domingo, 16 de dezembro de 2012

Canhoteiro

Meu pai foi uma daquelas pessoas que foram forçadas a escrever com a mão direita na escola, como a maioria dos canhotos natos daquela geração. Nunca vou entender por que ser canhoto era proibido; cada um fala uma coisa, mas só o que se sabe é que a letra do meu pai virou um hieroglifo que mais parece resultado de eletrocardiograma, um emaranhado de ups and downs que sentia-me orgulhosa por conseguir decifrar quando era ainda pequena. Apesar de ter passado esse gene canhoto para mim, minha irmã e meu sobrinho, meu pai nunca escreveu com a mão esquerda, porque quando o erro de ser canhoto tornou-se uma qualidade exótica, ele já havia se habituado a tentar domar o lápis com a outra mão. Se de um lado a escola foi inflexível, do outro o futebol foi generoso: deixou que meu pai fosse canhoto, que brilhasse e fizesse seu nome com a força de sua perna esquerda. Ser canhoto de pé não era pecado nem representava qualquer tipo de maldição ou malefício, e penso que devia ser até bem interessante, porque até hoje, tantos anos depois, ainda se fala daquele menino comprido, franzino e danado de bom com uma bola no pé. Pra você, Seu Hélio Caetano, o eterno Canhoteiro, a minha homenagem - antes do dia 25/12, mas já com gosto de presente de aniversário, hein? Adorei te ver assim magrinho, pai ;) Ainda bem que agora essa foto vai ficar guardadinha aqui no garrastazu, pra posteridade...

PS: Será que qualquer semelhança é mera coincidência? Acho que não...

2 comentários:

  1. Nota: Meu pai jogava no time da sua cidade, o Dorense Juvenil, e ficou conhecido localmente por seus talentos. Quando penso nas minhas inclinações para o futebol, a sinuca e o leite puro gelado no copo, não tenho dúvidas quanto à herança genética...

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