segunda-feira, 21 de setembro de 2015

"Os olhos que não queriam dormir"*

A gente tem sempre aquele dia de tensão, de confusão que dói a cabeça, embaralha as ideias. Não importa o que a vida te diga - na verdade entender o que a vida te diz é uma arte no fim das contas. Naquele dia de tensão a gente não diz que sim nem que não... fica meio a ver navios no mar que é sempre mais verde pra uns do que pra outros. Temo não descobrir por que a gente sonha com coisa ruim, por que é assim tão complicado crer no que está lá pra gente ver - ai de mim! Se o ontem se chama passado, por que diabos ele se espalha pelo dia de hoje, por que me aflige tanto, por que me confunde a ponto de doer a cabeça... por que ocupa uma parte tão grande das minhas sôfregas ideias? Obrigo-me a viver a bonança enquanto a tempestade brada lá fora, e fecho as janelas e tomo um chá e tento ler um livro e desejo que o sono chegue logo pra que eu me esqueça do quanto pode ser paradoxal a gente querer se bastar mesmo sendo bicho que nasceu pra viver junto. Ontem me abracei à minha velha almofada cor-de-rosa e me aninhei à metade da cama. Tinha brisa, chocolate, mate e sanduíche; tinha resquício de banho de lagoa na pele, sol nos cabelos, Gabriel García Marques e arquivos piscando pela noite afora. Em sonho um homem invadiu a minha casa. Eram três horas da manhã e eu tive medo de me levantar, de procurar, de checar, de viver. Me invadiu o medo de passar por isso sozinha, de acordar mais uma vez às três da manhã e rezar e tomar um copo dágua e voltar pra cama e falar com meus botões e ler outro conto peregrino em voz alta e pedir a Deus que por amor a qualquer coisa me deixe dormir porque às segundas fico cansada demais, porque agora tenho que acordar mais cedo, sair mais cedo de casa, me preparar melhor pra zarpar às 6:30 e retornar às 23:30 com cara de pessoa bonita e descansada. Não é o tipo de coisa que gera qualquer alarde - o problema de todo mundo é do mesmo tamanho, blablabla. O que eu queria mesmo era sentir o corpo, a alma e o coração em paz, como se finalmente meus olhos pudessem dormir.

*Esse é o nome de uma das historinhas mais lindas que já li. Fica aqui a homenagem.

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