domingo, 8 de março de 2009

Sonhos medíocres

Os sonhos se sustentam sobre nossa alma infeliz. Se põem de pé e até fazem ginástica em cima de nossas pequenas cabeças. E para as pessoas ordinárias que povoam nosso medíocre universo, os sonhos movem montanhas, nos movem para além de nossas pobres coitadas perspectivas, nos tornam seres humanos de sucesso. Que paradoxo! E assim, o planeta vai trocando a ira pela esperança. Engraçado... E as pessoinhas vão crescendo e aprendendo com os pais, amigos, traficantes e demais seres do mundo a criar seus pedacinhos de céu. Na televisão, vários são aqueles que com orgulho transmitem a imagem do que é ser alguém, exibindo seus carros, suas grandiosas casas e suas bundas lipoaspiradas, seus pequeninos escândalos enquanto bêbados de poder, atropelando as leis e as pessoas, atropelando a confiança e os valores dessa gente comum, ordinária – não mais que eles, no entanto. Por que as pessoas não são como as coisas, felizes somente por estarem ali ou aqui, sem levantar aquele dedinho pra reclamar, sem dar tudo que tem por uma vaga no paraíso... Tão grande é o céu que nem sequer nos é possível escolher um lugar mais apropriado pra morar pra sempre. Mas será mesmo pra sempre? Tem gente que acha que sim, tem gente cuja fé supera em milhões a ignorância. E lá se vão as pessoinhas! Sempre com medo de um tornado, de um castigo dos céus ou dos homens, sempre com receio de que aquela mentirinha seja descoberta. Aí elas se entregam de corpo e alma àquela igreja, àquela causa social, àquela leitura, àquele sonho, a tudo aquilo que tenta dar razão ao nosso absurdo, ao nosso caos. É quando aparece aquela outra pessoa ordinária, tanto quanto você, cheia de dúvidas e certezas inventadas. A vida está difícil, o dinheiro nunca é muito (porque nos sonhos sempre será maior) e aquela outra pessoa está ali, falando na ruptura dos impérios, na desigualdade entre irmãos, no fim dos tempos... puxa, quanta perspectiva, quanta visão de mundo! É quando a única verdade possível se manifesta, ali, bem diante dos seus olhos: aquela pessoa pode mudar sua vida, seu universo de torpezas e seu desânimo para continuar procurando por aquilo que será capaz de te tornar completo. Aquela pessoa não é como as outras, mas como Jesus para os de muita fé , como um prato de sopa para os que gostam ou que precisam, como morfina para os que se contorcem. É sensacional, e está ali. Ao seu alcance. Na verdade, vindo na sua direção. Como é possível que nesse aglomerado de ricos, pobres e angustiados, nesse paraíso de comuns e ordinários, cheios de dúvidas e certezas inventadas, haja um pedacinho de carnes com vontades tão próprias e capaz de despertar vontades tão próprias? O que você não vê é que aquela pessoa é ordinária, tão ordinária quanto você. Mas para que se apegar a tantos detalhes? Quanto mais se pensa, menos se sonha. E os sonhos se sustentam sobre nossa alma infeliz. Se põem de pé e até fazem ginástica em cima de nossas pequenas cabeças. Tudo se torna tão diferente daquelas perspectivas furadas das pessoas ordinárias... Agora você não é mais uma reles pessoinha: você é alguém que tem em mãos o “Emplasto Brás Cubas”, o poder da vida eterna! É nesse devaneio frívolo – e tão solitário – que o amor acontece.

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