terça-feira, 21 de maio de 2024

IVAN

Um dia desses você me disse que não sabia dançar. Espremi essa informação dentro de um minipoema que você me recitou pouco antes: não me acostumei a viver sem amor. Não eram essas as palavras, eram muito mais bonitas, perfumadas pelo vinho que dividíamos em uma bela tarde de sol. Imaginei o próprio paradoxo: uma vida do tamanho da minha, com calor e sem dança. Tenho certeza, Ivan, que vocês dançaram pela vida afora, rindo-se dos aforismos, dos moralismos, rodopiando por um salão verde de cetim, esperança de quem não espera, andança cariciosa.


Nos que têm saudade, deve haver, penso comigo, um senso de mission accomplished, de vim, vi e venci. Deve ter cheiro e gosto de vivi e senti algo bom a ponto de ser preservado. O tempo passa e nele pendura-se um mural de memórias que a gente aperta os olhos pra acessar, pra buscar no escuro do fim a sobriedade, a eternidade de um breve soluço dos dias. Agarramo-nos àquele fragmento de lindura que repentinamente nos aquece e ficamos ali, gangorrando pelo passado que escorre vermelho na taça vindoura... Dançamos entre línguas e planetas enquanto arrulhamos sobre novas rolhas; seguimos empunhando, empurrando o car(r)inho das lembranças por mais um logo ali.

Como você, querido Ivan, também não me acostumei a não ser amada - e talvez por isso mesmo seja ainda hoje, desde sempre, tão arisca. Minhas saudades são invisíveis, são impossíveis, difíceis, duras, imaginárias - intraduzíveis. Os músculos se retesam de fadiga na esteira do amor que não vem... Hoje poso cansada à frente dessa promessa de saúde, de beleza e juventude que numa bela tarde de sol teceu-me juras indizíveis. Por dias me autorizo a não tentar nada que me indignifique ou me perturbe - hoje não; amanhã fico por aqui. Na entressafra da falta o sorriso é tão sincero quanto a vontade de contestar esse mosaico desconstruído, involuído, cacos banais e austeros dos meus (des)afetos perdidos, caídos por aí. 

Que samba de uma nota só é enredo pro desalentado; que o sim que não vem já é não em si mesmo; que morrer de amor é papo de desavisado; que sentir saudade é viver a esmo... Feliz daquele que, ao se lembrar, sorri.

Contrariamente a você, Ivan, nunca encontrei o amor que buscava, e hoje me pergunto se de fato, em algum momento dessa vida tão grande quanto a sua, busquei alguma coisa além da minha própria independência, da descolonização da minha alma colonizada de underdog, escape goat, stray dog, white trash. Sorrisos encantam, mas os olhos não mentem. Nem os vinhos. Lucky me.

sábado, 4 de maio de 2024

EN PASSANT

 Eis que ele passa,

orgulho em cada passada,

olhar destemido.

Existo.

Peito estufado,

andar passarelado.

Resisto.

Resisto e falo

sem dizer palavra;

resisto e calo

sem que nessa fala de corpo inteiro

exista mágoa...

Como se o mundo fosse justo

E existisse pala

em todo palco da vida –

como se a servitude de quem paga

pudesse apagar o trauma

de quem fica.

Eis que ele respira

e dá um passo certo,

certeiro,

rumo ao infinito

derradeiro

ao sol tangível,

visível

do que queima

mas não significa.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Sense and sensibility

 O grito... o grito persiste, meio rouco, meio alucinado, reacionário sem revolução. Chove pelos olhos, janelas da alma, sai em marimbondos, palavras ferrenhas, pela boca que cansou de bendizer. Quem foi que disse que seria fácil assistir de camarote aos nossos desencontros de credo, raça, raiz, de plástico ou de borracha, de pai e mãe e aquele manual de como não ter medo do escuro, como fazer mais amigos, como suportar... Ai que suportar ferroa, arde, e a gente sai zombeteando pelo escuro incerto, pensando em que momento o sol vai nascer e trazer com ele a paz – a igualdade – a justiça – o entendimento – a calma, o dom inestimável da resignação. Acho que no momento da multiplicação das lições de vida, algumas palavras se perderam num sopro (aquelas que amansam, amaciam), e o que sobrou ficou meio duro, puro desalento. Pela janela indiscreta do pensamento passam cobras e lagartos a todo momento – provas da sua pouca fé. Sim, porque hoje começou com intempéries, turbulências, desventuras em série e vai terminar com cansaço bom, senso de propósito, fichas caindo como sementes maduras em solo fértil, arado demais. O afeto... o afeto me persegue como Pepe Le Pew, me encontra nos recônditos das minhas bad vibes e revira tudo, sacode, abre a janela, me traz um café. Olho para as fotos que me cercam enquanto escrevo essas linhas e digo pra mim mesma: não sei, não consigo, não entendo, mas hoje é preciso gritar que o afeto venceu. 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

The Chosen

 Experimente dar uns passos para trás e procurar, nos recônditos da sua lembrança, por mergulhos e flashes. Verá que os lapsos da sua memória não te impedem de trazer ao palco fragmentos de vida incandescentes, sopros de verdades, dores, escolhas equivocadas, palavras e atos que por um triz não mais te representam, que por um triz ainda te condenam. Enquanto a festa passou você assistiu da janela, e teve tempo pra pensar se de fato algum dia foi bom estar ali embaixo, ao sol, pela chuva, ao relento, imersa numa fragilidade que precisava te habitar pra você se convencer que também queria ser mulher, anjo, boneca, princesa, criança. Mergulhe no mar profundo da tristeza e experimente tirar de lá uma criança. Veja sua cara estampada pelo álbum de retratos, em verde, azul, vermelho e branco, repare nas companhias. Você passou muito tempo sozinha, desde cedo confabulando com seus botões. Criava explicações para sobreviver em um mundo onde suas palavras não tinham voz. Você cresceu e entendeu a constante repulsa pela palavra sobreviver - é pequeno e solitário demais. 

Tente se lembrar da primeira vez em que te traíram, tiraram sua esperança; de um tesouro que você possa ter guardado com esforço e dedicação porque acreditava que era precisamente isso que te tornaria, aos olhos do mundo, especial. Uma figurinha, um papel de carta perfumado, um lápis brilhante, um diário sem erros de português, cartas de gente que um dia esteve ali, de gente para quem você supôs estar um dia, uma teoria, uma hipótese, uma paranóia, um pedaço de sozinhez com incompreensão. Se você olhar pra trás com óculos perscrutadores e instinto felino, vai ver que riu, chorou, bebeu e falou alto, que trovejou, relampeou, chutou a porta e catou a maçaneta sem revolta aparente, sem ingenuidade e sem vontade alguma de sair daquela água fria e densa, pegar uma toalha e sentar perto de quem quer que fosse e despejar por ouvidos sonolentos uma explicação conveniente. 

... e em todas as esquinas do caminho você trombou com Deus. Em todos os passos estranhos da criança ferida no meio da chuva era um vento, um desenho no céu, um assombro, uma emoção de menina sozinha, sem ninguém pra conversar, pra entender. A menina que quis colecionar amigos como a Moranguinho, que achava sua casa o lugar mais triste do mundo... a menina que só não queria mais se sentir tão inadequada, brilhando no claro. Um dia ela saiu pelas ruas escuras do seu pensamento e decidiu que não iria voltar pra lugar nenhum. As pessoas iam e vinham, temporárias que só elas, cumprindo seu papel. O peito ainda dói - de angústia pela falta de respostas - e as pessoas ainda passam como patos pelo seu daydream, algumas querendo genuinamente - não sei se por curiosidade ou estima - se demorar um pouco mais. 

Isso é tudo pra dizer que de meu fortuito encontro com quem me protege e guia nesse plano, surgiram presenças mágicas iluminando as ruas escuras do meu pensamento com flashes de propósito. Escrevi um livro sobre a falta de amor que eu sentia e ele agora está sendo contado por aí em tom de boa conversa. Esvaziei meu saco de traumas ao longo de uma história encantada, e de presente me fizeram uma boneca sem boca que fala de um jeito que todo mundo escuta. Sei que fui escolhida para vencer essas pequenices todas, essa mania de não saber pedir, essa fé em castelos de areia, esse medo de perder mesmo sabendo que tudo é transitório e que nada me faltará. Sou Mateus, sou Maria Madalena, sou Judas, sou Simão Pedro - sou a filha tão grata quanto humana, meu mergulho mais difícil, meu próprio feixe de luz sob as águas turvas do meu viver... um pot-pourri bitter-sweet de bits and pieces.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Ondina

 A vida nos explica muitas coisas de várias maneiras. De algum jeito que eu não conseguiria jamais precisar, entendi que sou musical. Poderia ter me dedicado mais, poderia ter me tornado melhor em algum sopro dessa saga - e poderia ter feito milhares de outras coisas que me fariam rir ou chorar, ganhar dinheiro ou mais sorrisos sinceros, pisadas mais firmes... Pra abrandar meu desalento e eufemizar meu TOC cada vez que uma nota destoa, criei uma estratégia: digo pra mim mesma "Esse não é meu meio de vida". E passa. Na minha primeira vez batucando no carnaval, um sujeito estacionou do meu lado e disse que vinha me reparando, analisando meu jeito de tocar. Concluiu que me faltava energia. Muitas ondas se passaram, a oferenda já se perdeu no mar. Aquelas sete ondas que a gente pula são na verdade dezoito, vinte e duas, milhares, cada uma levando pra longe as pessoas, as histórias que pensamos morar em nós até nosso HD nos trair. A seletividade da memória, a transitoriedade dos momentos, a experimentação de sentimentos como a dor, a paixão, o júbilo, a desesperança, nada disso parece calculado - mas o que fica carrega o propósito de nos ver crescer. A confiança se emoldura por escolhas que te priorizem, que te incluam. Por isso, com alegria ou sem energia, ainda me visto com capricho, pego meu tarol e vou em busca de um batuque que me aqueça, que me represente; pego meu caderno, meu ukulele e vou arranhando notas sôfregas, infinitas como as estrelas, sinceras como tudo que se sente. Hoje, em meio a esmaltes e acetona, Lourdinha me perguntou onde os extraterrestres moravam. Uai, Lourdinha, em outros planetas! Que planetas?, ela retrucou. Tem mais planeta? Tem muita coisa se você quiser saber... Minha sobrinha Cecília e a amiga Helena organizaram outro dia toda uma caça aos ursos no parquinho do prédio - foram a pé pro Polo Norte. Conhecer faz a gente imaginar, e imaginar faz a gente querer descobrir o mundo e tudo que faz ele ser o menos óbvio possível. Somos passíveis de erros, de falhas, cometemos gafes, falamos bobagem e é isso aí. Passa - o medo, o desconforto, a dúvida, a ansiedade, tudo passa se você acredita que o mar leva, que o mar traz, que a onda certa se chama AGORA, que não tem reza nem mantra pra pular o que tiver que aparecer. Olho em vonta e sinto-me obrigada a ser grata pelas flores que encobrem os espinhos da minha alma. Resolvi nadar sem boia e sem salva-vidas... e descobri a graça de saber boiar - em mar sereno, em mar bravio; em lagoa calma, em rio, em piscina de sonhos verdes e luzes escondidas.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Princess Toadstool

 Era um sábado qualquer. Havia recebido um convite para correr com uma amiga bem cedo, mas acordei depois do horário e decidi que iria - pela primeira vez - dar a volta na lagoa da Pampulha correndo. Meu máximo havia sido 14 quilômetros em condições de tempo e espaço muito favoráveis. Parada há mais de dois meses devido a uma lesão no joelho e recém-saída da fisioterapia, não saberia dizer a vocês o que me levou a resolver tão firmemente dentro de mim que aquele seria o dia em que eu faria aquilo, e que daria o meu sangue independente das condições porque sou capricorniana - e porque sou eu. Falei pro meu namorado e ele simplesmente respondeu: Bora - vou com você de bicicleta. Ontem, assistindo a Nyad, filme profundo e sensível, esse dia brilhou na minha memória. A história envolve (sem spoiler) três premissas básicas: 1. nunca desista; 2. nunca é tarde para realizar seus sonhos; 3. it takes a team.

Chegamos às 13:30, e ele alugou a maior bicicleta disponível – o que, pra um cara de dois metros e dez, não passava de uma Caloi Ceci. Sol, calor, zero preparo – esse era o cenário. Quem corre sabe que a gente tem uns momentos de transe - sem eles acho que não daria pra percorrer tamanhas distâncias só com a força das pernas e a persistência dos pés. Quem manda, de fato, é a cabeça. Passava momentos meditativos duradouros e, a cada despertar, olhava pro lado e lá estava ele, com uma mochila nas costas cheia de coisas minhas, suando como uma chaleira e com cara de tudo certo. Lembro de pensar “é isso mesmo? É normal? Eu mereço?” enquanto sentimentos diversos iam tomando forma aqui dentro.

Com treze quilômetros, fui tomada pelo cansaço. Fiquei sem ar, o calor me afetava, as pernas doíam... meu corpo inteiro queria desistir. Pensamentos como "parabéns, você chegou até aqui", "está calor, não é culpa sua", "você fez o seu melhor", "ninguém está te cobrando isso", "você nem se preparou mesmo" foram inundando minha cabeça. Parei sem fôlego e saiu da minha boca: "não aguento mais". Aquele cara gigante, ensopado e dolorido por pedalar uma bicicletinha por mais de uma hora no sol com uma mochila nas costas cheia de coisas minhas, me pediu pra respirar e me disse: "você consegue. Se precisar, paramos a cada quilômetro até chegarmos lá. Falta muito pouco, força!" e eu olhei pra frente e voltei a correr. Não parei mais até o final dos 18 quilômetros. Até hoje rimos ao lembrar que não conseguimos nem tirar uma foto, de tão flabbergasted que eu estava (essa é a palavra, a sensação não cabe no português).

Nyad me tocou duplamente por trazer dois temas importantes - o poder da parceria e o impacto do abuso. Engraçado como de poucos dias pra cá vi três filmes retratando abuso sexual - e em dois deles, diferente do "padrão" (ou fato inegável), foram apresentadas situações de estupro que ainda confundem muitas mulheres: momentos em que, por qualquer motivo, elas disseram não e a outra parte da dupla decidiu que sim. Muitas de nós ainda não entenderam que foram abusadas - e pelo visto muitos homens também. Muito duro, e infelizmente comum, é o abuso por parte de maridos, namorados, parceiros, pessoas próximas, com quem você divide a cama, a casa, os fatos corriqueiros de todo dia - pessoas que, em suas cabeças doentes, ligam a intimidade que conquistaram ao direito de satisfazerem seus instintos quando e como lhes convier. Digo por mim que isso dói mais que ferida aberta, porque a gente se sente suja e traída e impotente e não digna de um amor de verdade, de um sonho que vale a pena ser realizado, de uma vida plena, com cachorro, planta e muita história linda. A gente faz terapia, reza, corre atrás da mais-valia, do autoamor, e ao primeiro não já sente um gosto doce na boca, de que lutar por você está, devagar e sempre, fazendo a diferença. It takes a team pra acabar com o Bowser e libertar a princesa, mas volta e meia o medo volta – ela ainda se lembra.

Entender que uma pessoa vai acordar num sábado quente, pegar uma mochila, atravessar a cidade e passar duas horas no sol em cima de uma bicicleta com cara de velocípede só pra te acompanhar, pra te cuidar e te ajudar a se superar, pra ser bem sincera, ainda é intrigante - cheira a banco de carro zero, aquela alegria quase entorpecente. Que o que fomos e o que um dia vivemos nos traga um senso de gratidão, porque cada linha torta desse livro direcionou o curso do seu rio, alongou suas pernas e braços, fortaleceu sua mente pra que você pudesse, mais uma vez, nadar - para o melhor lado do rio - porque você pode - porque você merece - porque um filme no Neflix pode abrir as portas e janelas da sua alma para o que existir de mais bonito e mais verdadeiro. Deixa o sol entrar... Voa!

segunda-feira, 31 de julho de 2023

...pediu um café à João Gilberto

Era perto das três da tarde e eu equilibrava papéis e livros a passos largos, em direção ao meu carro; na contramão, duas moças nos seus vinte e poucos anos puxavam inconscientemente a mochila junto às costas enquanto travavam uma conversação interessante pelo caminho estreito que àquela hora dividíamos. Meu pensar piscava aturdido por confusões de todo tipo, mas nenhuma delas impediu que minha antena captasse, naquele pequeno momento em que nos apertamos para caber naquele caminho, uma onda de palavras que se quebrou sobre os meus ouvidos: ... a gente sentou e ele pediu um café à João Gilberto... Assim. Uma onda. Quebrando pelo meu casco endurecido de vivicionices capricornianescas, planilhas em word riscadas a lápis. Criei uma imagem de um casal que sai junto pela primeira vez e me vieram as emoções do primeiro encontro, as inseguranças, os traumas e as expectativas, o que se inventa, o que se admite logo de cara, o que se omite, o que se aumenta - e o que tudo isso que se seleciona ilustra o medo que temos de nós. Nesse meu devaneio mais sistêmico que sistemático vi o moço chamando a garçonete timidamente com um breve aceno, seus movimentos leves e coordenados, seu olhar tranquilo a maquiar uma breve ansiedade, a esconder uma rabugice teimosa quando lhe passava pela cabeça a possibilidade de tocar distraído uma nota errada... de desafinar. À medida em que a atendente se aproximava, ele ensaiava mentalmente os passos e compassos, os sis e os fás, um dó desenganado. Pelo bloquinho de anotações foram-se desenhando os detalhes do pedido em notas suaves, tom melancólico e incerto de quem não sabe ainda em que momento daquela história uma daquelas mãos sobre a mesa abraçaria a outra - em que momento ele por fim entenderia que a perfeição encobre a essência, e é essa mesma essência, com seus encantos e desatinos, que sintoniza cada par de corações desafinados, roucos, uivantes, estelares. A vida é cheia de personagens marcantes, e de tanto viver e querer achar um sentido, uma tribo, um ouvido, seguimos o caminho dos outros, ouvimos essa e aquela conversa, represamos a onda que passa numa piscina cheia de água que não é nossa, que ensina, que purifica mas que não nos pertence nem define - que não nos simplifica nem adoça. Engessamos nossa existência enquanto assistimos por uma janela embaçada os desafinos alheios que a gente endossa, fracassos que nosso olhar hipermétrope transforma em receitas de sucesso instantâneas, espinhos que a gente quer porque quer que sejam rosas. Às vezes me lembro daquelas meninas cruzando meu caminho estreito, daquelas palavras soltas que ecoaram pela minha alma e despertaram as reflexões que hoje compartilho, e penso que possivelmente o que se passou nada tem a ver com aquela cena criada pela minha imaginação; que em algum canto desse mundo pode existir um café à João Gilberto, cujo sabor é tímido e perfeccionista como ele próprio. Mas quer saber?  O que se inventa, o que se admite logo de cara, o que se omite, o que se aumenta -  tudo isso que se seleciona só ilustra o medo que temos de nós. Hoje pedi um café à João Gilberto e cada gole quente, amargo e perfumado acordou em mim a lembrança de que somos todos desafinados com corações batendo no fundo do peito, pulsando um querer feroz.