segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Bella

Querida Érika,

Hoje li uma mensagem sugerindo que eu escrevesse uma carta a você. Talvez eu já tenha feito isso algumas vezes, em primeira ou terceira pessoa, mas acho que não em forma de carta. Enfim... Quis te escrever porque por vezes percebo a sua confusão sempre que tenta entender o que foi que te trouxe, o que te leva e por que ser você, desse jeitinho mesmo. Você nasceu formiga em corpo de cigarra, cigarra com alma de formiga, capricorniana da gema. Trabalhar sempre foi uma prioridade, mas por dentro explodia aquela vontade de subir no palco, tomar posse do microfone e cantar pra uma ou outras pessoas, cantar de olhos fechados, cantar e fazer mil gestos do tamanho da sua alegria. Gostava de se ouvir soprosa, arranhada, sôfrega, visceral, antiprimorosa, contravirtuosa, na contramão da cigarrice integral. Pois que do lado esquerdo do peito bateu, bate e baterá seu coração de professora, de leoa, de existência mais macia do que dura, de gente que nem pensa em desagradar nem em parar de escrever, que ainda deseja uma coleção de abstrações piegas de tão importantes. Esse barco foi se moldando conforme as tempestades - a cigarra deu lugar à formiga assim que a escola acabou por pura necessidade. A formiga foi tomando forma mas as notas saíam sem querer. De repente não era formiga nem cigarra - era dona de casa que não era sua, incompreendida, bicho doido que não cabe em coleira. O tempo passou e você serenou nessa vida de formiga que bota o coração pra bater forte de medo, êxtase, audácia e orgulho. Hora pra acordar, dormir, dinheiro contado, uma casa bonita que a cigarra visita batendo os chinelos velhos no chão com um ritmo quase ensaiado, nostalgia de quem queria ter mais fé e esperar pela sua hora de ver estrela. E de repente estão as duas ali, olhando uma pra outra com um quê de angústia; nessa hora sinto seu coração doer e fico querendo que você entenda uma coisa só: você canta e trabalha, você sorri e pensa, você se quer bem e tem a classe que bloqueia a vileza, a baixeza e a injustiça. Você sente correr nas veias aquela mistura quente, humana e se arrepia toda, sem entender que é ela quem revela tudo o que há aí dentro de mais genuíno, raro, precioso.

Que o bem sempre te habite, que os céus te guardem, que a coragem e a sorte te guiem.

Eu acredito em você.

Paz...

Érika

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