segunda-feira, 20 de abril de 2009

Capítulo 14: Bricklane

Fala, pessoal,

Hoje vou contar um pouco pra vocês sobre um lugar que está no meu coração - e no de Londres também -: Bricklane.

Bricklane é na verdade uma região próxima à Liverpool Street Station, e é um lugar cheio de bares, lojas e pessoas interessantíssimas. Pra começar, logo que a gente sai da Liverpool Street - o que é difícil, porque lá também é um lugar legal demais (e abrindo um parênteses, lembram-se que eu disse a vocês que se vendesse cerveja e rolasse um banheiro nas estações elas seriam o melhor lugar?) - já vê muitos pubs, antigos e novos, e restaurantes bem bacanas. É tipo uma região cool da cidade, e, com isso, não muito barata também em se tratando de entretenimento - mas aliás, o que é em Londres?

A caminho de Bricklane tem uma feirinha aberta num quarteirão meio aberto também, e lá a gente encontra de tudo. O artesanato de Londres é bem criativo, muito moderno e com vários toques que fazem a diferença. Encontrei uma barraquinha que tinha como tema a coruja, e havia praticamente tudo de coruja que vocês imaginarem - copo, talher, roupa, caneta, bolsa, enfeites mil, bem divertido. A gente também acha umas roupas e acessórios bem legais nessas feirinhas, e por um preço bem mais acessível que nas lojas, vale a pena.

Atravessando o mercado mágico, continuamos nossa caminhada e logo logo já estamos na avenida principal de Bricklane. Lá é um bairro meio de indianos, parece, e com isso há mil restaurantes indianos com seu curry cheirando lá fora. Eles contratam um cara que basicamente cata os fregueses na rua e leva pra lá - dá pra imaginar o que parece, né? Mercado Central total, com a diferença que eles geralmente oferecem uma garrafa de vinho ou uma sobremesa grátis pra tentar te convencer a pagar 45 libras num frango picante.

Se você conseguir ignorar tudo isso e for mais adiante, vai ver os bares mais legais de Bricklane: 1001 e Vibe Bar. O 1001 é bem famoso, e o estabelecimento em si tem todo o tipo de comércio: na porta tem uns caras - bem gatos, diga-se de passagem, puro marketing - fritando uns hambúrgueres e umas linguiças, e umas mesinhas pro pessoal sentar e comer; na entrada tem um freezer com bebidas e umas comidinhas mais caseiras, digamos, tipo uns bolos, sanduíches e bagels, uma coisa que passei a adorar depois de sair com o Gordon e minha mana Renatilda; se você sobe a escada, o andar de cima é totalmente diferente, cheio de poufs e sofás - isso eu considerei uma grande sacada lá em Londres: os bares não têm mesa e cadeira, têm sofás enormes com uma mesa no meio e você acaba dividindo a mesa com outras pessoas (será uma estratégia de socialização? Pensando melhor, nem sentando no colo de um inglês pra ele ter a disposição de socializar com vc...), o que acaba sendo tranquilo, além de muito confortável com um dj diferente a cada dia, tocando de Bob Marley a Sex Pistols, e a gente compra as bebidas lá em baixo e fica tomando e ouvindo um som, muito bom; como se já não bastasse, tem uma porta bem grande no meio desse andar, parecendo as portas da esperança, e o mais legal é que quando elas se abrem, é diversão garantida - um galpão enorme, meio underground, com um eletrônico no talo, um balcão e galera pirando! De vez em quando rolam uns shows nessa parte também, e a gente assiste afundado em uma poltrona bem gostosa, dessas super antigas, com uma Red Stripe à mão - é uma cerva jamaicana com percentual de álcool razoável e o melhor preço.

No Vibe Bar tem um balcão com pints, e é um lugar meio doido, parecendo um labirinto. Lá fora tem uma tenda com umas mesas - imagino que deva ser bem agradável no verão, porque quando eu fui não dava pra ficar lá fora por causa da chuva e do frio - e uma escadinha para o bar. A gente passa por um corredor vermelho, e parece que tem vários ambientes, mas fiquei com medo de me perder e só fui ao principal, uma espécie de galpão, bem aberto, também com sofás ao redor das mesas, gostosíssimo... Entenderam agora porque os ingleses adoram um pub? Tem um palco também, e de vez em quando rolam uns shows bem interessantes - assisti a alguns muito legais. Mas atenção: lá fecha mais cedo, acho que até devido ao fato de os últimos trens passarem por volta de meia-noite, o que significa que a gente tem que ir mais cedo também.

Tem um forró no final da rua do 1001, brasileiríssimo, e num lugar grande e super bonito, que deve ser um bar mais arrumado com forró em alguns dias da semana. Quando fui estava até cheio, e dancei com pessoas de uns três países diferentes. Bem, na verdade, tentei ensinar meu amigo ita, dancei com um brasileiro e com um outro que tenho certeza absoluta que era brasileiro, mas insistiu em dizer pra mim que não era - será que ele achou que ia ter mais status dizendo que era de outro lugar? Volta pro mar, samambaia marinha!

Fui a Bricklane com todos os meus amigos - filei as fritas do hambúrguer do meu flatmate Olivier, assisti a um show na poltroninha do 1001 regada a muita Red Stripe com meu amigo da terra do Super Mário, Andrea ("Not now, baby, not now"), comi um bagel com Gordon e Renatilda, fui ao mercado, a um bazar de marcas chiques sensa e a um restaurante indiano com minha amiga inglesa Viola, almocei às 5 da tarde num all you can eat indiano com meu flatmate Bruno - e ainda conseguimos tomar muito vinho e colocar todo mundo pra dançar num bar em frente ao 1001, que pode ser ótimo ou estranhíssimo dependendo do dia -, alucinei na pista com meu querido papito Germano e o portuga Manoel, dancei ao som de várias músicas diferentes no Vibe Bar e fiz a brincadeira dos sem-grana com uma garrafa de vinho de duas libras acompanhada de meu amigo Léo, e fui até a um forró com direito a Elba Ramalho e Dominguinhos no telão, além de visitar uma exposição de arte que dava cervejas para quem fosse assistir, sempre em muitíssimo boa companhia...

Bricklane transformou minha vida londrina em uma experiência incrível, diferente a cada dia, e, por isso, peço que se algum dia forem a Londres, andem pelas ruas de Bricklane, tomem uma Red Stripe, entrem numa exposição de um artista italiano desconhecido, dancem freneticamente como se ninguém estivesse lá - porque ninguém te vê mesmo, trust me -, enfim, curtam bastante esse pedacinho charmoso e aconchegante da cidade que nunca para, do qual nunca se esquece. Ah, e façam uma prece - e um brinde - por mim!

Beijos a todos!

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