terça-feira, 19 de outubro de 2010

Listen

É preciso ouvir as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar, já era. O mal do século não é o global warming nem a AIDS: é o egocentrismo. A todo momento surge alguém dos lugares mais incríveis pra falar de suas realizações sensacionais. É uma necessidade tão grande que hoje em dia não existe sequer aquele alerta para o bom senso, aquela tentativa de "pseudo-preocupação" com o outro, nem que seja para suprir padrões sociais. Se você planta uma árvore e conta para um amigo, ele não pensa em nada a não ser na ligação da palavra "árvore" com um feito próprio. Deixe-me ver... árvore... ah, sim, claro! Subi em uma árvore em 1977 e quase quebrei o braço! Seu dia foi ruim? Ih, nem queira saber do meu! Foi bom? Ah, mas isso é porque você ainda não ouviu o que aconteceu comigo hoje... Foi muito interessante aquela propaganda da tesourinha da Disney (eu tenho, você não tem) ter sido censurada. Que isso, temos que censurar pra termos o direito de ensinar  o egocentrismo em casa sem a ajuda de ninguém! A única coisa que se escuta hoje é a própria voz, ecoando pelas paredes do corpo como faixas do Itunes - tão diversas, tão estimulantes, tão minhas que poderia entreter-me para o resto da vida. Então por que o outro? Para que o outro? Porque contar pra mim não tem a menor graça. Preciso que alguém me ouça, somente me ouça no mais puro silêncio e com muita atenção enquanto eu capto cada nuance do meu timbre, enquanto eu entretenho minha platéia cálida e ansiosa,  enquanto eu não acredito no quanto sou interessante. Mas e aquele que me ouve? Aquele que me ouve sorri com apreço, não se arrisca a dizer que não tenho razão. Sempre me ouve, mas só escuta as batidas do seu próprio coração.

3 comentários:

  1. Sabissíssimas palavras!

    Por isso que nos fizeram com dois ouvidos e uma boca, para ouvirmos mais, mas parece que quase ninguém percebeu isso...

    O "eu" é o que mais escutamos por aí...
    Mas, quer saber o que eu acho? Deixa quem quer falar, falar... Tem gente que ainda precisa disso para ser feliz! Então, escutemos!

    Beijocas!!

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  2. Kitas,

    já faz muito tempo decorei os versinhos que vão abaixo. Nunca soube qual é o autor, e nunca mais os achei - nem mesmo na web. Lembrei-me deles ao ler esse teu post. São temas similares (eu acho), com títulos idênticos.

    Listen

    I ask no more for kisses, my dear.
    But have you no words for me?
    Echoes only am I to hear,
    Of whispered reveries?
    Desires that so remain un-uttered,
    Scream with violence
    As, speechless, I quietly
    Listen to your silence.

    É bunitim, né? Though a bit depressive, I guess.


    Abraço, do

    Miguel

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  3. Puxa, Migalha, amei o poema - tiro ao álvaro bem no meio do meu ser (specially because I'm fond of depressive :) Vc é mais que meu amigo: é algo assim como Branca Leone, meu herói!!! Apareça mais!

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