quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Rehab

Por que é que em cima da minha cabeça está sempre nublado? Por que é que a todo tempo penso em correr rumo a um portão que está fechado? Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa -  para mim nada pode ser mais complicado. Que coisa!... Insisto tanto que as pessoas têm que se achar, mas nado de braçada em meio a quês, por quês e mas sem querer (ou saber) explicar. Será que isso é medo de  abrir a porta e encontrar ou medo de não ter mais o que procurar? Medo de que o amor não passe de um buquê de curiosidades, jogado para o alto ao som da primeira promessa, da primeira dívida. Medo de que a paixão se torne um maço de cigarros largado no bolso da calça batida - um mal-estar obrigatório, uma necessidade de sugar os dias com calma e desgosto, um após o outro, para a qualquer momento tocar fogo no mundo como um dragão furioso. Já fumei muitos cigarros vendo a vida passar da janela do quarto, do carro, do ônibus, da minha imaginação. Esperava pela vida com leveza e posso até dizer que com certa emoção. Agora eu leio, escrevo, leciono, tento até mesmo ocupar meu sono; perco-me de tal forma que não consigo acreditar que vale a pena voltar a ver.  Queria caber dentro de um poema, e acabei prisioneira do meu próprio padecer. Meu Deus, num mundo feito de mentira e verdade, por que diabos há tanta possibilidade? O calor de uma lembrança faz meu corpo inteiro amolecer sem piedade. Começo a andar e me desfaço em um milhão de fragmentos espalhados pelo ar, pela rua, a céu aberto. Quero estar mais perto, mas a estrada é tortuosa e a alegria é confusa, sempre contrária ao meu pensamento. Penso, penso e nunca entendo! Anseio por sentir o sol forte atravessando minha pele fina, perfurando minhas carnes com doçura até o cerne de todo o entendimento... e lá vem você arrastando os chinelos, trazendo um vidro de filtro solar. Corro, tento escapar, pulo de ponta em uma piscina de expectativas e espero que a sorte venha me buscar. Da beirada você me olha com pena e me estende a mão. Estou exausta,  faminta, sem forças sequer para dizer não. Assumo ser um ser sem cabimento  ou qualquer chance de recuperação;  no mundo de quem vive cansado, uma simples trégua é sinônimo de solução.

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