quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ano? Hein? Ah, nem...

Hoje tive um sonho estranho... Sonhei que um amigo se embrenhava pelo mato afora, enquanto outro me dava um livro sobre a história de uma civilização distante. Uma amiga se descabelava na praia enquanto um amigo se jogava nos bons ares da américa do sul. Um amigo curtia com sua morena a virada num clima família, enquanto o outro tentava jogar sua fama de PN nas águas do mar de Ipanema. Uma amiga morava longe e estava perto, uma amiga morava perto e estava longe. Um amigo mandava fotos da terra de tia Beth, outro mandava um piccolo regalo da terra da pizza napolitana. Um amigo era aluno, o outro era professor. Uma amiga podia ficar pertinho, a outra não iria poder nunca. Uma amiga curtia o milagre de férias conjuntas com o maridão numa praia do sudeste, a outra descobria as mil maravilhas de sua pequena doce baby aventura em um paraíso perdido no nordeste. Na Bahia, uma amiga pra lá de distraída soprava um beijo pra uma amiga de Londrina, enquanto outra amiga agora londrina amamentava seu pequeno príncipe ao lado de um amigo que nasceu pra ser pai do Lucas. Uma turma de amigas bem resolvidas brindavam em Milho Verde ao som de estrelas cadentes. Um amigo procurava na internet a balada mais animada, a outra já estava lá há muito tempo entre gregos e troianos, e uma amiga explicava para o namorado mais que amigo que deveriam ver o Olodum. Um amigo brasileiro mostrava a felicidade das nossas praias pra namorada italiana; um amigo mineiro curtia o amor e fazia planos de casamento com a namorada pernambucana. Um amigo ia pra Bahia, outro pra Araxá, ambos muito bem acompanhados. Um amigo se escondia em Pará de Minas, nem atendia o telefone, mas o amigo dele avisava que iria tocar em Búzios com sua banda. Acordei com a sensação de que deveria dizer alguma coisa. Por isso, aí vai:
Pra todos os meus amigos especiais que estão aqui ou lá, desejo que estejam e sejam sempre muito felizes, plenos e verdadeiros a cada sorriso. Desejo cantos de passarinhos pela manhã, beijinhos pra todo lado, criatividade ao pensar no trivial, e alegria para o essencial.
Alegria sempre, muita música e OUSADIA! Ponham a boca no trombone quando alguma coisa estiver errada, façam charminho pra ganhar um beijinho doce. Aprendam com o que há de ruim lá dentro, dividam ao máximo o que houver de melhor - SEJAM GRANDES!
Um ano maravilhoso, do jeitinho que cada um pedir...
E no mais, VEM NIMIM, 2010!!! Até ano que vem!

Ano? Hein? Ah, nem...

Hoje tive um sonho estranho... Sonhei que um amigo se embrenhava pelo mato afora, enquanto outro me dava um livro sobre a história de uma civilização distante. Uma amiga se descabelava na praia enquanto um amigo se jogava nos bons ares da américa do sul. Um amigo curtia com sua morena a virada num clima família, enquanto o outro tentava jogar sua fama de PN nas águas do mar de Ipanema. Uma amiga morava longe e estava perto, uma amiga morava perto e estava longe. Um amigo mandava fotos da terra de tia Beth, outro mandava um piccolo regalo da terra da pizza napolitana. Um amigo era aluno, o outro era professor. Uma amiga podia ficar pertinho, a outra não iria poder nunca. Uma amiga curtia o milagre de férias conjuntas com o maridão numa praia do sudeste, a outra descobria as mil maravilhas de sua pequena doce baby aventura em um paraíso perdido no nordeste. Na Bahia, uma amiga pra lá de distraída soprava um beijo pra uma amiga de Londrina, enquanto outra amiga agora londrina amamentava seu pequeno príncipe ao lado de um amigo que nasceu pra ser pai do Lucas. Uma turma de amigas bem resolvidas brindavam em Milho Verde ao som de estrelas cadentes. Um amigo procurava na internet a balada mais animada, a outra já estava lá há muito tempo entre gregos e troianos, e uma amiga explicava para o namorado mais que amigo que deveriam ver o Olodum. Um amigo brasileiro mostrava a felicidade das nossas praias pra namorada italiana; um amigo mineiro curtia o amor e fazia planos de casamento com a namorada pernambucana. Um amigo ia pra Bahia, outro pra Araxá, ambos muito bem acompanhados. Um amigo se escondia em Pará de Minas, nem atendia o telefone, mas o amigo dele avisava que iria tocar em Búzios com sua banda. Acordei com a sensação de que deveria dizer alguma coisa. Por isso, aí vai:
Pra todos os meus amigos especiais que estão aqui ou lá, desejo que estejam e sejam sempre muito felizes, plenos e verdadeiros a cada sorriso. Desejo cantos de passarinhos pela manhã, beijinhos pra todo lado, criatividade ao pensar no trivial, e alegria para o essencial.
Alegria sempre, muita música e OUSADIA! Ponham a boca no trombone quando alguma coisa estiver errada, façam charminho pra ganhar um beijinho doce. Aprendam com o que há de ruim lá dentro, dividam ao máximo o que houver de melhor - SEJAM GRANDES!
Um ano maravilhoso, do jeitinho que cada um pedir...
E no mais, VEM NIMIM, 2010!!! Até ano que vem!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Matemática

Entendeu? Não? Ah, então fica esperto e para de me encher o saco, uai! Eu, hein...

Matemática

Entendeu? Não? Ah, então fica esperto e para de me encher o saco, uai! Eu, hein...

domingo, 20 de dezembro de 2009

HISTÓRIA DE UMA MESA DE BAR

Bebeu, acabou-se no vinho, tomou cachaça
E por fim mergulhou no escuro da fossa
Pensando na namorada
Que ainda não lhe havia feito nada
Mas que poderia, que pensaria
Em fazer tudo o que lhe doía mais
Só em pensar
E em todas as outras heresias e blasfêmias
Que em momento algum se imaginava.
Teve medo, os calafrios lhe ouriçaram os pêlos
Os dentes travaram de cólera
Enquanto fazia reflexões sobre seu grau
De envolvimento (como pode?)
E culpava a namorada
Por ela ser tão interessante,
Tão voluptuosa, tão cigana
E ainda não ter-lhe feito nada.
Tomou toda a cachaça da garrafa
E viu no fundo a viagem à praia,
Os balangandans e os querubins da casa nova,
As contas e inúmeras possibilidades;
Reclinou-se, tirou um cigarro do bolso
E achou que não era mais que obrigação
Pensar em como teria sido
Sua vida sem ela.

HISTÓRIA DE UMA MESA DE BAR

Bebeu, acabou-se no vinho, tomou cachaça
E por fim mergulhou no escuro da fossa
Pensando na namorada
Que ainda não lhe havia feito nada
Mas que poderia, que pensaria
Em fazer tudo o que lhe doía mais
Só em pensar
E em todas as outras heresias e blasfêmias
Que em momento algum se imaginava.
Teve medo, os calafrios lhe ouriçaram os pêlos
Os dentes travaram de cólera
Enquanto fazia reflexões sobre seu grau
De envolvimento (como pode?)
E culpava a namorada
Por ela ser tão interessante,
Tão voluptuosa, tão cigana
E ainda não ter-lhe feito nada.
Tomou toda a cachaça da garrafa
E viu no fundo a viagem à praia,
Os balangandans e os querubins da casa nova,
As contas e inúmeras possibilidades;
Reclinou-se, tirou um cigarro do bolso
E achou que não era mais que obrigação
Pensar em como teria sido
Sua vida sem ela.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

OD

I
.
Hi. My name's Erin and I'm a junkie.
(pause)
Very well... would you like to talk about it?
What do you mean?
Would you like to mention the nature of your addiction?
Why not? I'm a love addict.
(laughter)
Sorry, but I can't help laughing myself! Do you mind being a bit more... specific?
You're such a wanker! I knew I shouldn't have...
Wait! Sorry, I didn't mean to... sorry, but you'll have to agree that it's at least unusual, right? Calm down, please go back to your seat.
(pause)
OK, go on. I'll try to follow.
.
II
.
I always thought I was different. Love has always made such a difference... I don't mean non-stop hugging and kissing, but real love - that energy. I was 7 or 8 when I first felt it. I used to steal stuff from my classmates at school, just for the fun of it. I would always return what I had stolen, on the same day, but the adrenaline of taking something without anybody noticing it was priceless! One day, obviously, I got caught, and the supervisor called my mom. On my way home all I could possibly think about was excuses. Loads of them, in all sizes and colours. Before I could say anything, however, my mom looked at me. Softly. Gently. Deeply. I'll never forget that look. "I'm sorry, I should have taught you that this is wrong. Whenever you want something, talk to me and we'll work it out". That was it. My whole body shivered. I felt so much light, so much energy, that it filled me like a drug. After this day, I just wanted to feel it again. Again. Again. I would do anything. I did all kinds of things to get it, to find it, to be exposed to it, to be filled up, warm, safe. I tried. Oh, yes, sir, for years and years I tried. The bad thing about it is that money won't do. You cannot go under the bridge and ask for a shot. I was desperate for some time, and even got to that point when you don't want the following days to unfold. Time went by; I found out that my body could give me what I wanted. I offered it to everybody I could and searched into my partners' vulnerability. Sometimes I even dared to ask, but I got no more than tiny drops pouring down on my face every now and then. That's what you get when you have no other way, no other choice. I was on the verge of threatening someone to love me, but before I did a nice fellow decided to come along, deliberately, absolutely out of nowhere... That's what you can call good times...
(pause)
(coffee & cigarettes)
Uh... excuse me, but what I don't understand is why you want to give it up then. I mean, being loved must feel quite nice, init? Specially for you, who has sought after it so desperately...
Every addiction is a curse, don't you know that? Besides, I've OD'ed.
(deep silence)
(sigh)
(cough)
OK... let's hear it.
Some other time.
Maybe tomorrow.
Maybe. I'd really like to tell you everything, because you're the only one who can help me.
(pause)
(cigarette)
Fair enough.
Tomorrow.
It's a deal.
.
III
.
Brand new day... shoot.
Where do I start?
The OD...
Oh, yes. There's not much to say.
I'm trying to picture it...
(cigarette)
Was it the nice fella?
No, somebody else.
How did it happen?
A hug.
(blank look)
(gasp)
(coffee spitting)
So what you're saying is that a guy hugged you and you OD'ed?
Exactly.
All right... Who was this guy?
Just somebody I knew. A friend.
(coffee sip)
I'm kidding. It was you.
(15-sec pause)
What the heck do you mean, it was me?
Exactly that.
And what's it like, to have a love OD?
Better than multiple orgasms.
How did you know...
Because the moment you hugged me, I couldn't hear or feel anything else. I didn't know where I was, I didn't see anyone. My body stopped obeying my commands. It was the best thing that has ever happened to me.
(quick pause)
Thanks for the way you made me feel with a single abraço.
Now I'm really confused... How in heavens can I help you then? Would you like me to hug you for the rest of your life? Or maybe we could go further and see what happens...
Actually, I was considering something even better - I'd like you to break my heart.
Wha...
C'mon, you've done it before... it's not that hard, is it? Even though I know you'll be lying.
Oh, really?
Yes. We both know the way you feel about me.
Is that so?
Yes. But it's pointless now, so I don't care: lie to me.
...
Lie to me and make me think it's true.
My God! You're insane! Are you out of your mind?
I'm getting married.
And now this...
I'm not kidding. I'm getting married.
(pause)
(shock)
Really?
Yes.
Wow... I didn't see it coming...
And...
What?
Well...
What can I say? I'm quite happy for you and your husband, and I wish you all the very best, my dear.
Thank you.
.
xxxxxxxxxxxxxERIN'S WINDOW IS CLOSED.xxxxxxxxxxxxx

OD

I
.
Hi. My name's Erin and I'm a junkie.
(pause)
Very well... would you like to talk about it?
What do you mean?
Would you like to mention the nature of your addiction?
Why not? I'm a love addict.
(laughter)
Sorry, but I can't help laughing myself! Do you mind being a bit more... specific?
You're such a wanker! I knew I shouldn't have...
Wait! Sorry, I didn't mean to... sorry, but you'll have to agree that it's at least unusual, right? Calm down, please go back to your seat.
(pause)
OK, go on. I'll try to follow.
.
II
.
I always thought I was different. Love has always made such a difference... I don't mean non-stop hugging and kissing, but real love - that energy. I was 7 or 8 when I first felt it. I used to steal stuff from my classmates at school, just for the fun of it. I would always return what I had stolen, on the same day, but the adrenaline of taking something without anybody noticing it was priceless! One day, obviously, I got caught, and the supervisor called my mom. On my way home all I could possibly think about was excuses. Loads of them, in all sizes and colours. Before I could say anything, however, my mom looked at me. Softly. Gently. Deeply. I'll never forget that look. "I'm sorry, I should have taught you that this is wrong. Whenever you want something, talk to me and we'll work it out". That was it. My whole body shivered. I felt so much light, so much energy, that it filled me like a drug. After this day, I just wanted to feel it again. Again. Again. I would do anything. I did all kinds of things to get it, to find it, to be exposed to it, to be filled up, warm, safe. I tried. Oh, yes, sir, for years and years I tried. The bad thing about it is that money won't do. You cannot go under the bridge and ask for a shot. I was desperate for some time, and even got to that point when you don't want the following days to unfold. Time went by; I found out that my body could give me what I wanted. I offered it to everybody I could and searched into my partners' vulnerability. Sometimes I even dared to ask, but I got no more than tiny drops pouring down on my face every now and then. That's what you get when you have no other way, no other choice. I was on the verge of threatening someone to love me, but before I did a nice fellow decided to come along, deliberately, absolutely out of nowhere... That's what you can call good times...
(pause)
(coffee & cigarettes)
Uh... excuse me, but what I don't understand is why you want to give it up then. I mean, being loved must feel quite nice, init? Specially for you, who has sought after it so desperately...
Every addiction is a curse, don't you know that? Besides, I've OD'ed.
(deep silence)
(sigh)
(cough)
OK... let's hear it.
Some other time.
Maybe tomorrow.
Maybe. I'd really like to tell you everything, because you're the only one who can help me.
(pause)
(cigarette)
Fair enough.
Tomorrow.
It's a deal.
.
III
.
Brand new day... shoot.
Where do I start?
The OD...
Oh, yes. There's not much to say.
I'm trying to picture it...
(cigarette)
Was it the nice fella?
No, somebody else.
How did it happen?
A hug.
(blank look)
(gasp)
(coffee spitting)
So what you're saying is that a guy hugged you and you OD'ed?
Exactly.
All right... Who was this guy?
Just somebody I knew. A friend.
(coffee sip)
I'm kidding. It was you.
(15-sec pause)
What the heck do you mean, it was me?
Exactly that.
And what's it like, to have a love OD?
Better than multiple orgasms.
How did you know...
Because the moment you hugged me, I couldn't hear or feel anything else. I didn't know where I was, I didn't see anyone. My body stopped obeying my commands. It was the best thing that has ever happened to me.
(quick pause)
Thanks for the way you made me feel with a single abraço.
Now I'm really confused... How in heavens can I help you then? Would you like me to hug you for the rest of your life? Or maybe we could go further and see what happens...
Actually, I was considering something even better - I'd like you to break my heart.
Wha...
C'mon, you've done it before... it's not that hard, is it? Even though I know you'll be lying.
Oh, really?
Yes. We both know the way you feel about me.
Is that so?
Yes. But it's pointless now, so I don't care: lie to me.
...
Lie to me and make me think it's true.
My God! You're insane! Are you out of your mind?
I'm getting married.
And now this...
I'm not kidding. I'm getting married.
(pause)
(shock)
Really?
Yes.
Wow... I didn't see it coming...
And...
What?
Well...
What can I say? I'm quite happy for you and your husband, and I wish you all the very best, my dear.
Thank you.
.
xxxxxxxxxxxxxERIN'S WINDOW IS CLOSED.xxxxxxxxxxxxx

domingo, 29 de novembro de 2009

We're gonna change the world

Convido você a mudar de comportamento. Vamos parar de reproduzir as atitudes alheias que não levam a nada? Não é fácil, mas é necessário. Eu, por exemplo, falo muito, muito mal, muitas vezes. Coisas que não fazem sentido, coisas das quais mais tarde me arrependo. Percebo que falo o que penso das pessoas sem que elas tenham a chance de mostrarem-se diferentes. Falo o que penso, e penso tão diferente a cada instante... Reprovo comportamentos e admiro valores, lado a lado. Todo mundo tem seu lado ruim, todo mundo tem seu lado bom. Eu enxergo os dois, e falo. Todo mundo tem seus defeitos, quase todos têm qualidades inegáveis - eu percebo. Aos poucos quem não me faz bem vai procurando seu rumo, sem choro nem vela: uma questão de qualidade de vida. E para acompanhar esse processo, que tal transformar um comentário ruim em um bom? Afinal, comentários ruins enchem o estômago de sapos pesados, trazem culpa. No final, as pessoas nunca são tão ruins quanto parecem (pelo menos boa parte delas). O problema é meu reflexo nem sempre apurado, às vezes sem nexo: o que eu reflito, eu devolvo. Indiferença, amor, alegria, rudeza. Tento na medida do possível devolver a falsidade; nem sempre consigo - é uma senhora virtude!... Então aí vai um convite: esqueçamos os confidentes que espalharam confidências, perdoemos aos fracos cuja verdade não tem vez, louvemos os amigos de aluguel pelos serviços prestados, ignoremos a quem não consegue querer-nos bem, porque querer bem aos outros é um dom. Vamos trocar um comentário ruim por um bom às segundas-feiras. Na terceira semana tente dobrar esse número e aumente um comentário a cada semana. Depois do quinto, passe pra terça. É um exercício, vamos tentar? Se não aguentar, beba leite... e comece de novo. Vou começar, você vem? Malhar a alma pode ser tão tentador quanto malhar o outro.

We're gonna change the world

Convido você a mudar de comportamento. Vamos parar de reproduzir as atitudes alheias que não levam a nada? Não é fácil, mas é necessário. Eu, por exemplo, falo muito, muito mal, muitas vezes. Coisas que não fazem sentido, coisas das quais mais tarde me arrependo. Percebo que falo o que penso das pessoas sem que elas tenham a chance de mostrarem-se diferentes. Falo o que penso, e penso tão diferente a cada instante... Reprovo comportamentos e admiro valores, lado a lado. Todo mundo tem seu lado ruim, todo mundo tem seu lado bom. Eu enxergo os dois, e falo. Todo mundo tem seus defeitos, quase todos têm qualidades inegáveis - eu percebo. Aos poucos quem não me faz bem vai procurando seu rumo, sem choro nem vela: uma questão de qualidade de vida. E para acompanhar esse processo, que tal transformar um comentário ruim em um bom? Afinal, comentários ruins enchem o estômago de sapos pesados, trazem culpa. No final, as pessoas nunca são tão ruins quanto parecem (pelo menos boa parte delas). O problema é meu reflexo nem sempre apurado, às vezes sem nexo: o que eu reflito, eu devolvo. Indiferença, amor, alegria, rudeza. Tento na medida do possível devolver a falsidade; nem sempre consigo - é uma senhora virtude!... Então aí vai um convite: esqueçamos os confidentes que espalharam confidências, perdoemos aos fracos cuja verdade não tem vez, louvemos os amigos de aluguel pelos serviços prestados, ignoremos a quem não consegue querer-nos bem, porque querer bem aos outros é um dom. Vamos trocar um comentário ruim por um bom às segundas-feiras. Na terceira semana tente dobrar esse número e aumente um comentário a cada semana. Depois do quinto, passe pra terça. É um exercício, vamos tentar? Se não aguentar, beba leite... e comece de novo. Vou começar, você vem? Malhar a alma pode ser tão tentador quanto malhar o outro.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Inefável

Hoje os mundos se encontram, as palavras se perdem.
Quando te conheci senti uma coisa doida, quase que como tudo na vida. Falei por nós dois, e um belo dia me veio à cabeça que você não ter me dito nada fez toda a diferença. O vento sopra suave, o calor é intenso, e nessa alegria abafada eu te procuro, te imagino. Penso no seu sorriso, na sua saúde, na sua tentativa de viver acuado, sufocado por desejos que na verdade, na verdade mesmo, nunca foram seus. Te penso, sem me dar conta te desejo muitíssimo por tantos infindáveis momentos... Dessa forma te alcanço. Recupero as formas do seu andar, as cores do seu abraço. Enxergo com toda clareza a intensidade do seu sono. Quisera Deus que fosse eu, quisera eu que na placidez desse dia morno te deixasse ir, com juízo, com cuidado, para algum lugar que te faça feliz... Talvez outro dia, mas não hoje. Hoje estamos conectados; é mais um daqueles dias em que você parece estar aqui. Amanhã certamente será diferente - energia nova, grandes expectativas. Amanhã faremos os dois outras coisas, ocuparemos nosso pensamento com outras pessoas, participaremos de outras ocasiões. Iremos à luta com unhas e dentes, amaremos estarmos vivos, sentiremos o clima da estação na pele fina do rosto. Amanhã não farei parte do seu capítulo, nem em sonho, mas hoje... Hoje eu mais uma vez me repito quando digo que o tempo parou de passar. Não há porque chorar ou se divertir. É quase tão louco quanto tudo na vida ser invadida por essa esperança involuntária. Hoje o episódio não conta - estamos de férias dessa paródia malcontada que é a nossa vida. Pra onde quer que o planeta gire, hoje os mundos se encontraram e as palavras se perderam. Até amanhã...

Inefável

Hoje os mundos se encontram, as palavras se perdem.
Quando te conheci senti uma coisa doida, quase que como tudo na vida. Falei por nós dois, e um belo dia me veio à cabeça que você não ter me dito nada fez toda a diferença. O vento sopra suave, o calor é intenso, e nessa alegria abafada eu te procuro, te imagino. Penso no seu sorriso, na sua saúde, na sua tentativa de viver acuado, sufocado por desejos que na verdade, na verdade mesmo, nunca foram seus. Te penso, sem me dar conta te desejo muitíssimo por tantos infindáveis momentos... Dessa forma te alcanço. Recupero as formas do seu andar, as cores do seu abraço. Enxergo com toda clareza a intensidade do seu sono. Quisera Deus que fosse eu, quisera eu que na placidez desse dia morno te deixasse ir, com juízo, com cuidado, para algum lugar que te faça feliz... Talvez outro dia, mas não hoje. Hoje estamos conectados; é mais um daqueles dias em que você parece estar aqui. Amanhã certamente será diferente - energia nova, grandes expectativas. Amanhã faremos os dois outras coisas, ocuparemos nosso pensamento com outras pessoas, participaremos de outras ocasiões. Iremos à luta com unhas e dentes, amaremos estarmos vivos, sentiremos o clima da estação na pele fina do rosto. Amanhã não farei parte do seu capítulo, nem em sonho, mas hoje... Hoje eu mais uma vez me repito quando digo que o tempo parou de passar. Não há porque chorar ou se divertir. É quase tão louco quanto tudo na vida ser invadida por essa esperança involuntária. Hoje o episódio não conta - estamos de férias dessa paródia malcontada que é a nossa vida. Pra onde quer que o planeta gire, hoje os mundos se encontraram e as palavras se perderam. Até amanhã...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Um pouco louco

Era uma vez uma menina que queria achar a chave pra tudo. Descobriu que a chave estava num lugar muito pertinho dela e ficou frustrada por ter demorado a descobrir. Num ímpeto, jogou a dita cuja pra lá de onde jamais se acha alguma coisa e foi dormir. Sonhou com travesseiros, lagartixas e um olho bem grande parado no meio do sonho, escancarado, olhando pra ela. Fez uma força muito grande pra fechar o olhão sinistro, mas ele estava preso a uma tomada e, na confusão, se soltou. Depois desse dia ela tentou me convencer de que sua vida está bem melhor, de que ela agora sabe da verdade. Eu a vejo falar sozinha e acho engraçado; os médicos acham patológico; os pais acham louco. Ela vive hoje em um local isolado. Ela fala comigo, ela me conhece, como isso pode ser louco? Como se enxerga a loucura, como se mede? Gosta de flores e coelhos, nunca fez mal a nenhum dos dois. Se ela é calma, por que remédios para ansiedade? Se ela é feliz consigo mesma, por que remédios para depressão? As pessoas não a compreendem. Linda, doce... e só. Tudo que ela queria era achar a chave para si. Soube um belo dia que a chave para si a separava do mundo. Não teve medo, não havia o que perder. Vive longe dos homens, mas depende deles para as coisas mais mundanas. Não se dá conta. É amada por alguém que não importa, coloca roupas que independem da hora certa. Vive sem estado civil, sem bandeira. Dorme e acorda. Há muito tempo deixou de sonhar. Conversa com os caracóis dos seus longos cabelos, e isso lhe basta. Como seria se isso bastasse pra você? Um pouco louco, né? Não se acanhe! É assim que a banda toca...

Um pouco louco

Era uma vez uma menina que queria achar a chave pra tudo. Descobriu que a chave estava num lugar muito pertinho dela e ficou frustrada por ter demorado a descobrir. Num ímpeto, jogou a dita cuja pra lá de onde jamais se acha alguma coisa e foi dormir. Sonhou com travesseiros, lagartixas e um olho bem grande parado no meio do sonho, escancarado, olhando pra ela. Fez uma força muito grande pra fechar o olhão sinistro, mas ele estava preso a uma tomada e, na confusão, se soltou. Depois desse dia ela tentou me convencer de que sua vida está bem melhor, de que ela agora sabe da verdade. Eu a vejo falar sozinha e acho engraçado; os médicos acham patológico; os pais acham louco. Ela vive hoje em um local isolado. Ela fala comigo, ela me conhece, como isso pode ser louco? Como se enxerga a loucura, como se mede? Gosta de flores e coelhos, nunca fez mal a nenhum dos dois. Se ela é calma, por que remédios para ansiedade? Se ela é feliz consigo mesma, por que remédios para depressão? As pessoas não a compreendem. Linda, doce... e só. Tudo que ela queria era achar a chave para si. Soube um belo dia que a chave para si a separava do mundo. Não teve medo, não havia o que perder. Vive longe dos homens, mas depende deles para as coisas mais mundanas. Não se dá conta. É amada por alguém que não importa, coloca roupas que independem da hora certa. Vive sem estado civil, sem bandeira. Dorme e acorda. Há muito tempo deixou de sonhar. Conversa com os caracóis dos seus longos cabelos, e isso lhe basta. Como seria se isso bastasse pra você? Um pouco louco, né? Não se acanhe! É assim que a banda toca...

sábado, 21 de novembro de 2009

Dom Quixote

Deus misericordioso, o que fizeram com a idéia, com a mocréia, com a centopéia? Coitadinhas, ficaram tão tristes... arrancaram delas seu brilho, tiraram delas toda a sua força. Agora elas se chamam ideia, mocreia, centopeia. Estão xoxinhas, deprimidas. A mocreia está sem ideia, a centopeia até resolveu se compadecer da mocreia, já que além da condição lhe falta agora um pedaço. O vilão que realizou essa barbaridade não pensou sequer por um segundo na natureza dessas garotas. Uma boa idéia precisa de força pra vingar; uma centopéia precisa de força ao colocar aquilo tudo pra funcionar. E a mocréia precisa de muita força pra ter uma boa idéia e sair da zona das centopéicas desventuras. Eu acredito em vocês, palavras, e nunca hei de tirar-lhes a peruca de Sansão, ainda que ela lembre mais o cabelo do Cebolinha... Avante! Branca, Branca, Leone, Leone, Leone!

Dom Quixote

Deus misericordioso, o que fizeram com a idéia, com a mocréia, com a centopéia? Coitadinhas, ficaram tão tristes... arrancaram delas seu brilho, tiraram delas toda a sua força. Agora elas se chamam ideia, mocreia, centopeia. Estão xoxinhas, deprimidas. A mocreia está sem ideia, a centopeia até resolveu se compadecer da mocreia, já que além da condição lhe falta agora um pedaço. O vilão que realizou essa barbaridade não pensou sequer por um segundo na natureza dessas garotas. Uma boa idéia precisa de força pra vingar; uma centopéia precisa de força ao colocar aquilo tudo pra funcionar. E a mocréia precisa de muita força pra ter uma boa idéia e sair da zona das centopéicas desventuras. Eu acredito em vocês, palavras, e nunca hei de tirar-lhes a peruca de Sansão, ainda que ela lembre mais o cabelo do Cebolinha... Avante! Branca, Branca, Leone, Leone, Leone!

Conspiração

Ontem eu cantei depois de muito tempo. Foi despretensioso, foi gostoso... singular. Um pouco peculiar, é verdade, mas de um jeito estranho o universo parece conspirar para que o microfone caia na minha mão. Ontem eu respirei e peguei o tom sem saber explicar nada, sem estudo algum, quase sem educação. Meu corpo sorriu, minha cabeça voou longe, meu coração derramou cada uma daquelas doces palavras, de Chico, de Paulinho, de Cartola... Não é que o samba é a coisa mais bonita desse mundo? Minha boca se abriu sem eu pedir, e dela saíram os versos mágicos que embalam a cadência bonita. Demais. É engraçado como meu organismo reage ao absorver boa música. Me imagino como um daqueles personagens de desenho animado, que sentem um cheiro gostoso ou vêem alguém muito interessante e começam a flutuar naquela direção. Num instante estou lá, pentelhando os músicos. Não quero só ouvir, preciso participar, fico querendo cantar. Quase que desesperadamente. E quando o microfone cai na minha mão, ah! Sinto que minha vida está resolvida, meu segredo descoberto: é como se tivesse vindo ao mundo só pra viver de poesia, pra cantar a poesia... pra fazer isso e aquilo.

Conspiração

Ontem eu cantei depois de muito tempo. Foi despretensioso, foi gostoso... singular. Um pouco peculiar, é verdade, mas de um jeito estranho o universo parece conspirar para que o microfone caia na minha mão. Ontem eu respirei e peguei o tom sem saber explicar nada, sem estudo algum, quase sem educação. Meu corpo sorriu, minha cabeça voou longe, meu coração derramou cada uma daquelas doces palavras, de Chico, de Paulinho, de Cartola... Não é que o samba é a coisa mais bonita desse mundo? Minha boca se abriu sem eu pedir, e dela saíram os versos mágicos que embalam a cadência bonita. Demais. É engraçado como meu organismo reage ao absorver boa música. Me imagino como um daqueles personagens de desenho animado, que sentem um cheiro gostoso ou vêem alguém muito interessante e começam a flutuar naquela direção. Num instante estou lá, pentelhando os músicos. Não quero só ouvir, preciso participar, fico querendo cantar. Quase que desesperadamente. E quando o microfone cai na minha mão, ah! Sinto que minha vida está resolvida, meu segredo descoberto: é como se tivesse vindo ao mundo só pra viver de poesia, pra cantar a poesia... pra fazer isso e aquilo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Either way

I have always liked what I don't know.
This could be a major mistake
or the key to a precious world.
Either way,
I just wanted you to know
in case you grow old
and never quite get
why I have fallen in love
and shown from day one
I wanted to have a go.
You could have let it flow
but you preferred to stay away.
Let's just say
I loved you so
when I didn't know you...
I've learned to throw up my hands
and live one new adventure at a time
I still like what I don't know
But, after all, you're old news;
There'll always be a better place to go...

Either way

I have always liked what I don't know.
This could be a major mistake
or the key to a precious world.
Either way,
I just wanted you to know
in case you grow old
and never quite get
why I have fallen in love
and shown from day one
I wanted to have a go.
You could have let it flow
but you preferred to stay away.
Let's just say
I loved you so
when I didn't know you...
I've learned to throw up my hands
and live one new adventure at a time
I still like what I don't know
But, after all, you're old news;
There'll always be a better place to go...

domingo, 15 de novembro de 2009

Passagem

Entro mar adentro
subo ladeira adiante
meu coração pulsa mais forte do que antes.
O corpo para, mingua, se abate
luta sem resultado aparente
é fundamental que eu não me espante
e é natural que eu me afaste
do mundo, ali deitado
jurado de morte
jogado ao sal e ao sol da própria sorte.
Penso em comandar um levante
Lembro-me de dom Quixote
do Grande Mentecapto
acho tudo aquilo fascinante
Sorrio e num sopro a vida se esvai.
Quero pedir a eles que não chorem
que a dor passou, que o mal se foi
que a luz que eu vejo agora
me acalma, me restaura
me leva a um lugar impressionante.

Passagem

Entro mar adentro
subo ladeira adiante
meu coração pulsa mais forte do que antes.
O corpo para, mingua, se abate
luta sem resultado aparente
é fundamental que eu não me espante
e é natural que eu me afaste
do mundo, ali deitado
jurado de morte
jogado ao sal e ao sol da própria sorte.
Penso em comandar um levante
Lembro-me de dom Quixote
do Grande Mentecapto
acho tudo aquilo fascinante
Sorrio e num sopro a vida se esvai.
Quero pedir a eles que não chorem
que a dor passou, que o mal se foi
que a luz que eu vejo agora
me acalma, me restaura
me leva a um lugar impressionante.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Conto do Abílio

Tinha medo. Não sabia se era só uma transa ou se rolava sentimento. Tentava levar numa boa, dizia pelos cantos que não misturar as coisas era uma iniciativa sua. Saía pela noite e pensava nela, mas não podia se abrir. Quem é que iria entender? Não queria nada daquilo, havia educado seus instintos para entregar-se a alguém completamente diferente. Ela era linda, o que era aquilo... Cheirosa, macia - um querer absolutamente infundado. O que seus amigos iriam dizer, como as pessoas iriam responder a toda aquela miscelânea? Olhava-se no espelho, convencia-se de que sua missão no mundo não era a de casar e ter filhos. Chorava no chuveiro - tinha que esquecer, não era uma questão de escolha. A confusão virava-lhe os olhos, pinçava o nervo ciático. Virar folha naquela altura do campeonato já não fazia sentido. Ponderava e bebia, sentia-se angustiado pela pressão que havia colocado em si próprio. Considerou viajar pelo mundo, levá-la consigo, viver uma vida que ninguém julgasse. Ouvia músicas e em pouco tempo estava faminto de desejo. Ela parecia não se importar nem um pouco com a situação - muitos diriam inclusive que ela mal sabia o que se passava do outro lado da linha. Ele esperava, ela ligava, eles se viam, se sentiam, suavam, sorriam... respiravam... se despediam. Como conviver com esse trauma? Ele marcava médicos pra ver a dor de estômago, a mudança na urina, a dor de cabeça, as taquicardias, as urticárias. Ela ligava e dava risadas, contava piadas, brincava com sua hipocondria, sempre natural, sempre a saber notícias. Uma amiga. Amiga? Amiga ou PF? Amante? Possibilidade? !@#$%¨&*!!! Um dia ele conversou longamente com um psicólogo em um jantar. O profissional, de forma tranquila e pontual, assinalou em seu comportamento uma discrepância singular. "Olha, eu já conversei com muita gente, Abílio, já vi muita coisa, mas é a primeira vez que alguém me fala que está encontrando dificuldade para manter-se gay. (...) Faz o seguinte: já que a questão com a garota é complicada pra você, porque parece que está havendo um certo envolvimento, só tem um jeito: coloque as cartas em cima da mesa, fale o que você sente. Como ela está a fim de curtição, é natural que se afaste. Vai doer no princípio, mas você vai se safar da maneira mais tranquila. Confie em mim." Aquele camarada era a chave de cadeia em pessoa, o bigodinho oleoso nas pontas assinava o diploma de cafa. Mas não é que ele tinha razão? Será? Não esperou muito. Ela ligou, ele marcou, lá ela estava. Ele a pediu em casamento; ela aceitou. Casaram-se logo: os pais adoraram, todo o resto estranhou. Reuniu os amigos e mencionou a pressão dos pais já idosos. Para a mãe, disse que havia se cansado de sofrer preconceito. Para o pai, disse que queria dar-lhe um neto. Para Raquel, contou do seu amor e confessou que, secretamente, a faria a mulher mais feliz do mundo. Ela riu, não disse nada. Em segundos lá estavam, emaranhados nos lençóis pela milésima vez.

Conto do Abílio

Tinha medo. Não sabia se era só uma transa ou se rolava sentimento. Tentava levar numa boa, dizia pelos cantos que não misturar as coisas era uma iniciativa sua. Saía pela noite e pensava nela, mas não podia se abrir. Quem é que iria entender? Não queria nada daquilo, havia educado seus instintos para entregar-se a alguém completamente diferente. Ela era linda, o que era aquilo... Cheirosa, macia - um querer absolutamente infundado. O que seus amigos iriam dizer, como as pessoas iriam responder a toda aquela miscelânea? Olhava-se no espelho, convencia-se de que sua missão no mundo não era a de casar e ter filhos. Chorava no chuveiro - tinha que esquecer, não era uma questão de escolha. A confusão virava-lhe os olhos, pinçava o nervo ciático. Virar folha naquela altura do campeonato já não fazia sentido. Ponderava e bebia, sentia-se angustiado pela pressão que havia colocado em si próprio. Considerou viajar pelo mundo, levá-la consigo, viver uma vida que ninguém julgasse. Ouvia músicas e em pouco tempo estava faminto de desejo. Ela parecia não se importar nem um pouco com a situação - muitos diriam inclusive que ela mal sabia o que se passava do outro lado da linha. Ele esperava, ela ligava, eles se viam, se sentiam, suavam, sorriam... respiravam... se despediam. Como conviver com esse trauma? Ele marcava médicos pra ver a dor de estômago, a mudança na urina, a dor de cabeça, as taquicardias, as urticárias. Ela ligava e dava risadas, contava piadas, brincava com sua hipocondria, sempre natural, sempre a saber notícias. Uma amiga. Amiga? Amiga ou PF? Amante? Possibilidade? !@#$%¨&*!!! Um dia ele conversou longamente com um psicólogo em um jantar. O profissional, de forma tranquila e pontual, assinalou em seu comportamento uma discrepância singular. "Olha, eu já conversei com muita gente, Abílio, já vi muita coisa, mas é a primeira vez que alguém me fala que está encontrando dificuldade para manter-se gay. (...) Faz o seguinte: já que a questão com a garota é complicada pra você, porque parece que está havendo um certo envolvimento, só tem um jeito: coloque as cartas em cima da mesa, fale o que você sente. Como ela está a fim de curtição, é natural que se afaste. Vai doer no princípio, mas você vai se safar da maneira mais tranquila. Confie em mim." Aquele camarada era a chave de cadeia em pessoa, o bigodinho oleoso nas pontas assinava o diploma de cafa. Mas não é que ele tinha razão? Será? Não esperou muito. Ela ligou, ele marcou, lá ela estava. Ele a pediu em casamento; ela aceitou. Casaram-se logo: os pais adoraram, todo o resto estranhou. Reuniu os amigos e mencionou a pressão dos pais já idosos. Para a mãe, disse que havia se cansado de sofrer preconceito. Para o pai, disse que queria dar-lhe um neto. Para Raquel, contou do seu amor e confessou que, secretamente, a faria a mulher mais feliz do mundo. Ela riu, não disse nada. Em segundos lá estavam, emaranhados nos lençóis pela milésima vez.

Just in case

É tão interessante julgar, especular, achar e desachar, simplesmente sair falando pelos cotovelos da vida do outro sem saber da missa a metade... Não dói, não fede, não faz barulho, não ME incomoda. Caso clássico: a amiga que tem um namorado e que conta tudo pra ele. O namorado não sabe nada de você, deve ter te visto umas três vezes na vida, não tem a menor intimidade - e com certeza nunca vai ter porque você tem bom senso suficiente pra manter sua distância - e a amiga vem te contar que o namorado acha que você é assim e assado, que faz isso e aquilo. Se ela te conhece bem, certamente não vai querer unir vocês dois no mesmo local num futuro próximo: imaginem que chato o namorado ser questionado na frente da amiga. Não mexe com quem tá quieto... Outra coisa bem recorrente são comentários não perguntando o que eu quis dizer, mas afirmando as mais variadas coisas. Já recebi umas mensagens de indignação e até de sarcasmo pra rebater o que eu supostamente teria escrito sobre alguém específico. O problema de quem não escreve é não saber como o mecanismo funciona - se é que existe um... Cada sujeito, cada caso, cada poema, é baseado nas próprias impressões da pessoa sobre o mundo e os demais seres. É claro que uma personagem pode ter muitas características de uma pessoa, mas tem várias de mil outras. A mente de quem escreve não descansa um minuto. A gente mistura o livro que leu ontem com o comentário da moça no ponto de ônibus, com a palhaçada que rolou com um amigo seu, com a dor e o prazer, o poder, a submissão e a fantasia, a zona de combate e a vontade de bater sem dó em quem faz uma sacanagem, os degraus de uma igreja e a superficialidade das pessoas. O que eu quero falar eu acabo falando - mesmo que demore um pouco, mesmo que eu me estrepe por não ter nada a ver com isso, mesmo que doa e me incomode. Nesse meio-tempo eu escrevo. E exerço com louvor minha humanidade: julgo os livros pela capa, abro a boca pra sorrir e criticar, faço careta quando não consigo deixar de expressar o intragável e o insustentável, ainda que todas essas mazelas também existam em mim, ainda que eu fale do outro para esquecer um pouco quem eu sou. Sou ciumenta SIM, amo meu marido SIM, odeio que liguem pra ele SIM e sou impaciente e mal-humorada com os adultos. Para relembrar a quem me conhece e polidamente avisar a quem acha que sim, aí vai meu bom e velho bordão, a primeira coisa que eu digo, antes mesmo de falar meu nome: "Num viaja nimim, não!" Eu sou eu, você é você - ficamos assim.

Just in case

É tão interessante julgar, especular, achar e desachar, simplesmente sair falando pelos cotovelos da vida do outro sem saber da missa a metade... Não dói, não fede, não faz barulho, não ME incomoda. Caso clássico: a amiga que tem um namorado e que conta tudo pra ele. O namorado não sabe nada de você, deve ter te visto umas três vezes na vida, não tem a menor intimidade - e com certeza nunca vai ter porque você tem bom senso suficiente pra manter sua distância - e a amiga vem te contar que o namorado acha que você é assim e assado, que faz isso e aquilo. Se ela te conhece bem, certamente não vai querer unir vocês dois no mesmo local num futuro próximo: imaginem que chato o namorado ser questionado na frente da amiga. Não mexe com quem tá quieto... Outra coisa bem recorrente são comentários não perguntando o que eu quis dizer, mas afirmando as mais variadas coisas. Já recebi umas mensagens de indignação e até de sarcasmo pra rebater o que eu supostamente teria escrito sobre alguém específico. O problema de quem não escreve é não saber como o mecanismo funciona - se é que existe um... Cada sujeito, cada caso, cada poema, é baseado nas próprias impressões da pessoa sobre o mundo e os demais seres. É claro que uma personagem pode ter muitas características de uma pessoa, mas tem várias de mil outras. A mente de quem escreve não descansa um minuto. A gente mistura o livro que leu ontem com o comentário da moça no ponto de ônibus, com a palhaçada que rolou com um amigo seu, com a dor e o prazer, o poder, a submissão e a fantasia, a zona de combate e a vontade de bater sem dó em quem faz uma sacanagem, os degraus de uma igreja e a superficialidade das pessoas. O que eu quero falar eu acabo falando - mesmo que demore um pouco, mesmo que eu me estrepe por não ter nada a ver com isso, mesmo que doa e me incomode. Nesse meio-tempo eu escrevo. E exerço com louvor minha humanidade: julgo os livros pela capa, abro a boca pra sorrir e criticar, faço careta quando não consigo deixar de expressar o intragável e o insustentável, ainda que todas essas mazelas também existam em mim, ainda que eu fale do outro para esquecer um pouco quem eu sou. Sou ciumenta SIM, amo meu marido SIM, odeio que liguem pra ele SIM e sou impaciente e mal-humorada com os adultos. Para relembrar a quem me conhece e polidamente avisar a quem acha que sim, aí vai meu bom e velho bordão, a primeira coisa que eu digo, antes mesmo de falar meu nome: "Num viaja nimim, não!" Eu sou eu, você é você - ficamos assim.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Diferença...

Queria sair
ir pra onde o vento não sopre
lá onde o sol não me ache...
queria parar de ouvir
os lamentos que me cercam
e acreditar nas sombras que de longe
me enfraquecem, me sucateiam
Não há mais o que ver nem em que crer
não há mais o que temer
e ainda assim tenho medo
de acordar e não ser mais eu
de esquecer a melodia,
de perder a hora para toda
e qualquer coisa.
Queria sair e tenho que entrar.
Tenho que pegar a chave
caminhar até a porta
abri-la sem nenhuma vontade
acender as luzes e sorrir.
Há quem diga que um dia
o hoje será uma oportunidade
de se pensar o amanhã.
Até lá a gente caminha
nada de braçada na discórdia
reza e pede pela indiferença.

Diferença...

Queria sair
ir pra onde o vento não sopre
lá onde o sol não me ache...
queria parar de ouvir
os lamentos que me cercam
e acreditar nas sombras que de longe
me enfraquecem, me sucateiam
Não há mais o que ver nem em que crer
não há mais o que temer
e ainda assim tenho medo
de acordar e não ser mais eu
de esquecer a melodia,
de perder a hora para toda
e qualquer coisa.
Queria sair e tenho que entrar.
Tenho que pegar a chave
caminhar até a porta
abri-la sem nenhuma vontade
acender as luzes e sorrir.
Há quem diga que um dia
o hoje será uma oportunidade
de se pensar o amanhã.
Até lá a gente caminha
nada de braçada na discórdia
reza e pede pela indiferença.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Contos de Natal

---Era uma vez um senhor que se casou com sua colega de escola. Nunca haviam imaginado que poderiam ser tão felizes. Realmente o foram, até que Leila, a colega de escola, faleceu em um acidente de carro. Na verdade, como contaram depois, o acidente foi provocado pela morte da própria Leila dentro do carro. Ela voltava de seu curso de bordado com a amiga Nice, quando, depois de três perguntas não respondidas, João, o filho caçula de Nice, disse à mãe que dona Leila não iria responder porque tinha dormido de tanto frio. Nice virou-se para olhar a amiga e bateu em uma árvore. João sobreviveu para contar a história.
---O nome do senhor era Armando. Aposentado há alguns anos, vivia para agradar a esposa. Levava e buscava a companheira em todos os cursos, em todos os lugares. E olha que eram muitos. Seu Armando nunca reclamou, seus olhinhos azuis brilhavam ao avistar sua pequena - assim ele a chamava. Sua vida terminou quando ligaram do hospital para dar-lhe a notícia. Ele estava de cama, com uma febre altíssima, e por isso dona Leila havia convencido o marido de que ele deveria descansar; ela iria ao curso de bordado com a amiga e vizinha. De que valia descansar agora? Quantas coisas ele quis dizer, quantas coisas quis que fizessem juntos... Andava desorientado pela casa, recolhendo tudo que ainda tinha seu cheiro, espremia os olhos para lembrar-se de cada sorriso, de cada traço presente no rosto dela. Apertava as mãos trêmulas e imaginava segurar a mãozinha quente de dona Leila, sua colega de escola.
---A vida que terminou não podia terminar na verdade. Seu Armando era muito católico e sabia que não poderia jamais atentar contra a própria vida. O que ele decidiu fazer foi bem simples - sentou... e esperou. Rezava fervorosamente e pedia a dona Leila para vir buscá-lo, todos os dias. Fez contato com outras dimensões, organizava reuniões mediúnicas na sala de sua casa. E, claro, sempre recorria ao seu tercinho bento na hora de dormir.
---Passados alguns meses, começou um dia a ouvir sua voz, bem ao longe. Rezava e pedia "Meu amor, minha pequena, me leve com você". Ainda não conseguia entender o que lhe respondia a vozinha de dona Leila. Aos poucos, ela foi se tornando mais firme, mais próxima, mas ainda assim seu Armando nada compreendia. Dona Leila apareceu num dia de chuva, no meio da sala de jantar. "Graças a Deus! O Senhor seja louvado! Minha pequena veio me buscar, hosana nas alturas!" Já ia se levantando da poltrona, quando dona Leila o interrompeu com um gesto brusco. "Olha, bem, infelizmente você não pode vir comigo para o reino dos céus". Seu Armando caiu na poltrona, incrédulo. "O que é que você está dizendo, pequena? Você não está aqui pra me buscar? Já não sofri o suficiente? Tudo que eu quero é ficar do seu lado por toda a eternidade." Dona Leila respirou fundo: "Pois é, bem, mas não vai dar." Seu Armando, paralisado, tentava decifrar a feição neutra da esposa, aquele rosto tão agradável... que nada dizia. Depois de alguns segundos, dona Leila tomou fôlego e falou de uma vez: "Você não pode subir comigo ao reino dos céus porque você me traiu, Armando." Pausa. Longa. O pobre homem achou que iria enfartar ali mesmo. Tentou buscar dentro da cabeça uma única brecha em sua conduta, já que havia dedicado toda uma vida àquela criatura que agora o acusava à queima-roupa. "Quando a gente morre, recebe um filme sobre nossas vidas, sabe? Nesse filme vi você, em 1958, de mão dada com a Wandinha da sorveteria dentro do cinema." Seu Armando olhava a mulher, perplexo. "A gente já namorava, Armando." Dona Leila tentou segurar o choro. "Enfim, Deus, Senhor misericordioso, me perguntou se eu te perdoaria por isso, essa sendo a condição para que você viesse a me acompanhar na eternidade." Pausa. "A resposta você já sabe." Choque. 10.000 Volts.
---Seu Armando, 69 anos, bonitão e cheio de vida - e de dinheiro - não acreditava no que ouvia. Ficou quieto, enterrado em sua poltrona, por alguns minutos. A mulher olhava pela janela, também em silêncio. "Quer dizer que você vem lá do além pra me comunicar que não vai me levar." "Isso mesmo." O homem levantou-se devagar, com certa dificuldade, e foi até o telefone. "Espere aí." Ligou para Tânia, uma gostosa que participava das reuniões mediúnicas e dava bem em cima dele. Em cinco minutos o interfone tocava. "Agora pode ir, tenho visita." Dona Leila, incrédula, assistiu ao momento em que a porta se abriu e aquela ruiva escultural entrou sexy e sorrateira como uma tigresa.
---Seu Armando morreu pouco depois; sofreu infarto fulminante durante o coito. Dizem seus companheiros mediúnicos que foi pra um lugar muito quente, cheio de festas, música alta e gatinhas de biquíni. Nunca na vida ele havia estado em um lugar como aquele. Tenho pra mim que ele não achou ruim, não.

Contos de Natal

---Era uma vez um senhor que se casou com sua colega de escola. Nunca haviam imaginado que poderiam ser tão felizes. Realmente o foram, até que Leila, a colega de escola, faleceu em um acidente de carro. Na verdade, como contaram depois, o acidente foi provocado pela morte da própria Leila dentro do carro. Ela voltava de seu curso de bordado com a amiga Nice, quando, depois de três perguntas não respondidas, João, o filho caçula de Nice, disse à mãe que dona Leila não iria responder porque tinha dormido de tanto frio. Nice virou-se para olhar a amiga e bateu em uma árvore. João sobreviveu para contar a história.
---O nome do senhor era Armando. Aposentado há alguns anos, vivia para agradar a esposa. Levava e buscava a companheira em todos os cursos, em todos os lugares. E olha que eram muitos. Seu Armando nunca reclamou, seus olhinhos azuis brilhavam ao avistar sua pequena - assim ele a chamava. Sua vida terminou quando ligaram do hospital para dar-lhe a notícia. Ele estava de cama, com uma febre altíssima, e por isso dona Leila havia convencido o marido de que ele deveria descansar; ela iria ao curso de bordado com a amiga e vizinha. De que valia descansar agora? Quantas coisas ele quis dizer, quantas coisas quis que fizessem juntos... Andava desorientado pela casa, recolhendo tudo que ainda tinha seu cheiro, espremia os olhos para lembrar-se de cada sorriso, de cada traço presente no rosto dela. Apertava as mãos trêmulas e imaginava segurar a mãozinha quente de dona Leila, sua colega de escola.
---A vida que terminou não podia terminar na verdade. Seu Armando era muito católico e sabia que não poderia jamais atentar contra a própria vida. O que ele decidiu fazer foi bem simples - sentou... e esperou. Rezava fervorosamente e pedia a dona Leila para vir buscá-lo, todos os dias. Fez contato com outras dimensões, organizava reuniões mediúnicas na sala de sua casa. E, claro, sempre recorria ao seu tercinho bento na hora de dormir.
---Passados alguns meses, começou um dia a ouvir sua voz, bem ao longe. Rezava e pedia "Meu amor, minha pequena, me leve com você". Ainda não conseguia entender o que lhe respondia a vozinha de dona Leila. Aos poucos, ela foi se tornando mais firme, mais próxima, mas ainda assim seu Armando nada compreendia. Dona Leila apareceu num dia de chuva, no meio da sala de jantar. "Graças a Deus! O Senhor seja louvado! Minha pequena veio me buscar, hosana nas alturas!" Já ia se levantando da poltrona, quando dona Leila o interrompeu com um gesto brusco. "Olha, bem, infelizmente você não pode vir comigo para o reino dos céus". Seu Armando caiu na poltrona, incrédulo. "O que é que você está dizendo, pequena? Você não está aqui pra me buscar? Já não sofri o suficiente? Tudo que eu quero é ficar do seu lado por toda a eternidade." Dona Leila respirou fundo: "Pois é, bem, mas não vai dar." Seu Armando, paralisado, tentava decifrar a feição neutra da esposa, aquele rosto tão agradável... que nada dizia. Depois de alguns segundos, dona Leila tomou fôlego e falou de uma vez: "Você não pode subir comigo ao reino dos céus porque você me traiu, Armando." Pausa. Longa. O pobre homem achou que iria enfartar ali mesmo. Tentou buscar dentro da cabeça uma única brecha em sua conduta, já que havia dedicado toda uma vida àquela criatura que agora o acusava à queima-roupa. "Quando a gente morre, recebe um filme sobre nossas vidas, sabe? Nesse filme vi você, em 1958, de mão dada com a Wandinha da sorveteria dentro do cinema." Seu Armando olhava a mulher, perplexo. "A gente já namorava, Armando." Dona Leila tentou segurar o choro. "Enfim, Deus, Senhor misericordioso, me perguntou se eu te perdoaria por isso, essa sendo a condição para que você viesse a me acompanhar na eternidade." Pausa. "A resposta você já sabe." Choque. 10.000 Volts.
---Seu Armando, 69 anos, bonitão e cheio de vida - e de dinheiro - não acreditava no que ouvia. Ficou quieto, enterrado em sua poltrona, por alguns minutos. A mulher olhava pela janela, também em silêncio. "Quer dizer que você vem lá do além pra me comunicar que não vai me levar." "Isso mesmo." O homem levantou-se devagar, com certa dificuldade, e foi até o telefone. "Espere aí." Ligou para Tânia, uma gostosa que participava das reuniões mediúnicas e dava bem em cima dele. Em cinco minutos o interfone tocava. "Agora pode ir, tenho visita." Dona Leila, incrédula, assistiu ao momento em que a porta se abriu e aquela ruiva escultural entrou sexy e sorrateira como uma tigresa.
---Seu Armando morreu pouco depois; sofreu infarto fulminante durante o coito. Dizem seus companheiros mediúnicos que foi pra um lugar muito quente, cheio de festas, música alta e gatinhas de biquíni. Nunca na vida ele havia estado em um lugar como aquele. Tenho pra mim que ele não achou ruim, não.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Capa dura, páginas coloridas

Em homenagem ao dia do livro, 29/10 - Essas são algumas de minhas facetas, ditadas por um teste intitulado "Que livro (nacional )você é?" Algumas... de muitas.
---
"A paixão segundo GH", de Clarice Lispector
Você é daqueles sujeitos profundos. Não que se acham profundos – profundos mesmo. Devido às maquinações constantes da sua cabecinha, ao longo do tempo você acumulou milhões de questionamentos. Hoje, em segundos, você é capaz de reconsiderar toda a sua existência. A visão de um objeto ou uma fala inocente de alguém às vezes desencadeiam viagens dilacerantes aos cantos mais obscuros de sua alma. Em geral, essa tendência introspectiva não faz de você uma pessoa fácil de se conviver. Aliás, você desperta até medo em algumas pessoas. Outras simplesmente não o conseguem entender. Assim é também "A paixão segundo GH", obra-prima de Clarice Lispector amada-idolatrada por leitores intelectuais e existencialistas, mas, sejamos sinceros, que assusta a maioria. Essa possível repulsa, porém, nunca anulará um milésimo de sua força literária. O mesmo vale para você: agrada a poucos, mas tem uma força única.
--- COMENTÁRIO: Concordo, sem alternativa contrária. Dói estar em constante pé de guerra consigo mesmo, mas algumas coisas são inevitáveis. Para isso existe essa palavra.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"O vampiro de Curitiba", de Dalton Trevisan
Descolado, objetivo e realista. Nada de meias palavras: a elas, você prefere o silêncio. Você não vê o mundo através de lentes cor-de-rosa, muito pelo contrário. Procura ver o mundo como ele é, entendê-lo, senti-lo. Às vezes, bate até aquele sentimento de exclusão, ou de solidão. Mas é o preço que se paga por ser um pouco "marginal". Não se preocupe, pois você atrai a admiração de pessoas como você: modernas no melhor sentido da palavra. Em "O vampiro de Curitiba" (1965), Nelsinho protagoniza uma variedade de contos, nos quais ele busca satisfazer sua obsessão sexual vagando pelas ruas de Curitiba - paralelamente, esta cidade de contrastes se revela ao leitor. A temática e a forma já denunciam: este não é um livro para qualquer um. Tem que ter cabeça aberta para enfrentar a linguagem nua e crua de Trevisan, que é reverenciado pelo leitor capaz de driblar velhos ranços burgueses.
--- COMENTÁRIO: Pode ser um pouco disso também.
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"O alquimista", de Paulo Coelho
Há alguém no seu bairro, na sua empresa ou mesmo na região que não te conheça? Bem, podem não te conhecer pessoalmente, mas já ouviram falar de você com certeza. Popular e carismático, você está para as pessoas ao seu redor o que os best-sellers estão para os leitores: todo mundo conhece, a maioria gosta e/ou admira, mas alguns torcem o nariz devido ao seu excesso de popularidade, ou, é preciso dizer, de superficialidade mesmo. Afinal, essa personalidade que agrada a todos pode ter um quê de falta de personalidade, não é não? Bem, de toda forma, você não se importa com isso. O que importa é compartilhar a sua experiência de vida – mística ou não – e atrair admiradores."O alquimista" (1988) é, possivelmente, a mais conhecida das obras de Paulo Coelho, o mago das vendas em livrarias brasileiras e internacionais. Fenômeno de popularidade, já vendeu quase 38 milhões de cópias em todo o mundo e foi publicado em cerca de 140 países. E, claro, ocupa a cabeceira de muita gente em busca de autoconhecimento e entretenimento esotérico.
--- COMENTÁRIO: Sim, eu me importo com isso. Não, atrair admiradores não é nem meu objetivo, nem meu forte. Digamos que às vezes acontece.
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"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade
"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz. "Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.
--- COMENTÁRIO: Lembra, né?
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"Doidas e santas", de Martha Medeiros
Moderninha e solteira, ou radiante de véu e grinalda? Eis a questão da jovem (ou nem tão jovem) mulher profissional, cosmopolita e, apesar de tudo, muito romântica. Eis a sua questão! Confesse: quantas horas semanais você gasta conversando sobre encontros e desencontros sentimentais com as suas amigas? Aliás, conversando não. Analisando, destrinchando... Mas isso não quer dizer que você só questione a existência de príncipe encantado, não. A vida adulta hoje não está fácil para ninguém, como bem mostram as 100 crônicas de "Doidas e Santas" (2008), que retratam os sabores e dissabores da vida sentimental e prática nas grandes cidades.
--- COMENTÁRIO: Conversas longas, cabeça a mil - só não vale fritar sobre a vida alheia, mal do qual hei de me curar com injeções espaçadas de Benzetacil. Tem que rezar... Falar menos, menos, menos, até o estágio evolutivo de ouvir, observar e dizer o mínimo sábio necessário.
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"Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto
Às vezes você tem uma séria vontade de estapear as pessoas, só para fazê-las acordarem e perceberem as injustiças deste mundo. Como podem viver em seus mundinhos banais, quando há quem passe fome e totalmente à margem de qualquer conforto ou assistência? Esta talvez seja a sua maior revolta. Por isso, você tenta fazer a sua parte. Talvez por meio de um trabalho voluntário, participando de movimentos populares ou somente se exaltando em rodas de amigos menos engajados. De qualquer maneira, você consegue de fato comover pessoas com seu discurso apaixonado e, ao mesmo tempo, baseado numa lógica de compaixão e igualdade que ninguém pode negar.Essa missão é mais do que cumprida pelo belo "Morte e vida severina" (1966), poema dramático escrito pelo pernambucano Melo Neto que se tornou símbolo para uma geração em conflito com as consequências sociais geradas pelo capitalismo selvagem.
--- COMENTÁRIO: Viva Ernesto Guevara! Viva la revolución!

Se quiserem conferir, acessem:

Capa dura, páginas coloridas

Em homenagem ao dia do livro, 29/10 - Essas são algumas de minhas facetas, ditadas por um teste intitulado "Que livro (nacional )você é?" Algumas... de muitas.
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"A paixão segundo GH", de Clarice Lispector
Você é daqueles sujeitos profundos. Não que se acham profundos – profundos mesmo. Devido às maquinações constantes da sua cabecinha, ao longo do tempo você acumulou milhões de questionamentos. Hoje, em segundos, você é capaz de reconsiderar toda a sua existência. A visão de um objeto ou uma fala inocente de alguém às vezes desencadeiam viagens dilacerantes aos cantos mais obscuros de sua alma. Em geral, essa tendência introspectiva não faz de você uma pessoa fácil de se conviver. Aliás, você desperta até medo em algumas pessoas. Outras simplesmente não o conseguem entender. Assim é também "A paixão segundo GH", obra-prima de Clarice Lispector amada-idolatrada por leitores intelectuais e existencialistas, mas, sejamos sinceros, que assusta a maioria. Essa possível repulsa, porém, nunca anulará um milésimo de sua força literária. O mesmo vale para você: agrada a poucos, mas tem uma força única.
--- COMENTÁRIO: Concordo, sem alternativa contrária. Dói estar em constante pé de guerra consigo mesmo, mas algumas coisas são inevitáveis. Para isso existe essa palavra.
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"O vampiro de Curitiba", de Dalton Trevisan
Descolado, objetivo e realista. Nada de meias palavras: a elas, você prefere o silêncio. Você não vê o mundo através de lentes cor-de-rosa, muito pelo contrário. Procura ver o mundo como ele é, entendê-lo, senti-lo. Às vezes, bate até aquele sentimento de exclusão, ou de solidão. Mas é o preço que se paga por ser um pouco "marginal". Não se preocupe, pois você atrai a admiração de pessoas como você: modernas no melhor sentido da palavra. Em "O vampiro de Curitiba" (1965), Nelsinho protagoniza uma variedade de contos, nos quais ele busca satisfazer sua obsessão sexual vagando pelas ruas de Curitiba - paralelamente, esta cidade de contrastes se revela ao leitor. A temática e a forma já denunciam: este não é um livro para qualquer um. Tem que ter cabeça aberta para enfrentar a linguagem nua e crua de Trevisan, que é reverenciado pelo leitor capaz de driblar velhos ranços burgueses.
--- COMENTÁRIO: Pode ser um pouco disso também.
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"O alquimista", de Paulo Coelho
Há alguém no seu bairro, na sua empresa ou mesmo na região que não te conheça? Bem, podem não te conhecer pessoalmente, mas já ouviram falar de você com certeza. Popular e carismático, você está para as pessoas ao seu redor o que os best-sellers estão para os leitores: todo mundo conhece, a maioria gosta e/ou admira, mas alguns torcem o nariz devido ao seu excesso de popularidade, ou, é preciso dizer, de superficialidade mesmo. Afinal, essa personalidade que agrada a todos pode ter um quê de falta de personalidade, não é não? Bem, de toda forma, você não se importa com isso. O que importa é compartilhar a sua experiência de vida – mística ou não – e atrair admiradores."O alquimista" (1988) é, possivelmente, a mais conhecida das obras de Paulo Coelho, o mago das vendas em livrarias brasileiras e internacionais. Fenômeno de popularidade, já vendeu quase 38 milhões de cópias em todo o mundo e foi publicado em cerca de 140 países. E, claro, ocupa a cabeceira de muita gente em busca de autoconhecimento e entretenimento esotérico.
--- COMENTÁRIO: Sim, eu me importo com isso. Não, atrair admiradores não é nem meu objetivo, nem meu forte. Digamos que às vezes acontece.
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"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade
"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz. "Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.
--- COMENTÁRIO: Lembra, né?
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"Doidas e santas", de Martha Medeiros
Moderninha e solteira, ou radiante de véu e grinalda? Eis a questão da jovem (ou nem tão jovem) mulher profissional, cosmopolita e, apesar de tudo, muito romântica. Eis a sua questão! Confesse: quantas horas semanais você gasta conversando sobre encontros e desencontros sentimentais com as suas amigas? Aliás, conversando não. Analisando, destrinchando... Mas isso não quer dizer que você só questione a existência de príncipe encantado, não. A vida adulta hoje não está fácil para ninguém, como bem mostram as 100 crônicas de "Doidas e Santas" (2008), que retratam os sabores e dissabores da vida sentimental e prática nas grandes cidades.
--- COMENTÁRIO: Conversas longas, cabeça a mil - só não vale fritar sobre a vida alheia, mal do qual hei de me curar com injeções espaçadas de Benzetacil. Tem que rezar... Falar menos, menos, menos, até o estágio evolutivo de ouvir, observar e dizer o mínimo sábio necessário.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto
Às vezes você tem uma séria vontade de estapear as pessoas, só para fazê-las acordarem e perceberem as injustiças deste mundo. Como podem viver em seus mundinhos banais, quando há quem passe fome e totalmente à margem de qualquer conforto ou assistência? Esta talvez seja a sua maior revolta. Por isso, você tenta fazer a sua parte. Talvez por meio de um trabalho voluntário, participando de movimentos populares ou somente se exaltando em rodas de amigos menos engajados. De qualquer maneira, você consegue de fato comover pessoas com seu discurso apaixonado e, ao mesmo tempo, baseado numa lógica de compaixão e igualdade que ninguém pode negar.Essa missão é mais do que cumprida pelo belo "Morte e vida severina" (1966), poema dramático escrito pelo pernambucano Melo Neto que se tornou símbolo para uma geração em conflito com as consequências sociais geradas pelo capitalismo selvagem.
--- COMENTÁRIO: Viva Ernesto Guevara! Viva la revolución!

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domingo, 25 de outubro de 2009

Meu time, meu coração

Bom dia, nação alvinegra! Nada como o Galo ganhar pro nosso dia melhorar... Eu que não gosto de barulho me alegro a cada foguete, a cada buzina - tudo bem que algumas são bem exageradas e dá vontade de socar o caboclo... Se isso não é amor, não sei o que pode ser. Obrigada ao nosso artilheiro pelas alegrias desse ano, obrigada ao time pela ótima campanha, e obrigada a meus companheiros atleticanos que lotam as ruas e os campos, que transformam essa cidade num manto preto e branco de felicidade, união, paixão e devoção. Como é bom acordar de manhã e sentir essa onda de alegria no ar... E não importa o que acontecer, meu bom e velho GALO FORTE E VINGADOR, mesmo triste, mesmo furiosa, nunca hei de te abandonar. O céu é o limite, timão! Raça!!!

Meu time, meu coração

Bom dia, nação alvinegra! Nada como o Galo ganhar pro nosso dia melhorar... Eu que não gosto de barulho me alegro a cada foguete, a cada buzina - tudo bem que algumas são bem exageradas e dá vontade de socar o caboclo... Se isso não é amor, não sei o que pode ser. Obrigada ao nosso artilheiro pelas alegrias desse ano, obrigada ao time pela ótima campanha, e obrigada a meus companheiros atleticanos que lotam as ruas e os campos, que transformam essa cidade num manto preto e branco de felicidade, união, paixão e devoção. Como é bom acordar de manhã e sentir essa onda de alegria no ar... E não importa o que acontecer, meu bom e velho GALO FORTE E VINGADOR, mesmo triste, mesmo furiosa, nunca hei de te abandonar. O céu é o limite, timão! Raça!!!

sábado, 24 de outubro de 2009

Guarda-sol

Tem dias em que fico cansada. De tudo. Até de abrir o olho. Olho em volta e não há nada que possa me trazer felicidade. Como viver cansa... Fazer a mesma coisa, tirar o mesmo sonho da gaveta todos os dias e guardá-lo no lugar quando escurece. Tem dias em que até o inesperado cansa. Incomoda não saber o que vai acontecer daqui a pouco, é entediante saber. E as formiguinhas vão marchando ladeira abaixo... Tem dias em que eu me sinto a lebre que aposta corrida com a tartauga. Já fui tão longe que às vezes me dá vontade de voltar. De parar. De chorar. De dormir e não mais acordar. Como a vida me amolece... Se não existisse a Praça do Papa, não sei o que seria de mim! Nunca serei a tartaruga, a formiga que trabalha enquanto a cigarra canta, por uma simples questão de natureza. A minha me condena a um universo de magia, imaginação, poesia, sonho, canção, que mora dentro de uma caixinha de música com hora para abrir e fechar. Tem dias em que estou tão cansada que não consigo esperar pela hora de vê-la se abrir. Diferente de Little Hans, tenho consciência do que acontece. Lutar contra as coisas também cansa, pensar cansa muito, decidir esgota as energias. Ao meu redor tudo segue - as tartarugas se aproximam a passos lentos e constantes do mercado de trabalho. As formigas cantam e levam coisinhas sem parar, maquinalmente, para suas casas - fazem a contabilidade mensal e trabalham com planilhas domésticas de controle financeiro. As abelhas vendem o mel e premiam seu staff com uma gorda participação nos lucros. Enquanto isso o tempo passa, e meu coração sem querer endurece.

Guarda-sol

Tem dias em que fico cansada. De tudo. Até de abrir o olho. Olho em volta e não há nada que possa me trazer felicidade. Como viver cansa... Fazer a mesma coisa, tirar o mesmo sonho da gaveta todos os dias e guardá-lo no lugar quando escurece. Tem dias em que até o inesperado cansa. Incomoda não saber o que vai acontecer daqui a pouco, é entediante saber. E as formiguinhas vão marchando ladeira abaixo... Tem dias em que eu me sinto a lebre que aposta corrida com a tartauga. Já fui tão longe que às vezes me dá vontade de voltar. De parar. De chorar. De dormir e não mais acordar. Como a vida me amolece... Se não existisse a Praça do Papa, não sei o que seria de mim! Nunca serei a tartaruga, a formiga que trabalha enquanto a cigarra canta, por uma simples questão de natureza. A minha me condena a um universo de magia, imaginação, poesia, sonho, canção, que mora dentro de uma caixinha de música com hora para abrir e fechar. Tem dias em que estou tão cansada que não consigo esperar pela hora de vê-la se abrir. Diferente de Little Hans, tenho consciência do que acontece. Lutar contra as coisas também cansa, pensar cansa muito, decidir esgota as energias. Ao meu redor tudo segue - as tartarugas se aproximam a passos lentos e constantes do mercado de trabalho. As formigas cantam e levam coisinhas sem parar, maquinalmente, para suas casas - fazem a contabilidade mensal e trabalham com planilhas domésticas de controle financeiro. As abelhas vendem o mel e premiam seu staff com uma gorda participação nos lucros. Enquanto isso o tempo passa, e meu coração sem querer endurece.

Natural

Malu comprou uma planta e pôs no olho. Disse que era pra ficar mais bonita. Leti trouxe um bicho pra casa e falou que era pra ter mais amor. Não entendi nada. Um dia, a planta deu alergia, o bicho arranhou o braço, foram as duas para o hospital. Falei pra elas que nem uma ficou mais bonita e nem a outra teve mais amor. Elas ficaram bravas e falaram que eu era muito pequena pra entender essas coisas, que era tudo natural. Perguntei se natural era bom, elas falaram que era o melhor. Fui até a internet e escrevi "natural", e tinha um monte de fotos de mato com uma aguinha perto. Pensei que natural era o melhor mesmo, bem melhor que brincar de casinha, bem melhor que video game, bem melhor que tudo, sabe? Aí eu peguei os dinossauros do meu irmão, coloquei minha roupa de banho e fui para o jardim. Liguei a mangueira e fiz um laguinho. Tomei sol, brinquei de terra, fiz um caminho para as formigas, e elas me agradeceram fazendo uma bolinha vermelha na minha perna. Pus a mangueira em cima da árvore e fiz uma cachoeira que nem aquela da foto. Adorei o natural. Minha mãe chegou em casa e ficou tão brava comigo... Disse que eu ia ficar doente, que estava cheia de brotoejas e toda molhada. Eu expliquei pra ela do natural e ela disse que eu estava doida, que natural não pode, que a natureza é perigosa. Fiquei com febre por causa do cumprimento de formiga e com dor de garganta por causa da cachoeira. Fiquei triste. Fui pra uma fazenda com a minha família e não quis pisar na terra, não quis andar de cavalo e fiquei com medo das galinhas e dos cachorros. Minha mãe disse que eu não precisava ter medo, que a natureza é amiga da gente. Minha, não. Não gosto de mais nada que é natural. Se for natural eu não quero. Quando uma coisa de comer não é natural, ela é muito mais gostosa, né? Os brinquedos que não são naturais não machucam a gente. Esse negócio de natural não é legal, não, viu? Cuidado...

Natural

Malu comprou uma planta e pôs no olho. Disse que era pra ficar mais bonita. Leti trouxe um bicho pra casa e falou que era pra ter mais amor. Não entendi nada. Um dia, a planta deu alergia, o bicho arranhou o braço, foram as duas para o hospital. Falei pra elas que nem uma ficou mais bonita e nem a outra teve mais amor. Elas ficaram bravas e falaram que eu era muito pequena pra entender essas coisas, que era tudo natural. Perguntei se natural era bom, elas falaram que era o melhor. Fui até a internet e escrevi "natural", e tinha um monte de fotos de mato com uma aguinha perto. Pensei que natural era o melhor mesmo, bem melhor que brincar de casinha, bem melhor que video game, bem melhor que tudo, sabe? Aí eu peguei os dinossauros do meu irmão, coloquei minha roupa de banho e fui para o jardim. Liguei a mangueira e fiz um laguinho. Tomei sol, brinquei de terra, fiz um caminho para as formigas, e elas me agradeceram fazendo uma bolinha vermelha na minha perna. Pus a mangueira em cima da árvore e fiz uma cachoeira que nem aquela da foto. Adorei o natural. Minha mãe chegou em casa e ficou tão brava comigo... Disse que eu ia ficar doente, que estava cheia de brotoejas e toda molhada. Eu expliquei pra ela do natural e ela disse que eu estava doida, que natural não pode, que a natureza é perigosa. Fiquei com febre por causa do cumprimento de formiga e com dor de garganta por causa da cachoeira. Fiquei triste. Fui pra uma fazenda com a minha família e não quis pisar na terra, não quis andar de cavalo e fiquei com medo das galinhas e dos cachorros. Minha mãe disse que eu não precisava ter medo, que a natureza é amiga da gente. Minha, não. Não gosto de mais nada que é natural. Se for natural eu não quero. Quando uma coisa de comer não é natural, ela é muito mais gostosa, né? Os brinquedos que não são naturais não machucam a gente. Esse negócio de natural não é legal, não, viu? Cuidado...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

RetroAcesso

A porta se fechou e lá estava ele, molhado, plácido, desfeito. O tempo parou de passar. Às nove e meia em ponto ele decidiu o que fazer. Passou a tarde inteira vendo televisão e fomentando seu desligamento do mundo exterior. Ao meio-dia saiu para o almoço e decidiu nunca mais voltar àquele emprego cretino, que alimentava uma máquina estúpida. No meio do expediente a ficha pareceu cair - aquelas criaturas todas, aqueles sorrisinhos passionais, aquelas caras de quem dorme pouco e está pouco se lixando para toda aquela merda, mas tem que ligar o foda-se e bater o ponto e puxar o saco do chefe quando lembra da mulher, professora, com cinco doenças diferentes e três pesadelos por noite. Quando vê o filho tão satisfeito por causa das aulas de futebol depois da escola. Quando vê um aglomerado de envelopes na mesa e pensa que aquela merda é que vai pagar por eles. Quando pensa que a Unimed é quem vai pagar. Sua vida não poderia ser uma vidinha, pelo amor de Deus. Pela manhã chegou três minutos atrasado no trabalho, e foi vítima de olhares tortos e piadinhas tão infelizes quanto inevitáveis. Que gente mais otária, pensou. E ficou realmente incomodado com a situação. Começou a observar as pessoas. Um bando de ratos de porão, sugadores de carniça, desocupados. Entendeu o sonho. Tomou café pensando em tudo que tinha feito em nome da estabilidade do emprego público. Pensou no cursinho, nas noites sem dormir. Menos uma preocupação, comentou com o pão antes de devorá-lo. À noite sonhou com ratos de porão, centenas deles, subindo por seus braços e suas pernas, enquanto ele assistia inerte a tudo aquilo. Quando viu na internet que havia passado, levantou as mãos para o céu e gritou a plenos pulmões: Graças a Deus! Fez uma festa para os amigos e cortou o cabelo. Agora as coisas iriam funcionar - meio horário, dinheirinho no bolso, vida ganha. Estava descrente com o trabalho e inseguro pela pressão gratuita e cada vez mais gananciosa exercida pela iniciativa privada. He worked his ass off e nem assim tinha certeza do dia de amanhã. Um concurso era a única solução. Formou-se no tempo certo, mas nunca foi brilhante. Tinha boas idéias, mas não para o meio acadêmico. Sempre achou meio babaca essa história de rótulos e citações de boca cheia e cabeça oca. Terminou o segundo grau decidido a fazer algo que pouca gente fazia, mas descobriu que nem mesmo ele poderia fazer aquilo e ingressou em um novo curso. Estudou em boas escolas, todas particulares, e achou que tinha jeito para as artes quando fez teatro no colégio. Aos dez anos tomou uma bolada na cara e desistiu de ser goleiro. Aos sete anos começou a jogar futebol e dizia pra todo mundo que ainda seria o goleiro titular da seleção. Aprendeu a falar antes da hora, aprendeu a andar bem depois. Quando nasceu, sua mãe disse: podem escrever - esse menino veio ao mundo pra fazer a diferença!

RetroAcesso

A porta se fechou e lá estava ele, molhado, plácido, desfeito. O tempo parou de passar. Às nove e meia em ponto ele decidiu o que fazer. Passou a tarde inteira vendo televisão e fomentando seu desligamento do mundo exterior. Ao meio-dia saiu para o almoço e decidiu nunca mais voltar àquele emprego cretino, que alimentava uma máquina estúpida. No meio do expediente a ficha pareceu cair - aquelas criaturas todas, aqueles sorrisinhos passionais, aquelas caras de quem dorme pouco e está pouco se lixando para toda aquela merda, mas tem que ligar o foda-se e bater o ponto e puxar o saco do chefe quando lembra da mulher, professora, com cinco doenças diferentes e três pesadelos por noite. Quando vê o filho tão satisfeito por causa das aulas de futebol depois da escola. Quando vê um aglomerado de envelopes na mesa e pensa que aquela merda é que vai pagar por eles. Quando pensa que a Unimed é quem vai pagar. Sua vida não poderia ser uma vidinha, pelo amor de Deus. Pela manhã chegou três minutos atrasado no trabalho, e foi vítima de olhares tortos e piadinhas tão infelizes quanto inevitáveis. Que gente mais otária, pensou. E ficou realmente incomodado com a situação. Começou a observar as pessoas. Um bando de ratos de porão, sugadores de carniça, desocupados. Entendeu o sonho. Tomou café pensando em tudo que tinha feito em nome da estabilidade do emprego público. Pensou no cursinho, nas noites sem dormir. Menos uma preocupação, comentou com o pão antes de devorá-lo. À noite sonhou com ratos de porão, centenas deles, subindo por seus braços e suas pernas, enquanto ele assistia inerte a tudo aquilo. Quando viu na internet que havia passado, levantou as mãos para o céu e gritou a plenos pulmões: Graças a Deus! Fez uma festa para os amigos e cortou o cabelo. Agora as coisas iriam funcionar - meio horário, dinheirinho no bolso, vida ganha. Estava descrente com o trabalho e inseguro pela pressão gratuita e cada vez mais gananciosa exercida pela iniciativa privada. He worked his ass off e nem assim tinha certeza do dia de amanhã. Um concurso era a única solução. Formou-se no tempo certo, mas nunca foi brilhante. Tinha boas idéias, mas não para o meio acadêmico. Sempre achou meio babaca essa história de rótulos e citações de boca cheia e cabeça oca. Terminou o segundo grau decidido a fazer algo que pouca gente fazia, mas descobriu que nem mesmo ele poderia fazer aquilo e ingressou em um novo curso. Estudou em boas escolas, todas particulares, e achou que tinha jeito para as artes quando fez teatro no colégio. Aos dez anos tomou uma bolada na cara e desistiu de ser goleiro. Aos sete anos começou a jogar futebol e dizia pra todo mundo que ainda seria o goleiro titular da seleção. Aprendeu a falar antes da hora, aprendeu a andar bem depois. Quando nasceu, sua mãe disse: podem escrever - esse menino veio ao mundo pra fazer a diferença!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Esse é o meu espaço!

... digo o que penso e escondo o que faço. sorrateira, maluda, malandra. ladina. misturo o antigo com o novo, cantarolo cantigas esquecidas. berro as novas. olho pros homens com as camisas impecavelmente passadas, e penso nas mulheres que tornaram esse sonho realidade, com um radinho de pilha ou uma pilha de roupa do lado. prazer, necessidade, por quê? vejo os carros bonitos que abrigam a assistente pobre e gostosa, a mulher que sempre é uma escrota, o lavador de pratos rasta tatuado que a dondoca pegou no happy hour. passam por mim a todo momento cabelos impecáveis, e me pergunto onde essas pessoas gritam por socorro. na academia? no shopping? na praça da savassi vendendo pingentes? na favela? no sinal? ONDE É QUE ESSAS PESSOAS COLOCAM PRA FORA O PÂNICO, O DESGOSTO, A REJEIÇÃO DE TODO DIA? por que querer bem a quem não se preza? lembro dos tempos de legião urbana, quando eu era a única que cantava "eu moro com a minha mãe, e meu pai não vem me visitar...." que história é essa de ficar mendigando amor? como é que eu vou viver com uma outra pessoa e dividir com ela a jubilo-decadência de estar viva? coitado... não estou autorizada a sentir pena de mim, uma coisa minha. estou a um passo de mudar a vida e só consigo sentir medo por envolver mais gente. já não posso mais ficar aqui, e nem ir pra outro lugar com alguém. acho que preciso ficar sozinha. choro e sinto medo de represálias, raiva por não ter força pra sair do que me acolhe, mágoa crescente e descrença hereditária. deve ser por isso que meu pai tanto bebe. mais uma para o seu clã! um brinde aos porcos fardados, às velhas crisentas, aos pais que passam a vida comprometendo a sanidade de seus filhos, aos novos-otários-ricos, a quem acha que o aquecimento global é uma jogada de marketing, aos que afirmam que dostoiévski é um porre e que a micareta vai marcar época. tenho me tornado amarga, mas descobri com o tempo que o café sem açúcar pode ser muito mais surpreendente que uma reles barra de chocolate. é tudo uma questão de focar no pretinho básico... cincin!!!

Esse é o meu espaço!

... digo o que penso e escondo o que faço. sorrateira, maluda, malandra. ladina. misturo o antigo com o novo, cantarolo cantigas esquecidas. berro as novas. olho pros homens com as camisas impecavelmente passadas, e penso nas mulheres que tornaram esse sonho realidade, com um radinho de pilha ou uma pilha de roupa do lado. prazer, necessidade, por quê? vejo os carros bonitos que abrigam a assistente pobre e gostosa, a mulher que sempre é uma escrota, o lavador de pratos rasta tatuado que a dondoca pegou no happy hour. passam por mim a todo momento cabelos impecáveis, e me pergunto onde essas pessoas gritam por socorro. na academia? no shopping? na praça da savassi vendendo pingentes? na favela? no sinal? ONDE É QUE ESSAS PESSOAS COLOCAM PRA FORA O PÂNICO, O DESGOSTO, A REJEIÇÃO DE TODO DIA? por que querer bem a quem não se preza? lembro dos tempos de legião urbana, quando eu era a única que cantava "eu moro com a minha mãe, e meu pai não vem me visitar...." que história é essa de ficar mendigando amor? como é que eu vou viver com uma outra pessoa e dividir com ela a jubilo-decadência de estar viva? coitado... não estou autorizada a sentir pena de mim, uma coisa minha. estou a um passo de mudar a vida e só consigo sentir medo por envolver mais gente. já não posso mais ficar aqui, e nem ir pra outro lugar com alguém. acho que preciso ficar sozinha. choro e sinto medo de represálias, raiva por não ter força pra sair do que me acolhe, mágoa crescente e descrença hereditária. deve ser por isso que meu pai tanto bebe. mais uma para o seu clã! um brinde aos porcos fardados, às velhas crisentas, aos pais que passam a vida comprometendo a sanidade de seus filhos, aos novos-otários-ricos, a quem acha que o aquecimento global é uma jogada de marketing, aos que afirmam que dostoiévski é um porre e que a micareta vai marcar época. tenho me tornado amarga, mas descobri com o tempo que o café sem açúcar pode ser muito mais surpreendente que uma reles barra de chocolate. é tudo uma questão de focar no pretinho básico... cincin!!!

Peixe fora d'água

Quando ninguém mais conseguir te dizer o que fazer,
quando seus miolos tiverem virado churrasco;
quando não houver ninguém mais pra você culpar;
quando aqueles pensamentos de chutar o balde e ir
pra Bahia começarem a aparecer mais que ocasionalmente;
quando vc pensar que sua vida sem alguém é caótica;
quando concluir que tudo o que você quer é brincar de casinha
e guardar tudo dentro da sacola ao final do dia;
quando você descobrir que o capitalismo é uma merda
e que nem por isso morar no mato ou em Cuba vai ser melhor;
quando chegar aquele dia em que você olha pra trás
e vê que tudo e nada são a mesma coisa,
que você não fez absolutamente nada do qual se orgulhe
que você sente-se meio ultrapassado e é isso mesmo;
quando você não se achar mais tão bonito
e perceber que não tem nada mais pra dizer...
...
Escreva um livro contando como contornou essa situação e me conte o mais rápido, para que eu possa devorá-lo com farinha, feijão e um pouquinho de expectativa.

Peixe fora d'água

Quando ninguém mais conseguir te dizer o que fazer,
quando seus miolos tiverem virado churrasco;
quando não houver ninguém mais pra você culpar;
quando aqueles pensamentos de chutar o balde e ir
pra Bahia começarem a aparecer mais que ocasionalmente;
quando vc pensar que sua vida sem alguém é caótica;
quando concluir que tudo o que você quer é brincar de casinha
e guardar tudo dentro da sacola ao final do dia;
quando você descobrir que o capitalismo é uma merda
e que nem por isso morar no mato ou em Cuba vai ser melhor;
quando chegar aquele dia em que você olha pra trás
e vê que tudo e nada são a mesma coisa,
que você não fez absolutamente nada do qual se orgulhe
que você sente-se meio ultrapassado e é isso mesmo;
quando você não se achar mais tão bonito
e perceber que não tem nada mais pra dizer...
...
Escreva um livro contando como contornou essa situação e me conte o mais rápido, para que eu possa devorá-lo com farinha, feijão e um pouquinho de expectativa.

domingo, 11 de outubro de 2009

O que eu vejo

Nem tudo que corta machuca;
nem tudo que fere magoa.
O que não vê pode ser cego,
mas pode também estar distraído
preocupado, deprimido, leve ou à toa...
(...)
Sentei-me outro dia no topo de mim. Olhei pra baixo com frieza, com certeza, e arranquei do chão todas as flores que ali já não podiam viver. Varri as promessas malfeitas que sempre espalharam seus grãos. O cansaço me passou a enxada, e com alegria construí novos caminhos. Escolhi o príncipe e o castelo, o cavalo e os afazeres; pendurei as sapatilhas da preocupação num reino distante. Quando lá embaixo tudo era tranquilo, soprei girassóis e estrelas em minha história, e bem devagar fui fechando o livro. Vida de princesa, pensei com meus botões. Sorri e chorei. Algumas lágrimas teimosas adentraram meu conto e, sem cerimônia, formaram um rio bonito de tão triste. Fitei o rio por um momento e respirei com tranquilidade. Vida de poeta, sussurrou a água turva de memórias e possibilidades.

O que eu vejo

Nem tudo que corta machuca;
nem tudo que fere magoa.
O que não vê pode ser cego,
mas pode também estar distraído
preocupado, deprimido, leve ou à toa...
(...)
Sentei-me outro dia no topo de mim. Olhei pra baixo com frieza, com certeza, e arranquei do chão todas as flores que ali já não podiam viver. Varri as promessas malfeitas que sempre espalharam seus grãos. O cansaço me passou a enxada, e com alegria construí novos caminhos. Escolhi o príncipe e o castelo, o cavalo e os afazeres; pendurei as sapatilhas da preocupação num reino distante. Quando lá embaixo tudo era tranquilo, soprei girassóis e estrelas em minha história, e bem devagar fui fechando o livro. Vida de princesa, pensei com meus botões. Sorri e chorei. Algumas lágrimas teimosas adentraram meu conto e, sem cerimônia, formaram um rio bonito de tão triste. Fitei o rio por um momento e respirei com tranquilidade. Vida de poeta, sussurrou a água turva de memórias e possibilidades.