sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A lenda do cavaleiro andante

Mais do que às vezes a gente procura sarna pra se coçar, loucura pra se apegar, e consequentemente promessa pra pagar. Pra não admitir que é, a gente fala que está, e paga pra ver o circo pegar fogo. Uma amiga me disse certa vez que não era gay; estava gay. Tem uns dez anos que dura essa fase. Todo mundo anda tão liberal, tudo é tão relativo que qualquer coisa que você entender é culpa sua, no matter what. Entendeu? Percebeu? Sim? Não? De qualquer maneira você se fodeu. Bom, ruim, estranho, você acha, o outro pratica... A moda agora é usar frases esparsas. Acho que não consigo dizer que te amo, mas não importa: eu admito, te amo - desculpe. Uau, que efeito! Te diz alguma coisa? Ainda não cheguei no ápice cult de achar aqui um quê de alguém disse algo. Aliás, não acho nada - mas aprecio a intenção e o gasto de energia. Nada contra o uó-modernismo, apenas tenho estado... digamos... mais prática. E por falar em estar, tenho achado que muita gente anda a colocar a culpa dos lapsos de compreensão no estou assim. Todos nós conhecemos algum  membro da comunidade que está alcoólatra porque a vida está muito boa ou uma verdadeira merda. A cidade está povoada pelos sujeitos que estão maconheiros porque a vida é um barato, mas sabem que aos 58 é capaz de a coisa mudar um pouquinho. Há ainda aqueles que têm a plena convicção de estarem infiéis, porque a sabedoria popular garante que para apimentar a relação, nada como uma pimentinha alheia. E o eu sou, cadê? A gente tem tantos estágios temporários que em um certo ponto da estrada, perdemos aquele crachá escrito "você". Procuramos na gaveta, debaixo da cama, dentro do carro, da bolsa; procuramos nosso coração como quem procura uma chave; tatuamos palavras de outros e deixamos as nossas para trás. Você precisa de amor, mas não se compromete, não se relaciona, não se doa. Você tem necessidade de uma vida sem que ao menos pare o que está fazendo e construa! Você se olha no espelho e enxerga tudo o mais, e pensa que ninguém sabe o quanto se perdeu. Você bate forte na mesa e se pergunta: mas afinal, o que é que nós somos? Eu  me atrevo e te respondo: somos aquela argila grosseira e barrenta que serve de matéria para os nossos sonhos.

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