terça-feira, 29 de setembro de 2009

Sinais

A moça cruzou com a menina bonita logo de manhã. O sol não perdoava e a menina bonita reluzia. A moça olhou fixamente para a menina, mas tão fixamente que recebeu um sorriso meio acanhado de volta. O sinal se fechou e as pessoas puseram-se a atravessar. Cada uma foi para um lado, nenhuma olhou para trás. A moça ficou devaneando algum tempo, pensando na menina bonita - um anjo que havia surgido em resposta à sua prece, à sua tortura de tocar a vida adiante, à sua falta de emoção. A menina bonita havia-lhe tocado fundo, pintado de verde aquele coraçãozinho murcho, quieto num canto. A moça fechou os olhos e os abriu com ternura. Toda ela exalou plenitude a partir desse momento. A moça deu meia volta e comprou um cachorro, alugou uma casinha no sítio, conheceu alguém especial. Participou de projetos voluntários, desapegou-se do dinheiro, aprendeu a costurar e a comer torradas com boas geléias. A menina bonita era realmente tão bonita que doía. Doía dentro dela. Ela estava doente, aquele havia sido seu único sorriso sincero em muitos tantos anos... A menina bonita lembrou-se da moça, esquálida, desgrenhada, espancada pelo dia a dia. Lembrou-se do olhar da moça, tão sólido, tão invasivo. Será que ela sabia? Considerou aquele encontro um sinal. Continuou andando, andando, andando, foi da Praça da Savassi ao Viaduto de Santa Tereza. Sem olhar para trás. Com passos firmes. A menina bonita sorria e chorava. Abocanhava aqueles minutos vorazmente, tomada pela compulsão que se alastrava. Por um segundo, pensou na moça, que havia surgido em resposta à sua prece, à sua tortura de tocar a vida adiante, à sua falta de emoção. No ápice da intensidade, ela alçou vôo; subiu rumo a uma terra distante, como um anjo saído de um sonho. A menina bonita estava livre. Ninguém apercebeu-se de tal libertação. Tudo que se ouviu foi um barulho forte, um som oco, cego, de um corpinho muito branco e delicado chocando-se contra o asfalto quente.

Sinais

A moça cruzou com a menina bonita logo de manhã. O sol não perdoava e a menina bonita reluzia. A moça olhou fixamente para a menina, mas tão fixamente que recebeu um sorriso meio acanhado de volta. O sinal se fechou e as pessoas puseram-se a atravessar. Cada uma foi para um lado, nenhuma olhou para trás. A moça ficou devaneando algum tempo, pensando na menina bonita - um anjo que havia surgido em resposta à sua prece, à sua tortura de tocar a vida adiante, à sua falta de emoção. A menina bonita havia-lhe tocado fundo, pintado de verde aquele coraçãozinho murcho, quieto num canto. A moça fechou os olhos e os abriu com ternura. Toda ela exalou plenitude a partir desse momento. A moça deu meia volta e comprou um cachorro, alugou uma casinha no sítio, conheceu alguém especial. Participou de projetos voluntários, desapegou-se do dinheiro, aprendeu a costurar e a comer torradas com boas geléias. A menina bonita era realmente tão bonita que doía. Doía dentro dela. Ela estava doente, aquele havia sido seu único sorriso sincero em muitos tantos anos... A menina bonita lembrou-se da moça, esquálida, desgrenhada, espancada pelo dia a dia. Lembrou-se do olhar da moça, tão sólido, tão invasivo. Será que ela sabia? Considerou aquele encontro um sinal. Continuou andando, andando, andando, foi da Praça da Savassi ao Viaduto de Santa Tereza. Sem olhar para trás. Com passos firmes. A menina bonita sorria e chorava. Abocanhava aqueles minutos vorazmente, tomada pela compulsão que se alastrava. Por um segundo, pensou na moça, que havia surgido em resposta à sua prece, à sua tortura de tocar a vida adiante, à sua falta de emoção. No ápice da intensidade, ela alçou vôo; subiu rumo a uma terra distante, como um anjo saído de um sonho. A menina bonita estava livre. Ninguém apercebeu-se de tal libertação. Tudo que se ouviu foi um barulho forte, um som oco, cego, de um corpinho muito branco e delicado chocando-se contra o asfalto quente.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pai nosso

Meu pensamento é caetanístico; meu sarcasmo é genético. Meu humor é cítrico. Minha vileza... tântrica. Minha competência é felina; minha língua é afiada. Meu capricornianismo cheira a talco. Minha sagacidade é lenta, minha percepção é supersônica. Meu bom gosto é palpável, meu paladar é gástrico. Minha morbidez é poética, minha boemia é cadente. Minha insatisfação é descuidada. Meu sonho é distante. Meu viver é calvo, meu existir é surpreendente. Minha tranquilidade é aflita; meu alterego é vibrante. Perigoso? Não se iluda: posso ser seu melhor sonho, seu pior pesadelo. Essas águas são poluídas. Meus genes já nasceram corrompidos. Jamais e sempre serei melhor que antes.

Pai nosso

Meu pensamento é caetanístico; meu sarcasmo é genético. Meu humor é cítrico. Minha vileza... tântrica. Minha competência é felina; minha língua é afiada. Meu capricornianismo cheira a talco. Minha sagacidade é lenta, minha percepção é supersônica. Meu bom gosto é palpável, meu paladar é gástrico. Minha morbidez é poética, minha boemia é cadente. Minha insatisfação é descuidada. Meu sonho é distante. Meu viver é calvo, meu existir é surpreendente. Minha tranquilidade é aflita; meu alterego é vibrante. Perigoso? Não se iluda: posso ser seu melhor sonho, seu pior pesadelo. Essas águas são poluídas. Meus genes já nasceram corrompidos. Jamais e sempre serei melhor que antes.

O gigante

Meia dúzia de notinhas molhadas e amassadas no fundo do bolso da calça jeans surrada fazem murchar meu sonho de amor... Fiquei olhando pra elas, imaginando caminhos, despedaçando desejos, esperando resposta. Como sempre esperei, como esperei - a resposta - não veio. Malditas sejam elas, que nada vêem, que tudo podem; maldito seja quem nasceu pra acreditar nelas. Que pena!... Caminho pelos becos mais escuros, ouço vozes pelas paredes, penso em muita coisa. Minha cabeça roda. A garganta se fecha. O olho se espreme. Estou naquele estágio em que se dá as costas esperando que se dêem as mãos. Game over? New beginning? Dorzinha nova, afliçãozinha corriqueira, decepção temporária. Sinto falta da minha substância.

O gigante

Meia dúzia de notinhas molhadas e amassadas no fundo do bolso da calça jeans surrada fazem murchar meu sonho de amor... Fiquei olhando pra elas, imaginando caminhos, despedaçando desejos, esperando resposta. Como sempre esperei, como esperei - a resposta - não veio. Malditas sejam elas, que nada vêem, que tudo podem; maldito seja quem nasceu pra acreditar nelas. Que pena!... Caminho pelos becos mais escuros, ouço vozes pelas paredes, penso em muita coisa. Minha cabeça roda. A garganta se fecha. O olho se espreme. Estou naquele estágio em que se dá as costas esperando que se dêem as mãos. Game over? New beginning? Dorzinha nova, afliçãozinha corriqueira, decepção temporária. Sinto falta da minha substância.

domingo, 20 de setembro de 2009

Fogo

Coisas que não fazem sentido
às vezes me atraem
de uma maneira
meio pueril...
não brinque com fogo,
você me diz
em segredo;
eu sorrio
te envio
sem medo
um beijo de atriz
e respondo logo:
sou infantil
não é que eu queira
mas quando as folhas caem
no meu peito culmina um estampido

Fogo

Coisas que não fazem sentido
às vezes me atraem
de uma maneira
meio pueril...
não brinque com fogo,
você me diz
em segredo;
eu sorrio
te envio
sem medo
um beijo de atriz
e respondo logo:
sou infantil
não é que eu queira
mas quando as folhas caem
no meu peito culmina um estampido

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tupac

Some days I love you more than others.
Some days I just don't like you at all
and I wish
we had never met;
sometimes I wish
I could close my eyes
and make you disappear...
There's so much left,
but nothing relevant...
Circumstance
has made me stop
wondering
I don't feel
part of any of that
anymore -
There's nothing left,
but still
I'm afraid of missing
something
important
of losing myself
in the middle
of somewhere
either pointless
or priceless...
OK, let's cut the crap:
when a question is the problem,
DAMAGE is the
only
true
answer.
Some days I love you more than others
but I no longer wish you were here...
It's funny;
there's fire in my eyes
I struggle but can't deny
I do not belong
I SIMPLY DON'T BELONG
in my old dreams
anymore -
bear in mind
that some things
will always change.

Tupac

Some days I love you more than others.
Some days I just don't like you at all
and I wish
we had never met;
sometimes I wish
I could close my eyes
and make you disappear...
There's so much left,
but nothing relevant...
Circumstance
has made me stop
wondering
I don't feel
part of any of that
anymore -
There's nothing left,
but still
I'm afraid of missing
something
important
of losing myself
in the middle
of somewhere
either pointless
or priceless...
OK, let's cut the crap:
when a question is the problem,
DAMAGE is the
only
true
answer.
Some days I love you more than others
but I no longer wish you were here...
It's funny;
there's fire in my eyes
I struggle but can't deny
I do not belong
I SIMPLY DON'T BELONG
in my old dreams
anymore -
bear in mind
that some things
will always change.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Technobeer

Tô sem internet, e com muita vontade de jogar conversa fora... Uai, cerveja, né? O que é que eu posso fazer...

Technobeer

Tô sem internet, e com muita vontade de jogar conversa fora... Uai, cerveja, né? O que é que eu posso fazer...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Capítulo 17, parte 2: O caso da casa de Aaron

Bom, gente, cá estou - depois de vários caíres da noite - pra tentar situar vocês com relação ao meu objetivo nesse capítulo. Enrolei, embromei, ilustrei e não disse o essencial: na Inglaterra eu não era ninguém. Não sei se tiveram a oportunidade de ler um breve devaneio, em que eu dizia nunca ter sido a mais bonita da escola e coisas do gênero. Em meio a muitas bobagens, saiu uma coisa interessante - sempre houve umas cinco pessoas que me viam de uma forma diferente (cinco pessoas no mundo todo), cinco pessoas que enxergavam dentro e fora de mim motivos para me considerar um ser belo, excepcional. Além dessas raríssimas almas, havia meus amigos e todas as pessoas do mundo com as quais eu sempre me relacionei muito bem. Passei a ter uma opinião gradativamente positiva a meu respeito, e já gostava de mim o suficiente quando resolvi viajar. Saí de Belo Horizonte com um certo auto-retrato mental; reconhecia meu potencial. Chegando em Londres, essa idéia toda teve que ser jogada fora, junto com a comida que eu ganhava no japonês e não tinha lugar pra guardar, junto com o cheiro de peixe que grudava em mim e ia pelo ralo a cada dia, enfraquecido pela espuma densa do shampoo. Tomava banho e esfregava meus cabelos pensativa, todos os dias - vai ver que foi por isso que Madame Satã resolveu cortar a água eventualmente. Nunca me senti tão solitária. Nunca pensei que me sentiria isolada, sem sal, sem ter o que oferecer. Fiquei mais magra, amarela, só. Ainda bem que nesse primeiro momento não tinha tempo pra ficar triste. Num lugar com tanta coisa acontecendo simultaneamente, não tinha espaço dentro do dia pra chorar - a gente vira bicho de rua, sobrevivendo, catando os pedaços, correndo por becos escuros, achando que a sorte é a melhor amiga do homem. A alma pula pra fora do corpo, e ficamos frente a frente com nossas mazelas; nos banhamos de nossa própria essência. Dói de um jeito estranho ver tantas coisas que não vão mudar dentro da gente, o que vai mudar inevitavelmente, tantas incertezas. E ainda dizem por aí que crescer é bom. Positivo tudo bem, mas bom, vamo combinar...
-
Por ter minha amiga Marina morando lá há algum tempo, conheci alguns ingleses bem legais - Sam, londrino, Patrick, de Milton Keynes, Gordon, escocês, três pessoas muito, muito especiais, que junto com Renatilda e Bruno, foram os melhores anfitriões que se pode existir. Sempre saía com o Sam, e ele sempre me levava a lugares muito interessantes e diferentes - incluindo uma preestréia de Blindness, com direito a coletiva com Fernando Meirelles e o roteirista do filme. Um dia ele me levou a um "club", uma espécie de pub privado, só para membros, bem fino. O pessoal me tratou como um animal exótico. É interessante perceber que, de forma geral, os ingleses não se misturam com os demais. A polidez deles é arrogante, quase cínica, beirando o irônico. As mulheres são ainda mais evidentes nesse sentido, talvez por inveja do nosso swing, hahaha! OK, sou uma personagem da selva amazônica... ENTÃO VAMOS NOS DIVERTIR COM ISSO! Falei muita bobagem com essa galera, às vezes tinha que segurar o riso pra não ficar tão óbvio. E me senti mais aliviada ao perceber que o inglês se acha superior a qualquer latino-americano, no matter what.
-
Em alguns bares onde fui, os caras sentiam-se no direito de me tratar como um pedaço de carne, me cutucando pra falar da minha bunda num espanglês propositalmente vulgar - esses geralmente estavam em turminha, aquela turminha de motherfucking assholes doidos pra rolar uma confusão. Eu sorria... e agradecia. Dentro de mim, pedia pra que todos eles queimassem no fogo mais quente do inferno. Fora de mim, pedia outra Guiness.
-
Foi num desses bares, um podrão com boa música e figuras mais exóticas que eu, em (West?)Hampstead, que conheci um sujeito singular. Tinha saído com Andrea e Olivier, e nessa época já havia me mudado para Stratford, do outro lado da cidade. Como o bar ficava perto da estação de metrô, não me preocupei. As horas foram passando, já estávamos naquele estágio "hoje eu só volto amanhã", e de repente um cara começou a conversar com a gente. Perguntou muita coisa, falou muito e pareceu ser uma pessoa interessante. Papo vai, papo vem, avisaram que o bar iria fechar. O cara - um londrino pra lá de peculiar chamado Aaron - nos convidou para tomar uma saideira na sua casa. Já eram umas três da manhã, não tinha mais metrô e eu não tinha idéia de como pegar um ônibus dali pra minha casa. Olivier foi, Andrea ficou; fomos os três. Passamos em um off-license no caminho - engraçado demais isso, os bares com licença pra vender bebida alcoólica se chamam off-license... um dia ainda vou querer entender isso! Compramos umas cervejas, ele comprou um uísque, e quando demos o dinheiro pra pagar - cada um de nós deu 20 libras pq não tínhamos trocado - ele embolsou o troco sem a menor cerimônia. Aliás, vi claramente que ele não deu um centavo e ainda levou um cigarro. Enfim... andamos até sua casa, que não era longe. A casa era linda por fora: toda branca, aquele estilo londrino antigo, com um janelão de vidro na frente, dois ou três andares. Bem, por fora ela era linda, porque por dentro era bem parecida com aquele ninho de rato da filipina - uma escada em caracol e umas vinte mini-tocas no caminho. A casa dele era basicamente um cômodo dividido em três: uma sala que acredito ser o quarto também, um banheiro bem, bem pequeno e uma cozinha bem, bem pequena. Tudo redondo, semelhante àquele prédio da Praça da Liberdade. Aaron devia ter 40 anos e uns 10000 CD's, tinha CD espalhado na casa toda. Ele disse que era músico, e que já havia tocado até com nossa musa junk no metrô. Contou que ouvia de tudo, e colocou uma trilha assaz suspeita pra alguém entendido - Black Eyed Peas. A situação estava razoavelmente agradável, até que nosso amigo deu umas revoadas tórax adentro, como diria somebody I know, e começou a falar. Descontroladamente. Sem parar. Sem respirar. Perguntou e respondeu, bebeu, fez e aconteceu. A gente escutou. Na verdade, acho que meu amigo italiano até conseguiu levar um certo papo 100:1 (100 palavras de nosso anfitrião para 1 dele) com Aaron, porque fiquei física e mentalmente exausta. Senti como se ele tivesse sugado toda a minha energia, foi incrível. Não consegui falar, meu cérebro parou de funcionar e as poucas coisas que consegui dizer foram distorcidas, deletadas ou os dois. Ele falava como um guru, sabia todas as respostas, estava acima do bem e do mal. Que sábio, hein, Andrea? Tão sábio que me encolhi no tapete e em pouco tempo estava dormindo. Minha alma voltou ao corpo no momento em que ele falava de mim. Ouvi em silêncio. Disse que eu era extremamente atraente, muito exótica - não disse que essa concepção é geral? -, mas que certamente eu só era considerada assim por não estar no meu país. Continuou, alegando que no meu país, eu deveria ser bem mais ou menos, insossa, bem meia-boca. Meu amigo mal teve tempo de discordar. Acordei meio de sobressalto e lembro-me de perguntar o que aquele poço de magnitude e sabedoria estava fazendo sozinho. Na verdade, acho que falei algo assim. O cara ficou puto! Até chorar ele chorou. Me senti na casa da Amy no meio de uma crise. Pirou, falou da sua decepção amorosa, admitiu que era uma pessoa normal - disso eu discordo em gênero, número e grau - e no final entrou numas de que era um fracassado. A essa altura, eu só queria ir embora, e por telepatia meu amigo me convenceu de que teríamos que acalmá-lo primeiro. Fiquei calada - definitivamente nada do que eu disse naquela noite ajudou - e Mr. Incerto exerceu seus dons diplomáticos por mais alguns minutos. E não é que ele é bom mesmo? Funcionou... Quando vi que podia finalmente abrir a porta, foi como se saísse de um cativeiro. Mundo, aí vou eu! Minha respiração ofegante já voltava ao normal quando, da janela, Aaron nos agradeceu pela ótima noite, e com um sorriso tranquilo e quase dócil no rosto, convidou para outro get-together num futuro próximo. Olhei pro meu amigo; esperei que ele respondesse, agradecendo a Deus por não passar de um animal exótico em terra de tia Beth. Dream on, cabron, dream on!!!!!


Capítulo 17, parte 2: O caso da casa de Aaron

Bom, gente, cá estou - depois de vários caíres da noite - pra tentar situar vocês com relação ao meu objetivo nesse capítulo. Enrolei, embromei, ilustrei e não disse o essencial: na Inglaterra eu não era ninguém. Não sei se tiveram a oportunidade de ler um breve devaneio, em que eu dizia nunca ter sido a mais bonita da escola e coisas do gênero. Em meio a muitas bobagens, saiu uma coisa interessante - sempre houve umas cinco pessoas que me viam de uma forma diferente (cinco pessoas no mundo todo), cinco pessoas que enxergavam dentro e fora de mim motivos para me considerar um ser belo, excepcional. Além dessas raríssimas almas, havia meus amigos e todas as pessoas do mundo com as quais eu sempre me relacionei muito bem. Passei a ter uma opinião gradativamente positiva a meu respeito, e já gostava de mim o suficiente quando resolvi viajar. Saí de Belo Horizonte com um certo auto-retrato mental; reconhecia meu potencial. Chegando em Londres, essa idéia toda teve que ser jogada fora, junto com a comida que eu ganhava no japonês e não tinha lugar pra guardar, junto com o cheiro de peixe que grudava em mim e ia pelo ralo a cada dia, enfraquecido pela espuma densa do shampoo. Tomava banho e esfregava meus cabelos pensativa, todos os dias - vai ver que foi por isso que Madame Satã resolveu cortar a água eventualmente. Nunca me senti tão solitária. Nunca pensei que me sentiria isolada, sem sal, sem ter o que oferecer. Fiquei mais magra, amarela, só. Ainda bem que nesse primeiro momento não tinha tempo pra ficar triste. Num lugar com tanta coisa acontecendo simultaneamente, não tinha espaço dentro do dia pra chorar - a gente vira bicho de rua, sobrevivendo, catando os pedaços, correndo por becos escuros, achando que a sorte é a melhor amiga do homem. A alma pula pra fora do corpo, e ficamos frente a frente com nossas mazelas; nos banhamos de nossa própria essência. Dói de um jeito estranho ver tantas coisas que não vão mudar dentro da gente, o que vai mudar inevitavelmente, tantas incertezas. E ainda dizem por aí que crescer é bom. Positivo tudo bem, mas bom, vamo combinar...
-
Por ter minha amiga Marina morando lá há algum tempo, conheci alguns ingleses bem legais - Sam, londrino, Patrick, de Milton Keynes, Gordon, escocês, três pessoas muito, muito especiais, que junto com Renatilda e Bruno, foram os melhores anfitriões que se pode existir. Sempre saía com o Sam, e ele sempre me levava a lugares muito interessantes e diferentes - incluindo uma preestréia de Blindness, com direito a coletiva com Fernando Meirelles e o roteirista do filme. Um dia ele me levou a um "club", uma espécie de pub privado, só para membros, bem fino. O pessoal me tratou como um animal exótico. É interessante perceber que, de forma geral, os ingleses não se misturam com os demais. A polidez deles é arrogante, quase cínica, beirando o irônico. As mulheres são ainda mais evidentes nesse sentido, talvez por inveja do nosso swing, hahaha! OK, sou uma personagem da selva amazônica... ENTÃO VAMOS NOS DIVERTIR COM ISSO! Falei muita bobagem com essa galera, às vezes tinha que segurar o riso pra não ficar tão óbvio. E me senti mais aliviada ao perceber que o inglês se acha superior a qualquer latino-americano, no matter what.
-
Em alguns bares onde fui, os caras sentiam-se no direito de me tratar como um pedaço de carne, me cutucando pra falar da minha bunda num espanglês propositalmente vulgar - esses geralmente estavam em turminha, aquela turminha de motherfucking assholes doidos pra rolar uma confusão. Eu sorria... e agradecia. Dentro de mim, pedia pra que todos eles queimassem no fogo mais quente do inferno. Fora de mim, pedia outra Guiness.
-
Foi num desses bares, um podrão com boa música e figuras mais exóticas que eu, em (West?)Hampstead, que conheci um sujeito singular. Tinha saído com Andrea e Olivier, e nessa época já havia me mudado para Stratford, do outro lado da cidade. Como o bar ficava perto da estação de metrô, não me preocupei. As horas foram passando, já estávamos naquele estágio "hoje eu só volto amanhã", e de repente um cara começou a conversar com a gente. Perguntou muita coisa, falou muito e pareceu ser uma pessoa interessante. Papo vai, papo vem, avisaram que o bar iria fechar. O cara - um londrino pra lá de peculiar chamado Aaron - nos convidou para tomar uma saideira na sua casa. Já eram umas três da manhã, não tinha mais metrô e eu não tinha idéia de como pegar um ônibus dali pra minha casa. Olivier foi, Andrea ficou; fomos os três. Passamos em um off-license no caminho - engraçado demais isso, os bares com licença pra vender bebida alcoólica se chamam off-license... um dia ainda vou querer entender isso! Compramos umas cervejas, ele comprou um uísque, e quando demos o dinheiro pra pagar - cada um de nós deu 20 libras pq não tínhamos trocado - ele embolsou o troco sem a menor cerimônia. Aliás, vi claramente que ele não deu um centavo e ainda levou um cigarro. Enfim... andamos até sua casa, que não era longe. A casa era linda por fora: toda branca, aquele estilo londrino antigo, com um janelão de vidro na frente, dois ou três andares. Bem, por fora ela era linda, porque por dentro era bem parecida com aquele ninho de rato da filipina - uma escada em caracol e umas vinte mini-tocas no caminho. A casa dele era basicamente um cômodo dividido em três: uma sala que acredito ser o quarto também, um banheiro bem, bem pequeno e uma cozinha bem, bem pequena. Tudo redondo, semelhante àquele prédio da Praça da Liberdade. Aaron devia ter 40 anos e uns 10000 CD's, tinha CD espalhado na casa toda. Ele disse que era músico, e que já havia tocado até com nossa musa junk no metrô. Contou que ouvia de tudo, e colocou uma trilha assaz suspeita pra alguém entendido - Black Eyed Peas. A situação estava razoavelmente agradável, até que nosso amigo deu umas revoadas tórax adentro, como diria somebody I know, e começou a falar. Descontroladamente. Sem parar. Sem respirar. Perguntou e respondeu, bebeu, fez e aconteceu. A gente escutou. Na verdade, acho que meu amigo italiano até conseguiu levar um certo papo 100:1 (100 palavras de nosso anfitrião para 1 dele) com Aaron, porque fiquei física e mentalmente exausta. Senti como se ele tivesse sugado toda a minha energia, foi incrível. Não consegui falar, meu cérebro parou de funcionar e as poucas coisas que consegui dizer foram distorcidas, deletadas ou os dois. Ele falava como um guru, sabia todas as respostas, estava acima do bem e do mal. Que sábio, hein, Andrea? Tão sábio que me encolhi no tapete e em pouco tempo estava dormindo. Minha alma voltou ao corpo no momento em que ele falava de mim. Ouvi em silêncio. Disse que eu era extremamente atraente, muito exótica - não disse que essa concepção é geral? -, mas que certamente eu só era considerada assim por não estar no meu país. Continuou, alegando que no meu país, eu deveria ser bem mais ou menos, insossa, bem meia-boca. Meu amigo mal teve tempo de discordar. Acordei meio de sobressalto e lembro-me de perguntar o que aquele poço de magnitude e sabedoria estava fazendo sozinho. Na verdade, acho que falei algo assim. O cara ficou puto! Até chorar ele chorou. Me senti na casa da Amy no meio de uma crise. Pirou, falou da sua decepção amorosa, admitiu que era uma pessoa normal - disso eu discordo em gênero, número e grau - e no final entrou numas de que era um fracassado. A essa altura, eu só queria ir embora, e por telepatia meu amigo me convenceu de que teríamos que acalmá-lo primeiro. Fiquei calada - definitivamente nada do que eu disse naquela noite ajudou - e Mr. Incerto exerceu seus dons diplomáticos por mais alguns minutos. E não é que ele é bom mesmo? Funcionou... Quando vi que podia finalmente abrir a porta, foi como se saísse de um cativeiro. Mundo, aí vou eu! Minha respiração ofegante já voltava ao normal quando, da janela, Aaron nos agradeceu pela ótima noite, e com um sorriso tranquilo e quase dócil no rosto, convidou para outro get-together num futuro próximo. Olhei pro meu amigo; esperei que ele respondesse, agradecendo a Deus por não passar de um animal exótico em terra de tia Beth. Dream on, cabron, dream on!!!!!


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Capítulo 17: Sou um passageiro

People are strange
when you're a stranger
faces look ugly
when you're alone
women seem wicked
when you're unwanted
streets are uneven
when you're down...

Esse capítulo é destinado a todos aqueles que um dia tiveram a certeza de que eram o máximo, que pensaram na possibilidade de serem populares, bonitos, desejados... e que foram subitamente forçados a mudar de universo... E DE OPINIÃO. Vamos falar das pessoas em um ambiente nem um pouco seu. Mais especificamente, vamos falar dos ingleses, de nós e da relação dos ingleses com a gente (nem precisa dizer que vou basear-me pura e simplesmente nas pessoas que conheci - nem tão bem assim - e no que vi e ouvi para traçar um perfil caradepaumente genérico).
Vamos à primeira pessoa, aquela que constituiria minha primeira e mais duradoura impressão dos seres de lá: o motorista do black cab. Que gracinha, parecia o Papai Noel sem a barba, uma verdadeira simpatia. Foi me mostrando os lugares legais no caminho, quase um passeio turístico - até porque minha casa era praticamente num reino bem, bem distante - e contando vários casos sobre sua vida - aí já não sei se ele é assim ou se eu acabo incentivando as pessoas a se abrirem com essa minha loucura de conversar a qualquer preço. Enfim, devo dizer que foram 60 libras bem gastas (isso mesmo, já contei pra vcs sobre essa questão, né?) se considerarmos minha agradabilíssima companhia - até sobre as variações climáticas ele me contou, sensacional...
Cheguei na porta da minha casa tranquila, me sentindo bem-vinda a Londres, leve, quase uma visita. Até a porta se abrir e a segunda pessoa aparecer, óbvio. Ainda bem que Madame Satã foi a segunda pessoa que eu conheci, isso me encheu de esperança... Fiquei durante um bom tempo pensando se ela era daquele jeito mesmo ou se Londres tinha feito aquilo com ela. Fanática religiosa que não fazia questão de espalhar o bem-estar dentro da sua casa? Bem paradoxal - e aqui vou mais além: acho que quem fica fanático por uma religião só decora, não entende; só prega, nunca realiza; resumindo: tá comprando a vaga no céu a prestação e vai bater com a cara no muro quando chegar lá!
Well... voltemos.
Cheguei à minha escola e conheci os funcionários da escola. Formalmente cordiais, ou cordialmente formais? Acho que algo do tipo... Tive um professor muito bacana, chamado Will. Como fui a única aluna na sala por algum tempo, ele me ensinou um pouco de tudo: os lugares legais, os não legais, os turísticos pra turista e os lindos pras pessoas da cidade. Me contou sobre os autores e os livros que deveria ler, e sobre suas viagens à Índia e a tantos outros lugares - uma coisa que aprendi a valorizar em cidadãos europeus é que eles realmente aproveitam os vôos promocionais, as pequenas distâncias... e asas pra que te quero! Fiquei doente e ele me ligou para saber se eu estava melhor - juro que não esperava isso de um inglês, não era essa a visão que eu tinha. Pessoas assim a gente não esquece, né? Os outros professores eram cordialmente formais ou formalmente cordiais, mesmo com as piadinhas que calculadamente beiravam o politicamente incorreto, mas jamais ultrapassavam essa barreira.
No meu trabalho nem dá pra considerar as pessoas - não tinha NENHUM INGLÊS. Nenhum mesmo. Meus chefes eram da Argélia - e foram os melhores chefes que alguém pode ter: atenciosos, preocupados, sempre tentando me ajudar, sempre, até passando por cima das minhas trapalhadas, que foram muuuitas... sorry, Nacer and Lautfi, and many thanks for caring about me, I'll never forget you! Na cozinha, gente do Sri Lanka, da Polônia, Bulgária, Burma (sério). Os garçons e garçonetes eram da Alemanha e Coréia; os motoboys brasileiros - e muito gente fina, diga-se de passagem... Ah, tinha um motoboy acho que escocês, mas além de ele ser um pouco estranho (pra não falar meio nojentão pegajoso tiozão tarado), ninguém entendia uma palavra do que ele dizia (será que valia a pena?:( ).
(continua em breve...)

Capítulo 17: Sou um passageiro

People are strange
when you're a stranger
faces look ugly
when you're alone
women seem wicked
when you're unwanted
streets are uneven
when you're down...

Esse capítulo é destinado a todos aqueles que um dia tiveram a certeza de que eram o máximo, que pensaram na possibilidade de serem populares, bonitos, desejados... e que foram subitamente forçados a mudar de universo... E DE OPINIÃO. Vamos falar das pessoas em um ambiente nem um pouco seu. Mais especificamente, vamos falar dos ingleses, de nós e da relação dos ingleses com a gente (nem precisa dizer que vou basear-me pura e simplesmente nas pessoas que conheci - nem tão bem assim - e no que vi e ouvi para traçar um perfil caradepaumente genérico).
Vamos à primeira pessoa, aquela que constituiria minha primeira e mais duradoura impressão dos seres de lá: o motorista do black cab. Que gracinha, parecia o Papai Noel sem a barba, uma verdadeira simpatia. Foi me mostrando os lugares legais no caminho, quase um passeio turístico - até porque minha casa era praticamente num reino bem, bem distante - e contando vários casos sobre sua vida - aí já não sei se ele é assim ou se eu acabo incentivando as pessoas a se abrirem com essa minha loucura de conversar a qualquer preço. Enfim, devo dizer que foram 60 libras bem gastas (isso mesmo, já contei pra vcs sobre essa questão, né?) se considerarmos minha agradabilíssima companhia - até sobre as variações climáticas ele me contou, sensacional...
Cheguei na porta da minha casa tranquila, me sentindo bem-vinda a Londres, leve, quase uma visita. Até a porta se abrir e a segunda pessoa aparecer, óbvio. Ainda bem que Madame Satã foi a segunda pessoa que eu conheci, isso me encheu de esperança... Fiquei durante um bom tempo pensando se ela era daquele jeito mesmo ou se Londres tinha feito aquilo com ela. Fanática religiosa que não fazia questão de espalhar o bem-estar dentro da sua casa? Bem paradoxal - e aqui vou mais além: acho que quem fica fanático por uma religião só decora, não entende; só prega, nunca realiza; resumindo: tá comprando a vaga no céu a prestação e vai bater com a cara no muro quando chegar lá!
Well... voltemos.
Cheguei à minha escola e conheci os funcionários da escola. Formalmente cordiais, ou cordialmente formais? Acho que algo do tipo... Tive um professor muito bacana, chamado Will. Como fui a única aluna na sala por algum tempo, ele me ensinou um pouco de tudo: os lugares legais, os não legais, os turísticos pra turista e os lindos pras pessoas da cidade. Me contou sobre os autores e os livros que deveria ler, e sobre suas viagens à Índia e a tantos outros lugares - uma coisa que aprendi a valorizar em cidadãos europeus é que eles realmente aproveitam os vôos promocionais, as pequenas distâncias... e asas pra que te quero! Fiquei doente e ele me ligou para saber se eu estava melhor - juro que não esperava isso de um inglês, não era essa a visão que eu tinha. Pessoas assim a gente não esquece, né? Os outros professores eram cordialmente formais ou formalmente cordiais, mesmo com as piadinhas que calculadamente beiravam o politicamente incorreto, mas jamais ultrapassavam essa barreira.
No meu trabalho nem dá pra considerar as pessoas - não tinha NENHUM INGLÊS. Nenhum mesmo. Meus chefes eram da Argélia - e foram os melhores chefes que alguém pode ter: atenciosos, preocupados, sempre tentando me ajudar, sempre, até passando por cima das minhas trapalhadas, que foram muuuitas... sorry, Nacer and Lautfi, and many thanks for caring about me, I'll never forget you! Na cozinha, gente do Sri Lanka, da Polônia, Bulgária, Burma (sério). Os garçons e garçonetes eram da Alemanha e Coréia; os motoboys brasileiros - e muito gente fina, diga-se de passagem... Ah, tinha um motoboy acho que escocês, mas além de ele ser um pouco estranho (pra não falar meio nojentão pegajoso tiozão tarado), ninguém entendia uma palavra do que ele dizia (será que valia a pena?:( ).
(continua em breve...)

domingo, 6 de setembro de 2009

Ao meu redor

Tudo que ouço
vira poesia,
mistura-se
ao que se imagina;
torna-se canção.
A alma aberta
é para-raio de idéia
salto pequeno-grande
da minha cabeça
para o seu coração.

Ao meu redor

Tudo que ouço
vira poesia,
mistura-se
ao que se imagina;
torna-se canção.
A alma aberta
é para-raio de idéia
salto pequeno-grande
da minha cabeça
para o seu coração.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Balança

Cresce meu desejo louco-surdo-e-mudo de te ver
assim como cresce minha espera tonta
assim como cresce meu sonho
e minha angústia
pela espera
de um sonho
de enfim ver você.

Quando paro e penso um pouco
cresce minha certeza
de que não há dúvida:
minha vida é tão diferente da sua...

O tempo passa;
cresce minha dúvida
quanto à certeza que inventei
cresce meu medo do que existe
cresce o que é triste e não há de ser
cresce a agonia que toma meu caminhar
cresce meu pesar por ter que te esquecer
e minha vontade de que você feche os olhos... e possa se lembrar.

Balança

Cresce meu desejo louco-surdo-e-mudo de te ver
assim como cresce minha espera tonta
assim como cresce meu sonho
e minha angústia
pela espera
de um sonho
de enfim ver você.

Quando paro e penso um pouco
cresce minha certeza
de que não há dúvida:
minha vida é tão diferente da sua...

O tempo passa;
cresce minha dúvida
quanto à certeza que inventei
cresce meu medo do que existe
cresce o que é triste e não há de ser
cresce a agonia que toma meu caminhar
cresce meu pesar por ter que te esquecer
e minha vontade de que você feche os olhos... e possa se lembrar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Exceção

Há um tempo venho pensando em uma coisa, e hoje - justo hoje - recebi um email que fomentou minha vontade de escrever a respeito. Novamente, frases de efeito RULE! Olhem essa: Para conseguir uma coisa que você nunca teve, deve fazer algo que nunca fez. Essa mensagem reflete o que somos diariamente condicionados a pensar, executar e reproduzir. Se temos um objetivo, a receita é uma só: correr atrás. Nosso ícone fashion afirmou em entrevista que não ficou sentada comendo pipoca pra chegar onde chegou. É sempre preciso fazer alguma coisa, não é? Se queremos aquele emprego, batalhamos por ele até o final. Se desejamos ser felizes fazendo algo do qual gostamos, temos que ser realmente bons, temos que pôr a mão na massa de acordo... Até em termos de satisfação física, não há outro caminho senão fazer por onde - porque ser linda e gostosa sem malhar é só até os 18, 20 no máximo, viu? Toda reação requer uma ação, isso não é novidade. Aí entra em cena o amor. Quando você quer uma pessoa, não é bem assim. Você até tenta algumas estratégias conhecidas, mas não faz nada. É isso mesmo. Digamos que, nesse caso, é uma questão de química, de aura... de bateu-valeu. Claro, pode-se despertar um sentimento, mas não mantê-lo vivo se ele não estiver lá. Joguinho só dura naquela fase inicial - se a pessoa se interessou por você só por isso, tire o cavalinho da chuva: vai te procurar, sim, mas por orgulho ferido, vontade de te ter só pra você deixar de ser boba. Sempre ficaremos tentados ao que é difícil - o que é impossível então é um prato cheio! Um prato cheio de bobagem, não é amor - caia na real, vá ler um livro... Tem gente que vai à luta mesmo, na lata. Às vezes dá certo, mas é quase impossível encontrar um ser humano que te ame depois de você colocar todas as cartas na mesa. Aprendemos que não se deve colocar as cartas na mesa - estraga o mistério. A verdade é que as pessoas gostam de não saber o que o outro pensa ou sente - adrenalina até (ou principalmente) no amor. Lembram-se, no capítulo 15, da descrição dos espanhóis - que comem com os olhos e saem fora como se nada tivesse acontecido? Gostamos de conquistar, o fácil nunca é bem-visto. E o interessante (ou não?) é que o que fazemos de bom com relação a isso: muito pouco, nada ou algo naturalmente artificial. Essas pessoas que são displiscentemente atraentes, despretensiosamente charmosas, magnéticas em sua simplicidade, essas são poucas e merecem o meu respeito. É como se elas chegassem realmente a acreditar que não percebem seu poder sobre o universo. Quem se joga no amor - tirando os que se acham ou se garantem - é taxado de patético. Quem não faz nada pode perder a chance. E o que a gente faz? Pensa que o que tiver que ser será. Reza, faz simpatia, entrega tudo pra Deus ou seja lá quem for. E sonha com o dia em que aquela figura tão singular, tão sua fôrma, tão... tão! vai te encontrar na rua, bater no seu ombro em uma manifestação na Praça Sete, sair do mar num dia de chuva e dizer que é isso mesmo, que ela definitivamente nasceu pra ser o amor da sua vida.

Exceção

Há um tempo venho pensando em uma coisa, e hoje - justo hoje - recebi um email que fomentou minha vontade de escrever a respeito. Novamente, frases de efeito RULE! Olhem essa: Para conseguir uma coisa que você nunca teve, deve fazer algo que nunca fez. Essa mensagem reflete o que somos diariamente condicionados a pensar, executar e reproduzir. Se temos um objetivo, a receita é uma só: correr atrás. Nosso ícone fashion afirmou em entrevista que não ficou sentada comendo pipoca pra chegar onde chegou. É sempre preciso fazer alguma coisa, não é? Se queremos aquele emprego, batalhamos por ele até o final. Se desejamos ser felizes fazendo algo do qual gostamos, temos que ser realmente bons, temos que pôr a mão na massa de acordo... Até em termos de satisfação física, não há outro caminho senão fazer por onde - porque ser linda e gostosa sem malhar é só até os 18, 20 no máximo, viu? Toda reação requer uma ação, isso não é novidade. Aí entra em cena o amor. Quando você quer uma pessoa, não é bem assim. Você até tenta algumas estratégias conhecidas, mas não faz nada. É isso mesmo. Digamos que, nesse caso, é uma questão de química, de aura... de bateu-valeu. Claro, pode-se despertar um sentimento, mas não mantê-lo vivo se ele não estiver lá. Joguinho só dura naquela fase inicial - se a pessoa se interessou por você só por isso, tire o cavalinho da chuva: vai te procurar, sim, mas por orgulho ferido, vontade de te ter só pra você deixar de ser boba. Sempre ficaremos tentados ao que é difícil - o que é impossível então é um prato cheio! Um prato cheio de bobagem, não é amor - caia na real, vá ler um livro... Tem gente que vai à luta mesmo, na lata. Às vezes dá certo, mas é quase impossível encontrar um ser humano que te ame depois de você colocar todas as cartas na mesa. Aprendemos que não se deve colocar as cartas na mesa - estraga o mistério. A verdade é que as pessoas gostam de não saber o que o outro pensa ou sente - adrenalina até (ou principalmente) no amor. Lembram-se, no capítulo 15, da descrição dos espanhóis - que comem com os olhos e saem fora como se nada tivesse acontecido? Gostamos de conquistar, o fácil nunca é bem-visto. E o interessante (ou não?) é que o que fazemos de bom com relação a isso: muito pouco, nada ou algo naturalmente artificial. Essas pessoas que são displiscentemente atraentes, despretensiosamente charmosas, magnéticas em sua simplicidade, essas são poucas e merecem o meu respeito. É como se elas chegassem realmente a acreditar que não percebem seu poder sobre o universo. Quem se joga no amor - tirando os que se acham ou se garantem - é taxado de patético. Quem não faz nada pode perder a chance. E o que a gente faz? Pensa que o que tiver que ser será. Reza, faz simpatia, entrega tudo pra Deus ou seja lá quem for. E sonha com o dia em que aquela figura tão singular, tão sua fôrma, tão... tão! vai te encontrar na rua, bater no seu ombro em uma manifestação na Praça Sete, sair do mar num dia de chuva e dizer que é isso mesmo, que ela definitivamente nasceu pra ser o amor da sua vida.