segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Pão de mel

A gente inventa, né? Inventa mesmo umas modas que é pra mudar a estação, pra parar de chover ou pra cair mais água lá de cima, pra ser visto, pra criar expectativas de um amanhã mais... personalizado. A gente faz que gosta porque sorrir é mais barato - rir então é de graça, não há mais dúvida disso. Nos descobrimos um bocado de coisas e esboçamos um quê de falsa surpresa, e no atropelo da mudança de episódio desligamos a tv pra fazer algo politicamente incorreto - só porque é disso que a gente gosta. Não tem essa de criar motivos, de perceber, de entender, porque sabendo ou não a estrada aponta pro mesmo lugar - a gente só faz o que quer, porque esse querer é a razão de tudo, é o chicote no lombo do coração arriado, último suspiro. Não interessa quem quer mais: a gente quer junto e junto a gente vai mudar o mundo, correr na praia, participar de movimentos populares e individuais, olhar pra dentro de um jeito nu e cru que dói dor generalizada; junto a gente vai perder o medo do escuro, pular de um lugar alto e gargalhar em um momento triste do filme porque a gente achou cliché. A gente vai passar uma noite junto de mãos dadas com a luz acesa, pra se misturar no calor da penumbra dois dias depois - a gente vai ser feliz! Já disse que sou bem inofensiva - gosto de livros, crianças e bichos e rezo por um tanto de gente de uma vez. Talvez eu seja mesmo, mas a gente... a gente inventa moda, pinta o sete e se joga n'água fria sem contar até três ;)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Aliasas

Passei os últimos dias pensando em alguma coisa bonita pra escrever... mas não me vinha. Nada de palavra que fosse só minha, nada de mantra, tantra ou esperança florida. Parei de sentir. Parei de querer. Devagar fui entender que no meu tempo não há espaço pra drama, trama de novela - e fui agradecer porque lá fora ninguém deseja que haja. Não há sequer um grama de tristeza nessa descoberta: me encontrei pequena-grande no alpendre daquela casinha... querendo ser eu, sozinha, sem sombra de desconforto, sem tromba d'água, sem chuva. Caí em mim como uma luva e soube que não era egoísta nem narcisista me amar assim desse jeito em que eu me aceito, me guio, faço promessas sem fim pra viver sem pressa, pra ter apreço por quem me interessa e pra ser sem estar lá - pra deixar uma doce lembrança no sofá, na cozinha, na grama da praça enquanto acho graça em um filme que passa do outro lado da cidade tão minha, curtindo a minha própria companhia sem me expor, sem doer, sem pensar no que eu fiz ou deixei de fazer, sem tentar compreender por que é que eu olho pra você e não sinto nada além de uma vontade enorme de voltar, de deitar na areia da praia e ouvir o barulho do mar e não ter hora pra sair nem dia pra chegar. Subo em meu barco pequeno demais pra nós dois e navego em minha própria vida e me sinto querida mas sobretudo desejada, e deixo toda essa saliva se afogar em conversa fiada enquanto espero pelo próximo momento em que eu me farei feliz ao perceber que por um triz minha resignação daria espaço à vontade de, como todo mundo, ter um coração. Ele não vai bater se você passar, azar... não sinto nada. Nem fome de cheiro, nem sede de gosto, nem vontade de esperar. Não há fruta mais macia que sorriso na boca e cabeça vazia, suspira de alívio meu paladar.