domingo, 25 de outubro de 2009

Meu time, meu coração

Bom dia, nação alvinegra! Nada como o Galo ganhar pro nosso dia melhorar... Eu que não gosto de barulho me alegro a cada foguete, a cada buzina - tudo bem que algumas são bem exageradas e dá vontade de socar o caboclo... Se isso não é amor, não sei o que pode ser. Obrigada ao nosso artilheiro pelas alegrias desse ano, obrigada ao time pela ótima campanha, e obrigada a meus companheiros atleticanos que lotam as ruas e os campos, que transformam essa cidade num manto preto e branco de felicidade, união, paixão e devoção. Como é bom acordar de manhã e sentir essa onda de alegria no ar... E não importa o que acontecer, meu bom e velho GALO FORTE E VINGADOR, mesmo triste, mesmo furiosa, nunca hei de te abandonar. O céu é o limite, timão! Raça!!!

Meu time, meu coração

Bom dia, nação alvinegra! Nada como o Galo ganhar pro nosso dia melhorar... Eu que não gosto de barulho me alegro a cada foguete, a cada buzina - tudo bem que algumas são bem exageradas e dá vontade de socar o caboclo... Se isso não é amor, não sei o que pode ser. Obrigada ao nosso artilheiro pelas alegrias desse ano, obrigada ao time pela ótima campanha, e obrigada a meus companheiros atleticanos que lotam as ruas e os campos, que transformam essa cidade num manto preto e branco de felicidade, união, paixão e devoção. Como é bom acordar de manhã e sentir essa onda de alegria no ar... E não importa o que acontecer, meu bom e velho GALO FORTE E VINGADOR, mesmo triste, mesmo furiosa, nunca hei de te abandonar. O céu é o limite, timão! Raça!!!

sábado, 24 de outubro de 2009

Guarda-sol

Tem dias em que fico cansada. De tudo. Até de abrir o olho. Olho em volta e não há nada que possa me trazer felicidade. Como viver cansa... Fazer a mesma coisa, tirar o mesmo sonho da gaveta todos os dias e guardá-lo no lugar quando escurece. Tem dias em que até o inesperado cansa. Incomoda não saber o que vai acontecer daqui a pouco, é entediante saber. E as formiguinhas vão marchando ladeira abaixo... Tem dias em que eu me sinto a lebre que aposta corrida com a tartauga. Já fui tão longe que às vezes me dá vontade de voltar. De parar. De chorar. De dormir e não mais acordar. Como a vida me amolece... Se não existisse a Praça do Papa, não sei o que seria de mim! Nunca serei a tartaruga, a formiga que trabalha enquanto a cigarra canta, por uma simples questão de natureza. A minha me condena a um universo de magia, imaginação, poesia, sonho, canção, que mora dentro de uma caixinha de música com hora para abrir e fechar. Tem dias em que estou tão cansada que não consigo esperar pela hora de vê-la se abrir. Diferente de Little Hans, tenho consciência do que acontece. Lutar contra as coisas também cansa, pensar cansa muito, decidir esgota as energias. Ao meu redor tudo segue - as tartarugas se aproximam a passos lentos e constantes do mercado de trabalho. As formigas cantam e levam coisinhas sem parar, maquinalmente, para suas casas - fazem a contabilidade mensal e trabalham com planilhas domésticas de controle financeiro. As abelhas vendem o mel e premiam seu staff com uma gorda participação nos lucros. Enquanto isso o tempo passa, e meu coração sem querer endurece.

Guarda-sol

Tem dias em que fico cansada. De tudo. Até de abrir o olho. Olho em volta e não há nada que possa me trazer felicidade. Como viver cansa... Fazer a mesma coisa, tirar o mesmo sonho da gaveta todos os dias e guardá-lo no lugar quando escurece. Tem dias em que até o inesperado cansa. Incomoda não saber o que vai acontecer daqui a pouco, é entediante saber. E as formiguinhas vão marchando ladeira abaixo... Tem dias em que eu me sinto a lebre que aposta corrida com a tartauga. Já fui tão longe que às vezes me dá vontade de voltar. De parar. De chorar. De dormir e não mais acordar. Como a vida me amolece... Se não existisse a Praça do Papa, não sei o que seria de mim! Nunca serei a tartaruga, a formiga que trabalha enquanto a cigarra canta, por uma simples questão de natureza. A minha me condena a um universo de magia, imaginação, poesia, sonho, canção, que mora dentro de uma caixinha de música com hora para abrir e fechar. Tem dias em que estou tão cansada que não consigo esperar pela hora de vê-la se abrir. Diferente de Little Hans, tenho consciência do que acontece. Lutar contra as coisas também cansa, pensar cansa muito, decidir esgota as energias. Ao meu redor tudo segue - as tartarugas se aproximam a passos lentos e constantes do mercado de trabalho. As formigas cantam e levam coisinhas sem parar, maquinalmente, para suas casas - fazem a contabilidade mensal e trabalham com planilhas domésticas de controle financeiro. As abelhas vendem o mel e premiam seu staff com uma gorda participação nos lucros. Enquanto isso o tempo passa, e meu coração sem querer endurece.

Natural

Malu comprou uma planta e pôs no olho. Disse que era pra ficar mais bonita. Leti trouxe um bicho pra casa e falou que era pra ter mais amor. Não entendi nada. Um dia, a planta deu alergia, o bicho arranhou o braço, foram as duas para o hospital. Falei pra elas que nem uma ficou mais bonita e nem a outra teve mais amor. Elas ficaram bravas e falaram que eu era muito pequena pra entender essas coisas, que era tudo natural. Perguntei se natural era bom, elas falaram que era o melhor. Fui até a internet e escrevi "natural", e tinha um monte de fotos de mato com uma aguinha perto. Pensei que natural era o melhor mesmo, bem melhor que brincar de casinha, bem melhor que video game, bem melhor que tudo, sabe? Aí eu peguei os dinossauros do meu irmão, coloquei minha roupa de banho e fui para o jardim. Liguei a mangueira e fiz um laguinho. Tomei sol, brinquei de terra, fiz um caminho para as formigas, e elas me agradeceram fazendo uma bolinha vermelha na minha perna. Pus a mangueira em cima da árvore e fiz uma cachoeira que nem aquela da foto. Adorei o natural. Minha mãe chegou em casa e ficou tão brava comigo... Disse que eu ia ficar doente, que estava cheia de brotoejas e toda molhada. Eu expliquei pra ela do natural e ela disse que eu estava doida, que natural não pode, que a natureza é perigosa. Fiquei com febre por causa do cumprimento de formiga e com dor de garganta por causa da cachoeira. Fiquei triste. Fui pra uma fazenda com a minha família e não quis pisar na terra, não quis andar de cavalo e fiquei com medo das galinhas e dos cachorros. Minha mãe disse que eu não precisava ter medo, que a natureza é amiga da gente. Minha, não. Não gosto de mais nada que é natural. Se for natural eu não quero. Quando uma coisa de comer não é natural, ela é muito mais gostosa, né? Os brinquedos que não são naturais não machucam a gente. Esse negócio de natural não é legal, não, viu? Cuidado...

Natural

Malu comprou uma planta e pôs no olho. Disse que era pra ficar mais bonita. Leti trouxe um bicho pra casa e falou que era pra ter mais amor. Não entendi nada. Um dia, a planta deu alergia, o bicho arranhou o braço, foram as duas para o hospital. Falei pra elas que nem uma ficou mais bonita e nem a outra teve mais amor. Elas ficaram bravas e falaram que eu era muito pequena pra entender essas coisas, que era tudo natural. Perguntei se natural era bom, elas falaram que era o melhor. Fui até a internet e escrevi "natural", e tinha um monte de fotos de mato com uma aguinha perto. Pensei que natural era o melhor mesmo, bem melhor que brincar de casinha, bem melhor que video game, bem melhor que tudo, sabe? Aí eu peguei os dinossauros do meu irmão, coloquei minha roupa de banho e fui para o jardim. Liguei a mangueira e fiz um laguinho. Tomei sol, brinquei de terra, fiz um caminho para as formigas, e elas me agradeceram fazendo uma bolinha vermelha na minha perna. Pus a mangueira em cima da árvore e fiz uma cachoeira que nem aquela da foto. Adorei o natural. Minha mãe chegou em casa e ficou tão brava comigo... Disse que eu ia ficar doente, que estava cheia de brotoejas e toda molhada. Eu expliquei pra ela do natural e ela disse que eu estava doida, que natural não pode, que a natureza é perigosa. Fiquei com febre por causa do cumprimento de formiga e com dor de garganta por causa da cachoeira. Fiquei triste. Fui pra uma fazenda com a minha família e não quis pisar na terra, não quis andar de cavalo e fiquei com medo das galinhas e dos cachorros. Minha mãe disse que eu não precisava ter medo, que a natureza é amiga da gente. Minha, não. Não gosto de mais nada que é natural. Se for natural eu não quero. Quando uma coisa de comer não é natural, ela é muito mais gostosa, né? Os brinquedos que não são naturais não machucam a gente. Esse negócio de natural não é legal, não, viu? Cuidado...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

RetroAcesso

A porta se fechou e lá estava ele, molhado, plácido, desfeito. O tempo parou de passar. Às nove e meia em ponto ele decidiu o que fazer. Passou a tarde inteira vendo televisão e fomentando seu desligamento do mundo exterior. Ao meio-dia saiu para o almoço e decidiu nunca mais voltar àquele emprego cretino, que alimentava uma máquina estúpida. No meio do expediente a ficha pareceu cair - aquelas criaturas todas, aqueles sorrisinhos passionais, aquelas caras de quem dorme pouco e está pouco se lixando para toda aquela merda, mas tem que ligar o foda-se e bater o ponto e puxar o saco do chefe quando lembra da mulher, professora, com cinco doenças diferentes e três pesadelos por noite. Quando vê o filho tão satisfeito por causa das aulas de futebol depois da escola. Quando vê um aglomerado de envelopes na mesa e pensa que aquela merda é que vai pagar por eles. Quando pensa que a Unimed é quem vai pagar. Sua vida não poderia ser uma vidinha, pelo amor de Deus. Pela manhã chegou três minutos atrasado no trabalho, e foi vítima de olhares tortos e piadinhas tão infelizes quanto inevitáveis. Que gente mais otária, pensou. E ficou realmente incomodado com a situação. Começou a observar as pessoas. Um bando de ratos de porão, sugadores de carniça, desocupados. Entendeu o sonho. Tomou café pensando em tudo que tinha feito em nome da estabilidade do emprego público. Pensou no cursinho, nas noites sem dormir. Menos uma preocupação, comentou com o pão antes de devorá-lo. À noite sonhou com ratos de porão, centenas deles, subindo por seus braços e suas pernas, enquanto ele assistia inerte a tudo aquilo. Quando viu na internet que havia passado, levantou as mãos para o céu e gritou a plenos pulmões: Graças a Deus! Fez uma festa para os amigos e cortou o cabelo. Agora as coisas iriam funcionar - meio horário, dinheirinho no bolso, vida ganha. Estava descrente com o trabalho e inseguro pela pressão gratuita e cada vez mais gananciosa exercida pela iniciativa privada. He worked his ass off e nem assim tinha certeza do dia de amanhã. Um concurso era a única solução. Formou-se no tempo certo, mas nunca foi brilhante. Tinha boas idéias, mas não para o meio acadêmico. Sempre achou meio babaca essa história de rótulos e citações de boca cheia e cabeça oca. Terminou o segundo grau decidido a fazer algo que pouca gente fazia, mas descobriu que nem mesmo ele poderia fazer aquilo e ingressou em um novo curso. Estudou em boas escolas, todas particulares, e achou que tinha jeito para as artes quando fez teatro no colégio. Aos dez anos tomou uma bolada na cara e desistiu de ser goleiro. Aos sete anos começou a jogar futebol e dizia pra todo mundo que ainda seria o goleiro titular da seleção. Aprendeu a falar antes da hora, aprendeu a andar bem depois. Quando nasceu, sua mãe disse: podem escrever - esse menino veio ao mundo pra fazer a diferença!

RetroAcesso

A porta se fechou e lá estava ele, molhado, plácido, desfeito. O tempo parou de passar. Às nove e meia em ponto ele decidiu o que fazer. Passou a tarde inteira vendo televisão e fomentando seu desligamento do mundo exterior. Ao meio-dia saiu para o almoço e decidiu nunca mais voltar àquele emprego cretino, que alimentava uma máquina estúpida. No meio do expediente a ficha pareceu cair - aquelas criaturas todas, aqueles sorrisinhos passionais, aquelas caras de quem dorme pouco e está pouco se lixando para toda aquela merda, mas tem que ligar o foda-se e bater o ponto e puxar o saco do chefe quando lembra da mulher, professora, com cinco doenças diferentes e três pesadelos por noite. Quando vê o filho tão satisfeito por causa das aulas de futebol depois da escola. Quando vê um aglomerado de envelopes na mesa e pensa que aquela merda é que vai pagar por eles. Quando pensa que a Unimed é quem vai pagar. Sua vida não poderia ser uma vidinha, pelo amor de Deus. Pela manhã chegou três minutos atrasado no trabalho, e foi vítima de olhares tortos e piadinhas tão infelizes quanto inevitáveis. Que gente mais otária, pensou. E ficou realmente incomodado com a situação. Começou a observar as pessoas. Um bando de ratos de porão, sugadores de carniça, desocupados. Entendeu o sonho. Tomou café pensando em tudo que tinha feito em nome da estabilidade do emprego público. Pensou no cursinho, nas noites sem dormir. Menos uma preocupação, comentou com o pão antes de devorá-lo. À noite sonhou com ratos de porão, centenas deles, subindo por seus braços e suas pernas, enquanto ele assistia inerte a tudo aquilo. Quando viu na internet que havia passado, levantou as mãos para o céu e gritou a plenos pulmões: Graças a Deus! Fez uma festa para os amigos e cortou o cabelo. Agora as coisas iriam funcionar - meio horário, dinheirinho no bolso, vida ganha. Estava descrente com o trabalho e inseguro pela pressão gratuita e cada vez mais gananciosa exercida pela iniciativa privada. He worked his ass off e nem assim tinha certeza do dia de amanhã. Um concurso era a única solução. Formou-se no tempo certo, mas nunca foi brilhante. Tinha boas idéias, mas não para o meio acadêmico. Sempre achou meio babaca essa história de rótulos e citações de boca cheia e cabeça oca. Terminou o segundo grau decidido a fazer algo que pouca gente fazia, mas descobriu que nem mesmo ele poderia fazer aquilo e ingressou em um novo curso. Estudou em boas escolas, todas particulares, e achou que tinha jeito para as artes quando fez teatro no colégio. Aos dez anos tomou uma bolada na cara e desistiu de ser goleiro. Aos sete anos começou a jogar futebol e dizia pra todo mundo que ainda seria o goleiro titular da seleção. Aprendeu a falar antes da hora, aprendeu a andar bem depois. Quando nasceu, sua mãe disse: podem escrever - esse menino veio ao mundo pra fazer a diferença!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Esse é o meu espaço!

... digo o que penso e escondo o que faço. sorrateira, maluda, malandra. ladina. misturo o antigo com o novo, cantarolo cantigas esquecidas. berro as novas. olho pros homens com as camisas impecavelmente passadas, e penso nas mulheres que tornaram esse sonho realidade, com um radinho de pilha ou uma pilha de roupa do lado. prazer, necessidade, por quê? vejo os carros bonitos que abrigam a assistente pobre e gostosa, a mulher que sempre é uma escrota, o lavador de pratos rasta tatuado que a dondoca pegou no happy hour. passam por mim a todo momento cabelos impecáveis, e me pergunto onde essas pessoas gritam por socorro. na academia? no shopping? na praça da savassi vendendo pingentes? na favela? no sinal? ONDE É QUE ESSAS PESSOAS COLOCAM PRA FORA O PÂNICO, O DESGOSTO, A REJEIÇÃO DE TODO DIA? por que querer bem a quem não se preza? lembro dos tempos de legião urbana, quando eu era a única que cantava "eu moro com a minha mãe, e meu pai não vem me visitar...." que história é essa de ficar mendigando amor? como é que eu vou viver com uma outra pessoa e dividir com ela a jubilo-decadência de estar viva? coitado... não estou autorizada a sentir pena de mim, uma coisa minha. estou a um passo de mudar a vida e só consigo sentir medo por envolver mais gente. já não posso mais ficar aqui, e nem ir pra outro lugar com alguém. acho que preciso ficar sozinha. choro e sinto medo de represálias, raiva por não ter força pra sair do que me acolhe, mágoa crescente e descrença hereditária. deve ser por isso que meu pai tanto bebe. mais uma para o seu clã! um brinde aos porcos fardados, às velhas crisentas, aos pais que passam a vida comprometendo a sanidade de seus filhos, aos novos-otários-ricos, a quem acha que o aquecimento global é uma jogada de marketing, aos que afirmam que dostoiévski é um porre e que a micareta vai marcar época. tenho me tornado amarga, mas descobri com o tempo que o café sem açúcar pode ser muito mais surpreendente que uma reles barra de chocolate. é tudo uma questão de focar no pretinho básico... cincin!!!

Esse é o meu espaço!

... digo o que penso e escondo o que faço. sorrateira, maluda, malandra. ladina. misturo o antigo com o novo, cantarolo cantigas esquecidas. berro as novas. olho pros homens com as camisas impecavelmente passadas, e penso nas mulheres que tornaram esse sonho realidade, com um radinho de pilha ou uma pilha de roupa do lado. prazer, necessidade, por quê? vejo os carros bonitos que abrigam a assistente pobre e gostosa, a mulher que sempre é uma escrota, o lavador de pratos rasta tatuado que a dondoca pegou no happy hour. passam por mim a todo momento cabelos impecáveis, e me pergunto onde essas pessoas gritam por socorro. na academia? no shopping? na praça da savassi vendendo pingentes? na favela? no sinal? ONDE É QUE ESSAS PESSOAS COLOCAM PRA FORA O PÂNICO, O DESGOSTO, A REJEIÇÃO DE TODO DIA? por que querer bem a quem não se preza? lembro dos tempos de legião urbana, quando eu era a única que cantava "eu moro com a minha mãe, e meu pai não vem me visitar...." que história é essa de ficar mendigando amor? como é que eu vou viver com uma outra pessoa e dividir com ela a jubilo-decadência de estar viva? coitado... não estou autorizada a sentir pena de mim, uma coisa minha. estou a um passo de mudar a vida e só consigo sentir medo por envolver mais gente. já não posso mais ficar aqui, e nem ir pra outro lugar com alguém. acho que preciso ficar sozinha. choro e sinto medo de represálias, raiva por não ter força pra sair do que me acolhe, mágoa crescente e descrença hereditária. deve ser por isso que meu pai tanto bebe. mais uma para o seu clã! um brinde aos porcos fardados, às velhas crisentas, aos pais que passam a vida comprometendo a sanidade de seus filhos, aos novos-otários-ricos, a quem acha que o aquecimento global é uma jogada de marketing, aos que afirmam que dostoiévski é um porre e que a micareta vai marcar época. tenho me tornado amarga, mas descobri com o tempo que o café sem açúcar pode ser muito mais surpreendente que uma reles barra de chocolate. é tudo uma questão de focar no pretinho básico... cincin!!!

Peixe fora d'água

Quando ninguém mais conseguir te dizer o que fazer,
quando seus miolos tiverem virado churrasco;
quando não houver ninguém mais pra você culpar;
quando aqueles pensamentos de chutar o balde e ir
pra Bahia começarem a aparecer mais que ocasionalmente;
quando vc pensar que sua vida sem alguém é caótica;
quando concluir que tudo o que você quer é brincar de casinha
e guardar tudo dentro da sacola ao final do dia;
quando você descobrir que o capitalismo é uma merda
e que nem por isso morar no mato ou em Cuba vai ser melhor;
quando chegar aquele dia em que você olha pra trás
e vê que tudo e nada são a mesma coisa,
que você não fez absolutamente nada do qual se orgulhe
que você sente-se meio ultrapassado e é isso mesmo;
quando você não se achar mais tão bonito
e perceber que não tem nada mais pra dizer...
...
Escreva um livro contando como contornou essa situação e me conte o mais rápido, para que eu possa devorá-lo com farinha, feijão e um pouquinho de expectativa.

Peixe fora d'água

Quando ninguém mais conseguir te dizer o que fazer,
quando seus miolos tiverem virado churrasco;
quando não houver ninguém mais pra você culpar;
quando aqueles pensamentos de chutar o balde e ir
pra Bahia começarem a aparecer mais que ocasionalmente;
quando vc pensar que sua vida sem alguém é caótica;
quando concluir que tudo o que você quer é brincar de casinha
e guardar tudo dentro da sacola ao final do dia;
quando você descobrir que o capitalismo é uma merda
e que nem por isso morar no mato ou em Cuba vai ser melhor;
quando chegar aquele dia em que você olha pra trás
e vê que tudo e nada são a mesma coisa,
que você não fez absolutamente nada do qual se orgulhe
que você sente-se meio ultrapassado e é isso mesmo;
quando você não se achar mais tão bonito
e perceber que não tem nada mais pra dizer...
...
Escreva um livro contando como contornou essa situação e me conte o mais rápido, para que eu possa devorá-lo com farinha, feijão e um pouquinho de expectativa.

domingo, 11 de outubro de 2009

O que eu vejo

Nem tudo que corta machuca;
nem tudo que fere magoa.
O que não vê pode ser cego,
mas pode também estar distraído
preocupado, deprimido, leve ou à toa...
(...)
Sentei-me outro dia no topo de mim. Olhei pra baixo com frieza, com certeza, e arranquei do chão todas as flores que ali já não podiam viver. Varri as promessas malfeitas que sempre espalharam seus grãos. O cansaço me passou a enxada, e com alegria construí novos caminhos. Escolhi o príncipe e o castelo, o cavalo e os afazeres; pendurei as sapatilhas da preocupação num reino distante. Quando lá embaixo tudo era tranquilo, soprei girassóis e estrelas em minha história, e bem devagar fui fechando o livro. Vida de princesa, pensei com meus botões. Sorri e chorei. Algumas lágrimas teimosas adentraram meu conto e, sem cerimônia, formaram um rio bonito de tão triste. Fitei o rio por um momento e respirei com tranquilidade. Vida de poeta, sussurrou a água turva de memórias e possibilidades.

O que eu vejo

Nem tudo que corta machuca;
nem tudo que fere magoa.
O que não vê pode ser cego,
mas pode também estar distraído
preocupado, deprimido, leve ou à toa...
(...)
Sentei-me outro dia no topo de mim. Olhei pra baixo com frieza, com certeza, e arranquei do chão todas as flores que ali já não podiam viver. Varri as promessas malfeitas que sempre espalharam seus grãos. O cansaço me passou a enxada, e com alegria construí novos caminhos. Escolhi o príncipe e o castelo, o cavalo e os afazeres; pendurei as sapatilhas da preocupação num reino distante. Quando lá embaixo tudo era tranquilo, soprei girassóis e estrelas em minha história, e bem devagar fui fechando o livro. Vida de princesa, pensei com meus botões. Sorri e chorei. Algumas lágrimas teimosas adentraram meu conto e, sem cerimônia, formaram um rio bonito de tão triste. Fitei o rio por um momento e respirei com tranquilidade. Vida de poeta, sussurrou a água turva de memórias e possibilidades.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Água dura em pedra mole

Hoje choveu em mim. Aconteceu enquanto eu pensava no aniversário da minha amiga no Balaio de Gato, enquanto eu lembrava de tirar uma cópia a mais do texto muito divertido que vou dar para os meus alunos amanhã - e nem sei se eles vão achar tão divertido assim... Começou a respingar no momento em que eu perguntava aos meus botões se aquele tênis que melhora a postura realmente funciona, bem na hora em que vi a Gwyneth Paltrow dar um banho de elegância toda de verde em um filme de mais de dez anos atrás. Choveu quando eu concluía que vou acabar casando mesmo, não tem jeito, de uma maneira tão interessante quanto óbvia. Começou a respingar na minha memória, e vieram à cabeça o meu cabelo, as minhas caras e bocas, as expectativas dos outros, as minhas. Senti uns pingos leves no braço direito, mais próximo da janela, justamente enquanto me vinha à mente a cena ocorrida uma hora antes - a apresentação de uma aluna sobre "O Diário de Anne Frank", o impacto da história, a indignação geral com as guerras, um bate-papo sobre conflitos de origem cultural que levou a uma auto-análise coletiva (sejamos positivos, há quem sofra muito mais) que levou a uma lembrança. Lembrei-me de um amigo que foi a Moçambique por alguns meses, a fim de realizar um trabalho de campo necessário para a conclusão de seu mestrado. Lembrei-me do quanto insisti para que ele ajudasse as pessoas de lá ao máximo, como praticamente exigi que ele encarnasse Ernesto Guevara e lutasse contra os males do mundo. Insisti e sabia que, mesmo que não pra ele, pra mim esse meio era apenas um fim para o (re) ingresso no belo e digno capitalismo. Ninguém tem culpa, é assim que as coisas funcionam. Você quer que seu filho seja feliz, não quer? Plim!... A chuva bateu primeiro no vidro, depois em mim. Estava fina ainda, mas me apressei em fechar a janela. Sentei-me, dei uma piscada longa e nervosa, ao mesmo tempo em que suspirava fundo. Disse pra mim mesma 'não sou reprimida', mesmo que ninguém tenha dito o contrário. Lá fora a chuva caiu.

Água dura em pedra mole

Hoje choveu em mim. Aconteceu enquanto eu pensava no aniversário da minha amiga no Balaio de Gato, enquanto eu lembrava de tirar uma cópia a mais do texto muito divertido que vou dar para os meus alunos amanhã - e nem sei se eles vão achar tão divertido assim... Começou a respingar no momento em que eu perguntava aos meus botões se aquele tênis que melhora a postura realmente funciona, bem na hora em que vi a Gwyneth Paltrow dar um banho de elegância toda de verde em um filme de mais de dez anos atrás. Choveu quando eu concluía que vou acabar casando mesmo, não tem jeito, de uma maneira tão interessante quanto óbvia. Começou a respingar na minha memória, e vieram à cabeça o meu cabelo, as minhas caras e bocas, as expectativas dos outros, as minhas. Senti uns pingos leves no braço direito, mais próximo da janela, justamente enquanto me vinha à mente a cena ocorrida uma hora antes - a apresentação de uma aluna sobre "O Diário de Anne Frank", o impacto da história, a indignação geral com as guerras, um bate-papo sobre conflitos de origem cultural que levou a uma auto-análise coletiva (sejamos positivos, há quem sofra muito mais) que levou a uma lembrança. Lembrei-me de um amigo que foi a Moçambique por alguns meses, a fim de realizar um trabalho de campo necessário para a conclusão de seu mestrado. Lembrei-me do quanto insisti para que ele ajudasse as pessoas de lá ao máximo, como praticamente exigi que ele encarnasse Ernesto Guevara e lutasse contra os males do mundo. Insisti e sabia que, mesmo que não pra ele, pra mim esse meio era apenas um fim para o (re) ingresso no belo e digno capitalismo. Ninguém tem culpa, é assim que as coisas funcionam. Você quer que seu filho seja feliz, não quer? Plim!... A chuva bateu primeiro no vidro, depois em mim. Estava fina ainda, mas me apressei em fechar a janela. Sentei-me, dei uma piscada longa e nervosa, ao mesmo tempo em que suspirava fundo. Disse pra mim mesma 'não sou reprimida', mesmo que ninguém tenha dito o contrário. Lá fora a chuva caiu.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A pulga

Sem cerimônia invado seu dia a dia e peço atenção.
Com astúcia sussurro no seu ouvido e exijo resignação.
Nado pelas veias do seu desalento, rogo-lhe pragas
transformo seus momentos de prazer em odisséias
mil pedaços mal-articulados de infindáveis sagas;
pinto de preto cada uma de suas boas idéias
e ainda assim nunca hei de pedir-te perdão
pois se és tu quem me crias...
Tua sede me inventa
Tua fome se sacia
Teu sono me escolhe;
Perguntas tornam-me ainda mais bonita
Sinto-me viva quando tu estás aflita
Faço carnavais de tua tormenta
Pois se és tu mesmo quem me alimenta...
e assim será até que para outro lado você olhe.

A pulga

Sem cerimônia invado seu dia a dia e peço atenção.
Com astúcia sussurro no seu ouvido e exijo resignação.
Nado pelas veias do seu desalento, rogo-lhe pragas
transformo seus momentos de prazer em odisséias
mil pedaços mal-articulados de infindáveis sagas;
pinto de preto cada uma de suas boas idéias
e ainda assim nunca hei de pedir-te perdão
pois se és tu quem me crias...
Tua sede me inventa
Tua fome se sacia
Teu sono me escolhe;
Perguntas tornam-me ainda mais bonita
Sinto-me viva quando tu estás aflita
Faço carnavais de tua tormenta
Pois se és tu mesmo quem me alimenta...
e assim será até que para outro lado você olhe.

sábado, 3 de outubro de 2009

Inveja branca

Tem gente que sempre quer saber o que eu vou fazer. Pra onde você vai, o que vai dizer agora? Tem gente que torce para que eu meta os pés pelas mãos, para que as minhas próximas palavras saiam tortas, ininteligíveis, doidas. Gosto bem do doidas, é o mais próximo de inesperadas. Acho chatíssimo comprar passagem em setembro pra viajar em janeiro, fico boba com quem tem medo de prestação porque tem medo de amanhã não ter dinheiro pra pagar a prestação. Confie no seu taco - ou venda a parada pro seu primo, uai! Não poderia dizer que vim ao mundo pra balançar os cabelos ao vento, forçar um sotaque peruano e vender artesanato na Praça da Rodoviária. Também não acho nem um pouco interessante trabalhar loucamente e fingir que trabalho só um pouquinho pra morar em pombais de luxo e passear com um cachorro caro ao redor da Lagoa Seca - gente, a LAGOA é SECA, onde diabos isso é interessante? Porque fazer um curso pra entender de copos, pratos e talheres se não dá nem pra saborear a comida, de tanta tensão com tanta firula? Nesses restaurantes chiques a gente faz um gesto que indique algo do tipo vou me levantar e lá vem o infeliz do garçom granfininho pra puxar a cadeira, sempre alerta. Que paranóia!!! Pelo menos foi divertido tentar driblá-lo quando fui ao restaurante do Ouro Minas - foi tipo uma ação Macgyver, eu escondida atrás da porta do banheiro esperando pelo momento em que ele ia olhar pro outro lado, pra sair correndo e praticamente me jogar na cadeira como um goleiro experiente, felicíssima por ele não ter conseguido ir até minha mesa a tempo. (!)Penso nas situações em que fiquei visivelmente desconfortável e sem sofrimento evito todas elas. Penso nas pessoas que não me fazem bem e sem pudor atravesso a rua, porque pra mim o mais importante ainda é carregar um sorriso verdadeiro no rosto. Se você quer saber o que vou fazer a seguir, imagine algo como um vestido solto e um par de havaianas num dia quente. Gosto de palavras doidas, mas se pudesse definir o que vai sair da minha boca na próxima volta, a expressão seria TOTAL FLEX: o que for mais sensato, o que houver de mais inapropriado, o que der na telha! Vá você agora tentar entender isso... Meu conselho é o de Sabino - não analisa, não... Se pensar bem, vai ver que de repente você é até mais interessante que eu, vai saber... O importante é ir - se joga, boba. No mínimo você vai ter o que contar depois... :)

Inveja branca

Tem gente que sempre quer saber o que eu vou fazer. Pra onde você vai, o que vai dizer agora? Tem gente que torce para que eu meta os pés pelas mãos, para que as minhas próximas palavras saiam tortas, ininteligíveis, doidas. Gosto bem do doidas, é o mais próximo de inesperadas. Acho chatíssimo comprar passagem em setembro pra viajar em janeiro, fico boba com quem tem medo de prestação porque tem medo de amanhã não ter dinheiro pra pagar a prestação. Confie no seu taco - ou venda a parada pro seu primo, uai! Não poderia dizer que vim ao mundo pra balançar os cabelos ao vento, forçar um sotaque peruano e vender artesanato na Praça da Rodoviária. Também não acho nem um pouco interessante trabalhar loucamente e fingir que trabalho só um pouquinho pra morar em pombais de luxo e passear com um cachorro caro ao redor da Lagoa Seca - gente, a LAGOA é SECA, onde diabos isso é interessante? Porque fazer um curso pra entender de copos, pratos e talheres se não dá nem pra saborear a comida, de tanta tensão com tanta firula? Nesses restaurantes chiques a gente faz um gesto que indique algo do tipo vou me levantar e lá vem o infeliz do garçom granfininho pra puxar a cadeira, sempre alerta. Que paranóia!!! Pelo menos foi divertido tentar driblá-lo quando fui ao restaurante do Ouro Minas - foi tipo uma ação Macgyver, eu escondida atrás da porta do banheiro esperando pelo momento em que ele ia olhar pro outro lado, pra sair correndo e praticamente me jogar na cadeira como um goleiro experiente, felicíssima por ele não ter conseguido ir até minha mesa a tempo. (!)Penso nas situações em que fiquei visivelmente desconfortável e sem sofrimento evito todas elas. Penso nas pessoas que não me fazem bem e sem pudor atravesso a rua, porque pra mim o mais importante ainda é carregar um sorriso verdadeiro no rosto. Se você quer saber o que vou fazer a seguir, imagine algo como um vestido solto e um par de havaianas num dia quente. Gosto de palavras doidas, mas se pudesse definir o que vai sair da minha boca na próxima volta, a expressão seria TOTAL FLEX: o que for mais sensato, o que houver de mais inapropriado, o que der na telha! Vá você agora tentar entender isso... Meu conselho é o de Sabino - não analisa, não... Se pensar bem, vai ver que de repente você é até mais interessante que eu, vai saber... O importante é ir - se joga, boba. No mínimo você vai ter o que contar depois... :)

Tentativa de um quase antônimo...

Depois do Engov, vem a bonança...

Tentativa de um quase antônimo...

Depois do Engov, vem a bonança...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sinônimo

O que é isso que por demais me aflige, sempre me inquieta? Porque ficar com a mesma pessoa durante anos dá tanta ressaca? Porque é que a cada ano que passa a cabeça fica mais enterrada na descrença? Sinto-me como aquela bruxa do Mágico de Oz, soterrada com os sapatinhos vermelhos pra fora, esperando alguém mais esperto tirá-los de lá e levar o presente pra casa... Deus me ouça: a paixão não pode durar só dois anos. Esse tal de amor é um porre de Bavaria - quero tomar fogo no bico e sonhar com grilos falantes. Quero sentir cada garrafa que me embriaga, fazer um samba e acordar pensando alto, falando longe. Quero brigar até o fim pelo metro quadrado desse sentimento que tanto me pertence. Sei o que você tem em mente, e pouco me interessa; quando a banda passar eu vou pegar uma caixinha de fósforo e me juntar à multidão. Não é possível que o segredo da felicidade esteja baseado na subserviência. Nunca hei de ser resignada. Vamos direto ao ponto: traga lá uma Brahma e deixe o resto comigo -

Sinônimo

O que é isso que por demais me aflige, sempre me inquieta? Porque ficar com a mesma pessoa durante anos dá tanta ressaca? Porque é que a cada ano que passa a cabeça fica mais enterrada na descrença? Sinto-me como aquela bruxa do Mágico de Oz, soterrada com os sapatinhos vermelhos pra fora, esperando alguém mais esperto tirá-los de lá e levar o presente pra casa... Deus me ouça: a paixão não pode durar só dois anos. Esse tal de amor é um porre de Bavaria - quero tomar fogo no bico e sonhar com grilos falantes. Quero sentir cada garrafa que me embriaga, fazer um samba e acordar pensando alto, falando longe. Quero brigar até o fim pelo metro quadrado desse sentimento que tanto me pertence. Sei o que você tem em mente, e pouco me interessa; quando a banda passar eu vou pegar uma caixinha de fósforo e me juntar à multidão. Não é possível que o segredo da felicidade esteja baseado na subserviência. Nunca hei de ser resignada. Vamos direto ao ponto: traga lá uma Brahma e deixe o resto comigo -