quinta-feira, 30 de maio de 2013

O jogador

Eram cinco da tarde quando te vi voando em seu carro esporte. Camisa de marca, som da moda, gel no cabelo, loira gelada fingindo que é quente bem à vontade no banco do passageiro. Talvez ela fosse morena - mais socialmente interessante, convenhamos. Felizes, vocês se dirigiram a um destino exclusivo da capital, onde uma garrafa com o seu nome descansava à mesa de sempre. Todos riram, serviram-se de petiscos caros e falaram alto sobre suas opiniões e verdades absolutas, respeitando-se a hierarquia de quem ostenta a maior conta bancária. Após algumas brincadeiras de mau gosto com o garçom, que, impassível, enchia os copos de agressividade com a máxima elegância, você decidiu sair enquanto abaixo do cinto as coisas ainda pareciam funcionar. A moça esboçou naturalidade quando você abriu a carteira e tirou todo aquele dinheiro para pagar a conta. Ainda tinha muito mais para pagar pela suíte mais cara do motel. Ela era linda; o movimento dos cabelos e dos quadris, cheiro e textura importados de longe, peitos fartos, cem por cento pagos... que bom poder abrir o bolso e ter tudo isso, você sorriu com confiança. Pensou no babaca do chefe, nos sapos de todo dia, e decidiu engoli-los de novo quantas vezes fosse necessário pelo prazer de viver aquilo, de representar um modelo de sucesso para toda uma geração. Impressionado com seu próprio requinte, te vi visivelmente confuso quando me achou um dia tão bonita. Conversamos e você se convenceu de que eu era também inteligente e doce - foi engraçado como essa constatação te soou estranha. "Há muitas como eu no planeta de onde eu venho", eu disse; você nem queria pensar nisso. Perguntava-se como de repente não era mais tão fascinante, como seus poderes mágicos não se manifestavam na minha presença. Saiu, bebeu, pagou a conta e o motel com a mesada da sua mãe tantas outras vezes... mas não é que aquilo não te fazia sentir especial, não parecia certo? Prontificou-se a impressionar a menina que não se importava. Ela, no entanto, só queria que você parasse para se perguntar: "How do you afford your Casanova lifestyle?". Sentado no topo daquele planeta longínquo, você pensou em mim e em nós até concluir o óbvio: o importante não é ganhar, mas jamais se deixar perder. Jogar era uma arte per se,  e você sabia que podia transformar cada entrave em uma dança cálida e suave... só porque sabia esperar.

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