sexta-feira, 26 de abril de 2013

Todo o amor que houver nessa vida

E foi assim que me peguei pensando nela às 3 da manhã. Sem cerimônia, sem vestido de festa, sem laço no cabelo, sem dia de sol. Chovia, e ela caminhava por entre as gotas e ria-se muito, e agradecia porque finalmente a chuva tinha chegado. Tinha as palmas das mãos viradas para cima como em uma prece, e mirava o céu com a ponta do nariz. Lágrimas impiedosas despencavam das nuvens e iluminavam seu rosto, enquanto seus cabelos fechavam os olhos e deitavam-se confortavelmente sob a água que os acarinhava. Parecia completamente alheia ao momento; falava com ela mesma (ou será que era com os corações que estampavam sua capa de plástico?) e atravessava a praça devagar, e via damas da sociedade assistirem incrédulas àquele belo espetáculo enquanto tentavam proteger seus cabelos recém-escovados e suas bolsas e sapatos de grife. Eu mesmo parei o que estava fazendo para observá-la; sua graça e seu descuido pareceram me dominar e por algum tempo com qualquer duração meus olhos a seguiram sem pensar em nada. Senti uma onda de calor inundar meu corpo, algo como um dejavu acentuado, e soube que esse era o momento pelo qual esperamos a vida inteira. Não me pergunte por quê: eu apenas sabia, assim como soube que precisava sair dali e juntar-me a ela, e deixar que a chuva me abraçasse e me devolvesse a paz, a esperança de dias melhores ao lado de uma moça bela e idealista, que dispensava apresentações e guarda-chuvas. Muitas foram as vezes em que esbocei um ímpeto de qualquer coisa que não foi consumada. Meus olhos continuaram a acompanhá-la; deixei que ela se fosse. Não tardou para que, ao seu lado, surgisse um belo cavalheiro. Ao invés de juntar-se a ela e proclamar a revolução, ele envolveu seu corpo trêmulo em um casaco confortável, e sobre seus cabelos ergueu um enorme escudo negro. Ela secou o rosto com as mãos e seus lábios arroxeados ganharam novas cores enquanto ela lhe sorria. Caminharam assim até que eu os perdesse de vista; tive a sensação de que aquele cavalheiro ainda hoje deve habitar seus mais doces sonhos. Por vezes penso que posso ter tornado a vê-la e imagino como seria sua vida, que histórias contaria. Seria ela cantora, escritora, fã de futebol? Poderia aquele olhar singelo ser calculado? Será que o deep inside me teria desanimado? No dia em que ela habitou meu sonho involuntário, soube que em algum plano nossas almas haviam se encontrado, e senti inveja do cavalheiro que deu vida à história que guardo dentro da gaveta, no fundo de um armário fechado.

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