sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Microcosmo

Não é novidade que eu ando sempre apressada, como o coelho da Alice. Relógio em punho, passo o dia brincando de contar minutos - calculo o tempo máximo para realizar uma tarefa e espremo o comer, beber e tomar banho no espaço entre duas atividades estacionadas na minha trilha mental. No computador música clássica, vã tentativa de fazer a cabeça borbulhar menos um pouquinho. E aí vem o trânsito... Escolhi a tarde para dirigir loucamente, nesse esquema de cronometrar cada segundo até chegar em todo e qualquer lugar. À tarde não tem jeito - me atraso. Carro demais, gente demais fazendo sabe-se lá o que naquele horário em que deveriam estar todos trancados no escritório. Eu? Pateta no trânsito, of course! E lá se vai a coelhinha simpática... Trilha sonora: Strokes, Ramones, Prodigy, Delinquent Habits, DMX (auuuuu), Cypress Hill. No talo. Vou cantando alto, trocando de pista como se dançasse um bolero pela estrada afora, cabelo mais desgrenhado a cada esquina. Coração batendo forte. Lembro que tenho um coração quando aquela adrenalina faz formigar meu corpo todo, até eu entender - bem devagar - que pra gente ser muito importante na vida de alguém tem que primeiro ser pouco importante; que a prática é inimiga da novidade; que adulto também gosta de passear de carro; que querer só é poder se você deixar pra lá e ligar o foda-se; que foda-se é uma palavra muito libertadora; que não precisar de chapa ou escova é motivo de sobra pra agradecer, porque você pode deixar o vento entrar e fazer a festa. Ligo meus rocks e raps bem alto e percebo o quanto esse momento é importante por ser um tempinho meu comigo, uns minutinhos pra eu ficar alheia a tudo o que me cansa e me consome - rio sozinha, fico achando que canto bem, faço coreografias, passo umas coisas no rosto pra dar um up, checo meu telefone e até leio uns textos quando o tráfego permite. Particular, eu sei; peculiar também. Abro a porta do carro e saio cantando, descabelada, até a próxima tarefa. Na cabeça, a vaga lembrança de que estou viva, muito viva... pronta pra fazer o que for preciso e receber o que tiver que ser meu em algum momento que não demande tanto da minha paciência ;)

Um comentário: