segunda-feira, 28 de abril de 2014

Conta-gotas

Pingam expectativas por minhas têmporas assimétricas, como a lembrarem-me que esperar do outro gera desalento, desafeto, desdém, desunião, desânimo, descrença, desespero. Há muito tenho razões para me apoiar em tal pensamento, mas ainda assim espero como o verbo transitivo espera por seu objeto. Num breve instante de alegrias, deixei minhas vergonhas e meus medos para uma outra vez - convidei-lhe a perdê-los comigo. Sua vida, no entanto, é diversa; em meio às suas conjecturas e dúvidas seus olhos me disseram que não, que há um escudo ao redor do seu peito, a proteger-lhe o coração machucado que carrega consigo. Quantas marcas o tempo fez em nós em tão pouco tempo... perco-me no meio da frase para reler os gestos soltos do seu corpo, de tanto faz como tanto fez, de eu não tenho a resposta. Nesse momento, prefiro precisar de mim, sem nostalgia ou aposta, com a incerteza de quem acha que se encontra pela primeira vez.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Presente

E eu que ando distraída, pensando no que me apraz e no que me convém... cruzando verdes campos em sonhos, fechando os olhos sob o sol, corpo ao relento... vestindo fantasias que me vestem também, que me enxergam tão bem, sopros de vida a dois, grãos de depois, rima sozinha... Espero pela chuva que disse que vinha, quero que a solidão que me aninha nos desconforte - porque um dia eu cultivei um dom e confiei na sorte, numa linha torta ou fio solto que me oriente. Aqui dentro... sempre presente; sempre presente.