quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Capítulo 9: Nossa casa, nossa vida - nosso metrô de cada dia!

Gente!

Estamos de volta com nossa programação cultural Londres-BH. Hoje vou contar pra vocês sobre o transporte na cidade sensacional - maravilhosa não pode, né? Como já tinha contado, o Oyster nasceu primeiro que vc, primeiro que sua viagem, primeiro que tudo. Com isso, quero dizer: COMPREM UM OYSTER ASSIM QUE CHEGAREM AQUI! O transporte em Londres é muito caro - principalmente se imaginarmos que a libra agora vale 4 reais! Eu disse 4 reais, galera! E essa de não pensar em real não dá certo, não, já concluí. Depois de 2 meses, quando você vê seu dinheirinho secando porque um lanche no Mc Donalds custa 24 pila, a ficha cai... a gente se deslumbra totalmente: que isso, só duas libras? Não, 8 royales, meu chapa, think it over... Com isso, a melhor coisa a se fazer é segurar a grana até que você seja capaz de perceber que rapadura é doce, mas não é mole, não! O Oyster é a opção de transporte mais barata, e o canal é fazer o top-up (como eles chamam colocar crédito, que nem a gente faz no celular) semanal, que dá direito a usar o metrô - ou underground, se vc falar subway eles respondem underground - e o overground, ou trem em cima da terra - que a galera de BH insiste em chamar de metrô porque trem é uma coisa diferente pros mineiros, hehehe - dentro das suas zonas de preferência, e ainda ônibus por toda a cidade, ilimitadamente. Se vcs pegarem o mapa de Londres, vão ver que a cidade é dividida em zonas, do meio (zona 1) pros lados, e quanto maior o número da sua zona, mais você vai ter que pagar pelo metrô. Se você não tiver que andar muito de metrô, faça o top-up pay as you go, é o que todos dizem. NÃO ACREDITE, você sempre vai andar de metrô, de ônibus e de overground, porque a cidade é imensa e andar de bicicleta aqui é mais perigoso que ser homem-bomba. E falando nisso, todo dia a mulherzinha que dá os avisos (impressionante, como eles conseguem colocar a mesma voz dando todos os recados? Igualzinho aos exames de Cambridge; quero só ver quando aquele cara morrer!), tipo "mind the gap between the train and the platform", pede pra todos manterem seus pertences consigo a todo momento, e para reportar imediatamente a eles caso seja encontrada qualquer sacola sem dono na estação. Queeee isssoooo! Outro dia eu tava na estação - quentaço, gente, sufocante e claustrofóbico, sáunico - quando, de repente, rolou uma movimentação intensa de vários seres com roupa laranja fluorescente em direção a um cantinho lá dentro, ao lado de quem estava esperando o metrô. Mas quando eu digo várias, quero dizer umas 20, mais ou menos. Todo mundo ficou meio apreensivo, sem saber o que estava havendo, e no fim era uma sacola de lanchonete com uns leftovers, pra decepção do esquadrão anti-bombas.

É uma doideira pensar que tem homens-bomba querendo atacar o metrô, mas mais doideira ainda é viver sem ele. O ônibus aqui é até legal, e relativamente pontual. Em quase todos os pontos de ônibus existe uma lista de bairros em ordem alfabética com um mapa pra você saber onde pegar o seu ônibus. Demais, fala a verdade... Isso me emocionou. Também existe a rota de todos os ônibus que passam no ponto com horário. Sabe aquelas informações que a gente tem que ler correndo de fora do ônibus enquanto ele tá parado, falando por onde ele passa, e que nunca dá tempo de ler e a gente acaba perguntando pro motorista ou pegando o errado? Pois é, isso mesmo. A maioria esmagadora da população pega ônibus noturno, os famosos night buses - são sempre N e o número - porque o metrô passa pela última vez à meia-noite aproximadamente. Aqui as coisas funcionam totalmente, as leis são severamente cumpridas e as pessoas no geral respeitam o que tem que ser respeitado, apesar de o problema de dirigir drogado/alcoolizado ser bem frequente aqui, segundo os jornais do metrô. Só mais recentemente é que as coisas têm complicado, porque como Londres está sendo recalchutada para as olimpíadas de 2012, o metrô está sendo re-alguma coisa (reformado, regaribado, reestruturado, sei lá) e várias estações têm parado de funcionar de repente ou não têm funcionado com uma certa frequência. Outro problema é a quantidade de pessoas que se jogam na frente do trem. Muitas vezes o trem para e atrasa muito - nessa hora todo mundo já sabe que alguém se jogou. Agora só pra vocês terem uma idéia de como os ingleses são emotivos e se consternam com o fato: num desses dias, ouvi o cara do meu lado falando pro amigo "Que droga, será que não dava pra essa pessoa suicidar outro dia, não? Logo hoje que tenho uma reunião..."

E ainda tem essa: todo dia, a todo momento, tem um representante de cada jornal entregando de graça edições diárias na porta da estação. Já aprendi muitas palavras lendo esses jornais, é ótimo. Ao mesmo tempo, é mais uma forma de as pessoas não se olharem, não se falarem e se ignorarem completamente. Significa dizer que aquelas conversinhas do tipo "esfriou hoje, né?" ou "quantos meses tem seu bebê?" estão 128% por fora. Aliás, nunca vi tanto bebê na minha vida, e se você olhar pra qualquer neném ou criança na rua, a mãe te fuzila com os olhos e já vai mudando de passeio - muita gente aqui é mega paranóica. E como só batendo a cara na porta pra saber que ela não estava aberta, lá vai a sujeita de BH no metrô achando que tava em BH. O metrô lotado até a tampa - mais que o 5102 indo pra UFMG às 18.30 - e uma mulher entra carregando mil sacolas, mal se segurando em pé. A impressão que eu tive foi que ela só não ia cair porque não tinha pra onde. Muito prestativa, a pessoa de Belo Horizonte, Minas Gerais, que estava confortavelmente sentada, ofereceu-se para carregar as sacolas. Gente, a mulher me olhou com a cara mais estranha que ela poderia ter feito - se esforçou mesmo a coitada - e percebi visivelmente que ela ficou completamente chocada, tão chocada que nem conseguiu me responder... Então mais uma dica - no metrô quem conversar com você é maluco, não dê ouvidos. E se alguém mandar um "bom dia" ou der uma pescoçada no seu jornal, rebata com um "fuck off", vocabulário oficial do underground. Aí sim vc vai dizer pra si mesmo: agora eu faço parte dessa parada aqui!!!

Bjos e até a próxima!

Capítulo 9: Nossa casa, nossa vida - nosso metrô de cada dia!

Gente!

Estamos de volta com nossa programação cultural Londres-BH. Hoje vou contar pra vocês sobre o transporte na cidade sensacional - maravilhosa não pode, né? Como já tinha contado, o Oyster nasceu primeiro que vc, primeiro que sua viagem, primeiro que tudo. Com isso, quero dizer: COMPREM UM OYSTER ASSIM QUE CHEGAREM AQUI! O transporte em Londres é muito caro - principalmente se imaginarmos que a libra agora vale 4 reais! Eu disse 4 reais, galera! E essa de não pensar em real não dá certo, não, já concluí. Depois de 2 meses, quando você vê seu dinheirinho secando porque um lanche no Mc Donalds custa 24 pila, a ficha cai... a gente se deslumbra totalmente: que isso, só duas libras? Não, 8 royales, meu chapa, think it over... Com isso, a melhor coisa a se fazer é segurar a grana até que você seja capaz de perceber que rapadura é doce, mas não é mole, não! O Oyster é a opção de transporte mais barata, e o canal é fazer o top-up (como eles chamam colocar crédito, que nem a gente faz no celular) semanal, que dá direito a usar o metrô - ou underground, se vc falar subway eles respondem underground - e o overground, ou trem em cima da terra - que a galera de BH insiste em chamar de metrô porque trem é uma coisa diferente pros mineiros, hehehe - dentro das suas zonas de preferência, e ainda ônibus por toda a cidade, ilimitadamente. Se vcs pegarem o mapa de Londres, vão ver que a cidade é dividida em zonas, do meio (zona 1) pros lados, e quanto maior o número da sua zona, mais você vai ter que pagar pelo metrô. Se você não tiver que andar muito de metrô, faça o top-up pay as you go, é o que todos dizem. NÃO ACREDITE, você sempre vai andar de metrô, de ônibus e de overground, porque a cidade é imensa e andar de bicicleta aqui é mais perigoso que ser homem-bomba. E falando nisso, todo dia a mulherzinha que dá os avisos (impressionante, como eles conseguem colocar a mesma voz dando todos os recados? Igualzinho aos exames de Cambridge; quero só ver quando aquele cara morrer!), tipo "mind the gap between the train and the platform", pede pra todos manterem seus pertences consigo a todo momento, e para reportar imediatamente a eles caso seja encontrada qualquer sacola sem dono na estação. Queeee isssoooo! Outro dia eu tava na estação - quentaço, gente, sufocante e claustrofóbico, sáunico - quando, de repente, rolou uma movimentação intensa de vários seres com roupa laranja fluorescente em direção a um cantinho lá dentro, ao lado de quem estava esperando o metrô. Mas quando eu digo várias, quero dizer umas 20, mais ou menos. Todo mundo ficou meio apreensivo, sem saber o que estava havendo, e no fim era uma sacola de lanchonete com uns leftovers, pra decepção do esquadrão anti-bombas.

É uma doideira pensar que tem homens-bomba querendo atacar o metrô, mas mais doideira ainda é viver sem ele. O ônibus aqui é até legal, e relativamente pontual. Em quase todos os pontos de ônibus existe uma lista de bairros em ordem alfabética com um mapa pra você saber onde pegar o seu ônibus. Demais, fala a verdade... Isso me emocionou. Também existe a rota de todos os ônibus que passam no ponto com horário. Sabe aquelas informações que a gente tem que ler correndo de fora do ônibus enquanto ele tá parado, falando por onde ele passa, e que nunca dá tempo de ler e a gente acaba perguntando pro motorista ou pegando o errado? Pois é, isso mesmo. A maioria esmagadora da população pega ônibus noturno, os famosos night buses - são sempre N e o número - porque o metrô passa pela última vez à meia-noite aproximadamente. Aqui as coisas funcionam totalmente, as leis são severamente cumpridas e as pessoas no geral respeitam o que tem que ser respeitado, apesar de o problema de dirigir drogado/alcoolizado ser bem frequente aqui, segundo os jornais do metrô. Só mais recentemente é que as coisas têm complicado, porque como Londres está sendo recalchutada para as olimpíadas de 2012, o metrô está sendo re-alguma coisa (reformado, regaribado, reestruturado, sei lá) e várias estações têm parado de funcionar de repente ou não têm funcionado com uma certa frequência. Outro problema é a quantidade de pessoas que se jogam na frente do trem. Muitas vezes o trem para e atrasa muito - nessa hora todo mundo já sabe que alguém se jogou. Agora só pra vocês terem uma idéia de como os ingleses são emotivos e se consternam com o fato: num desses dias, ouvi o cara do meu lado falando pro amigo "Que droga, será que não dava pra essa pessoa suicidar outro dia, não? Logo hoje que tenho uma reunião..."

E ainda tem essa: todo dia, a todo momento, tem um representante de cada jornal entregando de graça edições diárias na porta da estação. Já aprendi muitas palavras lendo esses jornais, é ótimo. Ao mesmo tempo, é mais uma forma de as pessoas não se olharem, não se falarem e se ignorarem completamente. Significa dizer que aquelas conversinhas do tipo "esfriou hoje, né?" ou "quantos meses tem seu bebê?" estão 128% por fora. Aliás, nunca vi tanto bebê na minha vida, e se você olhar pra qualquer neném ou criança na rua, a mãe te fuzila com os olhos e já vai mudando de passeio - muita gente aqui é mega paranóica. E como só batendo a cara na porta pra saber que ela não estava aberta, lá vai a sujeita de BH no metrô achando que tava em BH. O metrô lotado até a tampa - mais que o 5102 indo pra UFMG às 18.30 - e uma mulher entra carregando mil sacolas, mal se segurando em pé. A impressão que eu tive foi que ela só não ia cair porque não tinha pra onde. Muito prestativa, a pessoa de Belo Horizonte, Minas Gerais, que estava confortavelmente sentada, ofereceu-se para carregar as sacolas. Gente, a mulher me olhou com a cara mais estranha que ela poderia ter feito - se esforçou mesmo a coitada - e percebi visivelmente que ela ficou completamente chocada, tão chocada que nem conseguiu me responder... Então mais uma dica - no metrô quem conversar com você é maluco, não dê ouvidos. E se alguém mandar um "bom dia" ou der uma pescoçada no seu jornal, rebata com um "fuck off", vocabulário oficial do underground. Aí sim vc vai dizer pra si mesmo: agora eu faço parte dessa parada aqui!!!

Bjos e até a próxima!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sempre troppo poco


Essa foto foi tirada em um motim. Fiquei olhando pra ela um bom tempo pra tentar entender esse momento, pra captar a indignação expressa por essas palavras, e associei essa mensagem - sempre pouco demais - ao que os políticos fazem pelos cidadãos, ao que a organização das nações unidas faz pelos povos que vivem em alerta vermelho, ao que a justiça faz pela sociedade, à "ajuda" que os países ricos em sua generosidade ímpar dão aos pobres. Pensei também no outro lado, no do cidadão que trabalha honestamente, que tem um mundo de vidas pra sustentar, que ainda tem que amar os filhos, amar a mulher, fazer malabarismo com seu salário e vive atormentado pela certeza de que não é e nunca será o suficiente.
Há poucos dias, olhei de novo pra essa foto e fiquei pensando... por que será que é sempre tão pouco? Por que não há plenitude com o que se tem? Por que sempre tentamos do jeito mais difícil, por que insistimos em nos desvencilhar de um futuro que de repente já estava certo? Por que o fácil é tão patético, por que o simples cai no ridículo? Nossas cabeças estão sempre a pensar em algo novo, algo incrível: vamos à revolução! Saímos às ruas, mudamos de cidade, almejamos um outro estilo de vida, uma nova ideologia que nos permita estar sempre aqui e lá, sempre diferentes, sempre preenchendo nossa falta de perspectiva, de imaginação, camuflando nossa mediocridade. Queremos lutar pelas massas e multidões, pelos oprimidos, pelos inúmeros seres que habitam esta terra e suas mazelas. Por favor não me entendam mal quando assim o digo, acredito piamente que é muito importante pensar em nosso papel nesse planeta, e primordial reservar tempo, espaço e disposição para ajudar a mudar o mundo - mas precisamos, ao mesmo tempo, acertar periodicamente as contas conosco. Tem gente que se olha no espelho e acha que do outro lado está Ernesto Guevara; no entanto, o que lá existe nada mais é que o espectro do empoeirado Coronel Aureliano Buendía, também latino, também revolucionário, que vai à luta, que está lá por quem quer que precise, mas que faz guerra unicamente pra esquecer-se de si, um idealista sem ideal, que dia após dia acumula derrotas na revolução de si próprio, até ser consumido por cem anos de solidão.
Penso que muitas vezes somos tidos como mártires, santos, heróis, aclamados por um coro sem precedentes, e quando cai a noite, com o coração apertado, estamos sozinhos e tentamos chorar, abraçados aos travesseiros, numa tentativa de tirar do peito a angustiante resignação por não termos o que não temos, por querermos o que querer já não se pode. Por tudo que existe ser sempre pouco demais...

Sempre troppo poco


Essa foto foi tirada em um motim. Fiquei olhando pra ela um bom tempo pra tentar entender esse momento, pra captar a indignação expressa por essas palavras, e associei essa mensagem - sempre pouco demais - ao que os políticos fazem pelos cidadãos, ao que a organização das nações unidas faz pelos povos que vivem em alerta vermelho, ao que a justiça faz pela sociedade, à "ajuda" que os países ricos em sua generosidade ímpar dão aos pobres. Pensei também no outro lado, no do cidadão que trabalha honestamente, que tem um mundo de vidas pra sustentar, que ainda tem que amar os filhos, amar a mulher, fazer malabarismo com seu salário e vive atormentado pela certeza de que não é e nunca será o suficiente.
Há poucos dias, olhei de novo pra essa foto e fiquei pensando... por que será que é sempre tão pouco? Por que não há plenitude com o que se tem? Por que sempre tentamos do jeito mais difícil, por que insistimos em nos desvencilhar de um futuro que de repente já estava certo? Por que o fácil é tão patético, por que o simples cai no ridículo? Nossas cabeças estão sempre a pensar em algo novo, algo incrível: vamos à revolução! Saímos às ruas, mudamos de cidade, almejamos um outro estilo de vida, uma nova ideologia que nos permita estar sempre aqui e lá, sempre diferentes, sempre preenchendo nossa falta de perspectiva, de imaginação, camuflando nossa mediocridade. Queremos lutar pelas massas e multidões, pelos oprimidos, pelos inúmeros seres que habitam esta terra e suas mazelas. Por favor não me entendam mal quando assim o digo, acredito piamente que é muito importante pensar em nosso papel nesse planeta, e primordial reservar tempo, espaço e disposição para ajudar a mudar o mundo - mas precisamos, ao mesmo tempo, acertar periodicamente as contas conosco. Tem gente que se olha no espelho e acha que do outro lado está Ernesto Guevara; no entanto, o que lá existe nada mais é que o espectro do empoeirado Coronel Aureliano Buendía, também latino, também revolucionário, que vai à luta, que está lá por quem quer que precise, mas que faz guerra unicamente pra esquecer-se de si, um idealista sem ideal, que dia após dia acumula derrotas na revolução de si próprio, até ser consumido por cem anos de solidão.
Penso que muitas vezes somos tidos como mártires, santos, heróis, aclamados por um coro sem precedentes, e quando cai a noite, com o coração apertado, estamos sozinhos e tentamos chorar, abraçados aos travesseiros, numa tentativa de tirar do peito a angustiante resignação por não termos o que não temos, por querermos o que querer já não se pode. Por tudo que existe ser sempre pouco demais...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Vai tomar banho, filho de Deus!

Lava essas vergonhas
com sabão e senso
pelo amor de Deus!

Lava as impurezas
de sua cabeça
com shampoo dos seus

lava esses seus sonhos
sujos e medonhos
LAVA A SUA FOME

lava essas feridas
lava sua vida,
seu filho do Homem!

Vai tomar banho, filho de Deus!

Lava essas vergonhas
com sabão e senso
pelo amor de Deus!

Lava as impurezas
de sua cabeça
com shampoo dos seus

lava esses seus sonhos
sujos e medonhos
LAVA A SUA FOME

lava essas feridas
lava sua vida,
seu filho do Homem!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Capítulo 8 - Madame Satã: a batalha final

O bem vence o mal
Espanta o temporal
Azul, amarelo
Tudo é muito belo!...


Aqui tá sendo uma novela mesmo, gente, e como diria uma pessoa muitíssimo sabia... SURREAL! Madame Satã pirou tanto minha cabeça que tive que sair de lá. Ela é um ser tão deprimido, tão reprimido e tão encardido que esse climão depressão começou a tomar conta de mim sempre que eu tava na casa dela.

Rebobinando um pouco a fita: lembram-se que no primeiro capítulo disse que a dona da casa era um pouco estranha? Bem, resumindo bastante, aí vão os fatos mais marcantes: 1) depois de um dia inteiro dentro de um avião, eu cheguei na porta da casa dela e fui recebida com regras hitlerianas, que foram pregadas pela casa num estilo totalmente “no mercy”; 2) sua figura, juntamente com seu inconfundível sotaque, claramente indicavam que ela era do Paquistão e ela insistia em dizer que era alemã, como se isso melhorasse alguma coisa; 3) basicamente, ela era uma senhora solitária, deprimida, paranóica, que não deixava a gente usar a cozinha, nem conversar na casa, nem entrar no banheiro das 7 às 7.30. Tudo normal, mas o melhor de tudo é que ela era fanática por Jesus. Aí pensei comigo: uma criatura sinistra dessa que, como se não bastasse, ainda é fanática por Jesus, precisa muito de salvação. Pronto: bem vinda à trama, MADAME SATÃ!

Pra começar, eu tinha que comer, beber, ler, conversar, trocar de roupa, ver tv, pentear o cabelo, pular corda, andar de bicicleta, plantar bananeira, tudo naquela polha daquele canário daquele quarto. E o quarto, como se já não bastasse, era o sonho de todo vendedor de móveis antigos - a loja pronta! Nunca vi tanto móvel junto... ele é do tamanho da biblioteca da Cultura Colégio Arnaldo, e tem uma cama de casal, um guarda-roupa, uma mesa com uma tv, uma cômoda, um sofá - repito: um sofá! -, uma mesa de centro (????) e uma penteadeira. Agora o mais trash: CARPETE COM TAPETE POR CIMA, VEEEEEEEEEEIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!! Parece que ela nunca na vida deu uma olhadinha debaixo dos caracóis dos cabelos dos tapetes da casa dela, e quando eu, num tom super boa-praça, pedi pra dar uma olhadela sem compromisso no hoover, brasileiramente chamado de aspirador - eu ia mesmo é dar um grito, laçar o sujeito, me trancar no quarto e pedir resgate pra devolver - ela deu um sorrisinho sinistro - brrrrrrrr - e saiu. Só imaginem a situação - nem dá, né?

Pois bem, como se não bastasse toda essa atmosfera, vou eu na quinta passada tomar meu glorioso banho - ah, que bom, pelo menos o banho era quentinho, gostoso, tinha água... ops, eu disse "tinha" água? ISSO MESMO, GENTE, PORQUE SIMPLESMENTE NÃO TINHA MAIS!!! No que eu sacudi o chuveiro, liguei a torneira, desliguei, liguei tudo no máximo, no mínimo e no mais ou menos - e enquanto isso por favor compreendam que tava frio pra canário lá dentro - e NADA. A água foi ficando ralinha, xoxa, minguou... e secou! Pronto, eu, empacotadora de delivery, que significa basicamente ficar numa cozinha relativamente pequena sem exaustor ao lado da lava-louça com seu bafo, que consequentemente quer dizer que se vc não lavar o cabelo todo dia a coisa fica bem complicada... SEM ÁGUA NO BANHEIRO FALTANDO 15 MINUTOS PRA EU SAIR DE CASA!!! Beleza. Respira. Isso, lá no fundo. Putz, faz de novo então, vai ver dá pra captar alguma idéia com seu nariz wireless. Isso, tranquila. Ótimo. PUTAQUIPARIU, TÁ NA HORA DE TRABALHAR!

Bem, depois desse episódio um pouco complicado, resolvi que não podia mais ficar nem sem tomar banho e nem morando lá. Mas Madame Satã é assim: quando vc precisa dela, she’s never there. Você escuta passos, ouve vozes, mas quando bate na porta da casa dela - a casa dela é a sala, gente - ninguém responde. Percebi então que eu tinha que pensar num horário em que eu com certeza cruzaria com ela. Foi aí que me lembrei de um dos 7 bilhetes que ela pregou pela casa, com ordens ditatoriais que, segundo ela, deveriam ser cumpridas pra que a gente pudesse viver em família. Que lindo, né? Fala a verdade... Um desses bilhetes exibia a polida mensagem "Do not use bathroom from 7.00 to 7.30 - family use”. Agora ela sabia o que era família, hein? Ou seja: eu, ser solitário que habito esse museu, vou usar o banheiro nesse horário, e se você tiver vontade de fazer xixi entre 7.00 e 7.30, não é problema meu, HAHAHAHAHA!!! Resolvi esperar por ela no dia seguinte, às 7.15, porque, haja vista que o chuveiro estava sem água, ela iria sair logo, logo ou tomar alguma providência a respeito, não? Gente, que isso, surreal demais - alguém podia inventar uma palavra com o mesmo impacto, prometo que eu uso... Eis que a figura franzina greco-paquistanesa de cabelo louro cinza entra no banheiro, liga seu radinho e por lá fica. E eu escuto a água fluindo do chuveiro maravilhosamente durante vários minutos, ininterruptamente. Quando ela saiu do banheiro, nem sabia o que falar. Resolvi dormir mais um pouco e tomar um banho mais tarde. Obviamente, quando eu fui tomar banho... cadê a água? Será que o boi bebeu?

Aí eu pirei, mas novamente quando tentei falar... nada. No meio dessa nebulosidade, Marinão voltou pro Brasil e eu fui convidada pra ficar no lugar dela, numa casa de verdade, com internet de verdade, com uma cozinha de verdade - que isso, já estava até me esquecendo de como usar o fogão - e pessoas legais de verdade mesmo. Bom, deixa eu pensar, será que eu vou, será que vai ser legal, será que... SÓ SE FOR AGORA! Foi literalmente assim. Na segunda eu já estava com tudo empacotado, e assim que o pessoal chegou pra me buscar, apenas joguei minhas malas escada abaixo e me joguei junto com elas. Joguei a chave dentro do correio e senti a melhor sensação de todas, a de que nunca mais cruzaria com Madame Satã e sua cara de Mun-ha no caminho. Mas é claro, óbvio e evidente que não foi assim...

Na afobação de dar meu grito de liberdade, esqueci minha mala mais importante, com todos os meus documentos, dinheiro, passaporte, computador, enfim, minha vida, na porta da casa da enconha. No dia seguinte, tive que ir até lá debaixo de chuva, e ao tocar a campainha, ela abriu com aqueles olhos arregalados de psycho, deu um sorrisinho e eu vi que minha mochila estava exatamente no mesmo lugar, no meio do corredor. Que patético! Aí eu dei uma de psycho também, fui falando várias coisas meio enrolado enquanto ia pegando a mochila, o telefone dela tocou, ela disse que queria que eu entrasse em contato com ela pra esclarecer algumas coisas, ajudá-la ou algo do tipo, e como eu já sabia que ela jamais devolveria meu dinheiro - sim, porque eu havia feito o pagamento até o próximo domingo -, senti muito, quase chorei, e fechei a porta. Foi um dos momentos mais prazerosos da minha vida, devo admitir. Bem, e agora é só alegria! Minha casa nova e otima, estou finalmente comendo bem e fazendo cada coisa no seu devido lugar, se é que vcs me entendem...

Molti baci, a presto!

Capítulo 8 - Madame Satã: a batalha final

O bem vence o mal
Espanta o temporal
Azul, amarelo
Tudo é muito belo!...


Aqui tá sendo uma novela mesmo, gente, e como diria uma pessoa muitíssimo sabia... SURREAL! Madame Satã pirou tanto minha cabeça que tive que sair de lá. Ela é um ser tão deprimido, tão reprimido e tão encardido que esse climão depressão começou a tomar conta de mim sempre que eu tava na casa dela.

Rebobinando um pouco a fita: lembram-se que no primeiro capítulo disse que a dona da casa era um pouco estranha? Bem, resumindo bastante, aí vão os fatos mais marcantes: 1) depois de um dia inteiro dentro de um avião, eu cheguei na porta da casa dela e fui recebida com regras hitlerianas, que foram pregadas pela casa num estilo totalmente “no mercy”; 2) sua figura, juntamente com seu inconfundível sotaque, claramente indicavam que ela era do Paquistão e ela insistia em dizer que era alemã, como se isso melhorasse alguma coisa; 3) basicamente, ela era uma senhora solitária, deprimida, paranóica, que não deixava a gente usar a cozinha, nem conversar na casa, nem entrar no banheiro das 7 às 7.30. Tudo normal, mas o melhor de tudo é que ela era fanática por Jesus. Aí pensei comigo: uma criatura sinistra dessa que, como se não bastasse, ainda é fanática por Jesus, precisa muito de salvação. Pronto: bem vinda à trama, MADAME SATÃ!

Pra começar, eu tinha que comer, beber, ler, conversar, trocar de roupa, ver tv, pentear o cabelo, pular corda, andar de bicicleta, plantar bananeira, tudo naquela polha daquele canário daquele quarto. E o quarto, como se já não bastasse, era o sonho de todo vendedor de móveis antigos - a loja pronta! Nunca vi tanto móvel junto... ele é do tamanho da biblioteca da Cultura Colégio Arnaldo, e tem uma cama de casal, um guarda-roupa, uma mesa com uma tv, uma cômoda, um sofá - repito: um sofá! -, uma mesa de centro (????) e uma penteadeira. Agora o mais trash: CARPETE COM TAPETE POR CIMA, VEEEEEEEEEEIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!! Parece que ela nunca na vida deu uma olhadinha debaixo dos caracóis dos cabelos dos tapetes da casa dela, e quando eu, num tom super boa-praça, pedi pra dar uma olhadela sem compromisso no hoover, brasileiramente chamado de aspirador - eu ia mesmo é dar um grito, laçar o sujeito, me trancar no quarto e pedir resgate pra devolver - ela deu um sorrisinho sinistro - brrrrrrrr - e saiu. Só imaginem a situação - nem dá, né?

Pois bem, como se não bastasse toda essa atmosfera, vou eu na quinta passada tomar meu glorioso banho - ah, que bom, pelo menos o banho era quentinho, gostoso, tinha água... ops, eu disse "tinha" água? ISSO MESMO, GENTE, PORQUE SIMPLESMENTE NÃO TINHA MAIS!!! No que eu sacudi o chuveiro, liguei a torneira, desliguei, liguei tudo no máximo, no mínimo e no mais ou menos - e enquanto isso por favor compreendam que tava frio pra canário lá dentro - e NADA. A água foi ficando ralinha, xoxa, minguou... e secou! Pronto, eu, empacotadora de delivery, que significa basicamente ficar numa cozinha relativamente pequena sem exaustor ao lado da lava-louça com seu bafo, que consequentemente quer dizer que se vc não lavar o cabelo todo dia a coisa fica bem complicada... SEM ÁGUA NO BANHEIRO FALTANDO 15 MINUTOS PRA EU SAIR DE CASA!!! Beleza. Respira. Isso, lá no fundo. Putz, faz de novo então, vai ver dá pra captar alguma idéia com seu nariz wireless. Isso, tranquila. Ótimo. PUTAQUIPARIU, TÁ NA HORA DE TRABALHAR!

Bem, depois desse episódio um pouco complicado, resolvi que não podia mais ficar nem sem tomar banho e nem morando lá. Mas Madame Satã é assim: quando vc precisa dela, she’s never there. Você escuta passos, ouve vozes, mas quando bate na porta da casa dela - a casa dela é a sala, gente - ninguém responde. Percebi então que eu tinha que pensar num horário em que eu com certeza cruzaria com ela. Foi aí que me lembrei de um dos 7 bilhetes que ela pregou pela casa, com ordens ditatoriais que, segundo ela, deveriam ser cumpridas pra que a gente pudesse viver em família. Que lindo, né? Fala a verdade... Um desses bilhetes exibia a polida mensagem "Do not use bathroom from 7.00 to 7.30 - family use”. Agora ela sabia o que era família, hein? Ou seja: eu, ser solitário que habito esse museu, vou usar o banheiro nesse horário, e se você tiver vontade de fazer xixi entre 7.00 e 7.30, não é problema meu, HAHAHAHAHA!!! Resolvi esperar por ela no dia seguinte, às 7.15, porque, haja vista que o chuveiro estava sem água, ela iria sair logo, logo ou tomar alguma providência a respeito, não? Gente, que isso, surreal demais - alguém podia inventar uma palavra com o mesmo impacto, prometo que eu uso... Eis que a figura franzina greco-paquistanesa de cabelo louro cinza entra no banheiro, liga seu radinho e por lá fica. E eu escuto a água fluindo do chuveiro maravilhosamente durante vários minutos, ininterruptamente. Quando ela saiu do banheiro, nem sabia o que falar. Resolvi dormir mais um pouco e tomar um banho mais tarde. Obviamente, quando eu fui tomar banho... cadê a água? Será que o boi bebeu?

Aí eu pirei, mas novamente quando tentei falar... nada. No meio dessa nebulosidade, Marinão voltou pro Brasil e eu fui convidada pra ficar no lugar dela, numa casa de verdade, com internet de verdade, com uma cozinha de verdade - que isso, já estava até me esquecendo de como usar o fogão - e pessoas legais de verdade mesmo. Bom, deixa eu pensar, será que eu vou, será que vai ser legal, será que... SÓ SE FOR AGORA! Foi literalmente assim. Na segunda eu já estava com tudo empacotado, e assim que o pessoal chegou pra me buscar, apenas joguei minhas malas escada abaixo e me joguei junto com elas. Joguei a chave dentro do correio e senti a melhor sensação de todas, a de que nunca mais cruzaria com Madame Satã e sua cara de Mun-ha no caminho. Mas é claro, óbvio e evidente que não foi assim...

Na afobação de dar meu grito de liberdade, esqueci minha mala mais importante, com todos os meus documentos, dinheiro, passaporte, computador, enfim, minha vida, na porta da casa da enconha. No dia seguinte, tive que ir até lá debaixo de chuva, e ao tocar a campainha, ela abriu com aqueles olhos arregalados de psycho, deu um sorrisinho e eu vi que minha mochila estava exatamente no mesmo lugar, no meio do corredor. Que patético! Aí eu dei uma de psycho também, fui falando várias coisas meio enrolado enquanto ia pegando a mochila, o telefone dela tocou, ela disse que queria que eu entrasse em contato com ela pra esclarecer algumas coisas, ajudá-la ou algo do tipo, e como eu já sabia que ela jamais devolveria meu dinheiro - sim, porque eu havia feito o pagamento até o próximo domingo -, senti muito, quase chorei, e fechei a porta. Foi um dos momentos mais prazerosos da minha vida, devo admitir. Bem, e agora é só alegria! Minha casa nova e otima, estou finalmente comendo bem e fazendo cada coisa no seu devido lugar, se é que vcs me entendem...

Molti baci, a presto!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Second impressions of Earth

Quando eu vejo tanta chuva,
tristeza e indiferença,
solidão e agonia,
poluição e angústia,
só consigo chegar a uma conclusão:
o mundo enfim dominou o mundo.

Second impressions of Earth

Quando eu vejo tanta chuva,
tristeza e indiferença,
solidão e agonia,
poluição e angústia,
só consigo chegar a uma conclusão:
o mundo enfim dominou o mundo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Capítulo 7 - Happy Slapping

Fala, gente,

Hoje vou contar pra vocês algumas situações que acontecem com uma certa frequência por aqua - pelo menos de acordo com os jornaizinhos do metrô... Como aqui o governo ajuda bastante as pessoas de baixa renda, não é tão comum se deparar com pickpockets, essas pessoas que enfiam a mão na sua bolsa ou até no seu bolso sem você perceber, ou muggers, na nossa língua: pivetes, ladrões, marginais, esse naipe. Em compensação, os crimes daqui são - se não mais - tão bárbaros quanto os nossos, mas parecem ser oriundos de outras fontes, como obsessões, compulsões, perversões e outros problemas de ordem psicológica. Não que eles não aconteçam no Brasil, mas acho - talvez ingenuamente - que aqui a coisa é um pouco pior nesse sentido.

Por exemplo, entrei numa lojinha na semana passada e havia um cartaz com uma manchete dizendo algo do tipo "busca por armas recomeça com a volta as aulas". Estranho, não? Pra mim foi bem estranho, principalmente se considerarmos que essas escolas não estão no meio das favelas e comunidades mais perigosas da região, nossa desculpa pra esse absurdo.

Uma coisa bem na moda aqui no momento é o tal de "happy slapping", que consiste basicamente em um grupo de adolescentes, geralmente entre 13 e 16 anos; esse grupo escolhe alguém sozinho na rua pra dar porrada, e existem vários critérios de escolha. Enquanto uns batem, os outros filmam nos celulares e colocam na internet depois. Eu até assisti a um filme sobre isso antes de vir pra cá chamado "Valente" - com Jodie Foster e Naveen Andrews, aquele indiano do Lost, que aliás eu soube que era viciado em heroina, but it's none of my business anyway, ok, going back... - e antes disso nunca tinha ouvido falar em nada parecido - além dos skin heads, claro. No filme, o cara morre com o espancamento, o que me chocou ainda mais. Mas tudo bem, tem uns filmes que impressionam a gente mesmo, mas depois passa, não é assim? Nada, gente, passa não.

Pois que estava eu chegando na estação de metrô quando recebi um jornal - ah, não contei, todo dia eles distribuem um jornalzinho gratuito na porta da estação, e pra pessoas como eu, que NUNCA, repito, NUNCA lêem jornal, é até um passatempo interessante. Inclusive, as pessoas aqui tem uma coisa com a Kate Moss impressionante - todo dia tem uma foto ou uma matéria sobre ela no jornal, sempre born to be wild, e parece que ela é a unica modelo da Inglaterra, porque ela simplesmente está em TODAS as campanhas publicitárias, de shampoo, roupa, maquiagem, esmalte, enfim, tipo a Ivete Sangalo aí - acho que se ela cantasse então seria foda! Mas tentando sempre voltar ao assunto, recebi o jornalzinho - que tinha obviamente uma matéria da Kate Moss, em que ela, ao assistir a um desfile, levantou e começou a desfilar para delírio dos fãs, antes de (a?)baixar as calças e fazer xixi no jardim do evento (ui, tão peculiar...) - e depois de muita diversão com as noticias sobre as celebridades UK/USA, li uma nota sobre uma garota de 16 anos que havia sido brutalmente espancada num desses "happy slapping" (vcs tão percebendo a doença? Se isso é happy, imaginem o sad…). Obviamente a primeira coisa que me veio à mente foi o filme da Jodie Foster - aliás ela fez uns filmes que ninguém esquece, né? Aquele "Silêncio dos Inocentes", por exemplo, puta madre!!! - e comecei (claro!) a pensar sobre isso. Pensei, pensei... e passou, parei de pensar.

Eis que estava eu, essa pessoa que vcs conhecem, depois de umas pints, andando por Camden Town com meu amigo belo horizontino-brasiliense Leo - estão lembrando, aquele bairro alternativo, cheio de punks e afins? - bem distraída e tranquila - imaginem a cena por favor, dá mais emoção! -, me sentindo sensacional. Ótimo, né? Passa por mim nesse momento um cachorrinho, lindo, boxer - adoro boxer - e eu, achando em meu doce devaneio que ele era só mais uma parte boa do meu dia assaz agradável, disse pra ele um "hey, doggy!". O cachorro me olhou de relance e deu um latido. OK, cachorros latem mesmo, uai, normal, ele nem me conhece... Aí é que vem a bomba: a dona do cachorro. A dona do cachorro olhou pra mim com um ódio latejante e gritou "Walk!". Gente, que isso, né, deve ser uma pegadinha, não é possível! Pensando assim, olhei pra ela e disse calmamente "Excuse me, are you talking to ME?", ao que ela respondeu quase espumando a boca "Who the hell would I be talking to? I said WALK!" Não acreditei. Saí da minha nuvem rosa e falei do jeito mais suave que eu consegui "Look, tell YOUR DOG to walk, not me. I've never seen you before, I've got nothing to do with you and I didn't do anything to you OR to your dog". Queeeeeeeeee iiiiiiissssssssssssso!!! A mulher pirou. Só pra vcs visualizarem a situação um pouco melhor: a mulher era na verdade uma menina, de uns 16 anos, estilo revoltadinha punkzinha com os amiguinhos caricaturinhas. Essa mesma mulher-menina-punk-rage quase que não esperou eu acabar de falar - deu um passo grande pra frente como se quisesse mostrar que estava vindo pra cima, ao que os amiguinhos fizeram que iam segurá-la, e lançou um "Walk! Are you bloody deaf? Get out of my fucking sight-right-now", ao que eu respondi dando meia volta - só porque o Leo insistiu, claro... - e andando rapidinho, preparada até pra pedir desculpa e beijar o cão danado se fosse o caso... Eu, hein?

VOLTA PRO MAR, OFERENDA!!!

Bjos e hasta luego!

Capítulo 7 - Happy Slapping

Fala, gente,

Hoje vou contar pra vocês algumas situações que acontecem com uma certa frequência por aqua - pelo menos de acordo com os jornaizinhos do metrô... Como aqui o governo ajuda bastante as pessoas de baixa renda, não é tão comum se deparar com pickpockets, essas pessoas que enfiam a mão na sua bolsa ou até no seu bolso sem você perceber, ou muggers, na nossa língua: pivetes, ladrões, marginais, esse naipe. Em compensação, os crimes daqui são - se não mais - tão bárbaros quanto os nossos, mas parecem ser oriundos de outras fontes, como obsessões, compulsões, perversões e outros problemas de ordem psicológica. Não que eles não aconteçam no Brasil, mas acho - talvez ingenuamente - que aqui a coisa é um pouco pior nesse sentido.

Por exemplo, entrei numa lojinha na semana passada e havia um cartaz com uma manchete dizendo algo do tipo "busca por armas recomeça com a volta as aulas". Estranho, não? Pra mim foi bem estranho, principalmente se considerarmos que essas escolas não estão no meio das favelas e comunidades mais perigosas da região, nossa desculpa pra esse absurdo.

Uma coisa bem na moda aqui no momento é o tal de "happy slapping", que consiste basicamente em um grupo de adolescentes, geralmente entre 13 e 16 anos; esse grupo escolhe alguém sozinho na rua pra dar porrada, e existem vários critérios de escolha. Enquanto uns batem, os outros filmam nos celulares e colocam na internet depois. Eu até assisti a um filme sobre isso antes de vir pra cá chamado "Valente" - com Jodie Foster e Naveen Andrews, aquele indiano do Lost, que aliás eu soube que era viciado em heroina, but it's none of my business anyway, ok, going back... - e antes disso nunca tinha ouvido falar em nada parecido - além dos skin heads, claro. No filme, o cara morre com o espancamento, o que me chocou ainda mais. Mas tudo bem, tem uns filmes que impressionam a gente mesmo, mas depois passa, não é assim? Nada, gente, passa não.

Pois que estava eu chegando na estação de metrô quando recebi um jornal - ah, não contei, todo dia eles distribuem um jornalzinho gratuito na porta da estação, e pra pessoas como eu, que NUNCA, repito, NUNCA lêem jornal, é até um passatempo interessante. Inclusive, as pessoas aqui tem uma coisa com a Kate Moss impressionante - todo dia tem uma foto ou uma matéria sobre ela no jornal, sempre born to be wild, e parece que ela é a unica modelo da Inglaterra, porque ela simplesmente está em TODAS as campanhas publicitárias, de shampoo, roupa, maquiagem, esmalte, enfim, tipo a Ivete Sangalo aí - acho que se ela cantasse então seria foda! Mas tentando sempre voltar ao assunto, recebi o jornalzinho - que tinha obviamente uma matéria da Kate Moss, em que ela, ao assistir a um desfile, levantou e começou a desfilar para delírio dos fãs, antes de (a?)baixar as calças e fazer xixi no jardim do evento (ui, tão peculiar...) - e depois de muita diversão com as noticias sobre as celebridades UK/USA, li uma nota sobre uma garota de 16 anos que havia sido brutalmente espancada num desses "happy slapping" (vcs tão percebendo a doença? Se isso é happy, imaginem o sad…). Obviamente a primeira coisa que me veio à mente foi o filme da Jodie Foster - aliás ela fez uns filmes que ninguém esquece, né? Aquele "Silêncio dos Inocentes", por exemplo, puta madre!!! - e comecei (claro!) a pensar sobre isso. Pensei, pensei... e passou, parei de pensar.

Eis que estava eu, essa pessoa que vcs conhecem, depois de umas pints, andando por Camden Town com meu amigo belo horizontino-brasiliense Leo - estão lembrando, aquele bairro alternativo, cheio de punks e afins? - bem distraída e tranquila - imaginem a cena por favor, dá mais emoção! -, me sentindo sensacional. Ótimo, né? Passa por mim nesse momento um cachorrinho, lindo, boxer - adoro boxer - e eu, achando em meu doce devaneio que ele era só mais uma parte boa do meu dia assaz agradável, disse pra ele um "hey, doggy!". O cachorro me olhou de relance e deu um latido. OK, cachorros latem mesmo, uai, normal, ele nem me conhece... Aí é que vem a bomba: a dona do cachorro. A dona do cachorro olhou pra mim com um ódio latejante e gritou "Walk!". Gente, que isso, né, deve ser uma pegadinha, não é possível! Pensando assim, olhei pra ela e disse calmamente "Excuse me, are you talking to ME?", ao que ela respondeu quase espumando a boca "Who the hell would I be talking to? I said WALK!" Não acreditei. Saí da minha nuvem rosa e falei do jeito mais suave que eu consegui "Look, tell YOUR DOG to walk, not me. I've never seen you before, I've got nothing to do with you and I didn't do anything to you OR to your dog". Queeeeeeeeee iiiiiiissssssssssssso!!! A mulher pirou. Só pra vcs visualizarem a situação um pouco melhor: a mulher era na verdade uma menina, de uns 16 anos, estilo revoltadinha punkzinha com os amiguinhos caricaturinhas. Essa mesma mulher-menina-punk-rage quase que não esperou eu acabar de falar - deu um passo grande pra frente como se quisesse mostrar que estava vindo pra cima, ao que os amiguinhos fizeram que iam segurá-la, e lançou um "Walk! Are you bloody deaf? Get out of my fucking sight-right-now", ao que eu respondi dando meia volta - só porque o Leo insistiu, claro... - e andando rapidinho, preparada até pra pedir desculpa e beijar o cão danado se fosse o caso... Eu, hein?

VOLTA PRO MAR, OFERENDA!!!

Bjos e hasta luego!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Amor pra mim

Amor
Amor pra
Amor pra mim
E pra você.
Amor pra mim?
Sim, pra você.
Amor pra quê?
Não sei, mas é.
Você não vê?
Você não quer?

Amor
Amor pra
Amor pra mim
E só pra mim.
E pra você?
Bem, vamos ver:
você não quer
você não vê.

Amor pra mim -
primeiro eu!
E pra você
amor, amor
mas não o meu.

Amor pra mim

Amor
Amor pra
Amor pra mim
E pra você.
Amor pra mim?
Sim, pra você.
Amor pra quê?
Não sei, mas é.
Você não vê?
Você não quer?

Amor
Amor pra
Amor pra mim
E só pra mim.
E pra você?
Bem, vamos ver:
você não quer
você não vê.

Amor pra mim -
primeiro eu!
E pra você
amor, amor
mas não o meu.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Capítulo 6 - A Filipina

Ei, gente,

Bem, nem queria que minha mãe estivesse incluída nesse capítulo, porque vou contar algo muito estranho que aconteceu comigo essa semana. Em casa de Madame Satã existe uma faxineira - que conversa muito mais do que faxina, but it's none of my business, anyway - que aproveitou a primeira saída da nossa old lady para oferecer quartos para nós. Sempre muito sorridente e prestativa, nossa nova amiga logo soube - por minha amiga tcheca - que alguém precisaria de uma moradia com uma certa urgência, e se pôs logo a exercer seu papel fraterno-maternal.

Como a senhora landlady se ausentou por uma semana, ela tratou de afixar os três telefones principais de sua casa na geladeira: o de seu filho, seu celular e o de Myra, a ajudante. Sabendo que Myra tinha quartos a oferecer, deixei uma mensagem em seu telefone, que nunca atendia - parecendo o de alguém que eu conheço -, pedindo que ela entrasse em contato a respeito dos quartos.

No sábado, estou eu lendo Madame Bovary em inglês, com meu amigo dicionário sempre ao lado, quando bate a campainha inoportuna: era Myra. Muito tranquila, a faxineira filipina me pediu que a encontrasse na esquina de minha casa para procurarmos por apartamentos, já que seu namorado - segundo ela - se encaixava exatamente nesse ramo de atuação. Chegando lá, o que vi foi uma pessoa pequena e aflita, com os dentes cheios de arame e outros aparatos. Rapidamente ela tomou minha mão e me pediu para entrar no prédio em frente a onde estávamos. Segui as instruções e, subindo uma escada suja e mal-cuidada, chegamos ao que chamam de apartamento. Nunca vi nada igual na vida. As pessoas que moram no Brasil muitas vezes alimentam falsas expectativas com relação a outro país, mas digo a vocês que moquifo é o que não falta nessa cidade onde cada um tem o seu Deus e ninguém acredita nele no final das contas.

Quando entrei na pocilga = apartamento, uma senhora filipina e sua filha se espremiam no quarto-sala-copa, enquanto minha nova amiga rapidamente colocava tudo que havia no seu quarto dentro de suas gigantescas sacolas de plástico - soube que elas são um sucesso entre os indigentes por aqui. Não entendendo do que se tratava, apenas fiz o que me foi instruído, ou seja, guarde tudo dentro dessas sacolas, estou partindo. Em seguida, um táxi foi chamado, e a cada uma de minhas perguntas, uma resposta diferente - agora entendo porque os agentes da imigração perguntam várias vezes a mesma coisa de formas diferentes...

Voltamos à casa de Madame Falsary, pegamos as bagagens e fomos para a rua mais movimentada de Kilburn - um bairro bem localizado mas simples, onde tudo é barato. Lá ela desembarcou, no meio do centro de BH, com umas 6 malas com uma Érika em cada uma. Depois de abrirmos a porta para o inferno, subimos uma escada sinistra - eu carregando malas para uma pessoa que iria me mostrar apartamentos, for Christ's sake!!!, e que eu havia visto um dia na vida (santa tartaruga, Érika Amâncio!!!) - e chegamos ao seu quarto, um amontoado de móveis, com uma cama de casal, uma cômoda antiga, um guarda-roupas datado de ainda mais tempo, e - o mais intrigante - um aparato eletrônico de dar inveja a qualquer leigo. Lá ela espalhou suas malas, tentando escondê-las o máximo possível, alegando que seu namorado iria maldizê-la por ter tantas malas, o que consequentemente confirmaria sua excessiva quantidade de roupas e sapatos. Em um dado momento, ela me disse para não chamá-la de Myra - agora ela era Yra, e pronto. Simples assim (Oi!). Pressionou-me muito para que esperasse o grande amor de sua vida, o gentleman que ajudava a todos os filipinos que ali se instalavam - a pocilga tem andares, gente, infinitas escadas, pra quem acha que o paraíso é para cima se calar de uma vez.

Eis que às três horas da tarde chega o homem. Sujeito de uns 65 anos aproximadamente, cabelos para trás como os de Tancredo e de Sarney, poucos cabelos, mas tentando manter a cor escura, tipo mafioso estilo alerta vermelho, quase com um charuto na mão, bem-vestido, alinhado - até demais - para a ocasião. Eis que o senhor chega, se apresenta, aperta minha mão ao ouvir meu nome, senta-se no sofá - dificil, o quarto parece uma sala de móveis - e começa a falar. Gaba-se ao enumerar seus inúmeros negócios, dentre eles o de captar novos alunos para uma universidade - cujo nome já chequei e concluí que existe. Nessa brincadeira, ele primeiramente me pediu para que arrecadasse alunos e que tratasse diretamente com ele, dizendo que 'aqui não precisamos trabalhar; se eu faço dinheiro, vc faz também'. Achei tudo muito estranho, principalmente o fato de a filipina estar tão excitada desde a chegada de seu bem-amado - para ficar mais claro, ela tem dois filhos aos cuidados da mãe em seu país e deve ter mais ou menos uns 38 anos.

Pedi para ir ao banheiro e, ao voltar, pude ouvi-la dizer a seu amante 'só quero que ela fique segura'; como o Poderoso Chefão percebeu que eu havia ouvido a última súplica, disse com uma risada nervosa: 'é claro que ela ficará segura, falando assim parece que eu quero matá-la ou algo do tipo, hehehe...'. QUEEEEEEE IIIIIIIISSSSSSSOOOOOOO!!!!! Depois ele veio com um papo de que havia um teste para estudantes que quisessem ficar indefinidamente em Londres, que consistia basicamente em falar algumas coisas com o gravador ligado, mandar a gravação para o Home Office e pronto. Fácil, né? Segundo ele, era um procedimento novo, do qual ninguém sabia (tão inocente, né, tadinho... será que alguém cai nesse conto do vigário?).

Achando o rumo daquela conversa um tanto estranho, principalmente depois de tantas mentiras ditas e desditas pela amiga filipina, resolvi pedir licença e sair da casa, alegando que precisava comprar algumas roupas para meu novo emprego, para o qual deveria estar disponível em poucas horas - o que quis dizer na verdade foi: 'não se atrevam a fazer qualquer coisa contra mim, bloody motherfuckers, porque muita gente vai dar trabalho pra vcs!'. A mulher insistiu para ir comigo, e vi o homem imediatamente, depois de me dar uma olhada bem geral, pegar o celular e conversar com alguém em uma língua que eu não entendi, igualzinho àquele filme 'Tráfico Humano'.

A filipina insistiu o tempo todo em pegar na minha mão e dizer o tempo todo que era minha tia, que se alguém perguntasse qualquer coisa, isso era o que eu deveria responder. Dei um jeito de sair fora delicadamente, alegando que meu ônibus estava vindo, e fui embora muito rápido. Ela me ligou hoje duas vezes, e não me dignei a responder. Prestem bastante atenção às pessoas do mundo - elas são várias, e podem ser muito, mas muito perversas...

Capítulo 6 - A Filipina

Ei, gente,

Bem, nem queria que minha mãe estivesse incluída nesse capítulo, porque vou contar algo muito estranho que aconteceu comigo essa semana. Em casa de Madame Satã existe uma faxineira - que conversa muito mais do que faxina, but it's none of my business, anyway - que aproveitou a primeira saída da nossa old lady para oferecer quartos para nós. Sempre muito sorridente e prestativa, nossa nova amiga logo soube - por minha amiga tcheca - que alguém precisaria de uma moradia com uma certa urgência, e se pôs logo a exercer seu papel fraterno-maternal.

Como a senhora landlady se ausentou por uma semana, ela tratou de afixar os três telefones principais de sua casa na geladeira: o de seu filho, seu celular e o de Myra, a ajudante. Sabendo que Myra tinha quartos a oferecer, deixei uma mensagem em seu telefone, que nunca atendia - parecendo o de alguém que eu conheço -, pedindo que ela entrasse em contato a respeito dos quartos.

No sábado, estou eu lendo Madame Bovary em inglês, com meu amigo dicionário sempre ao lado, quando bate a campainha inoportuna: era Myra. Muito tranquila, a faxineira filipina me pediu que a encontrasse na esquina de minha casa para procurarmos por apartamentos, já que seu namorado - segundo ela - se encaixava exatamente nesse ramo de atuação. Chegando lá, o que vi foi uma pessoa pequena e aflita, com os dentes cheios de arame e outros aparatos. Rapidamente ela tomou minha mão e me pediu para entrar no prédio em frente a onde estávamos. Segui as instruções e, subindo uma escada suja e mal-cuidada, chegamos ao que chamam de apartamento. Nunca vi nada igual na vida. As pessoas que moram no Brasil muitas vezes alimentam falsas expectativas com relação a outro país, mas digo a vocês que moquifo é o que não falta nessa cidade onde cada um tem o seu Deus e ninguém acredita nele no final das contas.

Quando entrei na pocilga = apartamento, uma senhora filipina e sua filha se espremiam no quarto-sala-copa, enquanto minha nova amiga rapidamente colocava tudo que havia no seu quarto dentro de suas gigantescas sacolas de plástico - soube que elas são um sucesso entre os indigentes por aqui. Não entendendo do que se tratava, apenas fiz o que me foi instruído, ou seja, guarde tudo dentro dessas sacolas, estou partindo. Em seguida, um táxi foi chamado, e a cada uma de minhas perguntas, uma resposta diferente - agora entendo porque os agentes da imigração perguntam várias vezes a mesma coisa de formas diferentes...

Voltamos à casa de Madame Falsary, pegamos as bagagens e fomos para a rua mais movimentada de Kilburn - um bairro bem localizado mas simples, onde tudo é barato. Lá ela desembarcou, no meio do centro de BH, com umas 6 malas com uma Érika em cada uma. Depois de abrirmos a porta para o inferno, subimos uma escada sinistra - eu carregando malas para uma pessoa que iria me mostrar apartamentos, for Christ's sake!!!, e que eu havia visto um dia na vida (santa tartaruga, Érika Amâncio!!!) - e chegamos ao seu quarto, um amontoado de móveis, com uma cama de casal, uma cômoda antiga, um guarda-roupas datado de ainda mais tempo, e - o mais intrigante - um aparato eletrônico de dar inveja a qualquer leigo. Lá ela espalhou suas malas, tentando escondê-las o máximo possível, alegando que seu namorado iria maldizê-la por ter tantas malas, o que consequentemente confirmaria sua excessiva quantidade de roupas e sapatos. Em um dado momento, ela me disse para não chamá-la de Myra - agora ela era Yra, e pronto. Simples assim (Oi!). Pressionou-me muito para que esperasse o grande amor de sua vida, o gentleman que ajudava a todos os filipinos que ali se instalavam - a pocilga tem andares, gente, infinitas escadas, pra quem acha que o paraíso é para cima se calar de uma vez.

Eis que às três horas da tarde chega o homem. Sujeito de uns 65 anos aproximadamente, cabelos para trás como os de Tancredo e de Sarney, poucos cabelos, mas tentando manter a cor escura, tipo mafioso estilo alerta vermelho, quase com um charuto na mão, bem-vestido, alinhado - até demais - para a ocasião. Eis que o senhor chega, se apresenta, aperta minha mão ao ouvir meu nome, senta-se no sofá - dificil, o quarto parece uma sala de móveis - e começa a falar. Gaba-se ao enumerar seus inúmeros negócios, dentre eles o de captar novos alunos para uma universidade - cujo nome já chequei e concluí que existe. Nessa brincadeira, ele primeiramente me pediu para que arrecadasse alunos e que tratasse diretamente com ele, dizendo que 'aqui não precisamos trabalhar; se eu faço dinheiro, vc faz também'. Achei tudo muito estranho, principalmente o fato de a filipina estar tão excitada desde a chegada de seu bem-amado - para ficar mais claro, ela tem dois filhos aos cuidados da mãe em seu país e deve ter mais ou menos uns 38 anos.

Pedi para ir ao banheiro e, ao voltar, pude ouvi-la dizer a seu amante 'só quero que ela fique segura'; como o Poderoso Chefão percebeu que eu havia ouvido a última súplica, disse com uma risada nervosa: 'é claro que ela ficará segura, falando assim parece que eu quero matá-la ou algo do tipo, hehehe...'. QUEEEEEEE IIIIIIIISSSSSSSOOOOOOO!!!!! Depois ele veio com um papo de que havia um teste para estudantes que quisessem ficar indefinidamente em Londres, que consistia basicamente em falar algumas coisas com o gravador ligado, mandar a gravação para o Home Office e pronto. Fácil, né? Segundo ele, era um procedimento novo, do qual ninguém sabia (tão inocente, né, tadinho... será que alguém cai nesse conto do vigário?).

Achando o rumo daquela conversa um tanto estranho, principalmente depois de tantas mentiras ditas e desditas pela amiga filipina, resolvi pedir licença e sair da casa, alegando que precisava comprar algumas roupas para meu novo emprego, para o qual deveria estar disponível em poucas horas - o que quis dizer na verdade foi: 'não se atrevam a fazer qualquer coisa contra mim, bloody motherfuckers, porque muita gente vai dar trabalho pra vcs!'. A mulher insistiu para ir comigo, e vi o homem imediatamente, depois de me dar uma olhada bem geral, pegar o celular e conversar com alguém em uma língua que eu não entendi, igualzinho àquele filme 'Tráfico Humano'.

A filipina insistiu o tempo todo em pegar na minha mão e dizer o tempo todo que era minha tia, que se alguém perguntasse qualquer coisa, isso era o que eu deveria responder. Dei um jeito de sair fora delicadamente, alegando que meu ônibus estava vindo, e fui embora muito rápido. Ela me ligou hoje duas vezes, e não me dignei a responder. Prestem bastante atenção às pessoas do mundo - elas são várias, e podem ser muito, mas muito perversas...