sexta-feira, 30 de novembro de 2012

One day

"I love you - I just don't like you anymore."

http://www.youtube.com/watch?v=zVuuooZqVaU

PS: By the way, nice to meet you - I'm Emma (just not a successful writer yet ;)

One day

"I love you - I just don't like you anymore."

http://www.youtube.com/watch?v=zVuuooZqVaU

PS: By the way, nice to meet you - I'm Emma (just not a successful writer yet ;)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Intelectrico

... e tenho de forma cada vez mais petulante me sentido... inteligente.  O contato com a vida acadêmica me libertou de um trauma antigo: o de gostar de livros em um momento, digamos, desfavorável. Agora uso óculos, ouço a música que eu quiser e leio. Muito. Sempre foi assim, mas agora tem um fato novo: posso falar sobre isso com outras pessoas e, dentro dessas intermináveis discussões que flutuam pelas salas de aula e perdem a classe em fóruns online, acabo por construir algo diferente, algo no qual talvez eu não tenha tido a sorte (ou o azar) de pensar antes. Depois das tantas coisas que tentei começar, improvisar, aperfeiçoar, percebi que estudar não depende de mais ninguém; é fluido, confortável, sozinho sem ser solitário, como nadar no escuro em uma noite de lua cheia, água morna. Enfim, nessa onda antes tarde do que blablabla, cá estou eu, pensando como louca. Penso e isso deveria diminuir a minha angústia, mas esse é o mal dos velhos junkies: acabam transferindo o vício, porque viver sem a compulsão não faz o menor sentido - o peito precisa dar uns pulos de vez em quando, velho, senão qual é a graça disso tudo? Desconto toda a saudade da minha Brahma em monólogos, diálogos, a falácia de quem acha que sabe das coisas - mal de professor. Em um ano já pensei em ir para a África, para Londres, para o campo, para a televisão, para os quintos dos infernos, para um lugar ao sol, aquele lugar quentinho em que ele nasce pra todos, mas acabei ficando aqui. Penso e acho que decidi, fico só, fico sã, fico meio desiludida com o jeito do amanhã que debruça na minha janela, mas ao final do dia nada disso importa muito, porque outro artigo se aproxima, outro livro se abre, mais um Power Point, teleduc, apresentação... e puf! Lá se foi a aspirante a bailarina que sonhava acordada e tomava um litro de leite por dia. Essa profundidade intelectual tem me deixado muito prática, cética, meio sem emoção, e ainda que coloque a mão no coração ao defender uma ideia, sei que não é amor daqueles que suspiram na boca do estômago e viram poema - é só vontade de se agarrar a qualquer coisa que traga ordem à casa, linearidade à vida e talvez...

Intelectrico

... e tenho de forma cada vez mais petulante me sentido... inteligente.  O contato com a vida acadêmica me libertou de um trauma antigo: o de gostar de livros em um momento, digamos, desfavorável. Agora uso óculos, ouço a música que eu quiser e leio. Muito. Sempre foi assim, mas agora tem um fato novo: posso falar sobre isso com outras pessoas e, dentro dessas intermináveis discussões que flutuam pelas salas de aula e perdem a classe em fóruns online, acabo por construir algo diferente, algo no qual talvez eu não tenha tido a sorte (ou o azar) de pensar antes. Depois das tantas coisas que tentei começar, improvisar, aperfeiçoar, percebi que estudar não depende de mais ninguém; é fluido, confortável, sozinho sem ser solitário, como nadar no escuro em uma noite de lua cheia, água morna. Enfim, nessa onda antes tarde do que blablabla, cá estou eu, pensando como louca. Penso e isso deveria diminuir a minha angústia, mas esse é o mal dos velhos junkies: acabam transferindo o vício, porque viver sem a compulsão não faz o menor sentido - o peito precisa dar uns pulos de vez em quando, velho, senão qual é a graça disso tudo? Desconto toda a saudade da minha Brahma em monólogos, diálogos, a falácia de quem acha que sabe das coisas - mal de professor. Em um ano já pensei em ir para a África, para Londres, para o campo, para a televisão, para os quintos dos infernos, para um lugar ao sol, aquele lugar quentinho em que ele nasce pra todos, mas acabei ficando aqui. Penso e acho que decidi, fico só, fico sã, fico meio desiludida com o jeito do amanhã que debruça na minha janela, mas ao final do dia nada disso importa muito, porque outro artigo se aproxima, outro livro se abre, mais um Power Point, teleduc, apresentação... e puf! Lá se foi a aspirante a bailarina que sonhava acordada e tomava um litro de leite por dia. Essa profundidade intelectual tem me deixado muito prática, cética, meio sem emoção, e ainda que coloque a mão no coração ao defender uma ideia, sei que não é amor daqueles que suspiram na boca do estômago e viram poema - é só vontade de se agarrar a qualquer coisa que traga ordem à casa, linearidade à vida e talvez...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Brancaleone

Mal cheguei e fui abraçada pelas folhas secas que se aninhavam bem na porta de minha casa. Aproximei-me delas porque achei que por algum motivo elas queriam me dizer alguma coisa. Fiquei ali por algum tempo tentando compreender os ruídos que vinham da rua - cães, mães e todos o tipos de parasita ronronavam seus bordões, seus carrões, suas televisões idióticas. Olhei de soslaio para a guarita; pensei em chamar o vigia para um forró ou uma queda de braço. Quis gritar ali mesmo que ler a Ideologia Alemã é imprescindível para se compreender Marx e compreender por que ele está errado, que quem semeia desejo colhe opressão*. Seria um feito memorável, digno de admiração e horror. As opiniões se dividiriam com certeza, mas quem estivesse comigo haveria de estar até o fim. Lutaríamos contra o desrespeito e entregaríamos papeis pregando o amor e a cidadania às mães que estacionam o carro em fila dupla na porta do Instituto da Criança. Mudaríamos toda a sistemática do bairro, e nossos novos irmãos seguiriam conosco rumo à recivilização da avenida Prudente de Morais e arredores. Não tardaria para termos apoio das mídias: restituiríamos à cidade o silêncio, o bom senso à frente do volante e os bons fluidos que serviriam de base para futuros debates sobre a convivência social, o limite do outro e, por último, a educação dos povos. Caminhei trôpega pelos degraus, e ao cruzar a porta já não sabia mais o que vinha a ser uma folha seca. Lembrei-me de Brancaleone - com um copo de leite, meia dúzia de biscoitos e um banho quente, até que ele teria sido um bom sujeito.

*trecho de A elegância do ouriço

Brancaleone

Mal cheguei e fui abraçada pelas folhas secas que se aninhavam bem na porta de minha casa. Aproximei-me delas porque achei que por algum motivo elas queriam me dizer alguma coisa. Fiquei ali por algum tempo tentando compreender os ruídos que vinham da rua - cães, mães e todos o tipos de parasita ronronavam seus bordões, seus carrões, suas televisões idióticas. Olhei de soslaio para a guarita; pensei em chamar o vigia para um forró ou uma queda de braço. Quis gritar ali mesmo que ler a Ideologia Alemã é imprescindível para se compreender Marx e compreender por que ele está errado, que quem semeia desejo colhe opressão*. Seria um feito memorável, digno de admiração e horror. As opiniões se dividiriam com certeza, mas quem estivesse comigo haveria de estar até o fim. Lutaríamos contra o desrespeito e entregaríamos papeis pregando o amor e a cidadania às mães que estacionam o carro em fila dupla na porta do Instituto da Criança. Mudaríamos toda a sistemática do bairro, e nossos novos irmãos seguiriam conosco rumo à recivilização da avenida Prudente de Morais e arredores. Não tardaria para termos apoio das mídias: restituiríamos à cidade o silêncio, o bom senso à frente do volante e os bons fluidos que serviriam de base para futuros debates sobre a convivência social, o limite do outro e, por último, a educação dos povos. Caminhei trôpega pelos degraus, e ao cruzar a porta já não sabia mais o que vinha a ser uma folha seca. Lembrei-me de Brancaleone - com um copo de leite, meia dúzia de biscoitos e um banho quente, até que ele teria sido um bom sujeito.

*trecho de A elegância do ouriço

domingo, 11 de novembro de 2012

Quatro anos

Em quatro anos dá pra acontecer muita coisa. Muita. Dá pro amor chegar e ir embora, pra um bebê virar uma pessoa, pra uma mãe ter dois filhos, pra perdermos uma pessoa importante, digerirmos isso e tentarmos tocar a vida depois que a ferida cicatriza. Em quatro anos dá pra fazer uma nova faculdade, pra começar uma nova carreira, pra jogar uma vida monótona pro alto e mergulhar numa grande história, pra escrever um livro, pra emagrecer muito e engordar de novo, pra tratar uma depressão, pra encontrar uma atividade física interessante, pra profissionalizar um hobby, pra planejar aquela viagem, pra namorar, casar, separar, juntar os cacos na terapia de casal e olhar pro teto na hora do sexo, pra descobrir que o amor não é suficiente, pra correr atrás de uma vida com mais dinheiro ou com mais afeto, pra dar valor a outras coisas de verdade, pra tornar-se sério, pra tornar-se bobo, pra amolecer ou ficar mais forte, pra ser o que você precisar. Em quatro anos dá pra olhar pra dentro e descobrir quem você é e quem você quer, não? Dá pra fazer uma retrospectiva crítica de tudo que aconteceu nos últimos quatro anos e analisar se de fato você mudou, se de fato você ajudou, se compreendeu, se perdoou, se você se curou daquele medo de pular o muro pro lado de cá, se aprendeu uma música nova, se conseguiu preparar a cabeça pra amar outra vez, pra amar como nunca, pra fechar os olhos e sorrir simplesmente, pra relaxar, pra ser mais coerente com o seu coração, pra ser livre. Em quatro anos dá pra ensaiar vôos de partidas e chegadas, pra tirar a coragem de um bolso e guardá-la no outro, pra deletar aquele telefone e ir até o fim para encontrá-lo depois de tanto tempo, pra pensar, ligar e surpreender-se. Concordo que em quatro anos dá pra transformar muita coisa, mas pra esquecer acho que é pouco demais. Vou vivendo e revivendo essas memórias até que outras apareçam, até chegar aquele tempo em que não poderei mais me lembrar.

Quatro anos

Em quatro anos dá pra acontecer muita coisa. Muita. Dá pro amor chegar e ir embora, pra um bebê virar uma pessoa, pra uma mãe ter dois filhos, pra perdermos uma pessoa importante, digerirmos isso e tentarmos tocar a vida depois que a ferida cicatriza. Em quatro anos dá pra fazer uma nova faculdade, pra começar uma nova carreira, pra jogar uma vida monótona pro alto e mergulhar numa grande história, pra escrever um livro, pra emagrecer muito e engordar de novo, pra tratar uma depressão, pra encontrar uma atividade física interessante, pra profissionalizar um hobby, pra planejar aquela viagem, pra namorar, casar, separar, juntar os cacos na terapia de casal e olhar pro teto na hora do sexo, pra descobrir que o amor não é suficiente, pra correr atrás de uma vida com mais dinheiro ou com mais afeto, pra dar valor a outras coisas de verdade, pra tornar-se sério, pra tornar-se bobo, pra amolecer ou ficar mais forte, pra ser o que você precisar. Em quatro anos dá pra olhar pra dentro e descobrir quem você é e quem você quer, não? Dá pra fazer uma retrospectiva crítica de tudo que aconteceu nos últimos quatro anos e analisar se de fato você mudou, se de fato você ajudou, se compreendeu, se perdoou, se você se curou daquele medo de pular o muro pro lado de cá, se aprendeu uma música nova, se conseguiu preparar a cabeça pra amar outra vez, pra amar como nunca, pra fechar os olhos e sorrir simplesmente, pra relaxar, pra ser mais coerente com o seu coração, pra ser livre. Em quatro anos dá pra ensaiar vôos de partidas e chegadas, pra tirar a coragem de um bolso e guardá-la no outro, pra deletar aquele telefone e ir até o fim para encontrá-lo depois de tanto tempo, pra pensar, ligar e surpreender-se. Concordo que em quatro anos dá pra transformar muita coisa, mas pra esquecer acho que é pouco demais. Vou vivendo e revivendo essas memórias até que outras apareçam, até chegar aquele tempo em que não poderei mais me lembrar.

Manner of speaking

“In a manner of speaking
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing

In a manner of speaking
I don't understand
How love in silence becomes reprimand
But the way that I feel about you
Is beyond words

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
That tell me everything

In a manner of speaking
Semantics won't do
In this life that we live we only make do
And the way that we feel
Might have to be sacrificed

So in a manner of speaking
I just want to say
That just like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
That tell me everything…”


Manner of speaking

“In a manner of speaking
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing

In a manner of speaking
I don't understand
How love in silence becomes reprimand
But the way that I feel about you
Is beyond words

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
That tell me everything

In a manner of speaking
Semantics won't do
In this life that we live we only make do
And the way that we feel
Might have to be sacrificed

So in a manner of speaking
I just want to say
That just like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
That tell me everything…”


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Ainda

Ainda que não tenha sido você o autor daquela carta, fiquei inquieta. Devorava cada uma daquelas palavras sem entender ao certo que gosto tinham - só sabia que queria mais: precisava. Corria os dedos pela página que, lépida, sussurrava as partes da nossa história que você por algum motivo guardou na gaveta, respostas que há tanto tempo eu procurava. Os dias, as horas, sentimentos em cima da mesa, montanhas de declarações e dúvidas: tinha que ser você, tinha que ser nós dois, era só o que eu pensava. Ainda que cantassem nossa música com outro sotaque, caminhei ávida por nossos desencontros, e inspirava cada "eu te amo"como se você os tivesse escrito e espalhado ao seu bel-prazer pela estrada afora, esperando que eu os colhesse com a emoção que me dominaria, e que de fato, naquele momento, me dominava. Ainda que aquele cálice não me tivesse sido oferecido, bebi toda a sua essência sem pensar em nada, até ela virar um soluço chamado curiosidade incerta. Pois o que seria a vida adulta sem um drama adolescente ou uma porta aberta? Viveria descalça numa terra distante se pudesse sentir meus pés no ar com um simples abraço; nada me faltaria se o som da sua presença me afagasse os cabelos, e a batida forte do seu coração me fechasse os olhos! Mas nada de fato acontece no futuro do pretérito. No presente do indicativo, a vida corre impiedosa e o mundo gira com pressa; enquanto penteio os cabelos, concluo com uma mistura de pesar e serenidade que, na verdade, ainda que você tivesse sido o autor daquela carta, talvez eu ficasse quieta. Sou bonita demais pra matar qualquer coisa, ainda que seja um sonho vazio ou um soluço chamado curiosidade incerta. 

Ainda

Ainda que não tenha sido você o autor daquela carta, fiquei inquieta. Devorava cada uma daquelas palavras sem entender ao certo que gosto tinham - só sabia que queria mais: precisava. Corria os dedos pela página que, lépida, sussurrava as partes da nossa história que você por algum motivo guardou na gaveta, respostas que há tanto tempo eu procurava. Os dias, as horas, sentimentos em cima da mesa, montanhas de declarações e dúvidas: tinha que ser você, tinha que ser nós dois, era só o que eu pensava. Ainda que cantassem nossa música com outro sotaque, caminhei ávida por nossos desencontros, e inspirava cada "eu te amo"como se você os tivesse escrito e espalhado ao seu bel-prazer pela estrada afora, esperando que eu os colhesse com a emoção que me dominaria, e que de fato, naquele momento, me dominava. Ainda que aquele cálice não me tivesse sido oferecido, bebi toda a sua essência sem pensar em nada, até ela virar um soluço chamado curiosidade incerta. Pois o que seria a vida adulta sem um drama adolescente ou uma porta aberta? Viveria descalça numa terra distante se pudesse sentir meus pés no ar com um simples abraço; nada me faltaria se o som da sua presença me afagasse os cabelos, e a batida forte do seu coração me fechasse os olhos! Mas nada de fato acontece no futuro do pretérito. No presente do indicativo, a vida corre impiedosa e o mundo gira com pressa; enquanto penteio os cabelos, concluo com uma mistura de pesar e serenidade que, na verdade, ainda que você tivesse sido o autor daquela carta, talvez eu ficasse quieta. Sou bonita demais pra matar qualquer coisa, ainda que seja um sonho vazio ou um soluço chamado curiosidade incerta.