sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Purple haze

Quando ele disse que não queria mais, ela levantou-se e saiu. Muda. Calma. Sílvia. Sílvia, ele gritou. Só quem não sonha dá as costas, ele bradou vermelho, tenso. Descompassado. Ela interrompeu a caminhada. Virou-se e sorriu. Eu não te quero mais porque te amo, Sílvia, por que te amo tanto... Por que o amor pra mim é assim: se bater o coração não tem jeito. Ela arrumou o cabelo, piscou longamente. Você entende o que eu sinto? O ardor na minha pele só de olhar pra você? Me olhe, olhe esse descontrole, meu desespero. SÍLVIA! Ela limpou o pigarro da garganta, covinha à mostra. Mas não falou. Pôs as mãos nos bolsos. Respirou fundo. Olhava o agora ex-companheiro com curiosidade. Por tanto tempo você foi o meu sonho, Sílvia, por quanto tempo te pensei e te quis, ah, como te desejei! Sabia de cor cada um dos seus sorrisos, todos os seus penteados. E você... você... nem sabia que eu existia, nem me notava! Por que agora? Por que é que de repente você me olhou e me quis? Esse tipo de coisa não acontece de repente, depois de tanto, tanto... Sílvia, eu duvido que você me ame. Eu te quis tanto, por tanto tempo, que agora que você me quer não faz sentido. Não entendo. Não aceito. Não tem condição você decidir a me amar assim, de uma hora pra outra. Será que você acordou um belo dia e pensou Puxa, mas não é que esse cara é até interessante? Você não me ama, não, Sílvia. Mas eu sim. EU... eu te amo. Te amo tanto que tenho vontade de te matar. Sempre que estamos juntos penso nisso. Sinceramente, Sílvia, já que chegamos a esse ponto, tenho mesmo que dizer. Se continuarmos juntos eu vou te matar. Por isso preciso te proteger, preciso te deixar, você entende? Ela assistia a tudo impassível. Que espetáculo! E o pior, o pior é que agora não consigo mais tirar isso de mim. Não consigo mais tirar você da minha vida, e com isso nunca vou deixá-la viver a sua. Não consigo sequer imaginar outra pessoa te tocando, não é possível. É isso. Ou eu te mato agora... ou vou ter que me matar. Case-se comigo. É nossa única saída. Sílvia deu uma risada. É o pedido de casamento mais engraçado que eu já vi! Beijou o namorado. Você não tem jeito... Pegou-o pela mão e atravessaram a praça da Liberdade, rumo ao cinema. Sempre muito descontraído, ele ainda teve tempo de afrouxar o durex das costas e desfazer-se do punhal pelo caminho.

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