sábado, 30 de abril de 2011

Avaliação física

A avaliação física é um chute bem no meio do seu estômago e um direto no olho antes que você pense em reagir. São tantos problemas que é difícil avistar algo positivo no meio da tortuosidade que atende pelo seu nome; nesse contexto qualquer solução proposta será bem-vinda - você literalmente perde as forças para  ter qualquer outra idéia. Gorduras corporais à parte, bem, os seus pés são ... tortos. Suas pernas são tortas. A coluna é torta em três locais, e os ombros, simetricamente falando: tortos. O seu pescoço é levemente torto também, a cabeça pende para a frente e também mais para um lado.  Indo mais além, os dentes estão bem tortinhos, e os olhos enxergam coisas demais. Se você pensar bem, tem jeito pra tudo isso. Só não me disseram ainda o que fazer quando o coração está torto, fora do lugar, chorando pra bater, tentando dar energia a todas as partes desse corpo que se equilibra pra cair antes de levantar. Ano passado um médico me disse que tenho o coração diferente. Torto? Em forma de gota. Depois desse dia entendi muita coisa.

Avaliação física

A avaliação física é um chute bem no meio do seu estômago e um direto no olho antes que você pense em reagir. São tantos problemas que é difícil avistar algo positivo no meio da tortuosidade que atende pelo seu nome; nesse contexto qualquer solução proposta será bem-vinda - você literalmente perde as forças para  ter qualquer outra idéia. Gorduras corporais à parte, bem, os seus pés são ... tortos. Suas pernas são tortas. A coluna é torta em três locais, e os ombros, simetricamente falando: tortos. O seu pescoço é levemente torto também, a cabeça pende para a frente e também mais para um lado.  Indo mais além, os dentes estão bem tortinhos, e os olhos enxergam coisas demais. Se você pensar bem, tem jeito pra tudo isso. Só não me disseram ainda o que fazer quando o coração está torto, fora do lugar, chorando pra bater, tentando dar energia a todas as partes desse corpo que se equilibra pra cair antes de levantar. Ano passado um médico me disse que tenho o coração diferente. Torto? Em forma de gota. Depois desse dia entendi muita coisa.

Dia 3

Well... even after all, here I stand, with no fear and no peace of mind.

Dia 3

Well... even after all, here I stand, with no fear and no peace of mind.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dia 2

This is my song of the day - because after all, it's Friday!!!!

http://www.youtube.com/watch?v=jQvUBf5l7Vw

Well, I'm just a modern girl
Of course, I've had it in the ear before


'Cause of a lust for life!

Dia 2

This is my song of the day - because after all, it's Friday!!!!

http://www.youtube.com/watch?v=jQvUBf5l7Vw

Well, I'm just a modern girl
Of course, I've had it in the ear before


'Cause of a lust for life!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amâncio FM - dia 1

Ontem estava pensando nisso... Uma música que descrevesse meu humor em cada dia. Como escuto música todos os dias, tem sempre aquelas que fico a fim de ouvir de novo. Bom, vou tentar colocar uma música aqui todo dia por um ano, mas se não conseguir, dane-se (o blog é meu mesmo, lalalalalala :)

Well, aí vai a música de hoje - porque hoje acordei com o feeling de ontem, de que todo mundo quer te ferrar até que te provem o contrário; mesmo assim a gente se levanta e sobrevive!

No one ever thought this one would survive
Helpless child, gonna walk a drum beat behind

Lock you in a dream, never let you go

Never let you laugh or smile, not you.



Well, I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart

I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart.



Making friends with a homeless torn up man

He just kind of smiles, it really shakes me up.

There's danger on every corner but I'm okay

Walking down the street trying to forget yesterday.



Well, I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart.

I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart,

a poison heart, a poison heart, a poison heart ... yeah!



You know that life really takes its toll

And a poet's gut reaction is to search his very soul

So much damn confusion before my eyes,

But nothing seems to phase me and this one still survives.



I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart.

I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart,

Well, I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart.

a poison heart, a poison heart, a poison heart.

a poison heart, a poison heart, a poison heart, a poison heart.


Amâncio FM - dia 1

Ontem estava pensando nisso... Uma música que descrevesse meu humor em cada dia. Como escuto música todos os dias, tem sempre aquelas que fico a fim de ouvir de novo. Bom, vou tentar colocar uma música aqui todo dia por um ano, mas se não conseguir, dane-se (o blog é meu mesmo, lalalalalala :)

Well, aí vai a música de hoje - porque hoje acordei com o feeling de ontem, de que todo mundo quer te ferrar até que te provem o contrário; mesmo assim a gente se levanta e sobrevive!

No one ever thought this one would survive
Helpless child, gonna walk a drum beat behind

Lock you in a dream, never let you go

Never let you laugh or smile, not you.



Well, I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart

I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart.



Making friends with a homeless torn up man

He just kind of smiles, it really shakes me up.

There's danger on every corner but I'm okay

Walking down the street trying to forget yesterday.



Well, I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart.

I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart,

a poison heart, a poison heart, a poison heart ... yeah!



You know that life really takes its toll

And a poet's gut reaction is to search his very soul

So much damn confusion before my eyes,

But nothing seems to phase me and this one still survives.



I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart.

I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart,

Well, I just want to walk right out of this world,

'Cause everybody has a poison heart.

a poison heart, a poison heart, a poison heart.

a poison heart, a poison heart, a poison heart, a poison heart.


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Clássico

Um dia Deus ainda vai castigar as pessoas mesquinhas
as maquinalmente maquiavélicas
as que escutam atrás da porta
e que salivam ao distorcer a vida alheia.
Um dia Deus ainda vai mandar um raio na cabeça dessas pessoas
que não vêem a hora da próxima intriga
que não sentem desconforto algum ao ferrar o próximo
que são viciadas em causar discórdia.
Um dia Deus vai se encarregar delas, mas hoje não.
Hoje ele está muito ocupado comendo um sanduíche.

Clássico

Um dia Deus ainda vai castigar as pessoas mesquinhas
as maquinalmente maquiavélicas
as que escutam atrás da porta
e que salivam ao distorcer a vida alheia.
Um dia Deus ainda vai mandar um raio na cabeça dessas pessoas
que não vêem a hora da próxima intriga
que não sentem desconforto algum ao ferrar o próximo
que são viciadas em causar discórdia.
Um dia Deus vai se encarregar delas, mas hoje não.
Hoje ele está muito ocupado comendo um sanduíche.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Pueril

Ele a amava, apaixonou-se por ela de repente. Ela era mais velha e casada. Ele a amou por toda a vida, mesmo sabendo que aquele era um amor impossível. Foi discreto e constante, pagou todos os preços, sabia de cor cada uma das suas feições, cada cor dos seus cabelos em situações diversas. Tremia ao fechar os olhos e imaginar a voz dela, os olhos doces e brilhantes. Nunca foi longe demais, mas um dia ela soube. Soube e compreendeu um tanto assustada que também sentia alguma coisa. Não iria durar, ambos sabiam. Não iria durar e ainda assim suas mãos se tocaram, seus cheiros enfim se misturaram. Não iria durar porque a vida é mesmo assim, cheia de pessoas que parecem ter nascido com o destino já traçado. Não durou o que é visível aos olhos, mas o que não é ficou guardado. O amor nunca acabou. Nome da história: A educação sentimental. Dica educacional: se você se preocupa com o que está aí fora, as possibilidades são infinitas; se, por outro lado, você olha através das pessoas e preza o que tem lá dentro... se ferrou, meu filho. O mundo não é um lugar seguro para quem tem sentimentos alados.

Pueril

Ele a amava, apaixonou-se por ela de repente. Ela era mais velha e casada. Ele a amou por toda a vida, mesmo sabendo que aquele era um amor impossível. Foi discreto e constante, pagou todos os preços, sabia de cor cada uma das suas feições, cada cor dos seus cabelos em situações diversas. Tremia ao fechar os olhos e imaginar a voz dela, os olhos doces e brilhantes. Nunca foi longe demais, mas um dia ela soube. Soube e compreendeu um tanto assustada que também sentia alguma coisa. Não iria durar, ambos sabiam. Não iria durar e ainda assim suas mãos se tocaram, seus cheiros enfim se misturaram. Não iria durar porque a vida é mesmo assim, cheia de pessoas que parecem ter nascido com o destino já traçado. Não durou o que é visível aos olhos, mas o que não é ficou guardado. O amor nunca acabou. Nome da história: A educação sentimental. Dica educacional: se você se preocupa com o que está aí fora, as possibilidades são infinitas; se, por outro lado, você olha através das pessoas e preza o que tem lá dentro... se ferrou, meu filho. O mundo não é um lugar seguro para quem tem sentimentos alados.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

The End

O inevitável, diferente do evitável, é sensível aos olhos. Dilata as pupilas, causa os mais variados sintomas, e mesmo com um coro de anjos cantando aos quatro ventos, o dia se cala e tenta, em vão, mostrar com um passar de páginas que não há mais o que escrever acerca de uma certa história. Perco a conta de quantas vezes (pre) vemos que o fim está próximo - onipresente, impaciente... cheio de incertezas concretas. Tento encará-lo como num jogo de bola, intimidá-lo para ver se roubo-lhe o viço, a gana de sempre chegar primeiro. Vem o drible, ele embala o passo. À cara do gol, fecho os olhos e desisto. O fim está próximo, mas não quero evitá-lo e nem estar ao seu lado para dizer que sim, que concordo com as rosas que ele, sem dúvida alguma, tentará arrancar do meu peito e levar consigo. Pergunte-me qualquer coisa agora, qualquer uma: não saberia responder.

The End

O inevitável, diferente do evitável, é sensível aos olhos. Dilata as pupilas, causa os mais variados sintomas, e mesmo com um coro de anjos cantando aos quatro ventos, o dia se cala e tenta, em vão, mostrar com um passar de páginas que não há mais o que escrever acerca de uma certa história. Perco a conta de quantas vezes (pre) vemos que o fim está próximo - onipresente, impaciente... cheio de incertezas concretas. Tento encará-lo como num jogo de bola, intimidá-lo para ver se roubo-lhe o viço, a gana de sempre chegar primeiro. Vem o drible, ele embala o passo. À cara do gol, fecho os olhos e desisto. O fim está próximo, mas não quero evitá-lo e nem estar ao seu lado para dizer que sim, que concordo com as rosas que ele, sem dúvida alguma, tentará arrancar do meu peito e levar consigo. Pergunte-me qualquer coisa agora, qualquer uma: não saberia responder.

sábado, 23 de abril de 2011

O morto... vivo

Zé Oswaldo morreu na madrugada de 21 de abril; o vento soprava forte e era impossível pensar em outra coisa que não ficar em casa. Mas amigo é amigo, obrigação é obrigação... Assim, lá estava eu, quarenta minutos depois, mais morto do que vivo, tentando achar o caminho para o cemitério do Bonfim.  

O despertar veio súbito ao olhar o morto. Porra, Zé Oswaldo, o que é que você tá fazendo aí dentro dessa caixa de madeira, meu irmão? Meus olhos se umedeceram sem que eu me desse conta. Senti vontade de dar um murro bem no meio do peito dele, só pra ver aquele corpinho azulado e franzino recuperar a cor, desatar a tossir e soltar aquela frase de sempre: quem sou eu pra te imitar, rapaz! Que frasesinha ridícula aquela; ainda assim, me acabava de rir sempre que a ouvia. Senti um calafrio ao pensar que não a ouviria mais.

Conheci Zé Oswaldo na faculdade. Era um cara engraçado sem querer ser, um daqueles tipos que fazem piada da própria feiúra ou de qualquer das suas desventuras em série.  Magrelo e pequeno,  ele sabia  exatamente o que dizer às garotas - eram todas loucas por ele. Pra dizer a verdade, essa foi uma das coisas que nunca entendi. Segura sua onda, carioca: aprende com o mineirinho aqui  que o negócio é comer quieto, ele dizia com uma piscadinha cretina. Ficamos amigos logo de cara, e em menos de um ano já morávamos juntos.  Voltei  no  tempo e em um segundo estava naquele velho apartamento em Santa Tereza - agradeci em silêncio por termos sobrevivido. Uma bela belo-horizontina me fisgou, e me casei um ano depois. Consegui um emprego em uma companhia de seguros e comecei a viver como gente grande. Zé Oswaldo estava na pior nessa época, bebendo muito e sem perspectiva alguma. Conversei com meu chefe e ele conseguiu um emprego na parte de RH. Ele era boa-praça demais pra ter qualquer problema na vida - ainda assim era um beberrão e um mulherengo incorrígível. Você tem é que arrumar uma mulher, Zé Oswaldo, uma mulher pra organizar sua vida, sempre dizia a ele. Ao que ele respondia: quem sou eu pra te imitar, rapaz! Olhava pra ele, desarmado, e era impossível não cair na risada.

Agora, olhar pra ele ali, dentro daquele caixão, com um terno azul claro e o cabelo penteado, parecia uma brincadeira de mal gosto. A quantidade de mulheres entrando, saindo e chorando como se o mundo fosse acabar ali mesmo completavam o espetáculo. O pai, seu Conrado, estava visivelmente abalado com a tragédia. Não dizia nada, não ouvia ninguém. Pálido, murcho, só fazia segurar a mão de Zé Oswaldo por debaixo do véu que o cobria. Quase não piscava. Imagino que a ele faltava energia para lidar com aquele punhado de gente se contorcendo de dor - em outras palavras, sofrendo por educação. O pessoal do trabalho foi chegando aos poucos, todos consternados. Em cada canto era possível ouvir um pedaço dessa ou daquela história, e de repente percebi que havia se formado uma roda em volta do caixão, e as pessoas, entre elas amigos, ex-amantes, parentes e admiradores como o Paulão da portaria, o seu Geraldo da oficina e o Juvenas da farmácia, revezavam-se para contar cada uma das pérolas protagonizados por Zé Oswaldo. Entre risos e lágrimas, houve uma grande comoção ao despedirem-se daquele camarada que ficaria no coração de todos nós. O caixão sumiu no meio da terra. Hora de ir embora.

Passei um feriado amargo, e dessa vez nem a bacalhoada da minha esposa foi capaz de arrancar-me um suspiro na sexta-feira santa. A segunda chegou rápida como um raio e não houve outra coisa a fazer senão vestir-me muito a contragosto, entrar no carro e deixar que ele me levasse ao trabalho. Pensava na cadeira de Zé Oswaldo vazia e sentia um nó na garganta. Como é que você me morre assim, seu puto? Como é que você faz isso comigo? Ia pensando e amargando aquela ausência a doer-me o peito. Cheguei no trabalho e as caras não estavam nada boas. Alguns colegas vieram me dar os pêsames por saberem da nossa longa amizade. Eu queria sinceramente que todo mundo fosse pro inferno, não estava nem um pouco a fim de lidar com aquelas condolências corporativas. Caminhei lentamente em direção à minha mesa, mas fui interrompido pelo garoto do xerox. Ele tentava dizer alguma coisa, mas não conseguia. Só faltava essa agora: decifrar mensagem de gago em plena segunda-feira. Quando viu que não ia conseguir dizer coisa alguma, Fábio Jr. me pegou pelo braço e me levou pelo corredor. Tá maluco, garoto? Enchi o peito de ar pra dar aquela bronca, mas logo entendi do que se tratava. Ele estava me levando à sala de Zé Oswaldo. Não consegui argumentar - fui com ele. Uma hora isso ia acabar acontecendo mesmo. A diferença é que numa empresa menor eles esperariam o morto esfriar no caixão antes de pedirem ao seu melhor amigo que empacotasse suas coisas. Em breve outro funcionário ocuparia aquela mesa. Que merda. Chegamos à sala. Dito e feito: já havia um sujeito ocupando a mesa. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, porém, o sujeito se virou e quem morreu fui eu. Literalmente. Senti uma dor enorme no peito e mal tive forças pra dizer Puta que pariu, é o Zé Oswaldo!

Acordei em uma cama de hospital, rodeado de aparelhos e picado pra todo lado. Minha mulher me abraçou e antes que o médico viesse, comecei a me agitar de novo. Zé Oswaldo, Zé Oswaldo, era só o que conseguia dizer. Lembrei-me da situação no trabalho, e veio-me a nítida imagem de Zé Oswaldo, queimado de sol e com cara de muitos amigos, sentado à sua mesa como era de costume. Será que ele queria me dizer alguma coisa? Será que ele tinha vindo me buscar? Será que... Mas o buraco, vim a saber depois, ah, esse era bem mais embaixo. Pra resumir uma história longa, o título: Irmão gêmeo. Trama: mudou-se com a mãe para o norte logo que nasceu. A mãe morreu, ele sumiu no mundo, desapareceu - também se chamava José Oswaldo. A mãe não falou do pai, o pai não falou da mãe, ninguém falou de irmão algum. Anos depois, teve a curiosidade de procurar pelo pai, e acabou encontrando um endereço em Belo Horizonte. Foi atropelado em frente ao prédio do pai de nosso protagonista - morreu na hora.  Na identidade, tudo batia: idade, data de nascimento, filiação, naturalidade. O porteiro chamou o pai, que não via o filho há uns bons dois anos, e rapidamente o velório já havia sido arranjado.

Quem sou eu pra te imitar, rapaz... Era a voz de Zé Oswaldo, que da porta do quarto, olhava para minha figura caquética e moribunda com a cara mais debochada desse mundo. Olhei pra ele e ficamos ali, rindo sem parar por sei lá quantos minutos.






O morto... vivo

Zé Oswaldo morreu na madrugada de 21 de abril; o vento soprava forte e era impossível pensar em outra coisa que não ficar em casa. Mas amigo é amigo, obrigação é obrigação... Assim, lá estava eu, quarenta minutos depois, mais morto do que vivo, tentando achar o caminho para o cemitério do Bonfim.  

O despertar veio súbito ao olhar o morto. Porra, Zé Oswaldo, o que é que você tá fazendo aí dentro dessa caixa de madeira, meu irmão? Meus olhos se umedeceram sem que eu me desse conta. Senti vontade de dar um murro bem no meio do peito dele, só pra ver aquele corpinho azulado e franzino recuperar a cor, desatar a tossir e soltar aquela frase de sempre: quem sou eu pra te imitar, rapaz! Que frasesinha ridícula aquela; ainda assim, me acabava de rir sempre que a ouvia. Senti um calafrio ao pensar que não a ouviria mais.

Conheci Zé Oswaldo na faculdade. Era um cara engraçado sem querer ser, um daqueles tipos que fazem piada da própria feiúra ou de qualquer das suas desventuras em série.  Magrelo e pequeno,  ele sabia  exatamente o que dizer às garotas - eram todas loucas por ele. Pra dizer a verdade, essa foi uma das coisas que nunca entendi. Segura sua onda, carioca: aprende com o mineirinho aqui  que o negócio é comer quieto, ele dizia com uma piscadinha cretina. Ficamos amigos logo de cara, e em menos de um ano já morávamos juntos.  Voltei  no  tempo e em um segundo estava naquele velho apartamento em Santa Tereza - agradeci em silêncio por termos sobrevivido. Uma bela belo-horizontina me fisgou, e me casei um ano depois. Consegui um emprego em uma companhia de seguros e comecei a viver como gente grande. Zé Oswaldo estava na pior nessa época, bebendo muito e sem perspectiva alguma. Conversei com meu chefe e ele conseguiu um emprego na parte de RH. Ele era boa-praça demais pra ter qualquer problema na vida - ainda assim era um beberrão e um mulherengo incorrígível. Você tem é que arrumar uma mulher, Zé Oswaldo, uma mulher pra organizar sua vida, sempre dizia a ele. Ao que ele respondia: quem sou eu pra te imitar, rapaz! Olhava pra ele, desarmado, e era impossível não cair na risada.

Agora, olhar pra ele ali, dentro daquele caixão, com um terno azul claro e o cabelo penteado, parecia uma brincadeira de mal gosto. A quantidade de mulheres entrando, saindo e chorando como se o mundo fosse acabar ali mesmo completavam o espetáculo. O pai, seu Conrado, estava visivelmente abalado com a tragédia. Não dizia nada, não ouvia ninguém. Pálido, murcho, só fazia segurar a mão de Zé Oswaldo por debaixo do véu que o cobria. Quase não piscava. Imagino que a ele faltava energia para lidar com aquele punhado de gente se contorcendo de dor - em outras palavras, sofrendo por educação. O pessoal do trabalho foi chegando aos poucos, todos consternados. Em cada canto era possível ouvir um pedaço dessa ou daquela história, e de repente percebi que havia se formado uma roda em volta do caixão, e as pessoas, entre elas amigos, ex-amantes, parentes e admiradores como o Paulão da portaria, o seu Geraldo da oficina e o Juvenas da farmácia, revezavam-se para contar cada uma das pérolas protagonizados por Zé Oswaldo. Entre risos e lágrimas, houve uma grande comoção ao despedirem-se daquele camarada que ficaria no coração de todos nós. O caixão sumiu no meio da terra. Hora de ir embora.

Passei um feriado amargo, e dessa vez nem a bacalhoada da minha esposa foi capaz de arrancar-me um suspiro na sexta-feira santa. A segunda chegou rápida como um raio e não houve outra coisa a fazer senão vestir-me muito a contragosto, entrar no carro e deixar que ele me levasse ao trabalho. Pensava na cadeira de Zé Oswaldo vazia e sentia um nó na garganta. Como é que você me morre assim, seu puto? Como é que você faz isso comigo? Ia pensando e amargando aquela ausência a doer-me o peito. Cheguei no trabalho e as caras não estavam nada boas. Alguns colegas vieram me dar os pêsames por saberem da nossa longa amizade. Eu queria sinceramente que todo mundo fosse pro inferno, não estava nem um pouco a fim de lidar com aquelas condolências corporativas. Caminhei lentamente em direção à minha mesa, mas fui interrompido pelo garoto do xerox. Ele tentava dizer alguma coisa, mas não conseguia. Só faltava essa agora: decifrar mensagem de gago em plena segunda-feira. Quando viu que não ia conseguir dizer coisa alguma, Fábio Jr. me pegou pelo braço e me levou pelo corredor. Tá maluco, garoto? Enchi o peito de ar pra dar aquela bronca, mas logo entendi do que se tratava. Ele estava me levando à sala de Zé Oswaldo. Não consegui argumentar - fui com ele. Uma hora isso ia acabar acontecendo mesmo. A diferença é que numa empresa menor eles esperariam o morto esfriar no caixão antes de pedirem ao seu melhor amigo que empacotasse suas coisas. Em breve outro funcionário ocuparia aquela mesa. Que merda. Chegamos à sala. Dito e feito: já havia um sujeito ocupando a mesa. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, porém, o sujeito se virou e quem morreu fui eu. Literalmente. Senti uma dor enorme no peito e mal tive forças pra dizer Puta que pariu, é o Zé Oswaldo!

Acordei em uma cama de hospital, rodeado de aparelhos e picado pra todo lado. Minha mulher me abraçou e antes que o médico viesse, comecei a me agitar de novo. Zé Oswaldo, Zé Oswaldo, era só o que conseguia dizer. Lembrei-me da situação no trabalho, e veio-me a nítida imagem de Zé Oswaldo, queimado de sol e com cara de muitos amigos, sentado à sua mesa como era de costume. Será que ele queria me dizer alguma coisa? Será que ele tinha vindo me buscar? Será que... Mas o buraco, vim a saber depois, ah, esse era bem mais embaixo. Pra resumir uma história longa, o título: Irmão gêmeo. Trama: mudou-se com a mãe para o norte logo que nasceu. A mãe morreu, ele sumiu no mundo, desapareceu - também se chamava José Oswaldo. A mãe não falou do pai, o pai não falou da mãe, ninguém falou de irmão algum. Anos depois, teve a curiosidade de procurar pelo pai, e acabou encontrando um endereço em Belo Horizonte. Foi atropelado em frente ao prédio do pai de nosso protagonista - morreu na hora.  Na identidade, tudo batia: idade, data de nascimento, filiação, naturalidade. O porteiro chamou o pai, que não via o filho há uns bons dois anos, e rapidamente o velório já havia sido arranjado.

Quem sou eu pra te imitar, rapaz... Era a voz de Zé Oswaldo, que da porta do quarto, olhava para minha figura caquética e moribunda com a cara mais debochada desse mundo. Olhei pra ele e ficamos ali, rindo sem parar por sei lá quantos minutos.






quarta-feira, 20 de abril de 2011

A guardiã dos dentes de ferro

Hoje uma mocinha bem bonita de uns quatro anos chegou perto de mim, puxou minha saia e com aquele tamanho todo fez uma cara de pergunta e perguntou: o que é isso no seu dente? Respondi que era uma história longa - e secreta - e quis saber se ela gostaria de ouvir. Os olhos da mocinha fizeram cara de descoberta e ela balançou a cabeça. Sentamo-nos no sofá perto da secretaria e, com ar muito sério, comecei:
"
Lá no céu, bem no alto, se você olhar bem bem mesmo, vai ver um planetinha. Olha lá. Tá vendo? É claro que ela estava. Pois então, continuei, nesse planetinha mora um príncipe bem bonitinho, assim como você. Um dia ele recebeu a visita de um senhor muito sábio, que estava de passagem. O senhor confiou ao príncipe uma  descoberta importante: contou que carregava consigo o segredo para o sorriso mais bonito do mundo. O príncipe ficou meio confuso e pediu ao senhor que explicasse melhor. Sem dizer nada, o senhor abriu sua bolsa dourada e tirou uma caixinha lá de dentro. Essa caixinha era pequenina, do tamanho de uma boca fechada, feita de dentes de ferro. Os dentes de ferro são valiosíssimos, ele disse, uma relíquia preciosa como o sol. Só seres muitíssimo especiais são escolhidos para guardá-los. Proclamo Vossa Alteza o Guardião dos Dentes de Ferro. De agora em diante, o senhor será responsável por cuidar desse tesouro com cuidado, e quando chegar a hora certa, deverá devolvê-lo à Coroa dos Tesouros Reais. Não será uma tarefa fácil, mas acreditamos que o senhor esteja preparado para honrar com esse compromisso. Maravilhado, o pequeno príncipe acatou sua tarefa com dedicação. Cumpriu cada uma das recomendações, e um belo dia o senhor muito sábio, com a mão em seu ombro, disse a ele que era chegada a hora de retornar o valioso tesouro. Outras pessoas muitíssimo especiais esperavam pela sua vez de prestar serviços à Coroa. O príncipe ficou um pouco decepcionado, mas o senhor o lembrou da promessa: em troca do trabalho tão bem executado, ele teria o sorriso mais bonito do mundo. A sala era branca e havia uma cadeira muito bonita no centro, que mais parecia uma cama macia e fofa. Nosso amiguinho se deitou e num segundo já havia adormecido. Ao acordar, foi surpreendido por um espelho que deixava ainda maiores seus grandes olhos azuis. Ele achou graça e deu uma gargalhada bem gostosa. Mas qual! Havia algo de diferente. Passou a língua pelos dentes - estavam abraçados, felizes, cada um na sua casa. A promessa havia sido cumprida. Desde esse dia, o príncipe nunca parou de sorrir.
 "
A mocinha me olhou quase sem fôlego. Parou um pouco, coçou a cabeça. Mas e você?, ela disse preocupada. Bem, vou te contar mas promete que não conta, hein? Ela beijou os fura-bolos em cruz. Prometo! Agora sou a guardiã dos dentes de ferro, sussurrei no seu ouvido. Ela colocou a mão na boca e arregalou os olhos cheios de espanto. Deixa eu ver de novo, ela disse. Abri a boca e mostrei a ela todos os dentes. Ela não podia acreditar no que via. Nossa... o que você vai fazer quando eles levarem os dentes de ferro? Você vai devolver? Ué, promessa é promessa, né? Ela concordou em silêncio e pegou minha mão. Você acha que algum dia eu vou ser escolhida para ser guardiã dos dentes de ferro? Olhei para seus lindos dentinhos, separados na frente como os do Pateta. Bem, não posso te contar, mas enquanto isso não acontece, vou te dar um presente. Abri a bolsa e entreguei àquelas mãos ávidas e pequenas uma enorme barra de Torrone.

A guardiã dos dentes de ferro

Hoje uma mocinha bem bonita de uns quatro anos chegou perto de mim, puxou minha saia e com aquele tamanho todo fez uma cara de pergunta e perguntou: o que é isso no seu dente? Respondi que era uma história longa - e secreta - e quis saber se ela gostaria de ouvir. Os olhos da mocinha fizeram cara de descoberta e ela balançou a cabeça. Sentamo-nos no sofá perto da secretaria e, com ar muito sério, comecei:
"
Lá no céu, bem no alto, se você olhar bem bem mesmo, vai ver um planetinha. Olha lá. Tá vendo? É claro que ela estava. Pois então, continuei, nesse planetinha mora um príncipe bem bonitinho, assim como você. Um dia ele recebeu a visita de um senhor muito sábio, que estava de passagem. O senhor confiou ao príncipe uma  descoberta importante: contou que carregava consigo o segredo para o sorriso mais bonito do mundo. O príncipe ficou meio confuso e pediu ao senhor que explicasse melhor. Sem dizer nada, o senhor abriu sua bolsa dourada e tirou uma caixinha lá de dentro. Essa caixinha era pequenina, do tamanho de uma boca fechada, feita de dentes de ferro. Os dentes de ferro são valiosíssimos, ele disse, uma relíquia preciosa como o sol. Só seres muitíssimo especiais são escolhidos para guardá-los. Proclamo Vossa Alteza o Guardião dos Dentes de Ferro. De agora em diante, o senhor será responsável por cuidar desse tesouro com cuidado, e quando chegar a hora certa, deverá devolvê-lo à Coroa dos Tesouros Reais. Não será uma tarefa fácil, mas acreditamos que o senhor esteja preparado para honrar com esse compromisso. Maravilhado, o pequeno príncipe acatou sua tarefa com dedicação. Cumpriu cada uma das recomendações, e um belo dia o senhor muito sábio, com a mão em seu ombro, disse a ele que era chegada a hora de retornar o valioso tesouro. Outras pessoas muitíssimo especiais esperavam pela sua vez de prestar serviços à Coroa. O príncipe ficou um pouco decepcionado, mas o senhor o lembrou da promessa: em troca do trabalho tão bem executado, ele teria o sorriso mais bonito do mundo. A sala era branca e havia uma cadeira muito bonita no centro, que mais parecia uma cama macia e fofa. Nosso amiguinho se deitou e num segundo já havia adormecido. Ao acordar, foi surpreendido por um espelho que deixava ainda maiores seus grandes olhos azuis. Ele achou graça e deu uma gargalhada bem gostosa. Mas qual! Havia algo de diferente. Passou a língua pelos dentes - estavam abraçados, felizes, cada um na sua casa. A promessa havia sido cumprida. Desde esse dia, o príncipe nunca parou de sorrir.
 "
A mocinha me olhou quase sem fôlego. Parou um pouco, coçou a cabeça. Mas e você?, ela disse preocupada. Bem, vou te contar mas promete que não conta, hein? Ela beijou os fura-bolos em cruz. Prometo! Agora sou a guardiã dos dentes de ferro, sussurrei no seu ouvido. Ela colocou a mão na boca e arregalou os olhos cheios de espanto. Deixa eu ver de novo, ela disse. Abri a boca e mostrei a ela todos os dentes. Ela não podia acreditar no que via. Nossa... o que você vai fazer quando eles levarem os dentes de ferro? Você vai devolver? Ué, promessa é promessa, né? Ela concordou em silêncio e pegou minha mão. Você acha que algum dia eu vou ser escolhida para ser guardiã dos dentes de ferro? Olhei para seus lindos dentinhos, separados na frente como os do Pateta. Bem, não posso te contar, mas enquanto isso não acontece, vou te dar um presente. Abri a bolsa e entreguei àquelas mãos ávidas e pequenas uma enorme barra de Torrone.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Paradeiro - a bailarina de vidro

Para vocês verem como a vida é interesssante: escrevi um livro e ganhei outro, uma troca sentimental bem justa. O livro que ajudei a escrever fala sobre ensinar inglês; o livro que ganhei ensina em inglês. É um livro de despertares diários que utiliza da sabedoria oriental para nos oferecer paradeiro. Há um ensinamento para cada dia do ano, e hoje eu li esse:

Let us not be too severe in reprimanding others for their faults,
let us think of what they can withstand.
Let us not be too ambitious, exhorting others to be good,
let us think of what they can achieve. (Hong Zicheng)
***
Pensei na bailarina de vidro colada na minha geladeira, ensaiando uma suavidade, uma flexibilidade tão naturais que quis chorar ao pensar que meus pés calejados nunca irão tão longe, nunca chegarão nem perto de tocar o céu. Olhei pra ela e senti que só estava ali para me lembrar do que nunca serei capaz de fazer, mesmo gostando tanto, querendo muito.  Pensei nas minhas celulites genéticas, que não saem com  mais exercício. Pensei em cada um dos meus defeitos e fiquei exausta, a ponto de quase não perceber que esse recado, vindo do outro lado do oceano, quis me ensinar a ganhar o mundo com o que tenho na mão. Devagar ou depressa, com mais qualidade e menos cobrança. Ao amor doído, ao desejo enlouquecido, ofereço a oportunidade de pensar que o que tem que ser vai acabar sendo e é isso. Nunca será fácil aceitar o que não se compreende, mas devagar ou depressa, um dia o mundo vai ter que parar pra te ver gritar ou morrer de rir.  Haverá paradeiro para o nosso desejo dentro ou fora de nós.

http://www.youtube.com/watch?v=7AcK1TOVAB4
Boa noite... e boa sorte.

Paradeiro - a bailarina de vidro

Para vocês verem como a vida é interesssante: escrevi um livro e ganhei outro, uma troca sentimental bem justa. O livro que ajudei a escrever fala sobre ensinar inglês; o livro que ganhei ensina em inglês. É um livro de despertares diários que utiliza da sabedoria oriental para nos oferecer paradeiro. Há um ensinamento para cada dia do ano, e hoje eu li esse:

Let us not be too severe in reprimanding others for their faults,
let us think of what they can withstand.
Let us not be too ambitious, exhorting others to be good,
let us think of what they can achieve. (Hong Zicheng)
***
Pensei na bailarina de vidro colada na minha geladeira, ensaiando uma suavidade, uma flexibilidade tão naturais que quis chorar ao pensar que meus pés calejados nunca irão tão longe, nunca chegarão nem perto de tocar o céu. Olhei pra ela e senti que só estava ali para me lembrar do que nunca serei capaz de fazer, mesmo gostando tanto, querendo muito.  Pensei nas minhas celulites genéticas, que não saem com  mais exercício. Pensei em cada um dos meus defeitos e fiquei exausta, a ponto de quase não perceber que esse recado, vindo do outro lado do oceano, quis me ensinar a ganhar o mundo com o que tenho na mão. Devagar ou depressa, com mais qualidade e menos cobrança. Ao amor doído, ao desejo enlouquecido, ofereço a oportunidade de pensar que o que tem que ser vai acabar sendo e é isso. Nunca será fácil aceitar o que não se compreende, mas devagar ou depressa, um dia o mundo vai ter que parar pra te ver gritar ou morrer de rir.  Haverá paradeiro para o nosso desejo dentro ou fora de nós.

http://www.youtube.com/watch?v=7AcK1TOVAB4
Boa noite... e boa sorte.

domingo, 17 de abril de 2011

The Big Bang Theory

Jesus! Alguém viu meu relógio que marca as horas e os minutos e os segundos e todo o tempo do mundo que eu tenho pra ser eu? Alguém sabe me dizer o que foi que aconteceu depois que eu olhei pro fundo de mim? Alguém sabe me explicar por que é que eu sou assim? Talvez eu nunca venha a saber, mas prefiro acreditar que eu existo por um bom e belo motivo, bem mais interessante que um domingo de chuva e tv apagada às dez da manhã :)

The Big Bang Theory

Jesus! Alguém viu meu relógio que marca as horas e os minutos e os segundos e todo o tempo do mundo que eu tenho pra ser eu? Alguém sabe me dizer o que foi que aconteceu depois que eu olhei pro fundo de mim? Alguém sabe me explicar por que é que eu sou assim? Talvez eu nunca venha a saber, mas prefiro acreditar que eu existo por um bom e belo motivo, bem mais interessante que um domingo de chuva e tv apagada às dez da manhã :)

Grazie

Agradeço todos os dias pelas minhas escolhas. Sempre agradeço quando acordo ou na hora de dormir. Agradeço porque as escolhas ruins duraram pouco, as boas foram ficando e todas acabaram fazendo bem de alguma forma. Não sei exatamente pelo que hei de agradecer amanhã, mas o que importa é o otimismo  que insiste em bater à minha porta quando penso que certamente terei motivos para isso. Sigo enfrentando as contas e os desencantos, querendo a todo momento conseguir pagar pelo que eu gasto sem ajuda de ninguém - cada gota de suor, cada caloria, cada forma de mudança, tudo tem seu preço. Não troco figurinhas com Chico Xavier, mas mais que às vezes me pego assim, escrevendo não sei o quê não sei bem pra quem, pensando nas coisas mais diversas - é um dom genuíno tirar as coisas de dentro do peito sem pensar só em você. Penso nos peitos que sofrem de queda livre, nas barrigas de aluguel. Como, durmo, escrevo e agradeço por saber esperar, por ao menos tentar ser alguém que eu gostaria muito de conhecer.

PS: Grazie mille, Sofia, por um dos dias mais especiais da minha vida... Obrigada pela oportunidade fantástica de conhecer tanta gente bacana de uma vez - Colégio São Paulo rules!!!!!

Grazie

Agradeço todos os dias pelas minhas escolhas. Sempre agradeço quando acordo ou na hora de dormir. Agradeço porque as escolhas ruins duraram pouco, as boas foram ficando e todas acabaram fazendo bem de alguma forma. Não sei exatamente pelo que hei de agradecer amanhã, mas o que importa é o otimismo  que insiste em bater à minha porta quando penso que certamente terei motivos para isso. Sigo enfrentando as contas e os desencantos, querendo a todo momento conseguir pagar pelo que eu gasto sem ajuda de ninguém - cada gota de suor, cada caloria, cada forma de mudança, tudo tem seu preço. Não troco figurinhas com Chico Xavier, mas mais que às vezes me pego assim, escrevendo não sei o quê não sei bem pra quem, pensando nas coisas mais diversas - é um dom genuíno tirar as coisas de dentro do peito sem pensar só em você. Penso nos peitos que sofrem de queda livre, nas barrigas de aluguel. Como, durmo, escrevo e agradeço por saber esperar, por ao menos tentar ser alguém que eu gostaria muito de conhecer.

PS: Grazie mille, Sofia, por um dos dias mais especiais da minha vida... Obrigada pela oportunidade fantástica de conhecer tanta gente bacana de uma vez - Colégio São Paulo rules!!!!!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Civilization

We may never say
what made us
go so far;
but we shall
some day
be more than
what we are
inspiring
unstable
exotic
too busy to grieve
for anything else.
Outrageous
despicable
insane and
ambiguous -
unable to draw
any
possible
sensible
parallels.
I could call us
hopeless
but there's hope
for the ones
who felt dead
after falling off
the prettiest
carousels.
There's hope
there's still a chance
to believe
there's no chance
no change
no future
for this -
no way
out
of ourselves.

Civilization

We may never say
what made us
go so far;
but we shall
some day
be more than
what we are
inspiring
unstable
exotic
too busy to grieve
for anything else.
Outrageous
despicable
insane and
ambiguous -
unable to draw
any
possible
sensible
parallels.
I could call us
hopeless
but there's hope
for the ones
who felt dead
after falling off
the prettiest
carousels.
There's hope
there's still a chance
to believe
there's no chance
no change
no future
for this -
no way
out
of ourselves.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Tinned

I think of you as something I cannot resist. I think of you as a vicious part of my self, poetry which spreads in the air out of my control. Today I can't help missing you more than I did yesterday, less than I may tomorrow. Differently from Lou Reed, you are something I've never had, something I shall never keep - still, whenever I think of you I'm flooded by the warmest kind of peace; surrounded by magical feelings; spinning on top of my wrist one thousand times. I think of you as a generous piece of some delicious chocolate cake right in front of me, promising the most pleasant moments to someone who cannot come anywhere near it - I'm allergic to chocolate and I always will be. Maybe that explains why whenever I think of you, I realise how trapped we are into our tiny realities, invisible to everyone else. I think of you as a tin of Coke I'll never manage to open, because I'm a tin of Fanta on the other side of the warehouse, watching you forever... unable to move.

Tinned

I think of you as something I cannot resist. I think of you as a vicious part of my self, poetry which spreads in the air out of my control. Today I can't help missing you more than I did yesterday, less than I may tomorrow. Differently from Lou Reed, you are something I've never had, something I shall never keep - still, whenever I think of you I'm flooded by the warmest kind of peace; surrounded by magical feelings; spinning on top of my wrist one thousand times. I think of you as a generous piece of some delicious chocolate cake right in front of me, promising the most pleasant moments to someone who cannot come anywhere near it - I'm allergic to chocolate and I always will be. Maybe that explains why whenever I think of you, I realise how trapped we are into our tiny realities, invisible to everyone else. I think of you as a tin of Coke I'll never manage to open, because I'm a tin of Fanta on the other side of the warehouse, watching you forever... unable to move.

domingo, 10 de abril de 2011

Manual da piriguete

O tanto que uma mulher fiel, batalhadora e companheira sofre em um relacionamento é diretamente proporcional ao tanto que uma piriguete se aproveita de um relacionamento, invariavelmente.
A quantidade de dinheiro que a mulher fiel, batalhadora e companheira coloca em casa para ajudar nas contas do mês é diretamente proporcional à quantidade de dinheiro que a piriguete gasta por semana com salão, pilates, gasolina e massagem - porque a piriguete não trabalha.
O amor e a paciência que a mulher fiel, batalhadora e companheira injeta diariamente no relacionamento  são diretamente proporcionais ao amor e à paciência que a piriguete recebe sem o menor comprometimento ou esforço.
A impotência da mulher bacana ao compreender tudo isso acaba sendo diretamente proporcional ao desejo dela de se tornar o homem da relação. Existe, porém, uma alternativa muito melhor: tornar-se piriguete. Pode ser tão simples quanto trocar de roupa. Gaste o dinheiro dele com técnicas de embelezamento, faça chilique até ganhar um carro novo e estude estratégias sexuais diversas - condicione-se para oferecer sexo variado e seguro a qualquer momento. No final,  estar bonita, gostosa e disponível acaba sendo o ÚNICO x da questão. E se você, mulher bacana, acha que não consegue entrar nessa, boa sorte com os restos que se amontoam do outro lado da sua cama toda noite na hora de dormir.

Manual da piriguete

O tanto que uma mulher fiel, batalhadora e companheira sofre em um relacionamento é diretamente proporcional ao tanto que uma piriguete se aproveita de um relacionamento, invariavelmente.
A quantidade de dinheiro que a mulher fiel, batalhadora e companheira coloca em casa para ajudar nas contas do mês é diretamente proporcional à quantidade de dinheiro que a piriguete gasta por semana com salão, pilates, gasolina e massagem - porque a piriguete não trabalha.
O amor e a paciência que a mulher fiel, batalhadora e companheira injeta diariamente no relacionamento  são diretamente proporcionais ao amor e à paciência que a piriguete recebe sem o menor comprometimento ou esforço.
A impotência da mulher bacana ao compreender tudo isso acaba sendo diretamente proporcional ao desejo dela de se tornar o homem da relação. Existe, porém, uma alternativa muito melhor: tornar-se piriguete. Pode ser tão simples quanto trocar de roupa. Gaste o dinheiro dele com técnicas de embelezamento, faça chilique até ganhar um carro novo e estude estratégias sexuais diversas - condicione-se para oferecer sexo variado e seguro a qualquer momento. No final,  estar bonita, gostosa e disponível acaba sendo o ÚNICO x da questão. E se você, mulher bacana, acha que não consegue entrar nessa, boa sorte com os restos que se amontoam do outro lado da sua cama toda noite na hora de dormir.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Diariamente

Você passa por mim todo dia mas não me vê. Eu sou a vaidade.
Você me olha e recua - sente culpa. Eu sou a gula.
Ganho de você sem ter que jogar. Eu sou o cansaço.
Você diz que não estou lá, mas te incomodo. Eu sou o medo.
Com você brinco de me esconder. Eu sou o dinheiro.
Você vive me atropelando e acha que eu não vou me importar. Eu sou o amor.
Por mim, você faria tudo que sempre teve vontade de fazer. Eu sou a raiva.
Você diz estar ocupado quando insisto em te dar a mão. Eu sou o perdão.
Desperto em você a necessidade latente de se explicar. Eu sou a inveja.
Seu corpo treme de prazer ao me ver chegar. Eu sou a preguiça.
Seus olhos mudam de cor ao me ver passar. Eu sou a ambição.
Te tomo de assalto, levo seus paradigmas e te deixo no chão.
Posso ser a pena, a dúvida, frustração ou condescendência.
Posso ser qualquer coisa diariamente, mas de verdade?
Se você tiver a paciência para olhar bem de perto, vai ver bem ao longe uma menina pequena que levanta e sai correndo em uma bicicleta quebrada, tentando alcançar a esperança.


Diariamente

Você passa por mim todo dia mas não me vê. Eu sou a vaidade.
Você me olha e recua - sente culpa. Eu sou a gula.
Ganho de você sem ter que jogar. Eu sou o cansaço.
Você diz que não estou lá, mas te incomodo. Eu sou o medo.
Com você brinco de me esconder. Eu sou o dinheiro.
Você vive me atropelando e acha que eu não vou me importar. Eu sou o amor.
Por mim, você faria tudo que sempre teve vontade de fazer. Eu sou a raiva.
Você diz estar ocupado quando insisto em te dar a mão. Eu sou o perdão.
Desperto em você a necessidade latente de se explicar. Eu sou a inveja.
Seu corpo treme de prazer ao me ver chegar. Eu sou a preguiça.
Seus olhos mudam de cor ao me ver passar. Eu sou a ambição.
Te tomo de assalto, levo seus paradigmas e te deixo no chão.
Posso ser a pena, a dúvida, frustração ou condescendência.
Posso ser qualquer coisa diariamente, mas de verdade?
Se você tiver a paciência para olhar bem de perto, vai ver bem ao longe uma menina pequena que levanta e sai correndo em uma bicicleta quebrada, tentando alcançar a esperança.


domingo, 3 de abril de 2011

Agora

Ele disse que estava atrasado, mas eu já nem sabia qual seria a hora certa. Vagava entorpecida por noites alheias, desfrutava dos silêncios e vícios de todas as mesas como se fossem meus. Ele dissera agora uma hora atrás, e eu ziguezagueava para pular os quens e porquês, meus poros transpirando impaciência. Pensava na praia, na areia, na garota bonita estendida e acarinhada pelo sol, na viagem para a Europa. Tudo tem um preço; agora ele sabia, e eu engolia a seco o prazer da descoberta. Senti que pela primeira vez sorvia mais que um pedaço de brisa, e amaldiçoei secretamente meu medo da indiferença. Ele viria, agora sim, com cheiros de flor e palavras de afeto. Desesperadamente. Finalmente. Sim... Ao seu devido tempo, tudo enfim aconteceria. Mas o tempo é assim: leva você e se esquece de mim, cria verdades que correm enquanto outras andam devagar. Não posso dizer que esperei porque as horas passaram, os dias se perderam. Quis apenas que aquele hoje não viesse, que o amanhã não chegasse mais.  Depois de tantos passos, senti num dia de sorte a necessidade de olhar para trás, procurar aquele agora de antes. Fui encontrá-lo sozinho às seis da manhã, rodeado de belas palavras que nada diriam. Brindava à sabedoria.

Agora

Ele disse que estava atrasado, mas eu já nem sabia qual seria a hora certa. Vagava entorpecida por noites alheias, desfrutava dos silêncios e vícios de todas as mesas como se fossem meus. Ele dissera agora uma hora atrás, e eu ziguezagueava para pular os quens e porquês, meus poros transpirando impaciência. Pensava na praia, na areia, na garota bonita estendida e acarinhada pelo sol, na viagem para a Europa. Tudo tem um preço; agora ele sabia, e eu engolia a seco o prazer da descoberta. Senti que pela primeira vez sorvia mais que um pedaço de brisa, e amaldiçoei secretamente meu medo da indiferença. Ele viria, agora sim, com cheiros de flor e palavras de afeto. Desesperadamente. Finalmente. Sim... Ao seu devido tempo, tudo enfim aconteceria. Mas o tempo é assim: leva você e se esquece de mim, cria verdades que correm enquanto outras andam devagar. Não posso dizer que esperei porque as horas passaram, os dias se perderam. Quis apenas que aquele hoje não viesse, que o amanhã não chegasse mais.  Depois de tantos passos, senti num dia de sorte a necessidade de olhar para trás, procurar aquele agora de antes. Fui encontrá-lo sozinho às seis da manhã, rodeado de belas palavras que nada diriam. Brindava à sabedoria.