quarta-feira, 18 de março de 2009

Capítulo 13 - A modern love story


Nossa, gente, se tem uma coisa que os ingleses fazem mais do que a gente é beber. Que isso, até eu, ser belo-horizontino, tive dificuldade para acompanhar. Mas não se preocupem, não fiz feio também, não. Essa coisa de morar com os pais desde a data da concepção é complicada, porque quando você mora relativamente sozinha, a cabeça fica um pouco louca... O momento das compras então é uma coisa fantástica: você olha pro seu carrinho e se dá conta de como o que você pegou reflete sua pouca prática e entrega sua imaturidade completamente. Miojo (porque não sei cozinhar, claro), Danoninho, sucos de caixinha, pão de forma com mussarela (elementar!) e bebidas, cervejas, vinhos e muita água com gás pra dar conta de melhorar tudo depois. A minha casa era tão, mas tão gostosa, tão aconchegante e agradável que só queria ficar lá. Eu “morava” no mezanino do escritório, super quentinho e agradável, e ainda por cima o Gordon, proprietário do local, tinha mil livros super legais e uma coleção de filmes surreal – ele é membro do BAFTA, um órgão que vota nos filmes para o Oscar, olha que chato! Além disso, a sala contava com uma mesa-video game do Space Invaders e um joy stick do Pacman... Dá pra imaginar o quanto eu estava no céu, né? Só tentem visualizar: uma pessoa que quando resolveu levar uma latinha de cerveja pra casa aqui no Brasil foi taxada de alcoólatra, e que agora tinha a geladeira toda E O QUINTAL pra cultivar seu doce hábito – lá tava tão frio desde outubro que a gente colocava a cerveja no chão do quintal pra gelar –, aliado a mil filmes e livros e uma galera super híper gente boa pra te acompanhar... O MUNDO É BÃO, SEBASTIÃO!!!

Tão bom é o mundo que surgiu uma questão: uai, minha filha, vamos fazer as unhas de vez em quando? Tá tudo tão bonito e mágico que vc podia aproveitar e ser sua própria manicure/depiladora/esteticista, enfim, um pouquinho mais civilizada – coisa que eu a essa altura nem sabia mais o que era... Resolvi fazer as unhas um belo dia. E como todas as atividades atléticas e/ou solitárias, só dava certo com uma trilha sonora ao fundo. Assim foi: lavei banheiro, tentei cozinhar, comi e tomei banho em menos de uma hora, e levei três pra fazer as unhas. A melhor parte: tudo isso ao som de uma boa música. Foi aí que me dei conta que a melhor música pros momentos de solidão e reflexão vinha de Amy. Ela respirava e eu entendia do outro lado. Ela soltava a voz e eu chorava, e limpava meus pulmões, meu coração, meus dilemas mal-resolvidos, minha solidão particular, meu universo incompleto. De um dia pro outro, me apaixonei à primeira nota por Ms. Winehouse.

Em outubro e novembro passei muito tempo sozinha em casa, pq todo mundo trabalhava. Nesse período, Gordon me ensinou a fazer omelete – thx, mate, my salvation! - e Sam, um ser LONDRINO (aleluia) que morava comigo, me ensinou a fazer macarrão (haven't managed to do sth good so far, but I'll make you proud someday, TRUST ME...). Fazia as comidas que aprendi, sempre regada¹ a um bom vinho ou a uma cerva ótima, e tudo ficava mais bonito, gostoso e pedindo o tempero de minha amiga Amy. Cada música temperava uma ocasião.

E dessa maneira, essa pessoa que vos narra foi entrando no mundo mágico – e conturbado – de Amy Winehouse. Comecei a ler sobre ela – o que não era difícil, já que ela estampava todos os jornaizinhos de metrô diários – e descobri a razão para seus ímpetos e desencantos: um bloke chamado Blake, com quem ela mantinha uma self-destructive-Romeo-and-Juliet relationship. É claro que a essência da pessoa reflete sua própria natureza – em outras palavras: claro que ela já carregava o gene barraqueiro, Joselito e não-tô-nem-aí de outros carnavais –, mas o cara ajudou bem a pirar a cabeça dela. Lia sempre que ela tinha se tornado junkie por causa dele, que o amor deles era uma coisa louca, sem explicação, e via declarações dele dizendo que seu amor por ela era tanto que tinha que deixá-la, porque queria que ela fosse feliz, que saísse das drogas. Via fotos dela esquelética, sempre mal, chorando por causa do cara, mas uma choradeira pra todo lado que não tinha noção, gente... Miss Amâncio, que já gosta pouco de histórias românticas com todas as suas complicações, mergulhou de cabeça nesse conto de fadas londrino e tomou as dores de sua amiga e do companheiro. Comecei a me questionar sobre o papel da mídia na sociedade, sobre o inferno que esses paparazzi fazem na vida das pessoas, sobre a dificuldade de se manter um amor como esse in the public eye, e pensei na quase impossibilidade de ser feliz quando existe uma expectativa tão enorme em cima de você e você não é seguro de si o suficiente para mandar todo mundo pro inferno sem precisar chafurdar na lama, como faz muito elegantemente a Helena de Tróia do século XXI, Gisele Bundchen. Eu torcia por eles e acreditava que ela iria se curar, que ele iria sair do buraco, que eles iriam conseguir ser pessoas melhores e inaugurar uma nova fase na relação. Tomava vinho a rodo e lia, e pensava, e tomava vinho, e ouvia as músicas e imaginava que só mesmo um amor de doer o peito pra inspirar tudo aquilo, e chorava, e pensava em amores impossíveis e meu coração doía, até que...

Blake-bloke, que estava preso, foi pego trocando cartinhas de conteúdo mais que impróprio com uma outra figura, que não sei se é fã, presidiária, mas não importa;

Amy, flagrada em VÁRIAS outras companhias íntimas – parece que desde sempre –, foi à cadeia e relatou todos os chifres ao marido;

Bloke pediu dinheiro a Amy pra sair da cadeia, ela não deu e ele saiu sem abanar o rabo;

Eles estão atualmente agilizando a papelada do divórcio.

Assim. De uma vez, na lata. Que bomba, pensei. Pensei mais um pouco. Levantei, joguei o vinho fora, troquei de roupa e fui procurar um Bloody Mary acompanhado de uma nova história. Continuo ouvindo as músicas, porque elas expressam um sentimento muito nobre de maneira fiel, e também porque a inspiração é efêmera assim como sentimentos podem ser. Mas depois de ler as últimas notícias, me apressei em tomar um bom banho de suco de tomate e vodka com um limãozinho de realidade no copo. Ah, e - claro! - troquei o Romeu e Julieta por Noites Brancas...

Bjos, baci, besitos, kisses!

¹ Nota: era EU quem estava sempre regada, e não as comidas, o que justifica a concordância verbal.

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