pateticamente ludibriada de antemão - ela saiu de casa pela segunda-feira afora e só parou de caminhar quando viu à sua frente uma porta amarela. A campainha soou, uma voz ecoou - a porta se abriu e a princesa sem demora entrou.

Poderia dizer a vocês que em poucos minutos a princesa se encontrava com Madame Fortunata, que com avidez gatuna e coloridos balangandãs a encantava. A névoa, os aromas, os quadros, as cartas, tudo parecia um sonho próximo, onde não se faz muita coisa, só se escuta.

"São três", disse a velha, que de bonito só tinha o ouro dos dentes. "Um vai tão rápido quanto chegou - pedaço de carne, coração de vidro. Pena - bonito que só ele".

Fortunata deu uma baforada no charuto, colocou mais uma carta na mesa e prosseguiu:

"Esse é o de sempre, de todo dia. Fraco - um inútil, coitado. Precisa de rédea, de direção, força pra pôr esse sujeito pra caminhar. Trabalhar por dois."

A carta seguinte causou na cigana reação estranha. Ela pigarreou, colocou e tirou os óculos cobertos de gordura. Levantou-se. "Vou pegar um copo d'água", disse cambaleando pelo cômodo.

Ao retornar, ainda com as mãos trêmulas e a feição abatida, ela deu um longo suspiro antes de proferir o veredito.

"Está claro que o melhor a fazer é casar com seu Romeu, o prometido a você pela Lua e pelas estrelas. Seja forte e tenha paciência, que Nosso Senhor há de cuidar do resto."

A princesa esboçou um gesto, mas foi bruscamente interrompida:

"Sem mais, minha filha. O terceiro cavalheiro nutre por sua pessoa sincero respeito, nada mais. Trate de esquecê-lo, porque em breve ele não se lembrará: pensar nele só vai lhe fazer sofrer. Ame e respeite seu marido até que ele se vá, e então prepare-se para unir-se a ele na eternidade."

A princesa não disse nada; não retrucou; não chorou; não discordou. Casou-se com seu Romeu e passou o resto de sua longa vida ao lado dele. Foi uma vida tranquila e sem emoções, como manda quem pode e obedece quem tem juízo. O marido se foi e com o tempo a princesa voltou a sonhar com o terceiro cavalheiro. Por onde andaria? Será que se lembrava dela? Subitamente se recordou das palavras de Madame Fortunata e tratou de calar todo e qualquer pensamento. Devotou-se à caridade e esperou pelo marido até que ele a chamasse.

É claro que Madame Fortunata viu algo naquela segunda-feira branca como a noite, você deve estar pensando. O terceiro cavalheiro!, você se lembra. Ele deveria ter sido o escolhido, você conclui. Eu poderia concordar, e acrescentar que ele abriria a porta da novidade e a cruzaria com a princesa em seus braços, olhos negros radiantes de contentamento. Mas por que ela teria ocultado a verdade? Talvez por que o amor impossível é o único verdadeiramente romântico, ou porque o amor precisa ser consumido com moderação para que seja eterno enquanto dure. Como é que vamos saber?

Sabendo, ora! O fato é que nossa cartomante foi vítima de um mal estar corriqueiro e por isso precisou se ausentar por alguns minutos. Ela não viu nada demais porque não viu nada - não se prevê o futuro, não se evita o infortúnio com búzios supersônicos. Ela sabia... e a princesa também. O que ela leu é o que entendemos por bom senso, é o que leva pessoas como eu e você a terem uma casa, um carro, um emprego, amigos, uma bela família e sopa morna no prato todos os dias às sete e trinta e cinco.

Eu poderia continuar estendendo minhas entrelinhas de indignação lacônica, mas prefiro contar o final da história: o primeiro camarada é um figurante, o segundo toma sopa morna e o terceiro cavalheiro usa drogas e não tem onde cair morto. Madame Fortunata é, obviamente, a mãe da princesa ;)

 

Roda da fortuna

Eu poderia começar essa história dizendo que era uma vez, em um reino muito, muito distante, uma bela princesa, que um dia teve a urgência de saber sobre seu futuro. Erros eram uma constante para ela, mas nada poderia sair errado dessa vez: a princesa estava prestes a se casar. Sua vida sempre fora recheada de perigos e todo o tipo de surpresas - por esse motivo, nossa princesa havia decidido que nunca a enfrentaria só. Ela chorou, rezou e esperou, até que um dia concluiu o óbvio: precisava descobrir o que aconteceria depois. 

Poderia continuar dizendo que o motivo de tal aflição era a quantidade de pretendentes. Havia o amante latino, o namorado antigo e o príncipe encantado - e era sabido que o curso natural das coisas é geralmente ficar com o certo  e sonhar esporadicamente com o duvidoso. Isso certamente poderia ter acontecido sem prejuízo a parte alguma, mas a princesa não se conformava com esse final nada apropriado para um conto de fadas que se preze. Atendendo às recomendações de uma amiga experiente em questões que não se explicam - e sentindo-se pateticamente ludibriada de antemão - ela saiu de casa pela segunda-feira afora e só parou de caminhar quando viu à sua frente uma porta amarela. A campainha soou, uma voz ecoou - a porta se abriu e a princesa sem demora entrou.

Poderia dizer a vocês que em poucos minutos a princesa se encontrava com Madame Fortunata, que com avidez gatuna e coloridos balangandãs a encantava. A névoa, os aromas, os quadros, as cartas, tudo parecia um sonho próximo, onde não se faz muita coisa, só se escuta.

"São três", disse a velha, que de bonito só tinha o ouro dos dentes. "Um vai tão rápido quanto chegou - pedaço de carne, coração de vidro. Pena - bonito que só ele".

Fortunata deu uma baforada no charuto, colocou mais uma carta na mesa e prosseguiu:

"Esse é o de sempre, de todo dia. Fraco - um inútil, coitado. Precisa de rédea, de direção, força pra pôr esse sujeito pra caminhar. Trabalhar por dois."

A carta seguinte causou na cigana reação estranha. Ela pigarreou, colocou e tirou os óculos cobertos de gordura. Levantou-se. "Vou pegar um copo d'água", disse cambaleando pelo cômodo.

Ao retornar, ainda com as mãos trêmulas e a feição abatida, ela deu um longo suspiro antes de proferir o veredito.

"Está claro que o melhor a fazer é casar com seu Romeu, o prometido a você pela Lua e pelas estrelas. Seja forte e tenha paciência, que Nosso Senhor há de cuidar do resto."

A princesa esboçou um gesto, mas foi bruscamente interrompida:

"Sem mais, minha filha. O terceiro cavalheiro nutre por sua pessoa sincero respeito, nada mais. Trate de esquecê-lo, porque em breve ele não se lembrará: pensar nele só vai lhe fazer sofrer. Ame e respeite seu marido até que ele se vá, e então prepare-se para unir-se a ele na eternidade."

A princesa não disse nada; não retrucou; não chorou; não discordou. Casou-se com seu Romeu e passou o resto de sua longa vida ao lado dele. Foi uma vida tranquila e sem emoções, como manda quem pode e obedece quem tem juízo. O marido se foi e com o tempo a princesa voltou a sonhar com o terceiro cavalheiro. Por onde andaria? Será que se lembrava dela? Subitamente se recordou das palavras de Madame Fortunata e tratou de calar todo e qualquer pensamento. Devotou-se à caridade e esperou pelo marido até que ele a chamasse.

É claro que Madame Fortunata viu algo naquela segunda-feira branca como a noite, você deve estar pensando. O terceiro cavalheiro!, você se lembra. Ele deveria ter sido o escolhido, você conclui. Eu poderia concordar, e acrescentar que ele abriria a porta da novidade e a cruzaria com a princesa em seus braços, olhos negros radiantes de contentamento. Mas por que ela teria ocultado a verdade? Talvez por que o amor impossível é o único verdadeiramente romântico, ou porque o amor precisa ser consumido com moderação para que seja eterno enquanto dure. Como é que vamos saber?

Sabendo, ora! O fato é que nossa cartomante foi vítima de um mal estar corriqueiro e por isso precisou se ausentar por alguns minutos. Ela não viu nada demais porque não viu nada - não se prevê o futuro, não se evita o infortúnio com búzios supersônicos. Ela sabia... e a princesa também. O que ela leu é o que entendemos por bom senso, é o que leva pessoas como eu e você a terem uma casa, um carro, um emprego, amigos, uma bela família e sopa morna no prato todos os dias às sete e trinta e cinco.

Eu poderia continuar estendendo minhas entrelinhas de indignação lacônica, mas prefiro contar o final da história: o primeiro camarada é um figurante, o segundo toma sopa morna e o terceiro cavalheiro usa drogas e não tem onde cair morto. Madame Fortunata é, obviamente, a mãe da princesa ;)

 

It girl

Querem ser
de um pouco
tudo;
esbaforir-se
e rir-se
ao mesmo tempo;
chorar dentro
de um copo sujo
em pensamento;
entender de moda
arte
poesia
teatro
decoração
e sorver
gotas finas
de terno
arrependimento;
colecionar anseios
decadências
devaneios
e clamar
por surdo
reconhecimento;
meia-noite à sós
meio-dia à forra:
desejo secreto
de viver
a mil por hora
com sistema
automático
de frenagem
e arrefecimento...

It girl

Querem ser
de um pouco
tudo;
esbaforir-se
e rir-se
ao mesmo tempo;
chorar dentro
de um copo sujo
em pensamento;
entender de moda
arte
poesia
teatro
decoração
e sorver
gotas finas
de terno
arrependimento;
colecionar anseios
decadências
devaneios
e clamar
por surdo
reconhecimento;
meia-noite à sós
meio-dia à forra:
desejo secreto
de viver
a mil por hora
com sistema
automático
de frenagem
e arrefecimento...

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dia 213

Ontem eu assisti ao filme "Namorados para sempre". Achei o nome em português tão absolutamente nada a ver com a proposta do filme que não entendi o que deve ter acontecido com a pessoa que traduziu. O título em inglês é muito mais fiel ("Blue Valentine", já que blue também significa "triste" - e é por isso que blues não é um estilo musical exatamente animado ;)) O filme começa triste, os personagens são tristes, a relação é triste, o romance é melancólico e tanto o cara quanto a mulher se apoiam um no outro pra continuarem seguindo viagem pela vida infeliz que traçaram desde a maternidade. Esse tipo de história me faz pensar em muita coisa, mas a principal delas é: se você olhar pela janela enquanto viaja, tudo continua igual, no mesmo lugar - quem vê a paisagem em movimento é você. Um simples giro de cabeça pode mudar uma vida inteira.  Intenção é para todos; transformação é privilégio de poucos.

You and me - essa música expressa bem a ideia do amor-muleta. Que ele não seja o seu...

Dia 213

Ontem eu assisti ao filme "Namorados para sempre". Achei o nome em português tão absolutamente nada a ver com a proposta do filme que não entendi o que deve ter acontecido com a pessoa que traduziu. O título em inglês é muito mais fiel ("Blue Valentine", já que blue também significa "triste" - e é por isso que blues não é um estilo musical exatamente animado ;)) O filme começa triste, os personagens são tristes, a relação é triste, o romance é melancólico e tanto o cara quanto a mulher se apoiam um no outro pra continuarem seguindo viagem pela vida infeliz que traçaram desde a maternidade. Esse tipo de história me faz pensar em muita coisa, mas a principal delas é: se você olhar pela janela enquanto viaja, tudo continua igual, no mesmo lugar - quem vê a paisagem em movimento é você. Um simples giro de cabeça pode mudar uma vida inteira.  Intenção é para todos; transformação é privilégio de poucos.

You and me - essa música expressa bem a ideia do amor-muleta. Que ele não seja o seu...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Dia 212

Strange song... Annoying... Too much screaming; too much noise; truly disturbing. I don't think I ever wanna listen to it again. The lyrics, however, are among the cleverest ever written - and imagining that some people go through so much to know their limits and go beyond them makes me wonder if it's been worth it...

Look at this with different eyes and tell me afterwards: isn't it true? is truth worth it?

She wants so much to please me she always does it right
She wants so much to please me all day and every night
She doesn't read the stars
She has no time for fate
She doesn't see the signs
She has no time to wait
She is trying to be the one for me
Trying to be enough for me
She is trying to be the one for me
Trying to be in touch
She is trying to be the one for me
Trying to be enough for me
She is trying to be the one for me
Trying to be in love
I want so much to need her I never turn away
I want so much to need her all night and every day
I never read the stars
I have no time for fate
I never see the signs
I have no time to wait
I am trying to be the one for her
Trying to be enough for her
I am trying to be the one for her
Trying to be in touch
I am trying to be the one for her
Trying to be enough for her
I am trying to be the one for her
Trying to be in love
We want so much to have this we hold each other tight
Yeah we want so much to have this always and everytime
But we don't need to read the stars
We don't need the time for fate
We don't need to see the signs
To know it's all too late
She will never be the one for me
She will never be enough
She will never be the one for me
We will never be in touch
I will never be the one for her
I will never be enough
I will never be the one for her
We will never be in love
We will never be in love
We will never be
In love.

Dia 212

Strange song... Annoying... Too much screaming; too much noise; truly disturbing. I don't think I ever wanna listen to it again. The lyrics, however, are among the cleverest ever written - and imagining that some people go through so much to know their limits and go beyond them makes me wonder if it's been worth it...

Look at this with different eyes and tell me afterwards: isn't it true? is truth worth it?

She wants so much to please me she always does it right
She wants so much to please me all day and every night
She doesn't read the stars
She has no time for fate
She doesn't see the signs
She has no time to wait
She is trying to be the one for me
Trying to be enough for me
She is trying to be the one for me
Trying to be in touch
She is trying to be the one for me
Trying to be enough for me
She is trying to be the one for me
Trying to be in love
I want so much to need her I never turn away
I want so much to need her all night and every day
I never read the stars
I have no time for fate
I never see the signs
I have no time to wait
I am trying to be the one for her
Trying to be enough for her
I am trying to be the one for her
Trying to be in touch
I am trying to be the one for her
Trying to be enough for her
I am trying to be the one for her
Trying to be in love
We want so much to have this we hold each other tight
Yeah we want so much to have this always and everytime
But we don't need to read the stars
We don't need the time for fate
We don't need to see the signs
To know it's all too late
She will never be the one for me
She will never be enough
She will never be the one for me
We will never be in touch
I will never be the one for her
I will never be enough
I will never be the one for her
We will never be in love
We will never be in love
We will never be
In love.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Dia 211

These seem to be the right guys to go on a jam session with!

I wish my enemies would turn into my teachers, but I don't seem to have any, so I really don't know, but it might increase the rumors that I'm misplaced - and have been since my birth...

Hey hey, what can I do, huh? I'm only loving... - and that's the truth.

Dia 211

These seem to be the right guys to go on a jam session with!

I wish my enemies would turn into my teachers, but I don't seem to have any, so I really don't know, but it might increase the rumors that I'm misplaced - and have been since my birth...

Hey hey, what can I do, huh? I'm only loving... - and that's the truth.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Dia 210

Sabe quando vc vê duas pessoas que deveriam ser parecidas e diz que só o branco do olho parece? Pois é, no meu caso com essa música, o que temos em comum é o marrom do olho - mas ela é bonitinha o suficiente pra eu colocá-la aqui no dia do meu aniversário:


E como não é todo dia que a gente faz 32, aí vai mais uma que me define melhor:


Modéstia mandou um beijo enorme láaaaaa de longe... Não pôde vir pro meu aniversário, humpf...



Dia 210

Sabe quando vc vê duas pessoas que deveriam ser parecidas e diz que só o branco do olho parece? Pois é, no meu caso com essa música, o que temos em comum é o marrom do olho - mas ela é bonitinha o suficiente pra eu colocá-la aqui no dia do meu aniversário:


E como não é todo dia que a gente faz 32, aí vai mais uma que me define melhor:


Modéstia mandou um beijo enorme láaaaaa de longe... Não pôde vir pro meu aniversário, humpf...



domingo, 1 de janeiro de 2012

Dia 209

Esse pode ser o dia 209 ou o primeiro do resto de sua vida "nova". Não se prometa nada mirabolante, esqueça as utopias que permeiam essa ou qualquer virada. Pense apenas que o ano começou e que com ele começa uma nova oportunidade de reciclar, de melhorar, de incorporar novas virtudes e cortar certos vícios do seu dia-a-dia. Faça um bazar entre amigas pra renovar seu guarda-roupa; invista em alguma coisa que você sente que vai fazer bem-feito; selecione as pessoas e os sonhos que você deseja manter esse ano, e aceite que pode estar na hora de parar de sonhar com alguém que não te quer ou com uma situação que não vai acontecer. A frase "nunca diga nunca" pode tanto ajudar como atrapalhar e te transformar num sujeito acomodado com a espera do que não vem. Acredite que Deus - ou qualquer força maior que você chama de eu interior, entre outros - está sempre disposto a te guiar rumo às melhores decisões. Acredite, faça... e tente entender que aquele outro caminho pode não ser o seu. Hoje é dia de pegar aquele caderninho que vai estar com você até o final do ano, respirar fundo, pedir proteção e escrever dez objetivos a serem alcançados em 2012. Pense em objetivos só seus, bem reais, capazes de acrescentar muito à sua vida. Pense em aproximar a pessoa que você é da que você quer ser, e não deixe a peteca cair. Lembre-se que o futuro é um reflexo do seu presente, por mais óbvio que isso possa parecer.

PS: Ligue o som ao fazer a lista - é ótimo pra entrar no clima - e não deixe de pegar aquele trem quando ele vier ;)

Dia 209

Esse pode ser o dia 209 ou o primeiro do resto de sua vida "nova". Não se prometa nada mirabolante, esqueça as utopias que permeiam essa ou qualquer virada. Pense apenas que o ano começou e que com ele começa uma nova oportunidade de reciclar, de melhorar, de incorporar novas virtudes e cortar certos vícios do seu dia-a-dia. Faça um bazar entre amigas pra renovar seu guarda-roupa; invista em alguma coisa que você sente que vai fazer bem-feito; selecione as pessoas e os sonhos que você deseja manter esse ano, e aceite que pode estar na hora de parar de sonhar com alguém que não te quer ou com uma situação que não vai acontecer. A frase "nunca diga nunca" pode tanto ajudar como atrapalhar e te transformar num sujeito acomodado com a espera do que não vem. Acredite que Deus - ou qualquer força maior que você chama de eu interior, entre outros - está sempre disposto a te guiar rumo às melhores decisões. Acredite, faça... e tente entender que aquele outro caminho pode não ser o seu. Hoje é dia de pegar aquele caderninho que vai estar com você até o final do ano, respirar fundo, pedir proteção e escrever dez objetivos a serem alcançados em 2012. Pense em objetivos só seus, bem reais, capazes de acrescentar muito à sua vida. Pense em aproximar a pessoa que você é da que você quer ser, e não deixe a peteca cair. Lembre-se que o futuro é um reflexo do seu presente, por mais óbvio que isso possa parecer.

PS: Ligue o som ao fazer a lista - é ótimo pra entrar no clima - e não deixe de pegar aquele trem quando ele vier ;)