terça-feira, 8 de setembro de 2009

Capítulo 17: Sou um passageiro

People are strange
when you're a stranger
faces look ugly
when you're alone
women seem wicked
when you're unwanted
streets are uneven
when you're down...

Esse capítulo é destinado a todos aqueles que um dia tiveram a certeza de que eram o máximo, que pensaram na possibilidade de serem populares, bonitos, desejados... e que foram subitamente forçados a mudar de universo... E DE OPINIÃO. Vamos falar das pessoas em um ambiente nem um pouco seu. Mais especificamente, vamos falar dos ingleses, de nós e da relação dos ingleses com a gente (nem precisa dizer que vou basear-me pura e simplesmente nas pessoas que conheci - nem tão bem assim - e no que vi e ouvi para traçar um perfil caradepaumente genérico).
Vamos à primeira pessoa, aquela que constituiria minha primeira e mais duradoura impressão dos seres de lá: o motorista do black cab. Que gracinha, parecia o Papai Noel sem a barba, uma verdadeira simpatia. Foi me mostrando os lugares legais no caminho, quase um passeio turístico - até porque minha casa era praticamente num reino bem, bem distante - e contando vários casos sobre sua vida - aí já não sei se ele é assim ou se eu acabo incentivando as pessoas a se abrirem com essa minha loucura de conversar a qualquer preço. Enfim, devo dizer que foram 60 libras bem gastas (isso mesmo, já contei pra vcs sobre essa questão, né?) se considerarmos minha agradabilíssima companhia - até sobre as variações climáticas ele me contou, sensacional...
Cheguei na porta da minha casa tranquila, me sentindo bem-vinda a Londres, leve, quase uma visita. Até a porta se abrir e a segunda pessoa aparecer, óbvio. Ainda bem que Madame Satã foi a segunda pessoa que eu conheci, isso me encheu de esperança... Fiquei durante um bom tempo pensando se ela era daquele jeito mesmo ou se Londres tinha feito aquilo com ela. Fanática religiosa que não fazia questão de espalhar o bem-estar dentro da sua casa? Bem paradoxal - e aqui vou mais além: acho que quem fica fanático por uma religião só decora, não entende; só prega, nunca realiza; resumindo: tá comprando a vaga no céu a prestação e vai bater com a cara no muro quando chegar lá!
Well... voltemos.
Cheguei à minha escola e conheci os funcionários da escola. Formalmente cordiais, ou cordialmente formais? Acho que algo do tipo... Tive um professor muito bacana, chamado Will. Como fui a única aluna na sala por algum tempo, ele me ensinou um pouco de tudo: os lugares legais, os não legais, os turísticos pra turista e os lindos pras pessoas da cidade. Me contou sobre os autores e os livros que deveria ler, e sobre suas viagens à Índia e a tantos outros lugares - uma coisa que aprendi a valorizar em cidadãos europeus é que eles realmente aproveitam os vôos promocionais, as pequenas distâncias... e asas pra que te quero! Fiquei doente e ele me ligou para saber se eu estava melhor - juro que não esperava isso de um inglês, não era essa a visão que eu tinha. Pessoas assim a gente não esquece, né? Os outros professores eram cordialmente formais ou formalmente cordiais, mesmo com as piadinhas que calculadamente beiravam o politicamente incorreto, mas jamais ultrapassavam essa barreira.
No meu trabalho nem dá pra considerar as pessoas - não tinha NENHUM INGLÊS. Nenhum mesmo. Meus chefes eram da Argélia - e foram os melhores chefes que alguém pode ter: atenciosos, preocupados, sempre tentando me ajudar, sempre, até passando por cima das minhas trapalhadas, que foram muuuitas... sorry, Nacer and Lautfi, and many thanks for caring about me, I'll never forget you! Na cozinha, gente do Sri Lanka, da Polônia, Bulgária, Burma (sério). Os garçons e garçonetes eram da Alemanha e Coréia; os motoboys brasileiros - e muito gente fina, diga-se de passagem... Ah, tinha um motoboy acho que escocês, mas além de ele ser um pouco estranho (pra não falar meio nojentão pegajoso tiozão tarado), ninguém entendia uma palavra do que ele dizia (será que valia a pena?:( ).
(continua em breve...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário