quinta-feira, 5 de março de 2009

Capítulo 11 – Tudo vale a pena... né?

Ei, gente,

Bom, como várias pessoas já me perguntaram sobre minha casa, trabalho, enfim, esse tipo de coisa, sinto que agora dá pra responder tudo isso sem rodeios e sem expectativas de uma mudança radical, até porque já rolou tanta água debaixo dessa ponte que o rio secou.

Comecemos do começo. Érika, brasileira, solteira, 28 anos, chegou em Londres direto em casa de Madame Satã. Paguei £60 de táxi do aeroporto até a minha casa, porque minha grande amiga Marinão... digamos que... atrasou-se um pouco para me buscar, e como a conheço bem e de outros carnavais, entendi que ela devia estar sonhando com a minha chegada, numa nuvem azul, no meio do nirvana. Vocês devem estar se perguntando: tudo bem, você teve que pegar um táxi, mas sessenta pilas britânicas? Digamos que com 50% de deslumbramento e 50% de toupeirice, peguei o black cab, que é o táxi mais caro da cidade. Mas quando você acaba de chegar, achando que é uma pessoa internacional com dinheiro internacional, nada é problema! Sendo assim, paguei as £60 pilas achando que eram R$60 - que já é carérrimo pra um tx - e comecei minha jornada.

Nas primeiras semanas, decidi que iria curtir a vida adoidado, e vcs já sabem da missa a metade - fui a vários lugares legais, tomei todos os tipos de bebida, conversei com todo mundo que podia pra testar meu inglês, resumindo - a todo vapor! Me sentindo uma cidadã RICA de Londres, não me dei conta de que meus frágeis reaizinhos bravamente se despediam de seus irmãos em minha conta bancária e partiam rumo ao matadouro do consumismo. Resultado: hora de procurar um emprego!

Comecei a trabalhar num restaurante japonês como empacotadora de delivery e em pouco tempo fui promovida a atendedora de telefone do delivery/empacotadora, e em um mês já queriam que eu fosse garçonete/atendedora/empacotadora - ganhando o mesmo salário de £5.75 por hora. As gorjetas iam pra um mesmo potinho, que eles diziam dividir igualmente entre os garçons. 1) ganhei gorjeta quando trabalhei de garçonete, mas não vi a cor; 2) como eu não era oficialmente garçonete, as minhas gorjetas iam oficialmente para bolsos alheios; 3) numa escala de A a Z, o restaurante, do lado da minha escola e da minha casa, fica ao norte de K, e eu me mudei pra S, o que significa que gastava mais tempo pra ir e voltar do que trabalhando; 4) depois de duas semanas, reduziram meu horário de trabalho de 24 para 14 horas. Não preciso falar com vocês que um belo dia cheguei lá e disse que não voltava no próximo, que o chefe falou que precisava de mim e que eu tinha que ir no fim-de-semana e que eu cortezmente disse que iria, cheguei em casa e mandei uma mensagem pra ele dizendo que apesar de meu trabalho ser sensacional, altamente bem-remunerado e ultra conveniente, minha torpeza, vileza, insensibilidade e falta de espírito de equipe mandavam um abraço apertado de adeus...

Nesse meio-tempo, a escola rolando - e eu sem saber o que fazer. Até que tive a brilhante idéia de IR À ESCOLA pra variar! Conversei lá e me deram umas férias até eu resolver a vida. Aí começou uma nova saga - a saga da sobrevivência. A essa altura os reais que não tinham ido para o front foram mantidos reféns pelos juros e taxas do Banco do Brasil, e morreram lutando por dignidade, coerência e bom senso nos bancos brasileiros. Só não distribuí meu currículo em ambientes carcerários e áreas ligadas à prostituição - mas já sabendo que se o bicho pegasse, era só ligar pra filipina, hehehe.... E vocês podem imaginar que com toda a minha panguice, não deu certo - "Vc já trabalhou na área?" "Eh... não." "Nunca?" "Que eu me lembre? Não." "Nem um pouquinho assim, diz que sim, não seja assim, vai, siiiiiim?" "Bem, deixa eu ver... não."

E assim foi, até que num ímpeto de desespero... eu entrei no gumtree.com, o site em que se procura tudo e se acha mais ainda, e postei três anúncios. 1) posso ser sua babá - amo crianças, sou super divertida, vamos quebrar sua casa, blablabla; 2) professora de inglês brasileira procura emprego na área educacional; 3) cantora e compositora procura banda de rock sossegado, estilo Velvet. Adivinhem em qual recebi a primeira resposta...

Acertou quem optou pela alternativa 1 - uma mãe me escreveu querendo que eu fosse babá de seu filhinho de 2 anos. E se eu fosse uma psicótica, gente? Essa galera não tem medo do desconhecido mesmo... Anyway, já estava pensando em quanto iria cobrar, olhando o endereço no googlemaps, quando de repente meu telefone toca. MEU EMPREGO ATUAL! Simples assim! Me ligaram 10 minutos depois que eu postei a mensagem, meia hora depois já estava fazendo a entrevista - detalhe: fui a pé pra entrevista - e no dia seguinte já estava lá às 9 da manhã pro treinamento. O lugar se chama TLE - The Learning Edge! - e eles oferecem cursos gratuitos de inglês, matemática, informática, ajuda com o currículo, esse tipo de coisa. Os cursos são online e os alunos podem estudar em casa ou ir ao learning centre, que é basicamente um laboratório de informática. Sou monitora desse curso, e de segunda a sábado, de dez às quatro da tarde, ajudo a galera - mais a usar o computador do que a fazer o curso, porque os alunos são ou estrangeiros com passaporte britânico ou ingleses mais pobres, e muitos nunca usaram um computador, dá pra acreditar? Bangladesh tá toda aqui, Paquistão e Índia vieram pra ficar, e o povo não para de se multiplicar, por causa dos inúmeros benefícios do governo para os filhos de Londres. Fui do núcleo rico ao pobre da novela, gente, de norte a leste, passando ocasionalmente pelo oeste, que é lindo também. O que me chamou atenção foi a questão do preconceito - ele existe, mas vem de onde menos se imagina...

Me despeço em vibe lerê-cinza - que situaçãaaaaaaao, hein, Fabricets?

Bjos, bjos, bjos!!!

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto!Muito bacana!Só estou preocupando com o tanto que você está bebendo!!!Toda vez que entro no seu blog,cê tá virando um copo de cerva!Que situação!!Sai dessa!Bjão!

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  2. Que bom que vc curtiu, Fabricets! Quando vc ficar menos careta eu te convido pra tomar uma comigo, viu? Bjo!

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