domingo, 14 de junho de 2009

Hoje

Hoje a gente podia brincar de ser menos previsível. Deixar o alterego tomar conta logo de manhã, ir ao supermercado de pijamas por pura preguiça de trocar de roupa, ir ao supermercado de pijamas e não ter vergonha de admitir que foi só pra aparecer. Ligar praquela pessoa que não te liga por orgulho e dizer pra ela te esquecer, falar com aquele tipo que colocou até a família no meio pra te dispensar que isso jamais teria sido necessário, se ele entendesse o significado de "one night stand" (or maybe a couple, but who the hell cares?). Mandar aquele cara chato que vive dando um jeito de dar em cima de você queimar no inferno, chupar uma bala que deixa a boca azul e cantar Raul no chuveiro, numa altura perigosa... Dizer praquele puxa-saco invejoso "Your friendship is no longer required", ser meiga com quem nunca achou que você poderia ser meiga, ser muito escrota com quem sempre achou que você era uma simpatia, falar com quem espera que você seja sociável que você odeia todo mundo que é sociável e que essa palavra não faz parte do seu vocabulário, contar praquela menina boazinha demais que você está cansado de saber que as mais boazinhas são as mais babacas! Ontem vi num filme um cara que perde a mulher da vida dele por um visível, claro e evidente medo de se envolver, e que depois se explica da seguinte forma: é preferível manter uma pessoa muito importante a uma certa distância, para não se machucar tanto quando ela for embora. É realmente invejável a arte de inventar as mais nobres e dignas desculpas pra justificar seu próprio fracasso enquanto ser humano. E insuportavelmente previsível. Hoje a gente podia brincar de ser alguém que nem a gente mesmo conhece - só hoje. Sei que vai doer, que vai ser estranho, mas saia da bolha por um momento. Passe o dia todo tomando suco de tomate com molho inglês, pense que seu cabelo poderia ser muito mais interessante. Compre um lixo a mais e separe o que for reciclável. Visite uma ecovila, fique em pé debaixo de uma cachoeira bem gelada, corra até cair no chão meio roxo, leve um livro a um asilo e faça a garotada feliz. Dê um abraço forte, fale um palavrão horrível olhando no espelho e morra de rir. Depois chore de propósito. Tem sempre duas figuras dentro da gente: uma previsível e socialmente aceitável; uma loucaça, pronta pra explodir de desejo, de fúria, de tristeza, de ânsia, de tédio, de animação, de medo, de surpresa. Em outras palavras: uma boa...
e uma melhor ainda! Pense nisso... Desejo um dia muito louco pra você.

2 comentários:

  1. O que dizer dessa louca menina mulher? Blow up? Realmente esse post foi instigante... um convite para o mundo de Alice...

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  2. Que bom que você sempre aceita, né? :)

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