segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Dez minutos

O que dá pra escrever em dez minutos? Talvez alguma impressão sobre o que me intriga mais... É só parar o relógio por uns momentos pra lembrar que tenho me sentido estranha, confusa até, querendo ser uma coisa só, engolir minhas preocupações com farinha, não pensar em nada, ir vivendo mesmo, correndo, comendo, fazendo o que eu acho certo e me convencendo de que a vileza alheia é exatamente o que é: alheia. Em dez minutos piso no chão  quente da praia, sonho que corro sem cansar pela areia fofa e fico ansiando por mais um pouco, e peço a Deus que por favor me leve pra pescar num lago que tenha peixes e jogue a rede por mim. Em dez minutos eu tomo banho e choro baixinho sem saber sabendo de onde vem esse quê de desespero com cara de desesperança; desejo em silêncio que as pessoas boas tenham uma vida boa, que as ruins aprendam a viver direito, que as fracas queiram com todas as forças resistir às fraquezas terrenas - que a nossa carne seja nobre de tão forte, que o nosso espírito tome a frente do que nos resta e, como o doce Falkor, irrompa pelas nuvens da superficialidade que assola nosso tempo e me convença a confiar em gente grande, a acreditar que há outros como eu, que veem o que é bonito sem precisarem olhar, que aprenderam a apreciar a própria companhia, que respeitam o outro porque sabem se respeitar, que comemoram cada nascer do dia, que caem sempre mas dificilmente no mesmo lugar. Em dez minutos eu passo os olhos por esse grande livro de memórias com nome difícil e percorro as tantas ruas da minha vida, hoje vazias. Novas ruas se estendem sob meus pés descalços e eu fico aqui pensando que em dez minutos daria pra chegar esbaforida àquela praça, dizer eu te amo e parar de ouvir o rádio, o som do motor... pousar o corpo em seu coração falante até o medo se dissolver na respiração - sobre a cabeça luz, paz e o canto dos passarinhos.  

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