quarta-feira, 6 de maio de 2009

Labirinto

Um dia eu acordei meio desconfortável. Senti como se estivesse presa. Olhei para todos os lados e percebi que havia uma bolha ao redor de mim. A princípio, ri sozinha. O que será isso, pensei. Ri mais um pouco, e cinco minutos depois comecei a ficar meio nervosa. Toquei nas paredes da bolha que me envolvia e não consegui sentir a textura. Tentei ficar em pé, mas não podia. Gritei, mas ninguém me ouvia. Considerando meu humor cítrico, seria difícil topar com algum visitante àquela hora. Pronto. Não conseguia ficar em pé, meus movimentos eram limitados, o ar ao meu redor ia sumindo e as pessoas pareciam pertencer a outra dimensão que não a minha, parecia algo surreal. Tentei rolar para um lado, mas me ralei toda pela absoluta falta de coordenação. Quis chorar, mas percebi que meu choro abafaria tudo lá dentro, e evaporaria qualquer idéia mais coerente. Pensei, pensei, pensei muito. Pensei que ficar dentro da bolha poderia ser bom, já que eu estaria protegida dos males do mundo. Não seria mais um pedaço de carnes jogado aos urubus, seria bem cuidada, observada, adorada. Me questionei ao mesmo tempo se a vida poderia ser resumida àquilo - receber o que vem de fora, e ser simplesmente incapaz de oferecer algo em troca. O ar começou a faltar, meu choro começou a vir e eu deixei a falta de sentido roubar a cena, sem saber o que viria a seguir. Acordei com a mão no bolso instantes depois, e descobri que dentro dele havia dois clips. Desdobrei um deles e, com muito esforço e pesar, estourei a bolha. Ela caiu como uma pelanca de sonhos verdes em cima da minha cabeça, pesada, molhada e indisposta. Com o outro, fiz uma chave sem cópia para meu labirinto, e ainda espero resposta...

5 comentários:

  1. Sai daí menina! Vai ficar perdida. Quer a mão? rsrsrs
    Muito bom Érika, parabéns!

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  2. Como você pretende me dar a mão se não sabe onde vai dar o labirinto?

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  3. uau! à la Kafka. no início do seu sonho/conto me lembrei de Gregor Samsa. aqui, tudo muito bom, viu? Parabéns!

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