sábado, 23 de outubro de 2010

Quis dizer

Deixei-a falando sozinha, aquela moça tão bela quanto uma pintura antiga. Eram sete horas - dei- lhe a mão, ela tomou-me pelo braço. Fazia frio e ela olhava ao redor, como se ansiasse por um espetáculo à beira do lago para compor a noite branca que caía sobre nossas cabeças. Olhava para ela, e dentro daqueles olhos fundos e tristes encontrava a resposta.  Não conseguia ler o que seus lábios me diziam - só queria vê-la, seus cabelos negros cintilando ao vento, a pele clara, mãos que se mexiam e tentavam edificar castelos interminados, intermináveis... Como fazia saltar meu coração a presença daquela alma incompleta! Não conseguia saber o que ela sabia, o que faria, não queria, não mais, não valeria a pena. Não tinha forças para sair do lugar, braços dados, aroma de noite de lua cheia - chega. Sua falta de pureza era pura demais; personagem de um filme dirigido por mim, feito por nós dois. Tínhamos uma história que já havia-me roubado tantas noites de sono bom, tantos sonhos, tantas realidades. Podia ser suficiente. Disse-me que tinha sono, e  recostou-se em meu ombro já cansado. Fiquei ali, imóvel, perplexo. Tudo em mim era mito e eu precisava saber. Te amo, eu disse. Eu disse que a amava e me levantei. Caminhei sem olhar para trás, a passos largos, sem esperar o que viria depois, as mãos nos bolsos, sem mais ou alguém., tudo girando por dentro. Ainda hoje guardo na memória essa lembrança, e sinto uma coisa estranha a cada lua cheia. Eu só queria poder dizer.

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