segunda-feira, 30 de junho de 2014

On the road

Destino: Brasília. Expectativa: well, well, well... Visitas anteriores: mais que duas, menos que dez - contextos diversos. Finalidade: visitar a família. Finalidade semi-secreta: sair da minha vida e levar o corpo junto pra passear. Primeiro passo: comprar a passagem (créditos à minha amiga Marina, que mudou a minha vida com esse lema). Planejamento: my plan's no plan, Sam. 

E foi assim que eu resolvi deixar a copa e tudo mais pra lá e passar quase um mês em Brasília. Meu primo e minha tia sempre convidavam, o tempo nunca deixava... e eis que eu resolvi - talvez pela primeira vez em sei lá quantos anos - matar meu tempo no peito, segurá-lo com as suas mãos e falar firme ao seu ouvido "campeão, agora quem manda sou eu". Nesse mesmo dia comprei a passagem; quase um mês depois, plantava-me à porta de casa com a velha malinha vermelha em punho; na outra mão, o telefone antenado ao Easy taxi. Catei meu Kerouac 3 em 1 e fui ao encontro de uma bela manhã cinzenta, sem saber ao certo o que esperar de meus próximos dias.

O trajeto foi solitário, saudável. Pude desfrutar da minha própria companhia pra variar. Sentada à janela, pensei nos motivos pelos quais algumas pessoas tinham medo de voar. Era uma coisa que eu realmente não conseguia entender. Sempre achei incrível ver aquele pássaro gigante cheio de gente correr pista afora até levantar vôo. Era um momento dos mais bonitos. A cidade ia aos poucos desaparecendo e dando lugar a outras cidades, que se estendiam em fileiras de luzes por entre as montanhas e os lagos, ao longo de matas e pradarias. Vinha-me à mente a extensão do meu país, com seus palácios e casebres espremidos no meio de tanta gente. Ri sozinha ao pensar nos colombianos que assaltaram pedestres em Belo Horizonte (pessoal, por favor parem de roubar nossos empregos) e concluí com certa tranquilidade que espaço, diversão e surpresa não faltariam aos visitantes de plantão. 

Voltei a confabular sobre a questão de espaço ao pisar em Brasília. Puta merda - quanto espaço! Joguei as malas no carro da minha tia e fui comendo a cidade com os olhos. Gramados a perder de vista, castigados pelo sol e pelo tempo seco. Grama que não acabava mais; grama inabitada sem ser virgem... natureza que não tem cara de natureza. Mas o espaço entre as ruas, entre os prédios, entre os blocos trazia conforto, e o verde aumentava a sensação de liberdade. Vim a entender mais tarde o espaço entre as pessoas com um certo alívio. Em Brasília arranha-céus não são permitidos - hooray! Dá pra ver o céu de onde você estiver. Essa pequena descoberta me encheu de alegria, e passei muitos dias testando minha nova teoria. Faz bem pra alma sair de casa com qualquer roupa, pra qualquer lugar, sentindo o céu sobre a cabeça sem esperar nada de ninguém ou lugar algum, sem que esperem nada de você. Ainda que porventura queiram saber quem você é, não faz diferença - você é só um forasteiro, alguém que tem um certo orgulho de não pertencer a esse novo lugar e nem ao lugar de onde saiu. Você é o que vê quando olha no espelho - alguém prestes a se reinventar, do jeito que for e sob qualquer circunstância.

Comecei a ler meu On the road em um banco de praça. Sim, passei muito tempo sozinha - a única pessoa de férias na cidade era eu. Essa é outra coisa muito legal sobre Brasília - você pode sair do apartamento e escolher qualquer rota, mas não demora muito até o próximo bar, banco, parque, salão. Tudo igual; tudo diferente. Não importava o que iria encontrar - decidi que meu livro caminharia comigo por cada uma daquelas ruas carentes de calor humano; em novas esquinas, travávamos as mais fascinantes conversações. Diferente de Sal Paradise, eu sorvia minha nova realidade com prazer e cautela - queria me curar, não me perder. Sentia os lábios queimarem ao sol e os cobria de água e óleo. Pescava minhas vontades pela boca com um cartão de débito - há muito não queria depender de ninguém. Sentada na grama de uma praça próxima, assistia tranquila ao vai e vem fluorescente dos corredores, suando a camisa em qualquer tempo com seu foco costumeiro. A saga de Kerouac ia mudando de cor sob os meus olhos, e eu só pensava que ele devia ter lido Dostoiévski na adolescência - e que Fiódor deveria ter escrito em suas capas "não tente isso em casa" como sinal de advertência.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Ai de mim que sou assim...

"I know (I know) you belong
To somebody new
But tonight
You belong to me

Although (although) we're apart
You are a part of my heart
But tonight
You belong to me

Wait down by the stream
How sweet it will seem
Once more just to dream in
The moonlight
My honey I know
With the dawn
That you will be gone
But tonight
You belong to me

But tonight
You belong
To me"

https://www.youtube.com/watch?v=OUStIV3NUeo

Times they are-a-changing

"Garotas e rapazes da América têm curtido momentos realmente tristes quando estão juntos; a artificialidade os força a se submeterem imediatamente ao sexo, sem os devidos diálogos preliminares. Não me refiro a galanteios - mas sim um profundo diálogo de almas, porque a vida é sagrada e cada momento é precioso" (Kerouac, On the road, 1951).

Cardiopatia

O carinho é uma coisa perigosa. Vira arma branca na mão de quem pode oferecer... e moeda de troca valiosa pra quem quer receber. É um paliativo pros que sofrem de solidão (e de quebra arranca sorrisinhos de todos os tipos daqui e dali). Já vi gente dar meia-volta e caminhar a passos largos na direção oposta por um pouco de carinho. Só um pouquinho... E como se não bastasse, a noção de carinho acabou que meio que se perdeu. Hoje em dia carinho é sexo, é um carro novo, uma lipo, um "e aí, comequitá?", uma linha cafajeste no whatzapp. Raros são aqueles que se dispõem a pôr a mão na massa. Mas vocês me conhecem: quando eu cismo com uma coisa, é difícil dar outras cores pra ela na minha cabeça. E eu cismei que carinho é algo que vem de dentro, de graça, quando se tem vontade. É mesmo, né? Só tem um detalhe: pra ele valer, meu coração tem que bater três vezes. Parece bobagem, mas é impressionante o que acontece quando ele bate. Moral da história: a gente dá é muita trela pro nosso coração...

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Piscina térmica

Era uma quinta-feira. Já passava das 15 horas e eu procurava aflita uma vaga nas redondezas do consultório. Cheguei esbaforida à portaria; a zeladora sorriu um sorriso de solidariedade (faltou uma palavra melhor) e abriu o portãozinho de ferro para que eu pudesse passar. O elevador chegou logo. Oito andares depois, lá estava eu, em frente ao número 803. Diferente das experiências que me faziam pesar prós e contras, como tomar banho em água fria, pular de ponta na piscina, trocar de roupa no inverno ou nas férias, essa não trazia necessariamente aquele sentimento de "valeu a pena". Falar de mim, tocar nas minhas feridas mais íntimas, senti-las arder e por algum motivo não conseguir tirá-las de lá... nossa, isso pode ser muito martirizante. Carência, solidão, medo, tristeza, desespero, vazio, dúvida... Ei, Érika, tudo bem? Gulp! Nada dá mais medo do que enfrentar o desconhecido quando o desconhecido é você mesmo. O mobiliário não era exatamente acolhedor, mas talvez fosse essa a proposta - nada de relaxar demais: vamos direto ao ponto, for time changes the size of my pocket. O profissional tinha sempre um ar cansado difícil de explicar. Não era cansado do tipo can't stand it anymore; era mais um "você está pra gritar bingo há um ano, minha filha - presta mais atenção ao jogo pelamordideus!". Convencionalidades à parte, adentrei a saleta e busquei o sofá como de costume. Aquela coisa de deitar no divã me dava uma sensação de que eu era uma pobre coitada lamurienta - ainda que eu fosse, o estigma não me caía bem. Tirei os sapatos, cruzei as pernas e recomecei (sim! REcomecei) a listar minhas insatisfações, como a percorrer um caminho conhecido, um labirinto do qual, por algum motivo, eu não podia (ou não queria?) sair. Nadei meus 2000 metros rasos habituais naquela piscina térmica de desgostos e dilemas que vinham bem a calhar, quando o profissional saiu da sua cruzada de pernas passiva, trouxe o corpo pra frente, direcionou um olhar fuzilante ao meu par de olhos pseudoinocentes e disse: você já parou pra se perguntar o que é que você quer? O que você quer? Pergunta boba, pensei. Sabia que não precisava responder naquela hora, que ficar calada e parecer confusa era o esperado, que após 10 segundos no máximo ele diria Semana que vem? e se levantaria devagar pra eu ter tempo de pegar o dinheiro da seção na carteira. Aí então ele guardaria o dinheiro em algum lugar próximo sem alarde e, calmamente, se dirigiria para a porta e repetiria o dia e horário da próxima consulta enquanto apertaria a minha mão breve e cordialmente. Foi exatamente o que ele fez.

sábado, 14 de junho de 2014

Soubesse

Não me lembro de em qualquer tempo ter sido assolada por tantas perguntas. E se, mas como, por quê, será, quando é que, aonde... e o tal do amanhã, sem forma concreta, invade o meu hoje e me impede de viver como dizem que é melhor - com tranquilidade. Não adianta nada se preocupar, você vem logo me dizer. Mas a preocupação é como o amor - não tem muita razão de ser (a própria razão os jogaria pra escanteio anyway). Não é bom, não é saudável, não é possível... e lá estamos nós, apaixonados por aquele novo dilema, por aquele cara que acha que quis e sente que não quer mais. Vivo em um mundo que prega o altruísmo, a sinceridade, a força e a gentileza... tudo isso atrelado à supremacia dos dogmas da igreja, com o único objetivo de gerar a máxima culpa em quem falhar durante o percurso individual de engrandecimento. Nunca senti tanta culpa quanto no momento em que decidi me conhecer sem mas ou porquês. À medida em que as falhas iam surgindo, encabuladas e aflitas numa fila indiana a perder de vista, percebi que DEFINITIVAMENTE não somos preparados para aceitarmos nossas fraquezas. Se de um lado os best-sellers de autoajuda enchem os bolsos daqueles que fingem lidar melhor com suas tragédias pessoais, de outro a ideologia social de massa insiste em considerar a mediocridade um triunfo. Vidas de plástico ou vira-latas de vanguarda? Cheguei a um ponto em que não sei mais no que ou em quem eu acredito. Tanto fiz e você tanto fez que agora tanto faz... Vejo essas pessoas plugadas no myself-mode e sinto como se todo mundo estivesse na contramão de si mesmo... Desilusão ou insensatez? Recentemente tirei minha bicicleta velha da memória e fui percorrer com ela algumas ruas da vida. Fiquei tonta, aturdida... e entendi que essa coisa de ser livre e desimpedida é uma arte, é quase um dom, é tarefa árdua demais - coisa pra uma outra vez.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Just the way it is...

Well, you asked me if I'll forget my baby
I guess I will
Some day
I don't like it, but I guess things happen that way

You asked me if I'll get along
I guess I will
Some way
I don't like it, but I guess things happen that way

God gave me the girl to lean on
Then he put me on my own
Heaven help me be a man
and have the strings to stand alone

I don't like it, but I guess things happen that way

You asked me if I'll miss her kisses
I know I will
Every day
I don't like it, but I guess things happen that way

You asked me if I'll find another
I don't know
I can't say
I don't like it, but I guess things happen that way...


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Someday

Keep your heart somewhere safe
and make me a key
hide it in your left-side pocket
where no one else can see
and as you walk through life
it shall move by the sound of your heartbeat
and remind you of feelings
you might someday dare to live...