domingo, 12 de julho de 2009

Capítulo 16: Reinventando a escola

Hoje estou aqui pra falar de nós. Nós, seres na faixa dos trinta, que ainda moramos com os pais, que trabalhamos mas não conseguimos romper esse cordão umbilical - vulgo "dependência financeira". Nós somos academicamente educados, considerados cidadãos de classe média, mas com nosso salário só dá pra manter essa vidinha de classe média se gastarmos todo ele conosco - mais claramente falando, SÓ conosco, sem despesas de casa. Achamos que estamos novos demais pra algumas coisas, e que já passamos da idade pra tantas outras... Fechamos os olhos e imaginamos aquela vida que tínhamos certeza que seria a nossa aos 6, 7 anos: casados aos 25, com uma casa grande, dois carros na garagem, filhos e cachorros. Tudo bem que aos 6, 7 anos, nossa imaginação de vida de gente grande pode ser bem limitada, mas como fomos parar tão longe disso? No meio desse caminho acontece tanta coisa... Pra começar, a sexualidade. Quem disse que eu vou ser hetero? Quem disse que vou me casar? E se eu não quiser ter filhos? E se eu for gay um tempo e depois resolver ser mãe ou pai? E se meu grande amor não puder me acompanhar, o que me impede de esperar por ele até a próxima vida? Depois vem a casa grande. Gente, como ter uma casa grande hoje em dia se você não for médico, advogado - sem restrições -, empresário, filho de rico, concursado, celebridade... POLÍTICO? É claro que dá, é só ser o melhor naquilo que você faz. O melhor escritor, o melhor jornalista, um músico foda, um dj de renome, um professor que lança um livro ou inventa uma música ou participa de um programa de televisão e sai do anonimato, um WORKAHOLIC! Mas e se eu quiser participar de uma ONG, tenho que me tornar Angelina Jolie primeiro? E se eu quiser abdicar de todo esse luxo pra viver numa ecovila? E se eu tiver amor pela minha profissão e optar por um estilo de vida menos pomposo e mais agradável, será que vou conseguir sobreviver? Nós sofremos a pressão "a hora é essa", sabemos que esse é o momento de consolidarmos o primeiro ser adulto dentro de nós. Se a gente parasse pra pensar que esse é o PRIMEIRO adulto que vamos ser, a vida seria muito mais tranquila e divertida. Meu primeiro ser adulto é uma professora de inglês que quer morar em Nova Lima e gasta mais do que tem, sem medo de não ter porque sabe que é muito boa naquilo que faz, e vai ser sempre melhor por ADORAR A PROFISSÃO. É também uma aspirante a bailarina, que chega em casa com os pés destruídos e um sorriso no rosto por ter aceitado encarar esse desafio aos vinte e tantos. Meu primeiro ser adulto gostaria de cantar por aí, já escreveu letras de músicas, sonhou com algumas melodias e ficou cantarolando o nananã até aparecer algum violeiro paciente pra transformá-lo em canção; participava dos ensaios da dupla sertaneja da sua mãe com sua prima, e aos seis anos começou a cantar baixinho no ensaio e pensou "não é que eu sou afinada mesmo? será que alguém tá percebendo isso? que MÁXIMO!" Esse ser também é bipolar, acomodado, enfurecido e lunático, auto-pressionável e de ideologias duvidosas. Esse ser que vos fala um dia quis muito ser o sonho de alguém. Fui me decepcionando até descobrir que poderia me reinventar, que poderia me tornar um outro ser adulto: a garçonete e empacotadora de delivery, sem grana, com frio, a moradora de um homestay, amiga de italianos, franceses, escoceses, ingleses, paulistas e tchecos, a estudante de inglês, a menina que se entrega às pints e a muitas reflexões sobre si e sobre o mundo, que chora quando vê o quanto é egoísta, que ri e agradece por ser só uma criança, que se abre e não tem medo de falar a verdade, que sonha. Esse meu segundo ser adulto voltou recentemente a escrever, depois de concluir que escrever o que se pensa, sem firulas, é a alma do negócio. Sou um ser que entende o que é ESTAR nos sonhos de alguém, porque existem fantasias sexuais, com aquela mulher fatal, maravilhosa, e sonhos cor-de-rosa, com beijos apaixonados e mãos dadas na praça. Fico feliz por estar em ambos ;)

3 comentários:

  1. Muito lindo seu blog e seus textos, Érika!! Parabéns, linda!! Beijão, Carol

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  2. Ò,Carol, que bom que vc gostou! Seja bem-vinda, obrigada e um grande beijo!!!

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