sexta-feira, 26 de junho de 2009

O homem que achava que sabia demais - continuação

Jorge pensou em tudo: esportes radicais (nunca!), animais de estimação (com essa alergia? hunf...), jogos de azar (a bolsa já dá adrenalina e prejuízo suficiente, obrigado), cursos variados (no dia em que alguém me vir dançando ou fazendo comida de livrinho, podem me chamar de Jorgete!), viagens (qual é a graça de ir pra um lugar diferente sem pesquisa e planejamento estratégico? no way!). Pensou, confabulou, e enfim concluiu que a grande cartada seria fazer algo de natureza transgressora. Ele tinha o organismo fraco e se conhecia bem, de modo que tomar uma droga qualquer e sair por aí fazendo show de graça pros outros não seria nem lucrativo e nem agradável. Pensou em não tomar nenhuma atitude de consequências irreversíveis. É só um sustinho, só um frio na barriga mais intenso, uma coisa que não seja tão patética quanto subir na árvore e gritar Luluzinha, eu te amo, e nem tão impactante quanto entrar para o hall de seres tranquilos que viram bichos e estampam capas de jornais. Ia divagando e andando por entre os carros. E se eu me jogar na avenida? Bem, aí pode ser irreversível... Acho que então seria interessante, de repente, enfrentar um oficial da BH Trans. Mas como, se eu não tenho carro? E sempre pensando, Jorge começou a ficar paranóico. Qualquer palavra podia ser uma idéia. Comprou um bloquinho e saía às ruas como um psicótico, anotando tudo que em sua cabeça poderia ser transformado em possibilidade. Um dia desses, Jorge apareceu na Cultura do CA pra me fazer uma visita. Contou-me toda a história e me mostrou seu bloco de idéias, com prós e contras. Esperei que ele falasse bastante. Pois é, eu comecei, eu te conheço desde o colégio, Jorge, e você sempre foi esse cara contido, o que não significa em nenhuma instância que seja menos simpático ou agradável por conta disso. Você sempre gostou de livros e passarinhos, mas também tomava as suas e tinha suas namoradas. As mulheres são um termômetro, e elas sempre pularam no seu colo... Olha pra você, Jorge: um cara bonitão, com um emprego público, uma namorada sem defeito e vários amigos - uns bem malas, devo admitir, mas quem é perfeito nesse mundo? Peguei o bloquinho. Isso daqui daria inveja ao Cebolinha, cada coisa... Sabe o que você devia fazer? Ele olhava pra mim meio confuso, meio absorto, como se estivesse em frente a um guru espiritual. Dei uma boa risada. Escrever. Contei a Jorge meu plano, e ele ouvia a tudo com muita atenção. Quando ele levantou da cadeira e me deu um abraço, entendi que ele tinha entendido o recado.
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TO BE CONTINUED...

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