quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Panis at circenses

Cara, domingo eu fiquei pensando enquanto assistia àquele jogo ridículo. Meu cunhado, que é cruzeirense e uma pessoa de muito bom senso, e minha irmã, que nem liga pra futebol mas sentou com a gente pra tomar uma e dar uma sacada na situação, ficaram perplexos com a palhaçada. Falamos sobre a final Brasil x França e sobre a velha (e interminável) história do pão e circo. Os jogadores do Galo pareciam vindos de uma churrascaria, o goleiro com medo de defender, o Cruzeiro passeando em campo. Quantos filmes já retrataram essa corrupção no esporte - os de boxe são os mais populares -, quantas pessoas já se venderam descaradamente e o pior: quantos idiotas ainda não descobriram o show de Truman e acham que Matrix é legal por causa da roupa do Keanu Reeves. Essas pessoas choraram com a vitória do Cruzeiro, acham que o Márcio Lacerda é um ótimo prefeito porque a Savassi está cheia de britadeiras há muito tempo e só conseguem pensar no próximo festival de axé ou no novo CD do Parangolé. Como eu já disse várias vezes, IGNORANCE IS BLISS for many - too bad it's not for me...

Divagando sobre tudo isso, resolvi me calar e nem postar nada sobre essa história, porque todo mundo tá ocupado demais pra querer saber se a anuidade do cartão aumentou, se o preço dos imóveis está overhipermegasuperfaturado enquanto o salário aumenta 8% a cada dez anos E depois de muita briga. Sua vida te consome, né? Tadinho... Então provavelmente você será um dos que não lerá isso aqui, junto com um texto que recebi hoje de um autor anônimo sobre o mesmo tema. Que peninha! Mas não se preocupe, não: a festinha de fim de ano, o futebolzinho da empresa e as migalhas que você recebe no lugar de um aumento digno no seu salário vão te manter manso e ocupado por um bom tempo, vendo clássicos do futebol mineiro na sua TV de noventa e oito polegadas e chorando pelo seu time ;)

"Pão, circo, clubes mineiros e torcedores otários
O último clássico de domingo me deu gancho para falar e pesquisar sobre algo muito evidente, mas que, por uma série de motivos, as pessoas não ficam sabendo. É o fato simples de que o futebol mineiro está totalmente voltado para o atendimento de interesses econômicos de investidores e políticos. Foi daquelas partidas armadas dignas da final da Copa entre Brasil X França. A despeito do clubismo, que, no caso acontecido, o torcedor cruzeirense prefere atribuir o jogo ao grande mérito de seu excelente clube e que, se fosse o contrário , também ocorreria o mesmo com atleticanos, vamos tentar analisar velhos fatos sobre o futebol mineiro desde mais ou menos 2000 para cá.

Em 1998, o Atlético entrou numa crise política muito intensa. A agitação da torcida era tão intensa que um estrangeiro desinformado poderia confundi-la com alguma revolta política por melhores salários ou leis importantes para a vida democrática. Claro, isso se ele não souber que brasileiro prefere comer o pão que o diabo amassou a perder o jogo do seu time. O presidente então, Paulo Cury, caiu e a paz voltou por alguns momentos ao time. Por alguns momentos as denúncias e o furor investigativo sobre as maracutaias do clube pararam.

Após algum tempo sob gestão de Nélio Brant, mero testa de ferro do atual presidente Alexandre Kalil, subiu à presidência do Atlético o senhor Ricardo Annes Guimarães, um dos maiores empresários do Brasil, banqueiro, acionista do BMG, acionista da Magnesita e filho do dono da Brasfrigo S.A., atualmente o homem com maior participação econômica no futebol brasileiro. Conhecido por ser um dos maiores credores do Atlético, Ricardo Guimarães é o principal financista do escândalo mensalão. Na época, o BMG fechou um acordo de empréstimo ao PT, com o aval de Marcos Valério, Delúbio Soares e José Genuíno. Só figuras ilustres! Dentre outras coisas, empregou a mulher de Marcos Valérios no BMG, fez contratos suspeitos com a Caixa Econômica Federal e, atualmente, é investigado pelo fato minimamente suspeito de o Atlético, em sua gestão, ter feito uma série de contratos de empréstimo com pessoas físicas a taxas de juros altas, para não dizer ilegais. Mas, claro, isso não importa muito, visto que alguns conselheiros do Atlético vivem ventilando com grande serenidade para a cúpula do Atlético quitar parte de sua dívida com Ricardo passando parte do Diamond Mall, cujo arrendamento termina em 2026, para ele.

A queda do Atlético em 2005 gerou mais uma crise de denúncias sem precedentes na história do futebol mineiro. Em 2006, tendo como figura principal o senhor Luiz Otávio Motta Valadares, o Ziza, velha múmia da ARENA nos tempos da ditadura militar, subiu de divisão e conquistou em 2007 o campeonato mineiro com uma goleada histórica sobre o seu maior rival. No entanto, a calmaria durou pouco. Com campanhas medianas nos brasileiros de 2007 e 2008, e com desentendimentos entre Ziza e a principal quadrilha de torcedores do Atlético, a Galoucura, o ambiente no clube descambou em crise política e novamente uma enxurrada de torcedores clamava por transparência, projetos de reforma normativa e auditorias. Proliferavam as acusações de que o Atlético estava servindo de “lavandeira” para o BMG e de rumores de ingerência dentro do Atlético. Diferente do seu rival Cruzeiro, o Atlético era uma “lavanderia” agitada e instável demais para investimentos. Eis que surge então o filho do antigo presidente Alexandre Kalil, que quase faliu o pai em tempos antigos, como a figura carismática e ideal para acalmar a fachada do Atlético e trazer o silêncio necessário para que negócios escusos acontecessem na calada da noite.

Na “era” Kalil, o Atlético desenvolveu-se muito. Foi da água para o vinho em pouco tempo. Contratações milionárias viraram fatos cotidianos, os salários todos eram pagos em dia, as dívidas do clube foram reescalonadas como num passe de mágica e a quadrilha Galoucura voltou a apoiar o time e a presidência incondicionalmente. A despeito das campanhas catastróficas do Atlético na liga nacional, piores que as campanhas do Ziza, a paz e a tranqüilidade absolutas eram mantidas pela figura totalitária de Alexandre Kalil, sua fiel escudeira Galoucura e a cortina negra da rádio Itatiaia na mídia. O Atlético reestruturou sua dívida exorbitante com Ricardo Guimarães, num gesto de muito altruísmo e amor deste último.

No final do ano de 2009, vários investidores ligados ao BMG lançaram o fundo de investimento BR Soccer 1. Dentro da sua carteira de investimentos havia, principalmente, atletas que jogam no Cruzeiro, Atlético e clubes cariocas. O fundo do BMG, em seu primeiro ano de vida, teve péssimos resultados e alcançou desvalorização na casa dos 16,68%. Fato curioso é que, mesmo assim, de 2010 para 2011, o BMG aportou mais R$ 16 milhões no fundo, totalizando um capital em torno de R$50 milhões de reais.

Eis então que chegamos em 2011, quando o foco da atenção muda do Atlético para o Cruzeiro. Em 2011, o Cruzeiro fez uma das suas piores campanhas em Libertadores, perdeu jogadores que fecharam contratos com o seu rival e teve o time desmantelado no meio da liga nacional. Os torcedores começaram a reivindicar e a contestar o lendário presidente Zezé Perrela, fato até então inconcebível, sobretudo por este última também ter uma quadrilha de torcedores acobertando suas falhas. Financeiramente, surgiam rumores de atraso de salários e as contratações do clube foram mais modestas que as contratações do Botafogo, clube mais falido do Brasil. E o desfecho disso tudo foi chegar à última rodada do brasileiro à beira do descenso e com um time menos confiável que o Avaí, lanterna do campeonato.

Agora vamos analisar o efeito da queda do Cruzeiro. Ele se daria por duas frentes: a primeira seria a desvalorização de jogadores com participação do BR Soccer 1 e a corrida por vendê-los para evitar realização de prejuízos; a segunda diz respeito à questão das cotas televisivas dos clubes que, no ano de 2012, no caso dos mineiros, passará de R$ 35 para R$ 70 milhões de reais. Quanto à primeira, ela seria o decreto sumário do fracasso e falência do fundo. Quanto à segunda, vale lembrar que o Cruzeiro antecipou, através de intermediação financeira, todas as cotas televisivas referentes ao ano de 2012. E adivinhem com qual banco? Isso mesmo, o banco do senhor Ricardo. A perda do valor que o Cruzeiro já comprometeu forçaria o BMG a aceitar moratória por parte do Cruzeiro e, então, o rombo que os investidores teriam seria monumental.

Ainda vale lembrar que a saída do senador Perrela e a entrada de uma nova diretoria daria-se no meio do olho do furacão. E se no Atlético essa receita explosiva foi bastante desgostosa para os investidores, no Cruzeiro, clube com mais de 20 anos de maracutaias e oligarquias políticas encobertas pelo clima de sucesso dentro de campo, a coisa seria um “salve-se quem puder” antológico na história da política mineira.

Muitos da imprensa, sobretudo da máfia Itatiaia, uma típica máfia midiática mineira comprometida com dinheiro e políticos corruptos, disseram que “não é possível combinar com onze jogadores um jogo” como se o futebol brasileiro fosse um antro de pessoas puras onde a corrupção e a organização criminosa não existem. Eles subestimam muito a inteligência das pessoas. Eis então um fato pouco conhecido e interessantíssimo: outra figura desse teatro, o diretor de futebol Eduardo Maluf, o sujeito com maior rede de contatos no futebol brasileiro, era homem de confiança no passado e empregado adivinhem de quem? Isso mesmo, mais uma vez do senhor Ricardo Guimarães e do banco BMG. Esse fato, nunca levantado pela imprensa mineira, nos faz pensar se realmente seria muito difícil manipular o resultado de um jogo assim. Um diretor de futebol coligado a um grupo de investidores prestes a perder rios de dinheiro é no mínimo estranho e torna a possibilidade de ordenar “pessoal, quero ver corpo mole domingo e bico fechado” algo bastante verossímil, para não dizer óbvio.

Mesmo assim, o torcedor é apaixonado, seja o atleticano ou cruzeirense! Quer achar que os seus resultados são sempre frutos de garra e de uma espécie de espírito sobrenatural que faz a sua camisa superar as adversidades quase que misticamente. É normal, é natural! Mas é a morte da democracia. Estamos totalmente perdidos quando deixamos nosso lado emocional superar com tanta força o nosso lado crítico e politicamente ativo. O futebol mineiro hoje, quiçá brasileiro, é totalmente refém de interesses econômicos. Um fato cultural tão forte no povo brasileiro está se ajoelhando perante o desejo irracional pelo lucro e pelo poder. O espírito do esporte, o da competição justa que é fim em si mesma, está sendo suplantado pela armação oculta que visa unicamente atender às demandas comerciais de homens que estão “se lixando” para o choro ou sorriso do torcedor. Nossos clubes amados, instituições criadas por nós e nossos antepassados, que colorem nossa vida e enchem nossa auto-imagem de sentido e identidade, estão infestadas de corruptos e padecendo de doenças sistêmicas crônicas."
 

Dói no peito ser torcedora apaixonada e ver a extensão de tudo isso. Dói saber e continuar torcendo, mas uma coisa é importante: quem sofre é só a gente; o resto enche o bolso de dinheiro e garante as férias na Europa. É, abre o olho, meu amigo, porque o mundo já abriu a boca dele e está doido pra te engolir!

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