domingo, 23 de fevereiro de 2014

Porcelain

É preciso muita coragem para que um homem se declare. Ainda mais quando esse homem é oficialmente orgulhoso. Ele prefere deixar aquela mulher que mudará toda a sua vida passar a descer do palanque. Sim, ele sabe que aquela ali não é qualquer uma; ele sabe também que, se lutasse por ela de verdade, sem pensar em muita coisa ela o seguiria. É claro que ele sabe. Mas esse é o problema do orgulho: quem é oficialmente orgulhoso não joga pra perder. O interessante é concluir que exatamente por esse motivo ele perde. Perde, mas não sofre. Há sempre um plano B - aquela ex da escola, a atual que jamais haverá de abalar sua zona de conforto, sempre a exaltar sua masculinidade... a que deu mole na festa do trabalho, na casa da prima, na viagem à praia. E naquele relacionamento que não chove nem molha, ele salta sorrateiro como um gato em direção à próxima aventura. Não quer nada sério, só aquele frio na barriga que já não sente com a namorada de muito tempo ou a de pouca conexão. Aí ele conhece você. Éééééééé, ele pensa: estou oficialmente na dessa menina. Segue-se a isso um Puta merda!; atordoado, ele resolve estragar tudo com um comentário fora de hora ou uma das suas piores tentativas de sedução. Ela entende e decide estragar a sua festa - ri do seu palavreado, aceita a sua proposta. Trancado no quarto, ele faz que não com a cabeça, bate a mão na testa. E assim ele está oficialmente encrencado, até pedir baixinho que sua falta de palavras nade pra além-mar e reflita uma resposta que nada de bom vem a dizer. Devagar, ainda que ela espere acordada por uma última palavra, a luz perde a chama e se apaga; a memória daqueles olhos castanhos finalmente abandona-lhe o corpo cansado... lança-se em uma chuva de novas esperanças pelas cores do amanhecer.

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