domingo, 28 de junho de 2009

O homem que achava que sabia demais - último suspiro

Pouco tempo depois de Jorge sair pela porta assobiando, ouvi um enorme rebuliço, uma verdadeira confusão. Mesmo não sendo essencialmente curioso, tive vontade de sair à porta, mas minha aula já havia começado. Meus alunos ficaram perturbados com aquilo também, e tive que tentar inserir aquele episódio em nosso warm-up pra que eles se engajassem. De repente, algumas imagens começaram a se formar na minha mente. Uma vez uma cartomante me disse que eu tinha poderes mediúnicos, e que em pouco tempo eles se revelariam diante dos meus olhos. Aos poucos a cena ficou clara: Jorge - atravessando a rua - sinal vermelho - moça com vidro aberto - bolsa no banco do passageiro - ato transgressor - polícia - fuga - corre - carro - realizar e escrever - Jorge no chão da Bernardo Monteiro. Não sei quanto tempo durou esse insight, não sei se meus alunos se deram conta, mas quando voltei à Terra, fui tomado por um desespero tão grande que tive que me controlar bastante para não parecer uma personagem saída do Grande Mentecapto. Jesus Maria José, é o Jorge que está lá fora, coitado, caído, nas últimas, me esperando para dar o último suspiro! Preciso fazer alguma coisa... Estava a um passo de me pronunciar a respeito quando bateram na porta. Com licença, Carlos, você pode dar uma chegadinha aqui fora por gentileza? Putisgrila, pensei comigo, batata... O policial tá querendo trocar uma palavrinha com você - acho que é sobre o seu amigo que acabou de sair daqui. Nuooossssasssinhoraaaa, se você acredita em duende, eu acredito em cartomantes! Fui andando meio trêmulo em direção à porta. Senhor Carlos Magno? O senhor pode me acompanhar por gentileza? Fiz que sim com a cabeça e ao olhar para o meu lado direito, uma multidão se espremia e impedia o trânsito na Timbiras com Bernardo Monteiro. Por favor, senhor... Rangel. Pois é, senhor Rangel, será que o senhor poderia me informar se ele vai ficar bem? Não foi grave, foi? Ele vai sobreviver? O policial coçou a cabeça. Uai, como é que o senhor sabe o que houve? Ah, isso é uma longa história, senhor Rangel, só quero saber se meu amigo vai ficar bem. Graças a Deus vai, sim. Ele quer tirar uma foto com o senhor, mas o senhor já deve saber, né? Fiz o que pude pra disfarçar meu espanto. Quando cheguei mais perto da comoção, quase não acreditei no que vi: Jorge sendo carregado por um grupo de civis/fanfarrões/curiosos/à toa na vida e APLAUDIDO por vários policiais e mais uma legião de desocupados/fãs. Bem despistadamente, pedi informação a uma senhora que chorava emocionada, e ela reconstituiu com riqueza de detalhes a cena anterior. A fim de possibilitar a visualização, relatarei em flashes: Jorge - atravessando a rua - sinal vermelho - moça com vidro aberto - bolsa no banco do passageiro - ato transgressor - polícia - fuga - corre - carro - realizar e escrever - Jorge no chão da Bernardo Monteiro. Que cara de sorte, pensei, que história, que heróico, que genial! Apressei-me em abraçar meu amigo e posar para a foto que ilustrou o Estado de Minas e inspirou o conto que fiz questão de escrever.

O homem que achava que sabia demais - último suspiro

Pouco tempo depois de Jorge sair pela porta assobiando, ouvi um enorme rebuliço, uma verdadeira confusão. Mesmo não sendo essencialmente curioso, tive vontade de sair à porta, mas minha aula já havia começado. Meus alunos ficaram perturbados com aquilo também, e tive que tentar inserir aquele episódio em nosso warm-up pra que eles se engajassem. De repente, algumas imagens começaram a se formar na minha mente. Uma vez uma cartomante me disse que eu tinha poderes mediúnicos, e que em pouco tempo eles se revelariam diante dos meus olhos. Aos poucos a cena ficou clara: Jorge - atravessando a rua - sinal vermelho - moça com vidro aberto - bolsa no banco do passageiro - ato transgressor - polícia - fuga - corre - carro - realizar e escrever - Jorge no chão da Bernardo Monteiro. Não sei quanto tempo durou esse insight, não sei se meus alunos se deram conta, mas quando voltei à Terra, fui tomado por um desespero tão grande que tive que me controlar bastante para não parecer uma personagem saída do Grande Mentecapto. Jesus Maria José, é o Jorge que está lá fora, coitado, caído, nas últimas, me esperando para dar o último suspiro! Preciso fazer alguma coisa... Estava a um passo de me pronunciar a respeito quando bateram na porta. Com licença, Carlos, você pode dar uma chegadinha aqui fora por gentileza? Putisgrila, pensei comigo, batata... O policial tá querendo trocar uma palavrinha com você - acho que é sobre o seu amigo que acabou de sair daqui. Nuooossssasssinhoraaaa, se você acredita em duende, eu acredito em cartomantes! Fui andando meio trêmulo em direção à porta. Senhor Carlos Magno? O senhor pode me acompanhar por gentileza? Fiz que sim com a cabeça e ao olhar para o meu lado direito, uma multidão se espremia e impedia o trânsito na Timbiras com Bernardo Monteiro. Por favor, senhor... Rangel. Pois é, senhor Rangel, será que o senhor poderia me informar se ele vai ficar bem? Não foi grave, foi? Ele vai sobreviver? O policial coçou a cabeça. Uai, como é que o senhor sabe o que houve? Ah, isso é uma longa história, senhor Rangel, só quero saber se meu amigo vai ficar bem. Graças a Deus vai, sim. Ele quer tirar uma foto com o senhor, mas o senhor já deve saber, né? Fiz o que pude pra disfarçar meu espanto. Quando cheguei mais perto da comoção, quase não acreditei no que vi: Jorge sendo carregado por um grupo de civis/fanfarrões/curiosos/à toa na vida e APLAUDIDO por vários policiais e mais uma legião de desocupados/fãs. Bem despistadamente, pedi informação a uma senhora que chorava emocionada, e ela reconstituiu com riqueza de detalhes a cena anterior. A fim de possibilitar a visualização, relatarei em flashes: Jorge - atravessando a rua - sinal vermelho - moça com vidro aberto - bolsa no banco do passageiro - ato transgressor - polícia - fuga - corre - carro - realizar e escrever - Jorge no chão da Bernardo Monteiro. Que cara de sorte, pensei, que história, que heróico, que genial! Apressei-me em abraçar meu amigo e posar para a foto que ilustrou o Estado de Minas e inspirou o conto que fiz questão de escrever.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O homem que achava que sabia demais - continuação

Jorge pensou em tudo: esportes radicais (nunca!), animais de estimação (com essa alergia? hunf...), jogos de azar (a bolsa já dá adrenalina e prejuízo suficiente, obrigado), cursos variados (no dia em que alguém me vir dançando ou fazendo comida de livrinho, podem me chamar de Jorgete!), viagens (qual é a graça de ir pra um lugar diferente sem pesquisa e planejamento estratégico? no way!). Pensou, confabulou, e enfim concluiu que a grande cartada seria fazer algo de natureza transgressora. Ele tinha o organismo fraco e se conhecia bem, de modo que tomar uma droga qualquer e sair por aí fazendo show de graça pros outros não seria nem lucrativo e nem agradável. Pensou em não tomar nenhuma atitude de consequências irreversíveis. É só um sustinho, só um frio na barriga mais intenso, uma coisa que não seja tão patética quanto subir na árvore e gritar Luluzinha, eu te amo, e nem tão impactante quanto entrar para o hall de seres tranquilos que viram bichos e estampam capas de jornais. Ia divagando e andando por entre os carros. E se eu me jogar na avenida? Bem, aí pode ser irreversível... Acho que então seria interessante, de repente, enfrentar um oficial da BH Trans. Mas como, se eu não tenho carro? E sempre pensando, Jorge começou a ficar paranóico. Qualquer palavra podia ser uma idéia. Comprou um bloquinho e saía às ruas como um psicótico, anotando tudo que em sua cabeça poderia ser transformado em possibilidade. Um dia desses, Jorge apareceu na Cultura do CA pra me fazer uma visita. Contou-me toda a história e me mostrou seu bloco de idéias, com prós e contras. Esperei que ele falasse bastante. Pois é, eu comecei, eu te conheço desde o colégio, Jorge, e você sempre foi esse cara contido, o que não significa em nenhuma instância que seja menos simpático ou agradável por conta disso. Você sempre gostou de livros e passarinhos, mas também tomava as suas e tinha suas namoradas. As mulheres são um termômetro, e elas sempre pularam no seu colo... Olha pra você, Jorge: um cara bonitão, com um emprego público, uma namorada sem defeito e vários amigos - uns bem malas, devo admitir, mas quem é perfeito nesse mundo? Peguei o bloquinho. Isso daqui daria inveja ao Cebolinha, cada coisa... Sabe o que você devia fazer? Ele olhava pra mim meio confuso, meio absorto, como se estivesse em frente a um guru espiritual. Dei uma boa risada. Escrever. Contei a Jorge meu plano, e ele ouvia a tudo com muita atenção. Quando ele levantou da cadeira e me deu um abraço, entendi que ele tinha entendido o recado.
-
TO BE CONTINUED...

O homem que achava que sabia demais - continuação

Jorge pensou em tudo: esportes radicais (nunca!), animais de estimação (com essa alergia? hunf...), jogos de azar (a bolsa já dá adrenalina e prejuízo suficiente, obrigado), cursos variados (no dia em que alguém me vir dançando ou fazendo comida de livrinho, podem me chamar de Jorgete!), viagens (qual é a graça de ir pra um lugar diferente sem pesquisa e planejamento estratégico? no way!). Pensou, confabulou, e enfim concluiu que a grande cartada seria fazer algo de natureza transgressora. Ele tinha o organismo fraco e se conhecia bem, de modo que tomar uma droga qualquer e sair por aí fazendo show de graça pros outros não seria nem lucrativo e nem agradável. Pensou em não tomar nenhuma atitude de consequências irreversíveis. É só um sustinho, só um frio na barriga mais intenso, uma coisa que não seja tão patética quanto subir na árvore e gritar Luluzinha, eu te amo, e nem tão impactante quanto entrar para o hall de seres tranquilos que viram bichos e estampam capas de jornais. Ia divagando e andando por entre os carros. E se eu me jogar na avenida? Bem, aí pode ser irreversível... Acho que então seria interessante, de repente, enfrentar um oficial da BH Trans. Mas como, se eu não tenho carro? E sempre pensando, Jorge começou a ficar paranóico. Qualquer palavra podia ser uma idéia. Comprou um bloquinho e saía às ruas como um psicótico, anotando tudo que em sua cabeça poderia ser transformado em possibilidade. Um dia desses, Jorge apareceu na Cultura do CA pra me fazer uma visita. Contou-me toda a história e me mostrou seu bloco de idéias, com prós e contras. Esperei que ele falasse bastante. Pois é, eu comecei, eu te conheço desde o colégio, Jorge, e você sempre foi esse cara contido, o que não significa em nenhuma instância que seja menos simpático ou agradável por conta disso. Você sempre gostou de livros e passarinhos, mas também tomava as suas e tinha suas namoradas. As mulheres são um termômetro, e elas sempre pularam no seu colo... Olha pra você, Jorge: um cara bonitão, com um emprego público, uma namorada sem defeito e vários amigos - uns bem malas, devo admitir, mas quem é perfeito nesse mundo? Peguei o bloquinho. Isso daqui daria inveja ao Cebolinha, cada coisa... Sabe o que você devia fazer? Ele olhava pra mim meio confuso, meio absorto, como se estivesse em frente a um guru espiritual. Dei uma boa risada. Escrever. Contei a Jorge meu plano, e ele ouvia a tudo com muita atenção. Quando ele levantou da cadeira e me deu um abraço, entendi que ele tinha entendido o recado.
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TO BE CONTINUED...

terça-feira, 23 de junho de 2009

TRILOGIA O HOMEM Episódio 1: O homem que achava que sabia demais

Era uma vez um homem que estava disposto a cruzar certas barreiras com o único objetivo de sentir adrenalina pura pulsando em suas veias. Os amigos viviam dizendo, Jorge, você tem que viver mais. Dá uma pirada, Jorge, faz uma besteira aí qualquer, tenta sair de uma sinuca de bico emocional, entra numa roleta russa, sei lá, Jorge: você devia é ser menos careta. Careta? Como assim, careta? Ele adorava parques de diversão, e não tinha medo de nenhum brinquedo. Tudo bem que o Trem Fantasma poderia ir mais rapidinho um pouco... Um cara saudável, bem resolvido, que na hora do goró e do futebol marcava aquela presença. Tinha uma namorada sensacional, sem defeito, título dado por amigos e familiares. O que será que eles querem dizer com viver mais? Ser menos careta? Depois de algum tempo achando aquilo ridículo, Jorge decidiu enfim fazer um balanço de sua vida para avaliar a área que poderia ser... digamos... desbravada. Primeiro ele pensou no campo amoroso. Será que o plano desses cretinos é que eu arrume uma outra mulher? Ah, mas já estou até vendo as cenas do próximo capítulo: eu catando uma baranguinha meia-boca pra fazer preza pra marmanjo, Luluzinha sabendo e a hola na fila de pretendentes depois do cartão vermelho que vou tomar. Nem a pau! Aí ele pensou na possibilidade de ter uma experiência com o mesmo sexo, mas concluiu sem qualquer preconceito que simplesmente não era a dele. Afinal, onde não há vontade, não há caminho algum.
-
TO BE CONTINUED...

TRILOGIA O HOMEM Episódio 1: O homem que achava que sabia demais

Era uma vez um homem que estava disposto a cruzar certas barreiras com o único objetivo de sentir adrenalina pura pulsando em suas veias. Os amigos viviam dizendo, Jorge, você tem que viver mais. Dá uma pirada, Jorge, faz uma besteira aí qualquer, tenta sair de uma sinuca de bico emocional, entra numa roleta russa, sei lá, Jorge: você devia é ser menos careta. Careta? Como assim, careta? Ele adorava parques de diversão, e não tinha medo de nenhum brinquedo. Tudo bem que o Trem Fantasma poderia ir mais rapidinho um pouco... Um cara saudável, bem resolvido, que na hora do goró e do futebol marcava aquela presença. Tinha uma namorada sensacional, sem defeito, título dado por amigos e familiares. O que será que eles querem dizer com viver mais? Ser menos careta? Depois de algum tempo achando aquilo ridículo, Jorge decidiu enfim fazer um balanço de sua vida para avaliar a área que poderia ser... digamos... desbravada. Primeiro ele pensou no campo amoroso. Será que o plano desses cretinos é que eu arrume uma outra mulher? Ah, mas já estou até vendo as cenas do próximo capítulo: eu catando uma baranguinha meia-boca pra fazer preza pra marmanjo, Luluzinha sabendo e a hola na fila de pretendentes depois do cartão vermelho que vou tomar. Nem a pau! Aí ele pensou na possibilidade de ter uma experiência com o mesmo sexo, mas concluiu sem qualquer preconceito que simplesmente não era a dele. Afinal, onde não há vontade, não há caminho algum.
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TO BE CONTINUED...

domingo, 21 de junho de 2009

Show do milhão

Atenção à pergunta:

Qual é a opinião da autora desse blog sobre a reforma ortográfica?

A) Foi muito útil no que se refere à integração da língua portuguesa;
B) É uma medida altamente viável, especialmente considerando sua ampla divulgação;
C) Foi péssima para as pessoas que já deixaram a escola, e para a maioria da população brasileira, que mal sabe escrever com a regra antiga;
D) Todas as alternativas anteriores;
E) Nenhuma das alternativas anteriores.

Valendo um milhão! Cozido, com muito sal e manteiga derretida...

Show do milhão

Atenção à pergunta:

Qual é a opinião da autora desse blog sobre a reforma ortográfica?

A) Foi muito útil no que se refere à integração da língua portuguesa;
B) É uma medida altamente viável, especialmente considerando sua ampla divulgação;
C) Foi péssima para as pessoas que já deixaram a escola, e para a maioria da população brasileira, que mal sabe escrever com a regra antiga;
D) Todas as alternativas anteriores;
E) Nenhuma das alternativas anteriores.

Valendo um milhão! Cozido, com muito sal e manteiga derretida...

Não sou romântica

Por que é que as mulheres tendem a ser tão românticas? Isso é simplesmente patético. Acham bonito gritar "Eu sou de ninguém", "I'm free to do what I want", ficam histéricas pra ver quem canta mais alto ou gesticula de forma mais intensa, fazem caras e bocas pseudo-despretensiosas e minuciosamente calculadas durante a exposição de suas figuras. Julgam que a todo momento surge uma pessoa interessante e sentem-se lisonjeadas com um galanteio, mesmo o mais cafa, o mais pedreiro. Pegam uma carona com algum guru de auto-ajuda e acreditam que até o pernilongo que as persegue todas as noites tem uma única obsessão: deslizar por sua carne, sugar sua sensualidade noturna, morder partes do seu corpo que são propriedade privada. Propriedade? Privada? Mas elas disseram que não são de ninguém... Na verdade, as feministas de plantão se vangloriam de sua vida adulta, sua maturidade, seu status de bem-resolvidas, seu livre-arbítrio sexual... mas trancam a porta do banheiro e ficam cantarolando "porque eu só faço com você, só quero com você, só gosto com você". Aí o ativismo dá lugar a imagens involuntárias, e cheiros e barulhos e mãos e bocas parecem tão próximos, e a vontade bate fundo e sussura viva, até o acordar do dia seguinte. Vontade de se despir, peça por peça, de mostrar o que gera tanto desejo, de sentir o calor DAQUELA pele sobre a sua, cada pêlo, cada dente, cada perna. Os corpos, as palavras, o calor que vem de dentro e explode devagar, o toque que alucina, o beijo que amolece, o gozo que liberta, o sono que consuma a cumplicidade e o afeto. A cada piscar de olhos, uma lembrança. Os beijos ardentes no portão, cheios de contato e calor, o sexo, o filme, o amor gostoso no final da tarde, de cabeça pra baixo, o sentimento de todos os dias. Esse prazer que dá um frio na espinha, que permanece nos sonhos e nas miragens, esse é o prazer que traz às mulheres a liberdade plena e absoluta - liberdade para estar com quem se ama, e dançar, e tirar a roupa, longe, perto, no chuveiro ou no telefone. Elas são livres para viverem um grande amor com AQUELE namorado: lindo, fiel, gentil e tarado. Isso é romântico? Ah, por favor, o romantismo é patético... ;)

Não sou romântica

Por que é que as mulheres tendem a ser tão românticas? Isso é simplesmente patético. Acham bonito gritar "Eu sou de ninguém", "I'm free to do what I want", ficam histéricas pra ver quem canta mais alto ou gesticula de forma mais intensa, fazem caras e bocas pseudo-despretensiosas e minuciosamente calculadas durante a exposição de suas figuras. Julgam que a todo momento surge uma pessoa interessante e sentem-se lisonjeadas com um galanteio, mesmo o mais cafa, o mais pedreiro. Pegam uma carona com algum guru de auto-ajuda e acreditam que até o pernilongo que as persegue todas as noites tem uma única obsessão: deslizar por sua carne, sugar sua sensualidade noturna, morder partes do seu corpo que são propriedade privada. Propriedade? Privada? Mas elas disseram que não são de ninguém... Na verdade, as feministas de plantão se vangloriam de sua vida adulta, sua maturidade, seu status de bem-resolvidas, seu livre-arbítrio sexual... mas trancam a porta do banheiro e ficam cantarolando "porque eu só faço com você, só quero com você, só gosto com você". Aí o ativismo dá lugar a imagens involuntárias, e cheiros e barulhos e mãos e bocas parecem tão próximos, e a vontade bate fundo e sussura viva, até o acordar do dia seguinte. Vontade de se despir, peça por peça, de mostrar o que gera tanto desejo, de sentir o calor DAQUELA pele sobre a sua, cada pêlo, cada dente, cada perna. Os corpos, as palavras, o calor que vem de dentro e explode devagar, o toque que alucina, o beijo que amolece, o gozo que liberta, o sono que consuma a cumplicidade e o afeto. A cada piscar de olhos, uma lembrança. Os beijos ardentes no portão, cheios de contato e calor, o sexo, o filme, o amor gostoso no final da tarde, de cabeça pra baixo, o sentimento de todos os dias. Esse prazer que dá um frio na espinha, que permanece nos sonhos e nas miragens, esse é o prazer que traz às mulheres a liberdade plena e absoluta - liberdade para estar com quem se ama, e dançar, e tirar a roupa, longe, perto, no chuveiro ou no telefone. Elas são livres para viverem um grande amor com AQUELE namorado: lindo, fiel, gentil e tarado. Isso é romântico? Ah, por favor, o romantismo é patético... ;)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mantra para alívio imediato de palpitações, angústia, desatamento de nós e libertação do elfo supremo interior

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FODA-SE - eu penso assim...

Mantra para alívio imediato de palpitações, angústia, desatamento de nós e libertação do elfo supremo interior

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FODA-SE - eu penso assim...

Ponderemos

Se eu disser que não, você vai aceitar?
Se eu disser talvez, você vai me esperar?
Se eu disser que sim, você vai acreditar?

Então shhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...

Ponderemos

Se eu disser que não, você vai aceitar?
Se eu disser talvez, você vai me esperar?
Se eu disser que sim, você vai acreditar?

Então shhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...

domingo, 14 de junho de 2009

Hoje

Hoje a gente podia brincar de ser menos previsível. Deixar o alterego tomar conta logo de manhã, ir ao supermercado de pijamas por pura preguiça de trocar de roupa, ir ao supermercado de pijamas e não ter vergonha de admitir que foi só pra aparecer. Ligar praquela pessoa que não te liga por orgulho e dizer pra ela te esquecer, falar com aquele tipo que colocou até a família no meio pra te dispensar que isso jamais teria sido necessário, se ele entendesse o significado de "one night stand" (or maybe a couple, but who the hell cares?). Mandar aquele cara chato que vive dando um jeito de dar em cima de você queimar no inferno, chupar uma bala que deixa a boca azul e cantar Raul no chuveiro, numa altura perigosa... Dizer praquele puxa-saco invejoso "Your friendship is no longer required", ser meiga com quem nunca achou que você poderia ser meiga, ser muito escrota com quem sempre achou que você era uma simpatia, falar com quem espera que você seja sociável que você odeia todo mundo que é sociável e que essa palavra não faz parte do seu vocabulário, contar praquela menina boazinha demais que você está cansado de saber que as mais boazinhas são as mais babacas! Ontem vi num filme um cara que perde a mulher da vida dele por um visível, claro e evidente medo de se envolver, e que depois se explica da seguinte forma: é preferível manter uma pessoa muito importante a uma certa distância, para não se machucar tanto quando ela for embora. É realmente invejável a arte de inventar as mais nobres e dignas desculpas pra justificar seu próprio fracasso enquanto ser humano. E insuportavelmente previsível. Hoje a gente podia brincar de ser alguém que nem a gente mesmo conhece - só hoje. Sei que vai doer, que vai ser estranho, mas saia da bolha por um momento. Passe o dia todo tomando suco de tomate com molho inglês, pense que seu cabelo poderia ser muito mais interessante. Compre um lixo a mais e separe o que for reciclável. Visite uma ecovila, fique em pé debaixo de uma cachoeira bem gelada, corra até cair no chão meio roxo, leve um livro a um asilo e faça a garotada feliz. Dê um abraço forte, fale um palavrão horrível olhando no espelho e morra de rir. Depois chore de propósito. Tem sempre duas figuras dentro da gente: uma previsível e socialmente aceitável; uma loucaça, pronta pra explodir de desejo, de fúria, de tristeza, de ânsia, de tédio, de animação, de medo, de surpresa. Em outras palavras: uma boa...
e uma melhor ainda! Pense nisso... Desejo um dia muito louco pra você.

Hoje

Hoje a gente podia brincar de ser menos previsível. Deixar o alterego tomar conta logo de manhã, ir ao supermercado de pijamas por pura preguiça de trocar de roupa, ir ao supermercado de pijamas e não ter vergonha de admitir que foi só pra aparecer. Ligar praquela pessoa que não te liga por orgulho e dizer pra ela te esquecer, falar com aquele tipo que colocou até a família no meio pra te dispensar que isso jamais teria sido necessário, se ele entendesse o significado de "one night stand" (or maybe a couple, but who the hell cares?). Mandar aquele cara chato que vive dando um jeito de dar em cima de você queimar no inferno, chupar uma bala que deixa a boca azul e cantar Raul no chuveiro, numa altura perigosa... Dizer praquele puxa-saco invejoso "Your friendship is no longer required", ser meiga com quem nunca achou que você poderia ser meiga, ser muito escrota com quem sempre achou que você era uma simpatia, falar com quem espera que você seja sociável que você odeia todo mundo que é sociável e que essa palavra não faz parte do seu vocabulário, contar praquela menina boazinha demais que você está cansado de saber que as mais boazinhas são as mais babacas! Ontem vi num filme um cara que perde a mulher da vida dele por um visível, claro e evidente medo de se envolver, e que depois se explica da seguinte forma: é preferível manter uma pessoa muito importante a uma certa distância, para não se machucar tanto quando ela for embora. É realmente invejável a arte de inventar as mais nobres e dignas desculpas pra justificar seu próprio fracasso enquanto ser humano. E insuportavelmente previsível. Hoje a gente podia brincar de ser alguém que nem a gente mesmo conhece - só hoje. Sei que vai doer, que vai ser estranho, mas saia da bolha por um momento. Passe o dia todo tomando suco de tomate com molho inglês, pense que seu cabelo poderia ser muito mais interessante. Compre um lixo a mais e separe o que for reciclável. Visite uma ecovila, fique em pé debaixo de uma cachoeira bem gelada, corra até cair no chão meio roxo, leve um livro a um asilo e faça a garotada feliz. Dê um abraço forte, fale um palavrão horrível olhando no espelho e morra de rir. Depois chore de propósito. Tem sempre duas figuras dentro da gente: uma previsível e socialmente aceitável; uma loucaça, pronta pra explodir de desejo, de fúria, de tristeza, de ânsia, de tédio, de animação, de medo, de surpresa. Em outras palavras: uma boa...
e uma melhor ainda! Pense nisso... Desejo um dia muito louco pra você.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Alcoólatra

Eu entrei.
----Me senti
-------Como um rei
----------------E sorri
----------Gargalhei
----------E corri
-----Tropecei
Nem senti
---Borbulhei
---------Assisti
------------Destilei
--------------Corrompi
--------------------Fermentei
-------------------------Ih! Já vi
-----------------------Abalei
------------------E sumi
----------E voltei
-----Nem comi
---------Celebrei
-------------Me despi
------------------Desmaiei
------------------------Ressurgi
--------------------------Me esbaldei
------------------------------Me excedi
-----------------------Eu girei
-------------Me senti
---Como um rei
E caí.

Eu errei:
Eu bebi.

Alcoólatra

Eu entrei.
----Me senti
-------Como um rei
----------------E sorri
----------Gargalhei
----------E corri
-----Tropecei
Nem senti
---Borbulhei
---------Assisti
------------Destilei
--------------Corrompi
--------------------Fermentei
-------------------------Ih! Já vi
-----------------------Abalei
------------------E sumi
----------E voltei
-----Nem comi
---------Celebrei
-------------Me despi
------------------Desmaiei
------------------------Ressurgi
--------------------------Me esbaldei
------------------------------Me excedi
-----------------------Eu girei
-------------Me senti
---Como um rei
E caí.

Eu errei:
Eu bebi.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Montanha russa

Eu vivo nesses piques constantes de insanidade e lucidez
Nessa ânsia de correr, nessa vontade de ficar
lutando pra equilibrar minha consciência
nadando contra a correnteza;
incapaz de ter a paz por mim mesma
rezando pra que ser nenhum me queira mal
pensando muito em onde enfiar a opinião dos outros!...
Nessa correria que eu mesma me imponho eu vivo e morro

Montanha russa

Eu vivo nesses piques constantes de insanidade e lucidez
Nessa ânsia de correr, nessa vontade de ficar
lutando pra equilibrar minha consciência
nadando contra a correnteza;
incapaz de ter a paz por mim mesma
rezando pra que ser nenhum me queira mal
pensando muito em onde enfiar a opinião dos outros!...
Nessa correria que eu mesma me imponho eu vivo e morro

Procura-se educador profissional

É uma tristeza fazer parte desse período. Mais triste ainda é ser professora nesse momento histórico em que os filhos mandam nos pais, os pais mimam os filhos, os filhos compram enquanto os pais trabalham, os pais trabalham para afastar os filhos deles. Os almoços em família se transformaram em colégio integral, a bicicleta na Praça do Papa agora se chama Play Station e a queimada e rouba-bandeira das festinhas de aniversário deram lugar a fliperamas e joguinhos de computador. As crianças têm Orkut, falam com os amigos no msn e os pais acham lindo o Pedrinho só ter cinco anos e saber mais de computador do que eles. Você liga pra avisar que o Pedrinho não está indo bem na escola e o pai ameaça te processar. Como você fala assim do meu filho, que mal conheço, que raramente vejo, que não sei do que gosta ou com quem conversa por horas no computador? Como você diz isso do meu garoto, que passa mais tempo na escola do que em casa, que imagino que esteja comendo bem, que me pede dinheiro mas não sei pra quê, que consegue ganhar um mp4 mas já desistiu de esperar pra ganhar um abraço? A educação que se restringe à porta da sala de aula pra dentro pode ser muito, mas muito frustrante.

Procura-se educador profissional

É uma tristeza fazer parte desse período. Mais triste ainda é ser professora nesse momento histórico em que os filhos mandam nos pais, os pais mimam os filhos, os filhos compram enquanto os pais trabalham, os pais trabalham para afastar os filhos deles. Os almoços em família se transformaram em colégio integral, a bicicleta na Praça do Papa agora se chama Play Station e a queimada e rouba-bandeira das festinhas de aniversário deram lugar a fliperamas e joguinhos de computador. As crianças têm Orkut, falam com os amigos no msn e os pais acham lindo o Pedrinho só ter cinco anos e saber mais de computador do que eles. Você liga pra avisar que o Pedrinho não está indo bem na escola e o pai ameaça te processar. Como você fala assim do meu filho, que mal conheço, que raramente vejo, que não sei do que gosta ou com quem conversa por horas no computador? Como você diz isso do meu garoto, que passa mais tempo na escola do que em casa, que imagino que esteja comendo bem, que me pede dinheiro mas não sei pra quê, que consegue ganhar um mp4 mas já desistiu de esperar pra ganhar um abraço? A educação que se restringe à porta da sala de aula pra dentro pode ser muito, mas muito frustrante.

Caminhada

Um dia eu sonhei em casar. Imaginava meu vestido, o lugar, as pessoas, a nossa casa, a lua-de-mel, sentava e ficava sonhando acordada com os votos, os filhos, as viagens... você não. Já foi de cara informando que nunca iria se casar, que era um solteiro convicto, que essa coisa de casamento não era definitivamente pra você. Murchei e resolvi viver um dia depois do outro, porque tinha certeza que poderia passar a vida inteira do seu lado, olhando pros seus olhos azuis e ouvindo sua vozinha macia. Eu pensava em você todo o tempo, mas sentia que a certeza era só minha. Você carregava suas dúvidas no celular, dentro dos bolsos, em caixas escondidas pelo quarto, no computador. Você olhava pra rua e via possibilidades - eu via você. Eu queria procurar apartamento, você queria viajar pra Europa. O tempo foi passando e eu fui pra Europa enquanto você procurava apartamento. Eu olhava pra rua e via possibilidades; você olhava pro telefone, pro computador, e esperava notícias. Meu coração batia de felicidade - o seu parou de tristeza. O tempo passou e um dia você teve certeza. Você quis se casar, imaginou nossos filhos, nossa casa, nossas viagens de fim de ano, nossos programas de fim de semana. Eu já não sabia mais. Meus sonhos se tornaram diferentes, e pensei que o mundo é grande demais, e que eu sou nova demais e que... Veio a tempestade, forte, implacável, parecia que não ia parar de chover. Choveu tanto que eu parei de ver, e não conseguia enxergar pra onde deveria ir ou o que fazer. Disse não, mas você queria o sim. Bati a cabeça por aí e você cuidou dos meus galos. Te feri e você me amou, fechei a porta e você esperou. Esperou. Esperou. Voltei, abri a porta e você ainda estava lá, mas tinha uma coisa estranha. Você estava mais bonito do que nunca, mais alto, mais forte, mais sereno, mais brilhante, mais saudável, mais decidido. Me apaixonei por você. À milésima vista. Quis o improvável: começar do zero com um cara que conheço há sete anos. Não pensei se iria ser bom, se iria ser fácil, se iria ser isso. Não pensei em nada, só em você. E vi que você só pensava em mim. No dia de hoje, parei o tempo e decidi começar do meio. Obrigada por me dar a mão e caminhar comigo...

Caminhada

Um dia eu sonhei em casar. Imaginava meu vestido, o lugar, as pessoas, a nossa casa, a lua-de-mel, sentava e ficava sonhando acordada com os votos, os filhos, as viagens... você não. Já foi de cara informando que nunca iria se casar, que era um solteiro convicto, que essa coisa de casamento não era definitivamente pra você. Murchei e resolvi viver um dia depois do outro, porque tinha certeza que poderia passar a vida inteira do seu lado, olhando pros seus olhos azuis e ouvindo sua vozinha macia. Eu pensava em você todo o tempo, mas sentia que a certeza era só minha. Você carregava suas dúvidas no celular, dentro dos bolsos, em caixas escondidas pelo quarto, no computador. Você olhava pra rua e via possibilidades - eu via você. Eu queria procurar apartamento, você queria viajar pra Europa. O tempo foi passando e eu fui pra Europa enquanto você procurava apartamento. Eu olhava pra rua e via possibilidades; você olhava pro telefone, pro computador, e esperava notícias. Meu coração batia de felicidade - o seu parou de tristeza. O tempo passou e um dia você teve certeza. Você quis se casar, imaginou nossos filhos, nossa casa, nossas viagens de fim de ano, nossos programas de fim de semana. Eu já não sabia mais. Meus sonhos se tornaram diferentes, e pensei que o mundo é grande demais, e que eu sou nova demais e que... Veio a tempestade, forte, implacável, parecia que não ia parar de chover. Choveu tanto que eu parei de ver, e não conseguia enxergar pra onde deveria ir ou o que fazer. Disse não, mas você queria o sim. Bati a cabeça por aí e você cuidou dos meus galos. Te feri e você me amou, fechei a porta e você esperou. Esperou. Esperou. Voltei, abri a porta e você ainda estava lá, mas tinha uma coisa estranha. Você estava mais bonito do que nunca, mais alto, mais forte, mais sereno, mais brilhante, mais saudável, mais decidido. Me apaixonei por você. À milésima vista. Quis o improvável: começar do zero com um cara que conheço há sete anos. Não pensei se iria ser bom, se iria ser fácil, se iria ser isso. Não pensei em nada, só em você. E vi que você só pensava em mim. No dia de hoje, parei o tempo e decidi começar do meio. Obrigada por me dar a mão e caminhar comigo...