domingo, 29 de agosto de 2010

Capítulo 19: November rain

Estava escuro. Frio. Ainda assim, ela caminhava. Cinco horas da tarde que mais pareciam dez. Vento de inflamar as orelhas. Velvet no talo fluindo lá dentro. Movia-se com dificuldade, repleta de roupas, a bolsa cheia de coisas - presa a pares de casacos e botas que pesavam como correntes. Nariz vermelho, cabelos desgrenhados, lábios rachados, olhos apertados, lacrimejantes. Sentia-se fraca, o tempo e a comida ruim haviam lhe tirado a saúde. Olhava pelo vidro do carro, e ele lhe devolvia a imagem da pele amarela, seca, dura. Toda ela endurecera. Tornara-se escrava de dias feios e noites sem estrelas. Enquanto caminhava, fazia força para carregar a própria vida nas costas. Lançava seus poucos quilos contra o vento, queixo para baixo, pobre de orgulho ou dignidade. A cada passo lembrava-se de casa - a cama macia, os livros, o som e a televisão... o sol. Nunca o sol havia tido tanto propósito. Há meses não colocava um vestido. Os dias e as noites tinham a mesma cor. As nuvens também sentiam frio, e só faziam chorar. Para não chorar, ela bebia. Bebia e corava, olhos obstinados e brilhantes; então era mesmo bonita... Não havia lugar para ela em nenhum lugar daquele lugar - o céu lhe dizia que não haveria em lugar algum. Pensou no porquê daquelas ruas frias correndo tão avidamente por suas veias. Destino? Coragem? Faltava-lhe muito de tudo. Sua educação sequer lhe rendia um pão ao final do dia. Penitência? Sem nunca ter podido dar-se ao luxo de ser mimada, reconheceu que aquela caminhada escura e fria às cinco horas era tão somente uma mudança consentida em sua história. Cerrou os dentes, encolheu-se toda e pediu ao pai de todas as coisas que lhe trouxesse calor. Permaneceu ali por mais alguns segundos, o corpo borbulhando em transe, silêncio total e absoluto. Desenrolou-se devagar, abriu os olhos. Sob o pé esquerdo, jazia tímida uma nota de vinte libras. Curvou-se em sua direção e foi surpreendida por um tapete vermelho logo à frente. Agradeceu ao pai por ter contribuído para colocá-la no mundo, à mãe por ter feito todo o resto. Sorriu e caminhou até o pub sem olhar para trás.

Capítulo 19: November rain

Estava escuro. Frio. Ainda assim, ela caminhava. Cinco horas da tarde que mais pareciam dez. Vento de inflamar as orelhas. Velvet no talo fluindo lá dentro. Movia-se com dificuldade, repleta de roupas, a bolsa cheia de coisas - presa a pares de casacos e botas que pesavam como correntes. Nariz vermelho, cabelos desgrenhados, lábios rachados, olhos apertados, lacrimejantes. Sentia-se fraca, o tempo e a comida ruim haviam lhe tirado a saúde. Olhava pelo vidro do carro, e ele lhe devolvia a imagem da pele amarela, seca, dura. Toda ela endurecera. Tornara-se escrava de dias feios e noites sem estrelas. Enquanto caminhava, fazia força para carregar a própria vida nas costas. Lançava seus poucos quilos contra o vento, queixo para baixo, pobre de orgulho ou dignidade. A cada passo lembrava-se de casa - a cama macia, os livros, o som e a televisão... o sol. Nunca o sol havia tido tanto propósito. Há meses não colocava um vestido. Os dias e as noites tinham a mesma cor. As nuvens também sentiam frio, e só faziam chorar. Para não chorar, ela bebia. Bebia e corava, olhos obstinados e brilhantes; então era mesmo bonita... Não havia lugar para ela em nenhum lugar daquele lugar - o céu lhe dizia que não haveria em lugar algum. Pensou no porquê daquelas ruas frias correndo tão avidamente por suas veias. Destino? Coragem? Faltava-lhe muito de tudo. Sua educação sequer lhe rendia um pão ao final do dia. Penitência? Sem nunca ter podido dar-se ao luxo de ser mimada, reconheceu que aquela caminhada escura e fria às cinco horas era tão somente uma mudança consentida em sua história. Cerrou os dentes, encolheu-se toda e pediu ao pai de todas as coisas que lhe trouxesse calor. Permaneceu ali por mais alguns segundos, o corpo borbulhando em transe, silêncio total e absoluto. Desenrolou-se devagar, abriu os olhos. Sob o pé esquerdo, jazia tímida uma nota de vinte libras. Curvou-se em sua direção e foi surpreendida por um tapete vermelho logo à frente. Agradeceu ao pai por ter contribuído para colocá-la no mundo, à mãe por ter feito todo o resto. Sorriu e caminhou até o pub sem olhar para trás.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Making sense

Nonsense. Yes, that's what I try to tell myself. All my thoughts have become a bunch of... nonsense. I think about my life, about what I've been doing lately, where I would like to go, who I would like to be, the food I try to eat every day. I just can't see a point in all this! I can't see a point in any of it - at all... I don't belong anywhere, and yet I need it so badly... Isn't it totally and absolutely nonsense? Sometimes I get so tired of thinking that I barely have any strength to work out, to take up a new hobby, to do the homework I assign to myself every night. All I want to do is close my eyes, alone, in silence, and wait for peace to come pick me up. Then again: pure nonsense.

Making sense

Nonsense. Yes, that's what I try to tell myself. All my thoughts have become a bunch of... nonsense. I think about my life, about what I've been doing lately, where I would like to go, who I would like to be, the food I try to eat every day. I just can't see a point in all this! I can't see a point in any of it - at all... I don't belong anywhere, and yet I need it so badly... Isn't it totally and absolutely nonsense? Sometimes I get so tired of thinking that I barely have any strength to work out, to take up a new hobby, to do the homework I assign to myself every night. All I want to do is close my eyes, alone, in silence, and wait for peace to come pick me up. Then again: pure nonsense.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Dream box

I must come up with an idea. Something brand new, genuine, spontaneous... real. There's just one problem: I'm clueless. My intelligence could use a little bit of luck. I feel that my ideals have more than often been taken away from this secret place I call "dream box". Every single day I open it up and there's a little less left. Every single day somebody sneaks out in the middle of a pink warm night and steals my guts, piece by piece. I wonder who it might be. It can't be Fear - otherwise there would be nobody for my good old friend to play with. Love is not even an eligible candidate - he was last seen in company of a graceful lady called Pain, chattering happily and walking arm in arm, towards the valley of the wild side. My heart tells me it's Hope. She's overweight and greedy; its flames devour all sorts of  food for thought. What if Hope is indeed addicted to my dreams? 

Dream box

I must come up with an idea. Something brand new, genuine, spontaneous... real. There's just one problem: I'm clueless. My intelligence could use a little bit of luck. I feel that my ideals have more than often been taken away from this secret place I call "dream box". Every single day I open it up and there's a little less left. Every single day somebody sneaks out in the middle of a pink warm night and steals my guts, piece by piece. I wonder who it might be. It can't be Fear - otherwise there would be nobody for my good old friend to play with. Love is not even an eligible candidate - he was last seen in company of a graceful lady called Pain, chattering happily and walking arm in arm, towards the valley of the wild side. My heart tells me it's Hope. She's overweight and greedy; its flames devour all sorts of  food for thought. What if Hope is indeed addicted to my dreams? 

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Alcoólatra

Eu entrei.
----Me senti
-------Como um rei
----------------E sorri
----------Gargalhei
----------E corri
-----Tropecei
Nem senti
---Borbulhei
---------Assisti
------------Destilei
--------------Corrompi
--------------------Fermentei
-------------------------Ih! Já vi
-----------------------Abalei
------------------E sumi
----------E voltei
-----Nem comi
---------Celebrei
-------------Me despi
------------------Apaguei
------------------------Ressurgi
--------------------------Me esbaldei
-----------------Me excedi
------------Eu girei
-------Me senti
Como um rei

E caí.


Eu errei:

Eu bebi.

Alcoólatra

Eu entrei.
----Me senti
-------Como um rei
----------------E sorri
----------Gargalhei
----------E corri
-----Tropecei
Nem senti
---Borbulhei
---------Assisti
------------Destilei
--------------Corrompi
--------------------Fermentei
-------------------------Ih! Já vi
-----------------------Abalei
------------------E sumi
----------E voltei
-----Nem comi
---------Celebrei
-------------Me despi
------------------Apaguei
------------------------Ressurgi
--------------------------Me esbaldei
-----------------Me excedi
------------Eu girei
-------Me senti
Como um rei

E caí.


Eu errei:

Eu bebi.

Friday I'm in love

I usually spend one day moaning around, and the following two wondering why. One day feeling guilty for screwing things up so badly, two asking for my own forgiveness. And then for one day I just listen to music, non-stop: that's when everything starts sinking in. How wonderful it is to feel the way I do simply because of a good song...

"Tender is the night
Lying by your side
Tender is the touch
Of someone that you love too much
Tender is the day
The demons go away
Lord I need to find
Someone who can heal my mind

Come on, Come on, Come on
Get through it
Come on, Come on, Come on
Love's the greatest thing
Come on, Come on, Come on
Get through it
Come on, Come on, Come on
Love's the greatest thing

That we have
I'm waiting for that feeling
I'm Waiting for that feeling
Waiting for that feeling to come

Oh my baby
Oh my baby
Oh why
O my
Tender is the ghost
The ghost I love the most
Hiding from the sun
Waiting for the night to come
Tender is my heart

 I'm screwing up my life

Lord I need to find

Someone who can heal my mind
Come on, Come on, Come on
Get through it
Come on, Come on, Come on
Love's the greatest thing
Come on, Come on, Come on
Get through it
Come on, Come on, Come on
Love's the greatest thing
That we have
I'm waiting for that feeling
I'm Waiting for that feeling
Waiting for that feeling to come" (Blur)






Friday I'm in love

I usually spend one day moaning around, and the following two wondering why. One day feeling guilty for screwing things up so badly, two asking for my own forgiveness. And then for one day I just listen to music, non-stop: that's when everything starts sinking in. How wonderful it is to feel the way I do simply because of a good song...

"Tender is the night
Lying by your side
Tender is the touch
Of someone that you love too much
Tender is the day
The demons go away
Lord I need to find
Someone who can heal my mind

Come on, Come on, Come on
Get through it
Come on, Come on, Come on
Love's the greatest thing
Come on, Come on, Come on
Get through it
Come on, Come on, Come on
Love's the greatest thing

That we have
I'm waiting for that feeling
I'm Waiting for that feeling
Waiting for that feeling to come

Oh my baby
Oh my baby
Oh why
O my
Tender is the ghost
The ghost I love the most
Hiding from the sun
Waiting for the night to come
Tender is my heart

 I'm screwing up my life

Lord I need to find

Someone who can heal my mind
Come on, Come on, Come on
Get through it
Come on, Come on, Come on
Love's the greatest thing
Come on, Come on, Come on
Get through it
Come on, Come on, Come on
Love's the greatest thing
That we have
I'm waiting for that feeling
I'm Waiting for that feeling
Waiting for that feeling to come" (Blur)






sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Hangover

De novo quebrei as regras; mais uma vez contei com o improvável. Me ferrei ou me achei, Deus e o Diabo são testemunhas. Hei de amargar por algum tempo esse gosto de coisa impura, razão indigesta. Engulo e rezo. Acordo e peço perdão por ser odiada, invejada, cobiçada, atrasada, chateada... arrasada por não ter sido chamada. Será que nunca serei a primeira da fila? Nunca? Nunca. Nunca terei coragem suficiente pra querer.

Hangover

De novo quebrei as regras; mais uma vez contei com o improvável. Me ferrei ou me achei, Deus e o Diabo são testemunhas. Hei de amargar por algum tempo esse gosto de coisa impura, razão indigesta. Engulo e rezo. Acordo e peço perdão por ser odiada, invejada, cobiçada, atrasada, chateada... arrasada por não ter sido chamada. Será que nunca serei a primeira da fila? Nunca? Nunca. Nunca terei coragem suficiente pra querer.

Som e fúria

Eu te atravesso berrando Rollings Stones
Te entorpeço dançando Amy Winehouse
Passo por você num estilo Positively 4th Street
Assovio o quanto aquele quarto de hora é Hard to Explain
E você me vem com um Automatic Stop;
Queria que eu fosse mais Like a Rainbow
E mesmo que eu insista em It ain't me
A Marisa diz que Aconteceu...
Você corre contra o tempo e tenta engolir o seu orgulho
Eu me lembro de tudo isso e enxugo meus olhos
e penso que entre Romeu e Julieta e Sid e Nancy
escolho não ser nenhum
prefiro a precisão
de tão somente me amar
e correr pra onde você
não estará cantarolando And so it is
com os bolsos cheios de falta de coragem.

Som e fúria

Eu te atravesso berrando Rollings Stones
Te entorpeço dançando Amy Winehouse
Passo por você num estilo Positively 4th Street
Assovio o quanto aquele quarto de hora é Hard to Explain
E você me vem com um Automatic Stop;
Queria que eu fosse mais Like a Rainbow
E mesmo que eu insista em It ain't me
A Marisa diz que Aconteceu...
Você corre contra o tempo e tenta engolir o seu orgulho
Eu me lembro de tudo isso e enxugo meus olhos
e penso que entre Romeu e Julieta e Sid e Nancy
escolho não ser nenhum
prefiro a precisão
de tão somente me amar
e correr pra onde você
não estará cantarolando And so it is
com os bolsos cheios de falta de coragem.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Que loucura!

A loucura é uma estratégia que as pessoas criam para a vida doer menos.

ALICE
MARIA ANTONIETA
PRÍNCIPE MICHKIN
DOM QUIXOTE
O GRANDE MENTECAPTO
EU
VOCÊ
O LOUCO AÍ AO LADO...

Que loucura!

A loucura é uma estratégia que as pessoas criam para a vida doer menos.

ALICE
MARIA ANTONIETA
PRÍNCIPE MICHKIN
DOM QUIXOTE
O GRANDE MENTECAPTO
EU
VOCÊ
O LOUCO AÍ AO LADO...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cama de gato

How come I'm no more than a delightful game? One day you're talking about next steps... and for the next three chapters you pretend to be dead. Were you drunk? Were you stoned? O que é que acontece? You appreciate women who pretend they are not predictable; you stand up for women who struggle so hard to be subtle that one would even think it's worth it. You like posh covered in simple, Machiavelli disguised as Jesus. I could tell you to listen to more Lou Reed or Bob Dylan, but I know you know it. And me? I'm this Brazilian girl who one day had to learn that simple is no longer magical, that truth is way unacceptable, that love etiquette is some brand new European trend. I've learned, but I haven't taken it in - at all. I don't buy it, I'm too much stubborn for your liking - I won't swallow my pride. Sometimes we urge to understand and fail to realise that our brains do work fast. In other words, some answers will just blow in the wind till we forget about the questions. Oh, speaking of which, I quite remember mine: how come I'm no more than a delightful game? Funny as it seems, I happen to know the answer for this one. Simple: despite all the pride I worship and the prejudice I strive against, deep, deep inside... I feel the same. 

Cama de gato

How come I'm no more than a delightful game? One day you're talking about next steps... and for the next three chapters you pretend to be dead. Were you drunk? Were you stoned? O que é que acontece? You appreciate women who pretend they are not predictable; you stand up for women who struggle so hard to be subtle that one would even think it's worth it. You like posh covered in simple, Machiavelli disguised as Jesus. I could tell you to listen to more Lou Reed or Bob Dylan, but I know you know it. And me? I'm this Brazilian girl who one day had to learn that simple is no longer magical, that truth is way unacceptable, that love etiquette is some brand new European trend. I've learned, but I haven't taken it in - at all. I don't buy it, I'm too much stubborn for your liking - I won't swallow my pride. Sometimes we urge to understand and fail to realise that our brains do work fast. In other words, some answers will just blow in the wind till we forget about the questions. Oh, speaking of which, I quite remember mine: how come I'm no more than a delightful game? Funny as it seems, I happen to know the answer for this one. Simple: despite all the pride I worship and the prejudice I strive against, deep, deep inside... I feel the same. 

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Juízo

Tira de mim esse peso
mente que escapei ileso
desfruta do meu dissabor
sem pudor nem dor
sem crime ou castigo
Devolve-me as fotos de antes
separa o bom do distante
segura o que está guardado
com ou sem cuidado
e Deus será comigo.

Juízo

Tira de mim esse peso
mente que escapei ileso
desfruta do meu dissabor
sem pudor nem dor
sem crime ou castigo
Devolve-me as fotos de antes
separa o bom do distante
segura o que está guardado
com ou sem cuidado
e Deus será comigo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Inércia

Acho que ele ficaria com medo se você dissesse o que quer dizer. Perderia o rumo e ficaria matutando uma possível forma de te deter, de impedir mais uma das suas loucuras. Lá dentro ele saberia que a guerra está perdida, mas jamais haveria de transparecer; mais uma vez te convenceria que o que você quer ainda não existe, não foi inventado. Mesmo sem ser advogado, ele te provaria por A mais B que o seu lugar é ali, entre ele e o criado mudo. Talvez o melhor seja não dizer nada. Você não diz, ele não fala. Pronto: lá vem mais um amanhecer.

Inércia

Acho que ele ficaria com medo se você dissesse o que quer dizer. Perderia o rumo e ficaria matutando uma possível forma de te deter, de impedir mais uma das suas loucuras. Lá dentro ele saberia que a guerra está perdida, mas jamais haveria de transparecer; mais uma vez te convenceria que o que você quer ainda não existe, não foi inventado. Mesmo sem ser advogado, ele te provaria por A mais B que o seu lugar é ali, entre ele e o criado mudo. Talvez o melhor seja não dizer nada. Você não diz, ele não fala. Pronto: lá vem mais um amanhecer.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Carne crua

Deus ajuda a quem cedo madruga,
a quem lava e enxuga,
a quem trabalha duro
e ousa até último minuto
sem mágoa ou embaraço.
Deus ajuda a quem se valoriza,
se especializa,
se qualifica, 
sobe até o último degrau da escada sem nenhuma dica... 
e corre pro abraço.
Tudo bem, nada disso é novidade pra mim. O que ninguém nunca me disse é o que Deus faz com pessoas que, assim como eu, têm boas intenções e muitas idéias, mas são cruas demais.

Carne crua

Deus ajuda a quem cedo madruga,
a quem lava e enxuga,
a quem trabalha duro
e ousa até último minuto
sem mágoa ou embaraço.
Deus ajuda a quem se valoriza,
se especializa,
se qualifica, 
sobe até o último degrau da escada sem nenhuma dica... 
e corre pro abraço.
Tudo bem, nada disso é novidade pra mim. O que ninguém nunca me disse é o que Deus faz com pessoas que, assim como eu, têm boas intenções e muitas idéias, mas são cruas demais.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ao final do dia, penso que no final das contas a gente tem é que esperar sem parar de lutar; ter um pedacinho da mente ligado nas cenas daquele possível próximo capítulo, e ao mesmo tempo viver esse presente que bate ponto todo dia de forma intensa e verdadeira. Decido por ficar sem me deixar morrer, sempre pensando em ir. Sem cessar, busco o equilíbrio entre fazer e deixar que se faça, que seja feita alguma vontade maior que meu desejo de andar pra trás.

Ao final do dia, penso que no final das contas a gente tem é que esperar sem parar de lutar; ter um pedacinho da mente ligado nas cenas daquele possível próximo capítulo, e ao mesmo tempo viver esse presente que bate ponto todo dia de forma intensa e verdadeira. Decido por ficar sem me deixar morrer, sempre pensando em ir. Sem cessar, busco o equilíbrio entre fazer e deixar que se faça, que seja feita alguma vontade maior que meu desejo de andar pra trás.

Natal Solidário

Olá, pessoal,
Não estou aqui para roubar ou matar vocês de rir. Gostaria apenas de compartilhar uma idéia para contribuir um pouco com o nosso bem estar junto ao bem estar alheio. A gente sempre diz que é muito pequeno e impotente pra fazer alguma coisa pelo nosso mundo, e o capitalismo acaba por tirar-nos o sono e todo o tempo que poderíamos ter para pensar em algo. Com tudo isso, no entanto, pensei em uma coisa simples que poderá tornar o Natal um momento melhor para muita gente. Estou tentando implementar esse "projeto" entre os meus alunos, e gostaria que vocês pudessem executá-lo e divulgá-lo. Como muitos sabem, todo ano milhares de crianças da periferia escrevem cartas ao Papai Noel, que vão para os correios e lá permanecem ATÉ QUE UM DE NÓS PEGUE UMA DELAS E DÊ O PRESENTE A UMA DESSAS CRIANÇAS. Acredito que as cartas devam começar a chegar em novembro, e o esquema é simples: pegar uma carta, comprar o presente e entregar tudo nos correios - eles se encarregam de enviar para os meninos. Agora vem a idéia: para que não seja um sacrifício e para que possamos ajudar ainda mais pessoas, pedi aos meus alunos (e vou fazer o mesmo), que em um cofrinho (que pode ser até uma lata de Nescau) tentem colocar todo o trocadinho do dia-a-dia, dinheiro que não faça a diferença. Em novembro, cada um vai contar seu dinheiro e vamos estimar quantas cartas poderão ser pegas por pessoa. Já cheguei a pegar dez cartas, e tenho certeza que é possível ainda mais. Pode ser uma coisa boba ou uma coisa boa - só depende de nós. Outras iniciativas paralelas como uma feira de livros usados e um bazar serão formas de levantarmos ainda mais fundos. Essa "caixinha do bem" não vai necessariamente funcionar somente no Natal - ela pode continuar existindo e a cada semestre esses fundos poderão ir para alguma instituição da escolha de vocês (se não houver nenhuma ainda, o Google existe para isso, :) . É como reciclar: uma hora fica automático. Ajudem-se a ajudar, é mais fácil do que a gente imagina...

Natal Solidário

Olá, pessoal,
Não estou aqui para roubar ou matar vocês de rir. Gostaria apenas de compartilhar uma idéia para contribuir um pouco com o nosso bem estar junto ao bem estar alheio. A gente sempre diz que é muito pequeno e impotente pra fazer alguma coisa pelo nosso mundo, e o capitalismo acaba por tirar-nos o sono e todo o tempo que poderíamos ter para pensar em algo. Com tudo isso, no entanto, pensei em uma coisa simples que poderá tornar o Natal um momento melhor para muita gente. Estou tentando implementar esse "projeto" entre os meus alunos, e gostaria que vocês pudessem executá-lo e divulgá-lo. Como muitos sabem, todo ano milhares de crianças da periferia escrevem cartas ao Papai Noel, que vão para os correios e lá permanecem ATÉ QUE UM DE NÓS PEGUE UMA DELAS E DÊ O PRESENTE A UMA DESSAS CRIANÇAS. Acredito que as cartas devam começar a chegar em novembro, e o esquema é simples: pegar uma carta, comprar o presente e entregar tudo nos correios - eles se encarregam de enviar para os meninos. Agora vem a idéia: para que não seja um sacrifício e para que possamos ajudar ainda mais pessoas, pedi aos meus alunos (e vou fazer o mesmo), que em um cofrinho (que pode ser até uma lata de Nescau) tentem colocar todo o trocadinho do dia-a-dia, dinheiro que não faça a diferença. Em novembro, cada um vai contar seu dinheiro e vamos estimar quantas cartas poderão ser pegas por pessoa. Já cheguei a pegar dez cartas, e tenho certeza que é possível ainda mais. Pode ser uma coisa boba ou uma coisa boa - só depende de nós. Outras iniciativas paralelas como uma feira de livros usados e um bazar serão formas de levantarmos ainda mais fundos. Essa "caixinha do bem" não vai necessariamente funcionar somente no Natal - ela pode continuar existindo e a cada semestre esses fundos poderão ir para alguma instituição da escolha de vocês (se não houver nenhuma ainda, o Google existe para isso, :) . É como reciclar: uma hora fica automático. Ajudem-se a ajudar, é mais fácil do que a gente imagina...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Heresia Express

Estou pagando meus pecados a prestação.
Alguns dias
os bons ventos passam por mim
com tanta covardia
que o ofício sai do padrão.
Torna-se extenso.
Tenso.
Lento.
Eficiente ao extremo.
Nunca soube a resposta
para minha indignação 
e nem respondi sim ou não
à sua pergunta
sobre as coisas que temo.
Apago um cigarro
no seu machucado
e peço às divindades
que sejam por mim?
Ah, mas nem se eu der dinheiro à igreja
(muito menos assim!)
Enquanto não entendo de dois mais dois,
estouro cartões pelo mundo
e espero
(meio calma, meio aflita)
pelo que
certamente
há de vir depois. 

Heresia Express

Estou pagando meus pecados a prestação.
Alguns dias
os bons ventos passam por mim
com tanta covardia
que o ofício sai do padrão.
Torna-se extenso.
Tenso.
Lento.
Eficiente ao extremo.
Nunca soube a resposta
para minha indignação 
e nem respondi sim ou não
à sua pergunta
sobre as coisas que temo.
Apago um cigarro
no seu machucado
e peço às divindades
que sejam por mim?
Ah, mas nem se eu der dinheiro à igreja
(muito menos assim!)
Enquanto não entendo de dois mais dois,
estouro cartões pelo mundo
e espero
(meio calma, meio aflita)
pelo que
certamente
há de vir depois. 

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O conto da princesa subversiva

Ela dizia
que cansara-se da vida
e queria ser artista
de rua ou televisão.
Ela queria
que cedo ou tarde
o mundo coubesse
na sua mão
Sabia
que seu destino
estava ali, não acolá
e nutria muita raiva
por quem andava devagar...
Ela dizia, dizia, dizia
e de novo não lhe ocorria nada
andava por horas a fio
sem encontrar a estrada
até que um belo dia
olhou
pensou
e parou a caminhada
esperou ser temida
ou cortejada
entendeu que a ferida
haveria de ser fechada
sem mais dor...
Abriu os braços
fechou os olhos
e esperou.
Por duas primaveras
dobrou seus sonhos
e em segredo os guardou.
Um dia abriu a caixa
e então soube o que fazer:
tão bonitos eles eram
tão coloridos
que o melhor mesmo
foi soprá-los como poeira
para dentro dos contos
poemas
e canções
que ela criava
enquanto dormia
e acordava sem saber.
Quer saber o que eu disse?
Nem não, nem sim.
Muda, calada,
leio o mundo dela
todo dia
cada palavra
e deixo meus olhos
falarem por mim.

O conto da princesa subversiva

Ela dizia
que cansara-se da vida
e queria ser artista
de rua ou televisão.
Ela queria
que cedo ou tarde
o mundo coubesse
na sua mão
Sabia
que seu destino
estava ali, não acolá
e nutria muita raiva
por quem andava devagar...
Ela dizia, dizia, dizia
e de novo não lhe ocorria nada
andava por horas a fio
sem encontrar a estrada
até que um belo dia
olhou
pensou
e parou a caminhada
esperou ser temida
ou cortejada
entendeu que a ferida
haveria de ser fechada
sem mais dor...
Abriu os braços
fechou os olhos
e esperou.
Por duas primaveras
dobrou seus sonhos
e em segredo os guardou.
Um dia abriu a caixa
e então soube o que fazer:
tão bonitos eles eram
tão coloridos
que o melhor mesmo
foi soprá-los como poeira
para dentro dos contos
poemas
e canções
que ela criava
enquanto dormia
e acordava sem saber.
Quer saber o que eu disse?
Nem não, nem sim.
Muda, calada,
leio o mundo dela
todo dia
cada palavra
e deixo meus olhos
falarem por mim.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tempo certo

Não entendo de computador, não sei nada dessas coisas. Acho estranhíssimo quando as pessoas ligam aquele troço e se vêem pela televisão, falam umas com as outras. No meu tempo, a gente escrevia cartas. Elas levavam um beijo, um cheirinho do perfume preferido, às vezes até uma mecha de cabelo. Cabia à outra parte imaginar o resto. Era assim que as pessoas se viam - num fechar demorado de olhos, a carta apertada contra o peito, aquele perfume... Vinha então a lembrança nítida da voz, os contornos do rosto. Dava para sentir a textura das mãos, o pulsar de um coração apressado, aflito, que nunca se cansa de bater... e esperar. Pode ser que ainda hoje o amor seja bonito, mas no meu tempo ele certamente era mais importante. 

Tempo certo

Não entendo de computador, não sei nada dessas coisas. Acho estranhíssimo quando as pessoas ligam aquele troço e se vêem pela televisão, falam umas com as outras. No meu tempo, a gente escrevia cartas. Elas levavam um beijo, um cheirinho do perfume preferido, às vezes até uma mecha de cabelo. Cabia à outra parte imaginar o resto. Era assim que as pessoas se viam - num fechar demorado de olhos, a carta apertada contra o peito, aquele perfume... Vinha então a lembrança nítida da voz, os contornos do rosto. Dava para sentir a textura das mãos, o pulsar de um coração apressado, aflito, que nunca se cansa de bater... e esperar. Pode ser que ainda hoje o amor seja bonito, mas no meu tempo ele certamente era mais importante. 

Ilha do Sono

Quanto tempo faz? Longo... curto? Já não sei, não faz mais a menor diferença. Padeço de patologia desconhecida, escondo-me em esquinas que se esqueceram de notar meu estar ali. No italiano ser é estar; no inglês também. Neste momento me pergunto por que foi que em algum momento teimamos em estabelecer tal distinção. Não estou triste - eu sou triste, e o bem estar me faz algumas visitas ocasionais. Eu creio no que não existe - cá entre nós, há nessa vida algo mais desgastante? Aqui não está bom - lá vai ser? Preciso mesmo me encontrar em algum lugar dessa terra? . Preciso findar a guerra que há tempos travei comigo. Deixar ir o que não puder ficar, assumir a culpa, culpar o cigarro ou a televisão. Leio, leio e creio mais em minha imaginação e menos no rumo das coisas a cada página. Confuso, mas talvez a alienação fantástica seja a máscara mais leve e mais bonita. O show de Truman mora ao lado... Não consigo respirar, como me dói a cabeça! O que fazer quando não se é e não se está? Minhas asas foram quebradas e ainda assim tento sair... Complicada, cem por cento errada. Cantar ou escrever? Pode ser essa a solução do meu problema. Cantar e escrever, ser sem deixar de estar. Acreditar que nunca é tarde para programar minha partida. 

Ilha do Sono

Quanto tempo faz? Longo... curto? Já não sei, não faz mais a menor diferença. Padeço de patologia desconhecida, escondo-me em esquinas que se esqueceram de notar meu estar ali. No italiano ser é estar; no inglês também. Neste momento me pergunto por que foi que em algum momento teimamos em estabelecer tal distinção. Não estou triste - eu sou triste, e o bem estar me faz algumas visitas ocasionais. Eu creio no que não existe - cá entre nós, há nessa vida algo mais desgastante? Aqui não está bom - lá vai ser? Preciso mesmo me encontrar em algum lugar dessa terra? . Preciso findar a guerra que há tempos travei comigo. Deixar ir o que não puder ficar, assumir a culpa, culpar o cigarro ou a televisão. Leio, leio e creio mais em minha imaginação e menos no rumo das coisas a cada página. Confuso, mas talvez a alienação fantástica seja a máscara mais leve e mais bonita. O show de Truman mora ao lado... Não consigo respirar, como me dói a cabeça! O que fazer quando não se é e não se está? Minhas asas foram quebradas e ainda assim tento sair... Complicada, cem por cento errada. Cantar ou escrever? Pode ser essa a solução do meu problema. Cantar e escrever, ser sem deixar de estar. Acreditar que nunca é tarde para programar minha partida. 

Belief

Um dia te levam a mão
no outro o braço
aquele grito à toa
ressoa
e lá se vai um ouvido.

Nunca te pedem perdão...
Você estica seus nervos de aço
aquele olhar te enjoa
ecoa
em seu pesar oprimido.

Pode levar-me a mão
mas nunca o braço!
Acabo sendo a pessoa
que destoa
ao não me dar por vencido.

Belief

Um dia te levam a mão
no outro o braço
aquele grito à toa
ressoa
e lá se vai um ouvido.

Nunca te pedem perdão...
Você estica seus nervos de aço
aquele olhar te enjoa
ecoa
em seu pesar oprimido.

Pode levar-me a mão
mas nunca o braço!
Acabo sendo a pessoa
que destoa
ao não me dar por vencido.

domingo, 1 de agosto de 2010

Hiroshima

Algumas frases abrigam seu punhado e meio de perigo. "Seja a mudança que você deseja ver no mundo". Se a todos os cidadãos fosse dada tal oportunidade, igualmente e sem qualquer objeção, a humanidade se dizimaria rapidamente na briga pelo controle remoto. "É incrível como uma simples farda pode transformar uma pessoa..." (Dostoiévski) - leia-se: o poder é a bomba atômica no reino dos cabeça-oca. Foda-se se até ontem você acreditava em Papai Noel - eu acreditava em mim!

Hiroshima

Algumas frases abrigam seu punhado e meio de perigo. "Seja a mudança que você deseja ver no mundo". Se a todos os cidadãos fosse dada tal oportunidade, igualmente e sem qualquer objeção, a humanidade se dizimaria rapidamente na briga pelo controle remoto. "É incrível como uma simples farda pode transformar uma pessoa..." (Dostoiévski) - leia-se: o poder é a bomba atômica no reino dos cabeça-oca. Foda-se se até ontem você acreditava em Papai Noel - eu acreditava em mim!