sexta-feira, 23 de maio de 2025

I hope you can show me

I wanna know what love is - I want you to show me. I wanna feel what love is and I know you can show me. Esses versos me levaram anos atrás, anos à frente, em um looping Caverna do Dragão. What the heck  is the so called love? Conversas de boteco regadas a um bom vinho me levaram à minha infância e adolescência meio ferradas, meio sem direção, cem por cento zero culpa de ninguém, só vivendo as circunstâncias e pagando pela falta de guidance anos e anos no porvir. As memórias se embaralham na minha cabeça, mas o que sempre fica é heartache and pain. Heartache and pain. Ouvi essa música hoje e chorei junto com a pessoa que escreveu isso, provavelmente entre lágrimas, dúvidas, frustrações e expectativas (quem nunca?). É um balanço do que a gente viveu ao crescer, um medo de quem vai ler nosso diário secreto mais que público (fucking look at me) e achar que há acusados no tribunal dos ferrados from birth. É um pouco de tudo: a gente vai lidando com coisas que disseram que a gente não tinha que passar quando criança, nem quando adolescente, nem em época nenhuma, mas sem resposta praquela perguntinha capiciosa: mas então como é que se cresce? Como é que se amadurece? Quando é que se sai do ninho pra gritar a plenos pulmões SOU MINHAAAAAAAAAA?????? Sou minha hoje, aos 45, mas já era aos 42, já era aos 34, já era aos 22, já era aos... O antes desce a cortina e enebria de alguma forma o quando e onde da (transform)ação, mas ela esteve, está nos meus poros. Essa coisa de casta é algo em que a ONU, a UNESCO, o exército, a putaquipariu já deveriam ter intervindo há muito e muito tempo - I want you to show me! Essa HIGIENIZAÇÃO se espalha nos discursos ao redor do mundo e ditadores psicopatas mudam de nome e cor de pele e cabelo pra incutirem o mesmo terror: o da anti-vida. I wanna feel what love is - por que é so damn hard? De dentro da universidade a gente acompanha a tragédia que se instala nas escolas como em um tribunal de deuses do Olimpo (aliás, a gente é muita gente). Não sei precisar quem presta de fato atenção, mas fico atenta às reações - de pânico - de calma - de tristeza - de medo - de melancolia - I don't know if I can face it again... Olho pra minha casa, para o meu cachorro, fiel companheiro, e começo a ter um vislumbre do que é esse tal de amor, que a gente vê nos nossos pais, sempre tão distantes mesmo querendo estar próximos, em quem cuida, em quem sofre, em quem sorri no escuro de tudo... Can't stop now, I've travelled so far to change this lonely life! Não é amanhã nem ontem, o tempo cintila e te pede pra dar uns passos pra trás. Respire, reavalie, chore - muito - e grite se precisar. Tive um marido que disse "eu te dei o que você tem" e outro depois dele. O que eles não sabiam - e nem eu - é que o jogo da vida continua depois da casa do juiz, e que não tem casta nem classe nem coisa nenhuma que me impeça de subir e subir e subir... porque subir independe de grana, de trampo, de sonho. Subir só depende da sua força pra peitar o mundo e entender que you've gotta take a little time - a little time to think things over. Maybe when we're older we shall settle down. Até lá, I wanna feel what love is - I hope you can show me.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Infinito

 Cá estamos... A uma distância comedida, já míope aos olhos, que teimosos fazem pirraça pra enxergar (e antes que você me diga onde deveria vir a vírgula, respondo que vai onde eu quiser, porque é assim que eu falaria, é assim que eu falo e é assim que vou contar essa história). A gente fala em história e cria-se de imediato um clima (afe que ao pensar nas vírgulas que a gramatiquice pediu que eu pusesse ali não respirei nenhuma, então guardem pra outra hora). Minha história é diversa ao mesmo tempo em que transita pelo comum, por se tratar de uma pessoa tentando (se) entender gente em tantos rodeios do mundo. Essa história é sobre mim e minha mãe, sobre o vazio, sobre o inimaginável, sobre o óbvio e o oblíquo das relações mais (e)ternas. Poderia dizer que conheci minha mãe quarenta e cinco anos atrás, mas hoje o que eu gostaria era de precisar as vidas, muitas delas, em que estivemos juntas. Em San Junipero a gente seria só a gente, mas nessa vida toda quantas fomos!... Os estilos, os cabelos, os discursos, os entraves, o afeto. O amor. As artimanhas do universo e/ou do nosso senhor pra gente sair chutando pedra e voltar pra mesma estrada, a princípio meio acanhadas, pisando nos cacos da ternura habitual, escorregando pela intimidade sólida, chegando a um acordo absurdo sobre coisa nenhuma, bandeira branca com um sorriso meio sonso, de quem entendeu que não vale a pena mudar esse script. Sou demasiado estranha, no corpo e na mente, embora passe (sensíveis, pasmem) por alguém trivial. Nessa estranhice aprendi a ouvir meus poros, meus estalares internos, o crescer das unhas a cada dissabor, o eriçar dos pelos ao som e à luz do descompasso do meu coração. Ouvindo aprendi a doer. Doendo aprendi a admitir. Admitindo aprendi a me arrepender. Arrependendo-me aprendi a amar e deixar ir, amar o que eu quiser, fluir com o resto, existir, que o co- é com quem merece, com quem pertence. Não vale a pena mudar esse script. Entendemos; sorriso meio sonso, bandeira branca, acordo absurdo sobre coisa nenhuma, escorregando pela intimidade sólida, pisando nos cacos da ternura habitual, a princípio meio acanhadas, chutando pedra e voltando pra mesma estrada, essa que tem vidas demais pra trás, que se sentimento fosse ano a gente já era galáxia, já era estrela, já era pó de cometa no azul do céu, ressoando infinitos.