sábado, 28 de fevereiro de 2015

Mamma mia

Mamãe tem fotos minhas com bochechas gordinhas e cara amarrada - eu estava sempre brava ou pensativa, talvez porque ela sempre cortava meu cabelo Joãozinho e me vestia com roupas que eu achava que eram de menino. Mamãe dizia que era pro cabelo crescer forte e bonito quando chegasse a hora. Não economizava com material escolar porque sabia que eu amava os lápis, as borrachas, os estojos e os cadernos mais bonitos. Tinha aquelas caixas de 36 lápis de cor e achava que de um pra outro era uma diferença danada - mamãe fazia que sim com a cabeça. Íamos pra casa da vovó Fia e eu já tinha um lugar à mesa pra colocar minha pastinha e tirar de lá os livros de colorir da Moranguinho. Adorava desenhar roupas, minha vó achava que eu tinha talento e levava super a sério os meus desenhos - quase tanto a sério quanto eu. Mamãe ria. Eu olhava pra ela e ficava imaginando o que ela achava que eu ia ser. Até hoje ela lembra de umas coisas engraçadas que eu dizia (acho que eu era espirituosa, hihihi...) - conta os casos em detalhes (o do dia em que eu nasci ela conta pelo menos umas 4 vezes por ano). Mamãe tirava foto de cada momento meu ou nosso porque eu sou a filha mais velha. Me levou a tiracolo pra todos os lugares, e chorava quando ia trabalhar porque eu chorava e não queria que ela fosse. Quis que eu aprendesse a nadar, falar inglês e estudar nas melhores escolas. Mamãe vendeu as férias para que eu viajasse aos 15 anos. Escolheu o vestido mais bonito para o meu baile de debutantes e depois para minha formatura. Deu vários palpites que eu fingia ignorar no começo e acabava aceitando sem jeito mais tarde. Depois de tantos capítulos de várias cores e teores, mamãe ainda fica surpresa quando eu faço um agradinho. Mamãe faz tanto agradinho que até presente de dia dos professores ela me dá todo ano. Nas suas conjecturas arquitetônicas de outras vidas, mamãe criou uma casa pra mim dentro da casa dela. Não entendia por que ela brigava tanto comigo como se eu estivesse fazendo tudo errado, até descobrir que na verdade bem verdade mesmo ela só tinha certeza de que eu poderia fazer muito mais certo. Tem uma lupa no coração dela que me vê grande, capaz das maiores coisas, das mais bonitas. É só por isso que eu nunca desisto de tentar alcançá-las. Obrigada, mamãe, por sempre despertar o melhor em mim, por me mostrar que o que eu faço por você é muito pouco... por me ensinar de um jeito só seu o que é o amor!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Hide-and-seek

E eis que numa tarde quente de um dia comum sinto a sua falta e te procuro pelas páginas do meu computador desde sempre tão atarefado. Descubro um caminho secreto, um lado b, sinto-me inteligente ao encontrá-lo à minha espera e logo após me lembro que essa descoberta não partiu de mim. Alguém me ensinou a te encontrar tempos atrás, alguém que já me ensinou tanta coisa porque eu nunca deixei de pedir. E agora, descrevendo meus pensares por essa folha branca e tão familiar, penso na importância de nos expressarmos com liberdade, sem dor e sem exposição. Tenho andado distraída, cabeça ocupada por ideias mirabolantes, idealismos vários, pequenas vontades concretas de cuidar de mim, de fazer mais pelo meu corpo, de descansar meu coração e acarinhar a minha alma com sentimentos bons e atitudes sólidas, verdadeiras. Meus ombros já não pesam mais. Meu cansaço me abraça com um sorriso ao cair a madrugada - sorriso de dever cumprido, de proteção divina, de privilégio. Escolhi andar devagar, com a cabeça erguida e a mente quieta; em troca sou envolvida por essa paz de quem nunca se cansará de colher o que planta; aquela paz de alguém que experimenta a oportunidade de plantar com sabedoria, com fé, com amor... que conta com a sorte, com os bons amigos, com o tempero de cada novidade. Meu baú virtual, fiel escudeiro e guardião de tantas aventuras, foi invadido por alguém que não sabe o que faz. Ainda bem que eu soube o que fazer para abrigar em sua memória mais uma das minhas felizes descobertas. Sou finalmente dona de mim, meu caro amigo - jogo lixo no lixo, tenho o direito e o dever de ir e vir, como o que gosto, faço algo de bom por mim diariamente, leio muito, vou ao cinema quase sempre e trabalho com a alegria de quem vê em sua ocupação um belo propósito. Se alguma coisa doer, tomo um suco de açaí, como uma pizza de abobrinha ou me entrego a uma taça de morango com leite condensado. A vida tem dessas coisas bonitas, dessas coisas simples, dessas coisas que a gente não entende mas aprende a agradecer porque é o único caminho que nos faz bem. Em nome da minha liberdade consciente para expressar o que quer que caiba na área total da minha existência em meia dúzia ou meio mundo de palavras, agradeço ao meu doce e querido garrastazu...