Cá estamos... A uma distância comedida, já míope aos olhos, que teimosos fazem pirraça pra enxergar (e antes que você me diga onde deveria vir a vírgula, respondo que vai onde eu quiser, porque é assim que eu falaria, é assim que eu falo e é assim que vou contar essa história). A gente fala em história e cria-se de imediato um clima (afe que ao pensar nas vírgulas que a gramatiquice pediu que eu pusesse ali não respirei nenhuma, então guardem pra outra hora). Minha história é diversa ao mesmo tempo em que transita pelo comum, por se tratar de uma pessoa tentando (se) entender gente em tantos rodeios do mundo. Essa história é sobre mim e minha mãe, sobre o vazio, sobre o inimaginável, sobre o óbvio e o oblíquo das relações mais (e)ternas. Poderia dizer que conheci minha mãe quarenta e cinco anos atrás, mas hoje o que eu gostaria era de precisar as vidas, muitas delas, em que estivemos juntas. Em San Junipero a gente seria só a gente, mas nessa vida toda quantas fomos!... Os estilos, os cabelos, os discursos, os entraves, o afeto. O amor. As artimanhas do universo e/ou do nosso senhor pra gente sair chutando pedra e voltar pra mesma estrada, a princípio meio acanhadas, pisando nos cacos da ternura habitual, escorregando pela intimidade sólida, chegando a um acordo absurdo sobre coisa nenhuma, bandeira branca com um sorriso meio sonso, de quem entendeu que não vale a pena mudar esse script. Sou demasiado estranha, no corpo e na mente, embora passe (sensíveis, pasmem) por alguém trivial. Nessa estranhice aprendi a ouvir meus poros, meus estalares internos, o crescer das unhas a cada dissabor, o eriçar dos pelos ao som e à luz do descompasso do meu coração. Ouvindo aprendi a doer. Doendo aprendi a admitir. Admitindo aprendi a me arrepender. Arrependendo-me aprendi a amar e deixar ir, amar o que eu quiser, fluir com o resto, existir, que o co- é com quem merece, com quem pertence. Não vale a pena mudar esse script. Entendemos; sorriso meio sonso, bandeira branca, acordo absurdo sobre coisa nenhuma, escorregando pela intimidade sólida, pisando nos cacos da ternura habitual, a princípio meio acanhadas, chutando pedra e voltando pra mesma estrada, essa que tem vidas demais pra trás, que se sentimento fosse ano a gente já era galáxia, já era estrela, já era pó de cometa no azul do céu, ressoando infinitos.