sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Não analisa, não

É sabido que o ser humano tem como necessidade básica o direito à válvula de escape. É esse momentozinho de prazer que amortece as quedas, que equilibra a cabeça em cima do pescoço - afinal, extravasar faz bem à alma, não é mesmo? Bem, a verdade é só uma: nem sempre. A pressão acaba sendo diretamente proporcional à precisão de se viver o carpe diem a qualquer preço. O resultado? Alucinação coletiva, até que haja um desejo gradual de alívio alternativo. Contudo, num momento em que beber é doloroso, consumir é inviável, comer é errado e suar a camisa não sossega todos os leões que urram dentro do peito, o jeito é fazer uma análise.
Analisando-me descobri coisas incríveis, triviais e perigosas ao mesmo tempo. O mais óbvio - e talvez por isso tão surpreendente - é concluir, depois de meses de exposição gratuita de cada mazela pessoal a um total desconhecido, que você - e só você - pode mudar o rumo da sua história, virar o jogo de uma hora para a outra. Por que esse processo pode levar uma vida inteira? Perfeccionismo  + prepotência: uma bomba caseira pra psicólogo nenhum botar defeito. Tenho TOC, luto diariamente para deixar meu entorno literalmente mais bonito, limpo e organizado. Tornei-me uma pessoa careta e uso as roupas que passei a infância desenhando para minhas bonecas. Vocação reprimida? Vidas passadas? Culpa dos pais? Almeja-se ser grande, ser livre, e ainda assim o dia não termina sem que a culpa de cada insucesso recaia sobre alguém ou alguma coisa. Sinto-me impotente à noite e insistente pela manhã, alheia às notícias de novos tempos que não me dizem nada. Mas... a esperança sou eu, ora essa! A construção da verdade está intimamente ligada à minha entrega, sem máscaras, sem nuvens coloridas. Mentir para si mesmo só estende a distância, assim como confundir essência com qualidade essencial. Agora sei o que me diverte e o que me incomoda, simplesmente porque olhei com honestidade para mim, para vocês e para o mundo lá fora - e tentarei não me sentir mal se amanhã a verdade for outra. Deixo que o futuro elabore a pergunta: condicionamento ou rebelião? A vida em sociedade já condicionou tanta coisa que a sistematização das relações não me soa mais tão absurda - e na pior das hipóteses me impede de colocar o coração na mesa... O caso é que, felizmente, tive tempo para deleitar-me com o carpe diem quando a hora era oportuna, e talvez por isso penso, quando a vontade aperta, que libertinagem depois dos trinta é algo sofrível, próprio de quem nasce, cresce, reproduz e morre como pede a natureza.

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