If you think when you die
you are going to hell,
seu sorriso abrirá
qualquer porta do céu...
Esse blog é destinado a compartilhar viagens literárias, e está aberto a seres humanos e afins... Divirtam-se!
segunda-feira, 30 de março de 2009
quinta-feira, 26 de março de 2009
As quatro irmãs
Era uma vez quatro irmãs.
Uma bonita,
uma magrela,
uma sexy,
uma tagarela.
A bonita se casou
a magrela passou
a sexy engravidou
a tagarela se esbaldou.
Todas amaram
todas choraram
todas separaram,
se encontraram
e ressuscitaram -
todas trabalham
e sonham
que acordaram.
A bonita agora é linda;
a magrela virou bailarina
só dá a sexy na pista
e a tagarela virou turista.
A linda é professora como a bailarina
A sexy é computadoróloga
A tagarela estuda na afonso arinos
e dá mais palpite que qualquer astróloga.
Todas vivem
todas riem
todas correm
todas morrem
um pouquinho
no quarto
sozinhas
de dançar
de falar
de pensar
de chorar
quando ninguém vê
quando ninguém está lá.
A linda separa e se acha;
A bailarina baila e relaxa;
A sexy colhe o que planta;
E a tagarela?
Ah, a tagarela dança e canta!
Era uma vez quatro irmãs
que um dia acharam seu elo
e desde então vivem
felizes em seu castelo!...
AMO VOCÊS, MINHAS IRMÃS QUERIDAS! UM BEIJO ENORME!
Uma bonita,
uma magrela,
uma sexy,
uma tagarela.
A bonita se casou
a magrela passou
a sexy engravidou
a tagarela se esbaldou.
Todas amaram
todas choraram
todas separaram,
se encontraram
e ressuscitaram -
todas trabalham
e sonham
que acordaram.
A bonita agora é linda;
a magrela virou bailarina
só dá a sexy na pista
e a tagarela virou turista.
A linda é professora como a bailarina
A sexy é computadoróloga
A tagarela estuda na afonso arinos
e dá mais palpite que qualquer astróloga.
Todas vivem
todas riem
todas correm
todas morrem
um pouquinho
no quarto
sozinhas
de dançar
de falar
de pensar
de chorar
quando ninguém vê
quando ninguém está lá.
A linda separa e se acha;
A bailarina baila e relaxa;
A sexy colhe o que planta;
E a tagarela?
Ah, a tagarela dança e canta!
Era uma vez quatro irmãs
que um dia acharam seu elo
e desde então vivem
felizes em seu castelo!...
AMO VOCÊS, MINHAS IRMÃS QUERIDAS! UM BEIJO ENORME!
As quatro irmãs
Era uma vez quatro irmãs.
Uma bonita,
uma magrela,
uma sexy,
uma tagarela.
A bonita se casou
a magrela passou
a sexy engravidou
a tagarela se esbaldou.
Todas amaram
todas choraram
todas separaram,
se encontraram
e ressuscitaram -
todas trabalham
e sonham
que acordaram.
A bonita agora é linda;
a magrela virou bailarina
só dá a sexy na pista
e a tagarela virou turista.
A linda é professora como a bailarina
A sexy é computadoróloga
A tagarela estuda na afonso arinos
e dá mais palpite que qualquer astróloga.
Todas vivem
todas riem
todas correm
todas morrem
um pouquinho
no quarto
sozinhas
de dançar
de falar
de pensar
de chorar
quando ninguém vê
quando ninguém está lá.
A linda separa e se acha;
A bailarina baila e relaxa;
A sexy colhe o que planta;
E a tagarela?
Ah, a tagarela dança e canta!
Era uma vez quatro irmãs
que um dia acharam seu elo
e desde então vivem
felizes em seu castelo!...
AMO VOCÊS, MINHAS IRMÃS QUERIDAS! UM BEIJO ENORME!
Uma bonita,
uma magrela,
uma sexy,
uma tagarela.
A bonita se casou
a magrela passou
a sexy engravidou
a tagarela se esbaldou.
Todas amaram
todas choraram
todas separaram,
se encontraram
e ressuscitaram -
todas trabalham
e sonham
que acordaram.
A bonita agora é linda;
a magrela virou bailarina
só dá a sexy na pista
e a tagarela virou turista.
A linda é professora como a bailarina
A sexy é computadoróloga
A tagarela estuda na afonso arinos
e dá mais palpite que qualquer astróloga.
Todas vivem
todas riem
todas correm
todas morrem
um pouquinho
no quarto
sozinhas
de dançar
de falar
de pensar
de chorar
quando ninguém vê
quando ninguém está lá.
A linda separa e se acha;
A bailarina baila e relaxa;
A sexy colhe o que planta;
E a tagarela?
Ah, a tagarela dança e canta!
Era uma vez quatro irmãs
que um dia acharam seu elo
e desde então vivem
felizes em seu castelo!...
AMO VOCÊS, MINHAS IRMÃS QUERIDAS! UM BEIJO ENORME!
quarta-feira, 18 de março de 2009
Capítulo 13 - A modern love story
Nossa, gente, se tem uma coisa que os ingleses fazem mais do que a gente é beber. Que isso, até eu, ser belo-horizontino, tive dificuldade para acompanhar. Mas não se preocupem, não fiz feio também, não. Essa coisa de morar com os pais desde a data da concepção é complicada, porque quando você mora relativamente sozinha, a cabeça fica um pouco louca... O momento das compras então é uma coisa fantástica: você olha pro seu carrinho e se dá conta de como o que você pegou reflete sua pouca prática e entrega sua imaturidade completamente. Miojo (porque não sei cozinhar, claro), Danoninho, sucos de caixinha, pão de forma com mussarela (elementar!) e bebidas, cervejas, vinhos e muita água com gás pra dar conta de melhorar tudo depois. A minha casa era tão, mas tão gostosa, tão aconchegante e agradável que só queria ficar lá. Eu “morava” no mezanino do escritório, super quentinho e agradável, e ainda por cima o Gordon, proprietário do local, tinha mil livros super legais e uma coleção de filmes surreal – ele é membro do BAFTA, um órgão que vota nos filmes para o Oscar, olha que chato! Além disso, a sala contava com uma mesa-video game do Space Invaders e um joy stick do Pacman... Dá pra imaginar o quanto eu estava no céu, né? Só tentem visualizar: uma pessoa que quando resolveu levar uma latinha de cerveja pra casa aqui no Brasil foi taxada de alcoólatra, e que agora tinha a geladeira toda E O QUINTAL pra cultivar seu doce hábito – lá tava tão frio desde outubro que a gente colocava a cerveja no chão do quintal pra gelar –, aliado a mil filmes e livros e uma galera super híper gente boa pra te acompanhar... O MUNDO É BÃO, SEBASTIÃO!!!
Tão bom é o mundo que surgiu uma questão: uai, minha filha, vamos fazer as unhas de vez em quando? Tá tudo tão bonito e mágico que vc podia aproveitar e ser sua própria manicure/depiladora/esteticista, enfim, um pouquinho mais civilizada – coisa que eu a essa altura nem sabia mais o que era... Resolvi fazer as unhas um belo dia. E como todas as atividades atléticas e/ou solitárias, só dava certo com uma trilha sonora ao fundo. Assim foi: lavei banheiro, tentei cozinhar, comi e tomei banho em menos de uma hora, e levei três pra fazer as unhas. A melhor parte: tudo isso ao som de uma boa música. Foi aí que me dei conta que a melhor música pros momentos de solidão e reflexão vinha de Amy. Ela respirava e eu entendia do outro lado. Ela soltava a voz e eu chorava, e limpava meus pulmões, meu coração, meus dilemas mal-resolvidos, minha solidão particular, meu universo incompleto. De um dia pro outro, me apaixonei à primeira nota por Ms. Winehouse.
Em outubro e novembro passei muito tempo sozinha em casa, pq todo mundo trabalhava. Nesse período, Gordon me ensinou a fazer omelete – thx, mate, my salvation! - e Sam, um ser LONDRINO (aleluia) que morava comigo, me ensinou a fazer macarrão (haven't managed to do sth good so far, but I'll make you proud someday, TRUST ME...). Fazia as comidas que aprendi, sempre regada¹ a um bom vinho ou a uma cerva ótima, e tudo ficava mais bonito, gostoso e pedindo o tempero de minha amiga Amy. Cada música temperava uma ocasião.
E dessa maneira, essa pessoa que vos narra foi entrando no mundo mágico – e conturbado – de Amy Winehouse. Comecei a ler sobre ela – o que não era difícil, já que ela estampava todos os jornaizinhos de metrô diários – e descobri a razão para seus ímpetos e desencantos: um bloke chamado Blake, com quem ela mantinha uma self-destructive-Romeo-and-Juliet relationship. É claro que a essência da pessoa reflete sua própria natureza – em outras palavras: claro que ela já carregava o gene barraqueiro, Joselito e não-tô-nem-aí de outros carnavais –, mas o cara ajudou bem a pirar a cabeça dela. Lia sempre que ela tinha se tornado junkie por causa dele, que o amor deles era uma coisa louca, sem explicação, e via declarações dele dizendo que seu amor por ela era tanto que tinha que deixá-la, porque queria que ela fosse feliz, que saísse das drogas. Via fotos dela esquelética, sempre mal, chorando por causa do cara, mas uma choradeira pra todo lado que não tinha noção, gente... Miss Amâncio, que já gosta pouco de histórias românticas com todas as suas complicações, mergulhou de cabeça nesse conto de fadas londrino e tomou as dores de sua amiga e do companheiro. Comecei a me questionar sobre o papel da mídia na sociedade, sobre o inferno que esses paparazzi fazem na vida das pessoas, sobre a dificuldade de se manter um amor como esse in the public eye, e pensei na quase impossibilidade de ser feliz quando existe uma expectativa tão enorme em cima de você e você não é seguro de si o suficiente para mandar todo mundo pro inferno sem precisar chafurdar na lama, como faz muito elegantemente a Helena de Tróia do século XXI, Gisele Bundchen. Eu torcia por eles e acreditava que ela iria se curar, que ele iria sair do buraco, que eles iriam conseguir ser pessoas melhores e inaugurar uma nova fase na relação. Tomava vinho a rodo e lia, e pensava, e tomava vinho, e ouvia as músicas e imaginava que só mesmo um amor de doer o peito pra inspirar tudo aquilo, e chorava, e pensava em amores impossíveis e meu coração doía, até que...
Blake-bloke, que estava preso, foi pego trocando cartinhas de conteúdo mais que impróprio com uma outra figura, que não sei se é fã, presidiária, mas não importa;
Amy, flagrada em VÁRIAS outras companhias íntimas – parece que desde sempre –, foi à cadeia e relatou todos os chifres ao marido;
Bloke pediu dinheiro a Amy pra sair da cadeia, ela não deu e ele saiu sem abanar o rabo;
Eles estão atualmente agilizando a papelada do divórcio.
Assim. De uma vez, na lata. Que bomba, pensei. Pensei mais um pouco. Levantei, joguei o vinho fora, troquei de roupa e fui procurar um Bloody Mary acompanhado de uma nova história. Continuo ouvindo as músicas, porque elas expressam um sentimento muito nobre de maneira fiel, e também porque a inspiração é efêmera assim como sentimentos podem ser. Mas depois de ler as últimas notícias, me apressei em tomar um bom banho de suco de tomate e vodka com um limãozinho de realidade no copo. Ah, e - claro! - troquei o Romeu e Julieta por Noites Brancas...
Bjos, baci, besitos, kisses!
¹ Nota: era EU quem estava sempre regada, e não as comidas, o que justifica a concordância verbal.
Capítulo 13 - A modern love story
Nossa, gente, se tem uma coisa que os ingleses fazem mais do que a gente é beber. Que isso, até eu, ser belo-horizontino, tive dificuldade para acompanhar. Mas não se preocupem, não fiz feio também, não. Essa coisa de morar com os pais desde a data da concepção é complicada, porque quando você mora relativamente sozinha, a cabeça fica um pouco louca... O momento das compras então é uma coisa fantástica: você olha pro seu carrinho e se dá conta de como o que você pegou reflete sua pouca prática e entrega sua imaturidade completamente. Miojo (porque não sei cozinhar, claro), Danoninho, sucos de caixinha, pão de forma com mussarela (elementar!) e bebidas, cervejas, vinhos e muita água com gás pra dar conta de melhorar tudo depois. A minha casa era tão, mas tão gostosa, tão aconchegante e agradável que só queria ficar lá. Eu “morava” no mezanino do escritório, super quentinho e agradável, e ainda por cima o Gordon, proprietário do local, tinha mil livros super legais e uma coleção de filmes surreal – ele é membro do BAFTA, um órgão que vota nos filmes para o Oscar, olha que chato! Além disso, a sala contava com uma mesa-video game do Space Invaders e um joy stick do Pacman... Dá pra imaginar o quanto eu estava no céu, né? Só tentem visualizar: uma pessoa que quando resolveu levar uma latinha de cerveja pra casa aqui no Brasil foi taxada de alcoólatra, e que agora tinha a geladeira toda E O QUINTAL pra cultivar seu doce hábito – lá tava tão frio desde outubro que a gente colocava a cerveja no chão do quintal pra gelar –, aliado a mil filmes e livros e uma galera super híper gente boa pra te acompanhar... O MUNDO É BÃO, SEBASTIÃO!!!
Tão bom é o mundo que surgiu uma questão: uai, minha filha, vamos fazer as unhas de vez em quando? Tá tudo tão bonito e mágico que vc podia aproveitar e ser sua própria manicure/depiladora/esteticista, enfim, um pouquinho mais civilizada – coisa que eu a essa altura nem sabia mais o que era... Resolvi fazer as unhas um belo dia. E como todas as atividades atléticas e/ou solitárias, só dava certo com uma trilha sonora ao fundo. Assim foi: lavei banheiro, tentei cozinhar, comi e tomei banho em menos de uma hora, e levei três pra fazer as unhas. A melhor parte: tudo isso ao som de uma boa música. Foi aí que me dei conta que a melhor música pros momentos de solidão e reflexão vinha de Amy. Ela respirava e eu entendia do outro lado. Ela soltava a voz e eu chorava, e limpava meus pulmões, meu coração, meus dilemas mal-resolvidos, minha solidão particular, meu universo incompleto. De um dia pro outro, me apaixonei à primeira nota por Ms. Winehouse.
Em outubro e novembro passei muito tempo sozinha em casa, pq todo mundo trabalhava. Nesse período, Gordon me ensinou a fazer omelete – thx, mate, my salvation! - e Sam, um ser LONDRINO (aleluia) que morava comigo, me ensinou a fazer macarrão (haven't managed to do sth good so far, but I'll make you proud someday, TRUST ME...). Fazia as comidas que aprendi, sempre regada¹ a um bom vinho ou a uma cerva ótima, e tudo ficava mais bonito, gostoso e pedindo o tempero de minha amiga Amy. Cada música temperava uma ocasião.
E dessa maneira, essa pessoa que vos narra foi entrando no mundo mágico – e conturbado – de Amy Winehouse. Comecei a ler sobre ela – o que não era difícil, já que ela estampava todos os jornaizinhos de metrô diários – e descobri a razão para seus ímpetos e desencantos: um bloke chamado Blake, com quem ela mantinha uma self-destructive-Romeo-and-Juliet relationship. É claro que a essência da pessoa reflete sua própria natureza – em outras palavras: claro que ela já carregava o gene barraqueiro, Joselito e não-tô-nem-aí de outros carnavais –, mas o cara ajudou bem a pirar a cabeça dela. Lia sempre que ela tinha se tornado junkie por causa dele, que o amor deles era uma coisa louca, sem explicação, e via declarações dele dizendo que seu amor por ela era tanto que tinha que deixá-la, porque queria que ela fosse feliz, que saísse das drogas. Via fotos dela esquelética, sempre mal, chorando por causa do cara, mas uma choradeira pra todo lado que não tinha noção, gente... Miss Amâncio, que já gosta pouco de histórias românticas com todas as suas complicações, mergulhou de cabeça nesse conto de fadas londrino e tomou as dores de sua amiga e do companheiro. Comecei a me questionar sobre o papel da mídia na sociedade, sobre o inferno que esses paparazzi fazem na vida das pessoas, sobre a dificuldade de se manter um amor como esse in the public eye, e pensei na quase impossibilidade de ser feliz quando existe uma expectativa tão enorme em cima de você e você não é seguro de si o suficiente para mandar todo mundo pro inferno sem precisar chafurdar na lama, como faz muito elegantemente a Helena de Tróia do século XXI, Gisele Bundchen. Eu torcia por eles e acreditava que ela iria se curar, que ele iria sair do buraco, que eles iriam conseguir ser pessoas melhores e inaugurar uma nova fase na relação. Tomava vinho a rodo e lia, e pensava, e tomava vinho, e ouvia as músicas e imaginava que só mesmo um amor de doer o peito pra inspirar tudo aquilo, e chorava, e pensava em amores impossíveis e meu coração doía, até que...
Blake-bloke, que estava preso, foi pego trocando cartinhas de conteúdo mais que impróprio com uma outra figura, que não sei se é fã, presidiária, mas não importa;
Amy, flagrada em VÁRIAS outras companhias íntimas – parece que desde sempre –, foi à cadeia e relatou todos os chifres ao marido;
Bloke pediu dinheiro a Amy pra sair da cadeia, ela não deu e ele saiu sem abanar o rabo;
Eles estão atualmente agilizando a papelada do divórcio.
Assim. De uma vez, na lata. Que bomba, pensei. Pensei mais um pouco. Levantei, joguei o vinho fora, troquei de roupa e fui procurar um Bloody Mary acompanhado de uma nova história. Continuo ouvindo as músicas, porque elas expressam um sentimento muito nobre de maneira fiel, e também porque a inspiração é efêmera assim como sentimentos podem ser. Mas depois de ler as últimas notícias, me apressei em tomar um bom banho de suco de tomate e vodka com um limãozinho de realidade no copo. Ah, e - claro! - troquei o Romeu e Julieta por Noites Brancas...
Bjos, baci, besitos, kisses!
¹ Nota: era EU quem estava sempre regada, e não as comidas, o que justifica a concordância verbal.
domingo, 15 de março de 2009
"A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA"
A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA
Miguezim de Princesa
"I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.
II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.
III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.
IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.
V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.
VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.
VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.
VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.
IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.
X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão. "
"A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA"
A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA
Miguezim de Princesa
"I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.
II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.
III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.
IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.
V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.
VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.
VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.
VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.
IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.
X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão. "
quarta-feira, 11 de março de 2009
Give yourself a chance
Don't try to struggle against your will;
Don't pretend to be someone
you shall never be
Please don't listen to that inner voice of yours
which says you're too kind to find a place in this world
which asks you to forget
and longs to see you
as cold as one could ever be
and so, so lonely in the end of times...
This is not you.
I DARE YOU
to stick to who you are
to allow yourself to dream
and claim for justice
and fulfill your heart
with one single apple –
I DARE YOU TO FIGHT
against what is easy
against what is cruel
or just doesn't seem right.
The other day I was watching TV
and a guy mentioned
CARPE DIEM, seize the day
because we might become food for worms
so don't you dare tell me
there's something more important
than living up to YOUR expectations;
no one else matters
more than this funny little fellow you carry inside
who lives in another dimension
and begs for the warmth
of your friendly arms...
Don't pretend to be someone
you shall never be
Please don't listen to that inner voice of yours
which says you're too kind to find a place in this world
which asks you to forget
and longs to see you
as cold as one could ever be
and so, so lonely in the end of times...
This is not you.
I DARE YOU
to stick to who you are
to allow yourself to dream
and claim for justice
and fulfill your heart
with one single apple –
I DARE YOU TO FIGHT
against what is easy
against what is cruel
or just doesn't seem right.
The other day I was watching TV
and a guy mentioned
CARPE DIEM, seize the day
because we might become food for worms
so don't you dare tell me
there's something more important
than living up to YOUR expectations;
no one else matters
more than this funny little fellow you carry inside
who lives in another dimension
and begs for the warmth
of your friendly arms...
Give yourself a chance
Don't try to struggle against your will;
Don't pretend to be someone
you shall never be
Please don't listen to that inner voice of yours
which says you're too kind to find a place in this world
which asks you to forget
and longs to see you
as cold as one could ever be
and so, so lonely in the end of times...
This is not you.
I DARE YOU
to stick to who you are
to allow yourself to dream
and claim for justice
and fulfill your heart
with one single apple –
I DARE YOU TO FIGHT
against what is easy
against what is cruel
or just doesn't seem right.
The other day I was watching TV
and a guy mentioned
CARPE DIEM, seize the day
because we might become food for worms
so don't you dare tell me
there's something more important
than living up to YOUR expectations;
no one else matters
more than this funny little fellow you carry inside
who lives in another dimension
and begs for the warmth
of your friendly arms...
Don't pretend to be someone
you shall never be
Please don't listen to that inner voice of yours
which says you're too kind to find a place in this world
which asks you to forget
and longs to see you
as cold as one could ever be
and so, so lonely in the end of times...
This is not you.
I DARE YOU
to stick to who you are
to allow yourself to dream
and claim for justice
and fulfill your heart
with one single apple –
I DARE YOU TO FIGHT
against what is easy
against what is cruel
or just doesn't seem right.
The other day I was watching TV
and a guy mentioned
CARPE DIEM, seize the day
because we might become food for worms
so don't you dare tell me
there's something more important
than living up to YOUR expectations;
no one else matters
more than this funny little fellow you carry inside
who lives in another dimension
and begs for the warmth
of your friendly arms...
Capítulo 12 - A multa do metrô
Bom dia, comunidade!
Algumas pessoas ficaram um bocado curiosas com meu breve comentário a respeito da multa que recebi no metrô – até porque é mais fácil alguém chegar da Europa contando como burlou o sistema de transporte e entrou no metrô ou no ônibus sem pagar. As pessoas que me conhecem bem, por outro lado, sabem que minha esperteza e capacidade de fazer qualquer coisa ilegal ou imoral acaba em pizza.
E é com pizza que a história começa. No primeiro mês de minha viagem, quando ainda estava em casa de Madame Satã, minhas amigas Lucy e Katerina foram embora, e no lugar delas chegaram dois simpáticos inquilinos, Andrea e Olivier. Caso vocês não tenham descoberto de cara de onde eles são por causa dos nomes, Andrea é italiano – mais que italiano, ROMANO! - e Olivier é francês. Logo logo ficamos amigos e a melhor parte da minha estada no castelo de Mun-ha (lembram do Thunder Cats?) foi a convivência com eles. Olivier fez 20 anos e pouco depois Andrea fez 30. Saíamos juntos, nos encontrávamos às vezes na escola e conversávamos muito em casa também, na medida do possível. Celebramos juntos nossas vitórias e dividimos os problemas, como fazem bons amigos.
Olivier arrumou um emprego de auxiliar de garçom logo que chegou e depois disso passamos a nos ver muito pouco – trabalhava 12 horas por dia e dormia durante o resto do dia que sobrava pra conseguir trabalhar de novo -, até que ele se cansou de Londres – por que será? - e foi embora sem se despedir, um mês depois. Nunca mais nos falamos.
Andrea queria passar no IELTS (um exame cujo certificado atesta proficiência na língua, como o TOEFL) para conseguir fazer o mestrado em Londres. Ele é cardiologista e dizia que Londres tinha a melhor universidade para o que ele gostaria de estudar. Como uma boa professora, ajudei no que pude, corrigindo suas redações e fazendo simulados de speaking com ele (só um parêntese: é muito interessante perceber como a língua mãe da pessoa influencia no aprendizado de outra: Andrea conjugava os verbos corretamente, mas nunca usava 's' no plural). Como ele teve alguns atritos com Madame Satã, acabou saindo da masmorra do terror antes de nós. Com os estudos, continuamos amigos, e fiquei muito feliz com a notícia de que ele havia passado no teste e iria iniciar o mestrado dentro de pouco tempo.
Tudo isso é pra contextualizar a situação. Agora vem o primeiro momento da trama. Andrea se mudou para uma casa perto de onde morávamos, que ficava a uns 30 minutos a pé da estação Golders Green. No dia em que resolvi ir embora da casa de Madame Satã, nos encontramos para eu contar a novidade e para nos despedirmos, já que eu iria me mudar pro outro lado da cidade. Resolvemos pegar um ônibus e lá dentro, Andrea percebeu que havia esquecido seu Oyster. Procurou, procurou e já era hora de descer. Descemos, tudo tranquilo, ninguém brigou... ótimo. Jantamos e eu disse que tinha que ir embora rápido, porque meus novos hosts iriam me buscar dentro de pouco tempo. Andrea até sugeriu andarmos, mas iria demorar muito e, além disso, eu teria que andar a outra metade do caminho sozinha. Muito descolada e espertinha, consegui convencê-lo a entrar no ônibus e fazer a mesma coisa da ida. Ele não gostou nem um pouco da idéia, mas acabou vencido pelo cansaço.
Entramos no ônibus, e ele passou a carteira no leitor como se o Oyster estivesse lá dentro. Imediatamente o motorista o chamou e disse que ele não havia pago. Aí já não dava pra tentar procurar, e o cara parou o ônibus. Meu amigo começou a ficar vermelho. Achando que sabia das coisas, dei o meu Oyster pra ele tentar passar. Que vexame! O Oyster só passa uma vez no mesmo ônibus, depois ele trava. Que bom que agora sabemos disso, né? Meio paralisado pelo constrangimento, a única reação que ele teve foi sair do ônibus. Fiquei vendo-o do lado de fora, tendo que ir embora a pé pra casa, mais que total e completamente sem-graça por MINHA culpa, e me deu um nó na garganta e um frio na barriga, mas tinha que voltar ao calabouço do ser eterno e me libertar.
Depois desse episódio, concluí que eu realmente não sirvo nem nunca servi pra esse tipo de esquema maracutaia mafiosa, e toda vez que alguém tentava me dissuadir, era categórica – não, não, não e não. Sempre deu certo ser honesta, e assim seguirei, pensei com meus botões. Mas é claro que tudo comigo tem que acontecer de um jeito estranho, claro!
Me mudei pra Stratford, que era bem longe do meu antigo trabalho, e acabei tendo que procurar outro, não é novidade. Me deram o endereço, e me disseram que o bairro era Ilford. Descobri um trem que ia de Maryland – dez minutos a pé da minha casa – a Ilford em menos de dez minutos. Vibrei com a descoberta e me preparei física e psicologicamente para meu primeiro dia de trabalho.
Cheguei a Maryland Station, que, diferentemente das outras estações, não tem catraca e nem ninguém pra conferir seu Oyster. Achando aquilo meio engraçado mas sem me preocupar muito, entrei no trem. Chegando a Ilford, tirei meu Oyster da bolsa – com crédito, regularizado, legal e moral – encostei ele no leitor e apareceu a mensagem “seek assistance”. Tentei de novo: “seek assistance”. Um pouco confusa, fui até o funcionário/fiscal/oficial e super inocentemente, como pessoa idônea que sou, expliquei o que tinha ocorrido e pedi sua ajuda. Ele passou um leitor portátil no meu cartão e disse: “Well, seu Oyster não está habilitado para a zona 4”. “Naturalmente”, respondi, “moro em Stratford, zona 3”, ao que ele reitera “Ilford é zona 4. Vou ter que te multar”. Gelei. “Olha, moço, eu nem sou daqui, nem sabia que Ilford existia na face da Terra, é meu primeiro dia de trabalho, quebra meu galho...” Parece que ele nunca tinha pensado na vida na possibilidade de quebrar o galho de alguém. Aliás, parece que ele nunca tinha nem ouvido falar de nada do tipo – percebi isso pelo jeito que ele olhou pra mim. Tirou o caderninho do bolso e me fez umas perguntas pra preencher a multa. Érika, mas como você é planta, meu Deus do céu! Eu não tinha nenhum documento de identificação, e ao invés de mentir meu nome, disse ele completo, assim como meu endereço!!! Resultado: menos vinte pilas inglesas no bolso. Até tentei um recurso, mas não deu certo. Recebi uma resposta polidamente ríspida, dizendo que é dever e responsabilidade de todo cidadão que utiliza transporte público se informar sobre origem e destino de suas jornadas.
Tentaram me multar de novo umas duas semanas depois, mas chorei tanto e tão alto que o oficial – acho que mais pelo constrangimento e susto com o escândalo do que por pena de mim – resolveu deixar passar. Pela primeira vez, esse povo que não olha pra ninguém me enxergou, enxergou minha angústia e indignação, e alguns chegaram até a fechar a cara para o oficial e murmurar algumas palavras em minha defesa. Um homem começou a gritar e xingar o funcionário, que a essa altura já devia estar pensando por que raios essa menina sem noção apareceu pra estragar meu dia. Juntou o choro de tristeza, de solidão, de frio, de falta de dinheiro, de saudade de casa, todas as lágrimas que ainda não haviam sido derramadas. Cheguei ao trabalho chorando e só parei meia hora depois.
Algumas pessoas ficaram um bocado curiosas com meu breve comentário a respeito da multa que recebi no metrô – até porque é mais fácil alguém chegar da Europa contando como burlou o sistema de transporte e entrou no metrô ou no ônibus sem pagar. As pessoas que me conhecem bem, por outro lado, sabem que minha esperteza e capacidade de fazer qualquer coisa ilegal ou imoral acaba em pizza.
E é com pizza que a história começa. No primeiro mês de minha viagem, quando ainda estava em casa de Madame Satã, minhas amigas Lucy e Katerina foram embora, e no lugar delas chegaram dois simpáticos inquilinos, Andrea e Olivier. Caso vocês não tenham descoberto de cara de onde eles são por causa dos nomes, Andrea é italiano – mais que italiano, ROMANO! - e Olivier é francês. Logo logo ficamos amigos e a melhor parte da minha estada no castelo de Mun-ha (lembram do Thunder Cats?) foi a convivência com eles. Olivier fez 20 anos e pouco depois Andrea fez 30. Saíamos juntos, nos encontrávamos às vezes na escola e conversávamos muito em casa também, na medida do possível. Celebramos juntos nossas vitórias e dividimos os problemas, como fazem bons amigos.
Olivier arrumou um emprego de auxiliar de garçom logo que chegou e depois disso passamos a nos ver muito pouco – trabalhava 12 horas por dia e dormia durante o resto do dia que sobrava pra conseguir trabalhar de novo -, até que ele se cansou de Londres – por que será? - e foi embora sem se despedir, um mês depois. Nunca mais nos falamos.
Andrea queria passar no IELTS (um exame cujo certificado atesta proficiência na língua, como o TOEFL) para conseguir fazer o mestrado em Londres. Ele é cardiologista e dizia que Londres tinha a melhor universidade para o que ele gostaria de estudar. Como uma boa professora, ajudei no que pude, corrigindo suas redações e fazendo simulados de speaking com ele (só um parêntese: é muito interessante perceber como a língua mãe da pessoa influencia no aprendizado de outra: Andrea conjugava os verbos corretamente, mas nunca usava 's' no plural). Como ele teve alguns atritos com Madame Satã, acabou saindo da masmorra do terror antes de nós. Com os estudos, continuamos amigos, e fiquei muito feliz com a notícia de que ele havia passado no teste e iria iniciar o mestrado dentro de pouco tempo.
Tudo isso é pra contextualizar a situação. Agora vem o primeiro momento da trama. Andrea se mudou para uma casa perto de onde morávamos, que ficava a uns 30 minutos a pé da estação Golders Green. No dia em que resolvi ir embora da casa de Madame Satã, nos encontramos para eu contar a novidade e para nos despedirmos, já que eu iria me mudar pro outro lado da cidade. Resolvemos pegar um ônibus e lá dentro, Andrea percebeu que havia esquecido seu Oyster. Procurou, procurou e já era hora de descer. Descemos, tudo tranquilo, ninguém brigou... ótimo. Jantamos e eu disse que tinha que ir embora rápido, porque meus novos hosts iriam me buscar dentro de pouco tempo. Andrea até sugeriu andarmos, mas iria demorar muito e, além disso, eu teria que andar a outra metade do caminho sozinha. Muito descolada e espertinha, consegui convencê-lo a entrar no ônibus e fazer a mesma coisa da ida. Ele não gostou nem um pouco da idéia, mas acabou vencido pelo cansaço.
Entramos no ônibus, e ele passou a carteira no leitor como se o Oyster estivesse lá dentro. Imediatamente o motorista o chamou e disse que ele não havia pago. Aí já não dava pra tentar procurar, e o cara parou o ônibus. Meu amigo começou a ficar vermelho. Achando que sabia das coisas, dei o meu Oyster pra ele tentar passar. Que vexame! O Oyster só passa uma vez no mesmo ônibus, depois ele trava. Que bom que agora sabemos disso, né? Meio paralisado pelo constrangimento, a única reação que ele teve foi sair do ônibus. Fiquei vendo-o do lado de fora, tendo que ir embora a pé pra casa, mais que total e completamente sem-graça por MINHA culpa, e me deu um nó na garganta e um frio na barriga, mas tinha que voltar ao calabouço do ser eterno e me libertar.
Depois desse episódio, concluí que eu realmente não sirvo nem nunca servi pra esse tipo de esquema maracutaia mafiosa, e toda vez que alguém tentava me dissuadir, era categórica – não, não, não e não. Sempre deu certo ser honesta, e assim seguirei, pensei com meus botões. Mas é claro que tudo comigo tem que acontecer de um jeito estranho, claro!
Me mudei pra Stratford, que era bem longe do meu antigo trabalho, e acabei tendo que procurar outro, não é novidade. Me deram o endereço, e me disseram que o bairro era Ilford. Descobri um trem que ia de Maryland – dez minutos a pé da minha casa – a Ilford em menos de dez minutos. Vibrei com a descoberta e me preparei física e psicologicamente para meu primeiro dia de trabalho.
Cheguei a Maryland Station, que, diferentemente das outras estações, não tem catraca e nem ninguém pra conferir seu Oyster. Achando aquilo meio engraçado mas sem me preocupar muito, entrei no trem. Chegando a Ilford, tirei meu Oyster da bolsa – com crédito, regularizado, legal e moral – encostei ele no leitor e apareceu a mensagem “seek assistance”. Tentei de novo: “seek assistance”. Um pouco confusa, fui até o funcionário/fiscal/oficial e super inocentemente, como pessoa idônea que sou, expliquei o que tinha ocorrido e pedi sua ajuda. Ele passou um leitor portátil no meu cartão e disse: “Well, seu Oyster não está habilitado para a zona 4”. “Naturalmente”, respondi, “moro em Stratford, zona 3”, ao que ele reitera “Ilford é zona 4. Vou ter que te multar”. Gelei. “Olha, moço, eu nem sou daqui, nem sabia que Ilford existia na face da Terra, é meu primeiro dia de trabalho, quebra meu galho...” Parece que ele nunca tinha pensado na vida na possibilidade de quebrar o galho de alguém. Aliás, parece que ele nunca tinha nem ouvido falar de nada do tipo – percebi isso pelo jeito que ele olhou pra mim. Tirou o caderninho do bolso e me fez umas perguntas pra preencher a multa. Érika, mas como você é planta, meu Deus do céu! Eu não tinha nenhum documento de identificação, e ao invés de mentir meu nome, disse ele completo, assim como meu endereço!!! Resultado: menos vinte pilas inglesas no bolso. Até tentei um recurso, mas não deu certo. Recebi uma resposta polidamente ríspida, dizendo que é dever e responsabilidade de todo cidadão que utiliza transporte público se informar sobre origem e destino de suas jornadas.
Tentaram me multar de novo umas duas semanas depois, mas chorei tanto e tão alto que o oficial – acho que mais pelo constrangimento e susto com o escândalo do que por pena de mim – resolveu deixar passar. Pela primeira vez, esse povo que não olha pra ninguém me enxergou, enxergou minha angústia e indignação, e alguns chegaram até a fechar a cara para o oficial e murmurar algumas palavras em minha defesa. Um homem começou a gritar e xingar o funcionário, que a essa altura já devia estar pensando por que raios essa menina sem noção apareceu pra estragar meu dia. Juntou o choro de tristeza, de solidão, de frio, de falta de dinheiro, de saudade de casa, todas as lágrimas que ainda não haviam sido derramadas. Cheguei ao trabalho chorando e só parei meia hora depois.
Capítulo 12 - A multa do metrô
Bom dia, comunidade!
Algumas pessoas ficaram um bocado curiosas com meu breve comentário a respeito da multa que recebi no metrô – até porque é mais fácil alguém chegar da Europa contando como burlou o sistema de transporte e entrou no metrô ou no ônibus sem pagar. As pessoas que me conhecem bem, por outro lado, sabem que minha esperteza e capacidade de fazer qualquer coisa ilegal ou imoral acaba em pizza.
E é com pizza que a história começa. No primeiro mês de minha viagem, quando ainda estava em casa de Madame Satã, minhas amigas Lucy e Katerina foram embora, e no lugar delas chegaram dois simpáticos inquilinos, Andrea e Olivier. Caso vocês não tenham descoberto de cara de onde eles são por causa dos nomes, Andrea é italiano – mais que italiano, ROMANO! - e Olivier é francês. Logo logo ficamos amigos e a melhor parte da minha estada no castelo de Mun-ha (lembram do Thunder Cats?) foi a convivência com eles. Olivier fez 20 anos e pouco depois Andrea fez 30. Saíamos juntos, nos encontrávamos às vezes na escola e conversávamos muito em casa também, na medida do possível. Celebramos juntos nossas vitórias e dividimos os problemas, como fazem bons amigos.
Olivier arrumou um emprego de auxiliar de garçom logo que chegou e depois disso passamos a nos ver muito pouco – trabalhava 12 horas por dia e dormia durante o resto do dia que sobrava pra conseguir trabalhar de novo -, até que ele se cansou de Londres – por que será? - e foi embora sem se despedir, um mês depois. Nunca mais nos falamos.
Andrea queria passar no IELTS (um exame cujo certificado atesta proficiência na língua, como o TOEFL) para conseguir fazer o mestrado em Londres. Ele é cardiologista e dizia que Londres tinha a melhor universidade para o que ele gostaria de estudar. Como uma boa professora, ajudei no que pude, corrigindo suas redações e fazendo simulados de speaking com ele (só um parêntese: é muito interessante perceber como a língua mãe da pessoa influencia no aprendizado de outra: Andrea conjugava os verbos corretamente, mas nunca usava 's' no plural). Como ele teve alguns atritos com Madame Satã, acabou saindo da masmorra do terror antes de nós. Com os estudos, continuamos amigos, e fiquei muito feliz com a notícia de que ele havia passado no teste e iria iniciar o mestrado dentro de pouco tempo.
Tudo isso é pra contextualizar a situação. Agora vem o primeiro momento da trama. Andrea se mudou para uma casa perto de onde morávamos, que ficava a uns 30 minutos a pé da estação Golders Green. No dia em que resolvi ir embora da casa de Madame Satã, nos encontramos para eu contar a novidade e para nos despedirmos, já que eu iria me mudar pro outro lado da cidade. Resolvemos pegar um ônibus e lá dentro, Andrea percebeu que havia esquecido seu Oyster. Procurou, procurou e já era hora de descer. Descemos, tudo tranquilo, ninguém brigou... ótimo. Jantamos e eu disse que tinha que ir embora rápido, porque meus novos hosts iriam me buscar dentro de pouco tempo. Andrea até sugeriu andarmos, mas iria demorar muito e, além disso, eu teria que andar a outra metade do caminho sozinha. Muito descolada e espertinha, consegui convencê-lo a entrar no ônibus e fazer a mesma coisa da ida. Ele não gostou nem um pouco da idéia, mas acabou vencido pelo cansaço.
Entramos no ônibus, e ele passou a carteira no leitor como se o Oyster estivesse lá dentro. Imediatamente o motorista o chamou e disse que ele não havia pago. Aí já não dava pra tentar procurar, e o cara parou o ônibus. Meu amigo começou a ficar vermelho. Achando que sabia das coisas, dei o meu Oyster pra ele tentar passar. Que vexame! O Oyster só passa uma vez no mesmo ônibus, depois ele trava. Que bom que agora sabemos disso, né? Meio paralisado pelo constrangimento, a única reação que ele teve foi sair do ônibus. Fiquei vendo-o do lado de fora, tendo que ir embora a pé pra casa, mais que total e completamente sem-graça por MINHA culpa, e me deu um nó na garganta e um frio na barriga, mas tinha que voltar ao calabouço do ser eterno e me libertar.
Depois desse episódio, concluí que eu realmente não sirvo nem nunca servi pra esse tipo de esquema maracutaia mafiosa, e toda vez que alguém tentava me dissuadir, era categórica – não, não, não e não. Sempre deu certo ser honesta, e assim seguirei, pensei com meus botões. Mas é claro que tudo comigo tem que acontecer de um jeito estranho, claro!
Me mudei pra Stratford, que era bem longe do meu antigo trabalho, e acabei tendo que procurar outro, não é novidade. Me deram o endereço, e me disseram que o bairro era Ilford. Descobri um trem que ia de Maryland – dez minutos a pé da minha casa – a Ilford em menos de dez minutos. Vibrei com a descoberta e me preparei física e psicologicamente para meu primeiro dia de trabalho.
Cheguei a Maryland Station, que, diferentemente das outras estações, não tem catraca e nem ninguém pra conferir seu Oyster. Achando aquilo meio engraçado mas sem me preocupar muito, entrei no trem. Chegando a Ilford, tirei meu Oyster da bolsa – com crédito, regularizado, legal e moral – encostei ele no leitor e apareceu a mensagem “seek assistance”. Tentei de novo: “seek assistance”. Um pouco confusa, fui até o funcionário/fiscal/oficial e super inocentemente, como pessoa idônea que sou, expliquei o que tinha ocorrido e pedi sua ajuda. Ele passou um leitor portátil no meu cartão e disse: “Well, seu Oyster não está habilitado para a zona 4”. “Naturalmente”, respondi, “moro em Stratford, zona 3”, ao que ele reitera “Ilford é zona 4. Vou ter que te multar”. Gelei. “Olha, moço, eu nem sou daqui, nem sabia que Ilford existia na face da Terra, é meu primeiro dia de trabalho, quebra meu galho...” Parece que ele nunca tinha pensado na vida na possibilidade de quebrar o galho de alguém. Aliás, parece que ele nunca tinha nem ouvido falar de nada do tipo – percebi isso pelo jeito que ele olhou pra mim. Tirou o caderninho do bolso e me fez umas perguntas pra preencher a multa. Érika, mas como você é planta, meu Deus do céu! Eu não tinha nenhum documento de identificação, e ao invés de mentir meu nome, disse ele completo, assim como meu endereço!!! Resultado: menos vinte pilas inglesas no bolso. Até tentei um recurso, mas não deu certo. Recebi uma resposta polidamente ríspida, dizendo que é dever e responsabilidade de todo cidadão que utiliza transporte público se informar sobre origem e destino de suas jornadas.
Tentaram me multar de novo umas duas semanas depois, mas chorei tanto e tão alto que o oficial – acho que mais pelo constrangimento e susto com o escândalo do que por pena de mim – resolveu deixar passar. Pela primeira vez, esse povo que não olha pra ninguém me enxergou, enxergou minha angústia e indignação, e alguns chegaram até a fechar a cara para o oficial e murmurar algumas palavras em minha defesa. Um homem começou a gritar e xingar o funcionário, que a essa altura já devia estar pensando por que raios essa menina sem noção apareceu pra estragar meu dia. Juntou o choro de tristeza, de solidão, de frio, de falta de dinheiro, de saudade de casa, todas as lágrimas que ainda não haviam sido derramadas. Cheguei ao trabalho chorando e só parei meia hora depois.
Algumas pessoas ficaram um bocado curiosas com meu breve comentário a respeito da multa que recebi no metrô – até porque é mais fácil alguém chegar da Europa contando como burlou o sistema de transporte e entrou no metrô ou no ônibus sem pagar. As pessoas que me conhecem bem, por outro lado, sabem que minha esperteza e capacidade de fazer qualquer coisa ilegal ou imoral acaba em pizza.
E é com pizza que a história começa. No primeiro mês de minha viagem, quando ainda estava em casa de Madame Satã, minhas amigas Lucy e Katerina foram embora, e no lugar delas chegaram dois simpáticos inquilinos, Andrea e Olivier. Caso vocês não tenham descoberto de cara de onde eles são por causa dos nomes, Andrea é italiano – mais que italiano, ROMANO! - e Olivier é francês. Logo logo ficamos amigos e a melhor parte da minha estada no castelo de Mun-ha (lembram do Thunder Cats?) foi a convivência com eles. Olivier fez 20 anos e pouco depois Andrea fez 30. Saíamos juntos, nos encontrávamos às vezes na escola e conversávamos muito em casa também, na medida do possível. Celebramos juntos nossas vitórias e dividimos os problemas, como fazem bons amigos.
Olivier arrumou um emprego de auxiliar de garçom logo que chegou e depois disso passamos a nos ver muito pouco – trabalhava 12 horas por dia e dormia durante o resto do dia que sobrava pra conseguir trabalhar de novo -, até que ele se cansou de Londres – por que será? - e foi embora sem se despedir, um mês depois. Nunca mais nos falamos.
Andrea queria passar no IELTS (um exame cujo certificado atesta proficiência na língua, como o TOEFL) para conseguir fazer o mestrado em Londres. Ele é cardiologista e dizia que Londres tinha a melhor universidade para o que ele gostaria de estudar. Como uma boa professora, ajudei no que pude, corrigindo suas redações e fazendo simulados de speaking com ele (só um parêntese: é muito interessante perceber como a língua mãe da pessoa influencia no aprendizado de outra: Andrea conjugava os verbos corretamente, mas nunca usava 's' no plural). Como ele teve alguns atritos com Madame Satã, acabou saindo da masmorra do terror antes de nós. Com os estudos, continuamos amigos, e fiquei muito feliz com a notícia de que ele havia passado no teste e iria iniciar o mestrado dentro de pouco tempo.
Tudo isso é pra contextualizar a situação. Agora vem o primeiro momento da trama. Andrea se mudou para uma casa perto de onde morávamos, que ficava a uns 30 minutos a pé da estação Golders Green. No dia em que resolvi ir embora da casa de Madame Satã, nos encontramos para eu contar a novidade e para nos despedirmos, já que eu iria me mudar pro outro lado da cidade. Resolvemos pegar um ônibus e lá dentro, Andrea percebeu que havia esquecido seu Oyster. Procurou, procurou e já era hora de descer. Descemos, tudo tranquilo, ninguém brigou... ótimo. Jantamos e eu disse que tinha que ir embora rápido, porque meus novos hosts iriam me buscar dentro de pouco tempo. Andrea até sugeriu andarmos, mas iria demorar muito e, além disso, eu teria que andar a outra metade do caminho sozinha. Muito descolada e espertinha, consegui convencê-lo a entrar no ônibus e fazer a mesma coisa da ida. Ele não gostou nem um pouco da idéia, mas acabou vencido pelo cansaço.
Entramos no ônibus, e ele passou a carteira no leitor como se o Oyster estivesse lá dentro. Imediatamente o motorista o chamou e disse que ele não havia pago. Aí já não dava pra tentar procurar, e o cara parou o ônibus. Meu amigo começou a ficar vermelho. Achando que sabia das coisas, dei o meu Oyster pra ele tentar passar. Que vexame! O Oyster só passa uma vez no mesmo ônibus, depois ele trava. Que bom que agora sabemos disso, né? Meio paralisado pelo constrangimento, a única reação que ele teve foi sair do ônibus. Fiquei vendo-o do lado de fora, tendo que ir embora a pé pra casa, mais que total e completamente sem-graça por MINHA culpa, e me deu um nó na garganta e um frio na barriga, mas tinha que voltar ao calabouço do ser eterno e me libertar.
Depois desse episódio, concluí que eu realmente não sirvo nem nunca servi pra esse tipo de esquema maracutaia mafiosa, e toda vez que alguém tentava me dissuadir, era categórica – não, não, não e não. Sempre deu certo ser honesta, e assim seguirei, pensei com meus botões. Mas é claro que tudo comigo tem que acontecer de um jeito estranho, claro!
Me mudei pra Stratford, que era bem longe do meu antigo trabalho, e acabei tendo que procurar outro, não é novidade. Me deram o endereço, e me disseram que o bairro era Ilford. Descobri um trem que ia de Maryland – dez minutos a pé da minha casa – a Ilford em menos de dez minutos. Vibrei com a descoberta e me preparei física e psicologicamente para meu primeiro dia de trabalho.
Cheguei a Maryland Station, que, diferentemente das outras estações, não tem catraca e nem ninguém pra conferir seu Oyster. Achando aquilo meio engraçado mas sem me preocupar muito, entrei no trem. Chegando a Ilford, tirei meu Oyster da bolsa – com crédito, regularizado, legal e moral – encostei ele no leitor e apareceu a mensagem “seek assistance”. Tentei de novo: “seek assistance”. Um pouco confusa, fui até o funcionário/fiscal/oficial e super inocentemente, como pessoa idônea que sou, expliquei o que tinha ocorrido e pedi sua ajuda. Ele passou um leitor portátil no meu cartão e disse: “Well, seu Oyster não está habilitado para a zona 4”. “Naturalmente”, respondi, “moro em Stratford, zona 3”, ao que ele reitera “Ilford é zona 4. Vou ter que te multar”. Gelei. “Olha, moço, eu nem sou daqui, nem sabia que Ilford existia na face da Terra, é meu primeiro dia de trabalho, quebra meu galho...” Parece que ele nunca tinha pensado na vida na possibilidade de quebrar o galho de alguém. Aliás, parece que ele nunca tinha nem ouvido falar de nada do tipo – percebi isso pelo jeito que ele olhou pra mim. Tirou o caderninho do bolso e me fez umas perguntas pra preencher a multa. Érika, mas como você é planta, meu Deus do céu! Eu não tinha nenhum documento de identificação, e ao invés de mentir meu nome, disse ele completo, assim como meu endereço!!! Resultado: menos vinte pilas inglesas no bolso. Até tentei um recurso, mas não deu certo. Recebi uma resposta polidamente ríspida, dizendo que é dever e responsabilidade de todo cidadão que utiliza transporte público se informar sobre origem e destino de suas jornadas.
Tentaram me multar de novo umas duas semanas depois, mas chorei tanto e tão alto que o oficial – acho que mais pelo constrangimento e susto com o escândalo do que por pena de mim – resolveu deixar passar. Pela primeira vez, esse povo que não olha pra ninguém me enxergou, enxergou minha angústia e indignação, e alguns chegaram até a fechar a cara para o oficial e murmurar algumas palavras em minha defesa. Um homem começou a gritar e xingar o funcionário, que a essa altura já devia estar pensando por que raios essa menina sem noção apareceu pra estragar meu dia. Juntou o choro de tristeza, de solidão, de frio, de falta de dinheiro, de saudade de casa, todas as lágrimas que ainda não haviam sido derramadas. Cheguei ao trabalho chorando e só parei meia hora depois.
domingo, 8 de março de 2009
Sonhos medíocres
Os sonhos se sustentam sobre nossa alma infeliz. Se põem de pé e até fazem ginástica em cima de nossas pequenas cabeças. E para as pessoas ordinárias que povoam nosso medíocre universo, os sonhos movem montanhas, nos movem para além de nossas pobres coitadas perspectivas, nos tornam seres humanos de sucesso. Que paradoxo! E assim, o planeta vai trocando a ira pela esperança. Engraçado... E as pessoinhas vão crescendo e aprendendo com os pais, amigos, traficantes e demais seres do mundo a criar seus pedacinhos de céu. Na televisão, vários são aqueles que com orgulho transmitem a imagem do que é ser alguém, exibindo seus carros, suas grandiosas casas e suas bundas lipoaspiradas, seus pequeninos escândalos enquanto bêbados de poder, atropelando as leis e as pessoas, atropelando a confiança e os valores dessa gente comum, ordinária – não mais que eles, no entanto. Por que as pessoas não são como as coisas, felizes somente por estarem ali ou aqui, sem levantar aquele dedinho pra reclamar, sem dar tudo que tem por uma vaga no paraíso... Tão grande é o céu que nem sequer nos é possível escolher um lugar mais apropriado pra morar pra sempre. Mas será mesmo pra sempre? Tem gente que acha que sim, tem gente cuja fé supera em milhões a ignorância. E lá se vão as pessoinhas! Sempre com medo de um tornado, de um castigo dos céus ou dos homens, sempre com receio de que aquela mentirinha seja descoberta. Aí elas se entregam de corpo e alma àquela igreja, àquela causa social, àquela leitura, àquele sonho, a tudo aquilo que tenta dar razão ao nosso absurdo, ao nosso caos. É quando aparece aquela outra pessoa ordinária, tanto quanto você, cheia de dúvidas e certezas inventadas. A vida está difícil, o dinheiro nunca é muito (porque nos sonhos sempre será maior) e aquela outra pessoa está ali, falando na ruptura dos impérios, na desigualdade entre irmãos, no fim dos tempos... puxa, quanta perspectiva, quanta visão de mundo! É quando a única verdade possível se manifesta, ali, bem diante dos seus olhos: aquela pessoa pode mudar sua vida, seu universo de torpezas e seu desânimo para continuar procurando por aquilo que será capaz de te tornar completo. Aquela pessoa não é como as outras, mas como Jesus para os de muita fé , como um prato de sopa para os que gostam ou que precisam, como morfina para os que se contorcem. É sensacional, e está ali. Ao seu alcance. Na verdade, vindo na sua direção. Como é possível que nesse aglomerado de ricos, pobres e angustiados, nesse paraíso de comuns e ordinários, cheios de dúvidas e certezas inventadas, haja um pedacinho de carnes com vontades tão próprias e capaz de despertar vontades tão próprias? O que você não vê é que aquela pessoa é ordinária, tão ordinária quanto você. Mas para que se apegar a tantos detalhes? Quanto mais se pensa, menos se sonha. E os sonhos se sustentam sobre nossa alma infeliz. Se põem de pé e até fazem ginástica em cima de nossas pequenas cabeças. Tudo se torna tão diferente daquelas perspectivas furadas das pessoas ordinárias... Agora você não é mais uma reles pessoinha: você é alguém que tem em mãos o “Emplasto Brás Cubas”, o poder da vida eterna! É nesse devaneio frívolo – e tão solitário – que o amor acontece.
Sonhos medíocres
Os sonhos se sustentam sobre nossa alma infeliz. Se põem de pé e até fazem ginástica em cima de nossas pequenas cabeças. E para as pessoas ordinárias que povoam nosso medíocre universo, os sonhos movem montanhas, nos movem para além de nossas pobres coitadas perspectivas, nos tornam seres humanos de sucesso. Que paradoxo! E assim, o planeta vai trocando a ira pela esperança. Engraçado... E as pessoinhas vão crescendo e aprendendo com os pais, amigos, traficantes e demais seres do mundo a criar seus pedacinhos de céu. Na televisão, vários são aqueles que com orgulho transmitem a imagem do que é ser alguém, exibindo seus carros, suas grandiosas casas e suas bundas lipoaspiradas, seus pequeninos escândalos enquanto bêbados de poder, atropelando as leis e as pessoas, atropelando a confiança e os valores dessa gente comum, ordinária – não mais que eles, no entanto. Por que as pessoas não são como as coisas, felizes somente por estarem ali ou aqui, sem levantar aquele dedinho pra reclamar, sem dar tudo que tem por uma vaga no paraíso... Tão grande é o céu que nem sequer nos é possível escolher um lugar mais apropriado pra morar pra sempre. Mas será mesmo pra sempre? Tem gente que acha que sim, tem gente cuja fé supera em milhões a ignorância. E lá se vão as pessoinhas! Sempre com medo de um tornado, de um castigo dos céus ou dos homens, sempre com receio de que aquela mentirinha seja descoberta. Aí elas se entregam de corpo e alma àquela igreja, àquela causa social, àquela leitura, àquele sonho, a tudo aquilo que tenta dar razão ao nosso absurdo, ao nosso caos. É quando aparece aquela outra pessoa ordinária, tanto quanto você, cheia de dúvidas e certezas inventadas. A vida está difícil, o dinheiro nunca é muito (porque nos sonhos sempre será maior) e aquela outra pessoa está ali, falando na ruptura dos impérios, na desigualdade entre irmãos, no fim dos tempos... puxa, quanta perspectiva, quanta visão de mundo! É quando a única verdade possível se manifesta, ali, bem diante dos seus olhos: aquela pessoa pode mudar sua vida, seu universo de torpezas e seu desânimo para continuar procurando por aquilo que será capaz de te tornar completo. Aquela pessoa não é como as outras, mas como Jesus para os de muita fé , como um prato de sopa para os que gostam ou que precisam, como morfina para os que se contorcem. É sensacional, e está ali. Ao seu alcance. Na verdade, vindo na sua direção. Como é possível que nesse aglomerado de ricos, pobres e angustiados, nesse paraíso de comuns e ordinários, cheios de dúvidas e certezas inventadas, haja um pedacinho de carnes com vontades tão próprias e capaz de despertar vontades tão próprias? O que você não vê é que aquela pessoa é ordinária, tão ordinária quanto você. Mas para que se apegar a tantos detalhes? Quanto mais se pensa, menos se sonha. E os sonhos se sustentam sobre nossa alma infeliz. Se põem de pé e até fazem ginástica em cima de nossas pequenas cabeças. Tudo se torna tão diferente daquelas perspectivas furadas das pessoas ordinárias... Agora você não é mais uma reles pessoinha: você é alguém que tem em mãos o “Emplasto Brás Cubas”, o poder da vida eterna! É nesse devaneio frívolo – e tão solitário – que o amor acontece.
Santo Sonho
Sonho
Que sei
Que sinto
Que sofro.
Subo.
“Santo, salva essa moça, salva, santo!”
E o santo sacode, sereno.
Sorri e salta.
E solta:
“Santa, salva essa moça, santa, salva!”
Que sei
Que sinto
Que sofro.
Subo.
“Santo, salva essa moça, salva, santo!”
E o santo sacode, sereno.
Sorri e salta.
E solta:
“Santa, salva essa moça, santa, salva!”
Santo Sonho
Sonho
Que sei
Que sinto
Que sofro.
Subo.
“Santo, salva essa moça, salva, santo!”
E o santo sacode, sereno.
Sorri e salta.
E solta:
“Santa, salva essa moça, santa, salva!”
Que sei
Que sinto
Que sofro.
Subo.
“Santo, salva essa moça, salva, santo!”
E o santo sacode, sereno.
Sorri e salta.
E solta:
“Santa, salva essa moça, santa, salva!”
quinta-feira, 5 de março de 2009
Capítulo 11 – Tudo vale a pena... né?
Ei, gente,
Bom, como várias pessoas já me perguntaram sobre minha casa, trabalho, enfim, esse tipo de coisa, sinto que agora dá pra responder tudo isso sem rodeios e sem expectativas de uma mudança radical, até porque já rolou tanta água debaixo dessa ponte que o rio secou.
Comecemos do começo. Érika, brasileira, solteira, 28 anos, chegou em Londres direto em casa de Madame Satã. Paguei £60 de táxi do aeroporto até a minha casa, porque minha grande amiga Marinão... digamos que... atrasou-se um pouco para me buscar, e como a conheço bem e de outros carnavais, entendi que ela devia estar sonhando com a minha chegada, numa nuvem azul, no meio do nirvana. Vocês devem estar se perguntando: tudo bem, você teve que pegar um táxi, mas sessenta pilas britânicas? Digamos que com 50% de deslumbramento e 50% de toupeirice, peguei o black cab, que é o táxi mais caro da cidade. Mas quando você acaba de chegar, achando que é uma pessoa internacional com dinheiro internacional, nada é problema! Sendo assim, paguei as £60 pilas achando que eram R$60 - que já é carérrimo pra um tx - e comecei minha jornada.
Nas primeiras semanas, decidi que iria curtir a vida adoidado, e vcs já sabem da missa a metade - fui a vários lugares legais, tomei todos os tipos de bebida, conversei com todo mundo que podia pra testar meu inglês, resumindo - a todo vapor! Me sentindo uma cidadã RICA de Londres, não me dei conta de que meus frágeis reaizinhos bravamente se despediam de seus irmãos em minha conta bancária e partiam rumo ao matadouro do consumismo. Resultado: hora de procurar um emprego!
Comecei a trabalhar num restaurante japonês como empacotadora de delivery e em pouco tempo fui promovida a atendedora de telefone do delivery/empacotadora, e em um mês já queriam que eu fosse garçonete/atendedora/empacotadora - ganhando o mesmo salário de £5.75 por hora. As gorjetas iam pra um mesmo potinho, que eles diziam dividir igualmente entre os garçons. 1) ganhei gorjeta quando trabalhei de garçonete, mas não vi a cor; 2) como eu não era oficialmente garçonete, as minhas gorjetas iam oficialmente para bolsos alheios; 3) numa escala de A a Z, o restaurante, do lado da minha escola e da minha casa, fica ao norte de K, e eu me mudei pra S, o que significa que gastava mais tempo pra ir e voltar do que trabalhando; 4) depois de duas semanas, reduziram meu horário de trabalho de 24 para 14 horas. Não preciso falar com vocês que um belo dia cheguei lá e disse que não voltava no próximo, que o chefe falou que precisava de mim e que eu tinha que ir no fim-de-semana e que eu cortezmente disse que iria, cheguei em casa e mandei uma mensagem pra ele dizendo que apesar de meu trabalho ser sensacional, altamente bem-remunerado e ultra conveniente, minha torpeza, vileza, insensibilidade e falta de espírito de equipe mandavam um abraço apertado de adeus...
Nesse meio-tempo, a escola rolando - e eu sem saber o que fazer. Até que tive a brilhante idéia de IR À ESCOLA pra variar! Conversei lá e me deram umas férias até eu resolver a vida. Aí começou uma nova saga - a saga da sobrevivência. A essa altura os reais que não tinham ido para o front foram mantidos reféns pelos juros e taxas do Banco do Brasil, e morreram lutando por dignidade, coerência e bom senso nos bancos brasileiros. Só não distribuí meu currículo em ambientes carcerários e áreas ligadas à prostituição - mas já sabendo que se o bicho pegasse, era só ligar pra filipina, hehehe.... E vocês podem imaginar que com toda a minha panguice, não deu certo - "Vc já trabalhou na área?" "Eh... não." "Nunca?" "Que eu me lembre? Não." "Nem um pouquinho assim, diz que sim, não seja assim, vai, siiiiiim?" "Bem, deixa eu ver... não."
E assim foi, até que num ímpeto de desespero... eu entrei no gumtree.com, o site em que se procura tudo e se acha mais ainda, e postei três anúncios. 1) posso ser sua babá - amo crianças, sou super divertida, vamos quebrar sua casa, blablabla; 2) professora de inglês brasileira procura emprego na área educacional; 3) cantora e compositora procura banda de rock sossegado, estilo Velvet. Adivinhem em qual recebi a primeira resposta...
Acertou quem optou pela alternativa 1 - uma mãe me escreveu querendo que eu fosse babá de seu filhinho de 2 anos. E se eu fosse uma psicótica, gente? Essa galera não tem medo do desconhecido mesmo... Anyway, já estava pensando em quanto iria cobrar, olhando o endereço no googlemaps, quando de repente meu telefone toca. MEU EMPREGO ATUAL! Simples assim! Me ligaram 10 minutos depois que eu postei a mensagem, meia hora depois já estava fazendo a entrevista - detalhe: fui a pé pra entrevista - e no dia seguinte já estava lá às 9 da manhã pro treinamento. O lugar se chama TLE - The Learning Edge! - e eles oferecem cursos gratuitos de inglês, matemática, informática, ajuda com o currículo, esse tipo de coisa. Os cursos são online e os alunos podem estudar em casa ou ir ao learning centre, que é basicamente um laboratório de informática. Sou monitora desse curso, e de segunda a sábado, de dez às quatro da tarde, ajudo a galera - mais a usar o computador do que a fazer o curso, porque os alunos são ou estrangeiros com passaporte britânico ou ingleses mais pobres, e muitos nunca usaram um computador, dá pra acreditar? Bangladesh tá toda aqui, Paquistão e Índia vieram pra ficar, e o povo não para de se multiplicar, por causa dos inúmeros benefícios do governo para os filhos de Londres. Fui do núcleo rico ao pobre da novela, gente, de norte a leste, passando ocasionalmente pelo oeste, que é lindo também. O que me chamou atenção foi a questão do preconceito - ele existe, mas vem de onde menos se imagina...
Me despeço em vibe lerê-cinza - que situaçãaaaaaaao, hein, Fabricets?
Bjos, bjos, bjos!!!
Bom, como várias pessoas já me perguntaram sobre minha casa, trabalho, enfim, esse tipo de coisa, sinto que agora dá pra responder tudo isso sem rodeios e sem expectativas de uma mudança radical, até porque já rolou tanta água debaixo dessa ponte que o rio secou.
Comecemos do começo. Érika, brasileira, solteira, 28 anos, chegou em Londres direto em casa de Madame Satã. Paguei £60 de táxi do aeroporto até a minha casa, porque minha grande amiga Marinão... digamos que... atrasou-se um pouco para me buscar, e como a conheço bem e de outros carnavais, entendi que ela devia estar sonhando com a minha chegada, numa nuvem azul, no meio do nirvana. Vocês devem estar se perguntando: tudo bem, você teve que pegar um táxi, mas sessenta pilas britânicas? Digamos que com 50% de deslumbramento e 50% de toupeirice, peguei o black cab, que é o táxi mais caro da cidade. Mas quando você acaba de chegar, achando que é uma pessoa internacional com dinheiro internacional, nada é problema! Sendo assim, paguei as £60 pilas achando que eram R$60 - que já é carérrimo pra um tx - e comecei minha jornada.
Nas primeiras semanas, decidi que iria curtir a vida adoidado, e vcs já sabem da missa a metade - fui a vários lugares legais, tomei todos os tipos de bebida, conversei com todo mundo que podia pra testar meu inglês, resumindo - a todo vapor! Me sentindo uma cidadã RICA de Londres, não me dei conta de que meus frágeis reaizinhos bravamente se despediam de seus irmãos em minha conta bancária e partiam rumo ao matadouro do consumismo. Resultado: hora de procurar um emprego!
Comecei a trabalhar num restaurante japonês como empacotadora de delivery e em pouco tempo fui promovida a atendedora de telefone do delivery/empacotadora, e em um mês já queriam que eu fosse garçonete/atendedora/empacotadora - ganhando o mesmo salário de £5.75 por hora. As gorjetas iam pra um mesmo potinho, que eles diziam dividir igualmente entre os garçons. 1) ganhei gorjeta quando trabalhei de garçonete, mas não vi a cor; 2) como eu não era oficialmente garçonete, as minhas gorjetas iam oficialmente para bolsos alheios; 3) numa escala de A a Z, o restaurante, do lado da minha escola e da minha casa, fica ao norte de K, e eu me mudei pra S, o que significa que gastava mais tempo pra ir e voltar do que trabalhando; 4) depois de duas semanas, reduziram meu horário de trabalho de 24 para 14 horas. Não preciso falar com vocês que um belo dia cheguei lá e disse que não voltava no próximo, que o chefe falou que precisava de mim e que eu tinha que ir no fim-de-semana e que eu cortezmente disse que iria, cheguei em casa e mandei uma mensagem pra ele dizendo que apesar de meu trabalho ser sensacional, altamente bem-remunerado e ultra conveniente, minha torpeza, vileza, insensibilidade e falta de espírito de equipe mandavam um abraço apertado de adeus...
Nesse meio-tempo, a escola rolando - e eu sem saber o que fazer. Até que tive a brilhante idéia de IR À ESCOLA pra variar! Conversei lá e me deram umas férias até eu resolver a vida. Aí começou uma nova saga - a saga da sobrevivência. A essa altura os reais que não tinham ido para o front foram mantidos reféns pelos juros e taxas do Banco do Brasil, e morreram lutando por dignidade, coerência e bom senso nos bancos brasileiros. Só não distribuí meu currículo em ambientes carcerários e áreas ligadas à prostituição - mas já sabendo que se o bicho pegasse, era só ligar pra filipina, hehehe.... E vocês podem imaginar que com toda a minha panguice, não deu certo - "Vc já trabalhou na área?" "Eh... não." "Nunca?" "Que eu me lembre? Não." "Nem um pouquinho assim, diz que sim, não seja assim, vai, siiiiiim?" "Bem, deixa eu ver... não."
E assim foi, até que num ímpeto de desespero... eu entrei no gumtree.com, o site em que se procura tudo e se acha mais ainda, e postei três anúncios. 1) posso ser sua babá - amo crianças, sou super divertida, vamos quebrar sua casa, blablabla; 2) professora de inglês brasileira procura emprego na área educacional; 3) cantora e compositora procura banda de rock sossegado, estilo Velvet. Adivinhem em qual recebi a primeira resposta...
Acertou quem optou pela alternativa 1 - uma mãe me escreveu querendo que eu fosse babá de seu filhinho de 2 anos. E se eu fosse uma psicótica, gente? Essa galera não tem medo do desconhecido mesmo... Anyway, já estava pensando em quanto iria cobrar, olhando o endereço no googlemaps, quando de repente meu telefone toca. MEU EMPREGO ATUAL! Simples assim! Me ligaram 10 minutos depois que eu postei a mensagem, meia hora depois já estava fazendo a entrevista - detalhe: fui a pé pra entrevista - e no dia seguinte já estava lá às 9 da manhã pro treinamento. O lugar se chama TLE - The Learning Edge! - e eles oferecem cursos gratuitos de inglês, matemática, informática, ajuda com o currículo, esse tipo de coisa. Os cursos são online e os alunos podem estudar em casa ou ir ao learning centre, que é basicamente um laboratório de informática. Sou monitora desse curso, e de segunda a sábado, de dez às quatro da tarde, ajudo a galera - mais a usar o computador do que a fazer o curso, porque os alunos são ou estrangeiros com passaporte britânico ou ingleses mais pobres, e muitos nunca usaram um computador, dá pra acreditar? Bangladesh tá toda aqui, Paquistão e Índia vieram pra ficar, e o povo não para de se multiplicar, por causa dos inúmeros benefícios do governo para os filhos de Londres. Fui do núcleo rico ao pobre da novela, gente, de norte a leste, passando ocasionalmente pelo oeste, que é lindo também. O que me chamou atenção foi a questão do preconceito - ele existe, mas vem de onde menos se imagina...
Me despeço em vibe lerê-cinza - que situaçãaaaaaaao, hein, Fabricets?
Bjos, bjos, bjos!!!
Capítulo 11 – Tudo vale a pena... né?
Ei, gente,
Bom, como várias pessoas já me perguntaram sobre minha casa, trabalho, enfim, esse tipo de coisa, sinto que agora dá pra responder tudo isso sem rodeios e sem expectativas de uma mudança radical, até porque já rolou tanta água debaixo dessa ponte que o rio secou.
Comecemos do começo. Érika, brasileira, solteira, 28 anos, chegou em Londres direto em casa de Madame Satã. Paguei £60 de táxi do aeroporto até a minha casa, porque minha grande amiga Marinão... digamos que... atrasou-se um pouco para me buscar, e como a conheço bem e de outros carnavais, entendi que ela devia estar sonhando com a minha chegada, numa nuvem azul, no meio do nirvana. Vocês devem estar se perguntando: tudo bem, você teve que pegar um táxi, mas sessenta pilas britânicas? Digamos que com 50% de deslumbramento e 50% de toupeirice, peguei o black cab, que é o táxi mais caro da cidade. Mas quando você acaba de chegar, achando que é uma pessoa internacional com dinheiro internacional, nada é problema! Sendo assim, paguei as £60 pilas achando que eram R$60 - que já é carérrimo pra um tx - e comecei minha jornada.
Nas primeiras semanas, decidi que iria curtir a vida adoidado, e vcs já sabem da missa a metade - fui a vários lugares legais, tomei todos os tipos de bebida, conversei com todo mundo que podia pra testar meu inglês, resumindo - a todo vapor! Me sentindo uma cidadã RICA de Londres, não me dei conta de que meus frágeis reaizinhos bravamente se despediam de seus irmãos em minha conta bancária e partiam rumo ao matadouro do consumismo. Resultado: hora de procurar um emprego!
Comecei a trabalhar num restaurante japonês como empacotadora de delivery e em pouco tempo fui promovida a atendedora de telefone do delivery/empacotadora, e em um mês já queriam que eu fosse garçonete/atendedora/empacotadora - ganhando o mesmo salário de £5.75 por hora. As gorjetas iam pra um mesmo potinho, que eles diziam dividir igualmente entre os garçons. 1) ganhei gorjeta quando trabalhei de garçonete, mas não vi a cor; 2) como eu não era oficialmente garçonete, as minhas gorjetas iam oficialmente para bolsos alheios; 3) numa escala de A a Z, o restaurante, do lado da minha escola e da minha casa, fica ao norte de K, e eu me mudei pra S, o que significa que gastava mais tempo pra ir e voltar do que trabalhando; 4) depois de duas semanas, reduziram meu horário de trabalho de 24 para 14 horas. Não preciso falar com vocês que um belo dia cheguei lá e disse que não voltava no próximo, que o chefe falou que precisava de mim e que eu tinha que ir no fim-de-semana e que eu cortezmente disse que iria, cheguei em casa e mandei uma mensagem pra ele dizendo que apesar de meu trabalho ser sensacional, altamente bem-remunerado e ultra conveniente, minha torpeza, vileza, insensibilidade e falta de espírito de equipe mandavam um abraço apertado de adeus...
Nesse meio-tempo, a escola rolando - e eu sem saber o que fazer. Até que tive a brilhante idéia de IR À ESCOLA pra variar! Conversei lá e me deram umas férias até eu resolver a vida. Aí começou uma nova saga - a saga da sobrevivência. A essa altura os reais que não tinham ido para o front foram mantidos reféns pelos juros e taxas do Banco do Brasil, e morreram lutando por dignidade, coerência e bom senso nos bancos brasileiros. Só não distribuí meu currículo em ambientes carcerários e áreas ligadas à prostituição - mas já sabendo que se o bicho pegasse, era só ligar pra filipina, hehehe.... E vocês podem imaginar que com toda a minha panguice, não deu certo - "Vc já trabalhou na área?" "Eh... não." "Nunca?" "Que eu me lembre? Não." "Nem um pouquinho assim, diz que sim, não seja assim, vai, siiiiiim?" "Bem, deixa eu ver... não."
E assim foi, até que num ímpeto de desespero... eu entrei no gumtree.com, o site em que se procura tudo e se acha mais ainda, e postei três anúncios. 1) posso ser sua babá - amo crianças, sou super divertida, vamos quebrar sua casa, blablabla; 2) professora de inglês brasileira procura emprego na área educacional; 3) cantora e compositora procura banda de rock sossegado, estilo Velvet. Adivinhem em qual recebi a primeira resposta...
Acertou quem optou pela alternativa 1 - uma mãe me escreveu querendo que eu fosse babá de seu filhinho de 2 anos. E se eu fosse uma psicótica, gente? Essa galera não tem medo do desconhecido mesmo... Anyway, já estava pensando em quanto iria cobrar, olhando o endereço no googlemaps, quando de repente meu telefone toca. MEU EMPREGO ATUAL! Simples assim! Me ligaram 10 minutos depois que eu postei a mensagem, meia hora depois já estava fazendo a entrevista - detalhe: fui a pé pra entrevista - e no dia seguinte já estava lá às 9 da manhã pro treinamento. O lugar se chama TLE - The Learning Edge! - e eles oferecem cursos gratuitos de inglês, matemática, informática, ajuda com o currículo, esse tipo de coisa. Os cursos são online e os alunos podem estudar em casa ou ir ao learning centre, que é basicamente um laboratório de informática. Sou monitora desse curso, e de segunda a sábado, de dez às quatro da tarde, ajudo a galera - mais a usar o computador do que a fazer o curso, porque os alunos são ou estrangeiros com passaporte britânico ou ingleses mais pobres, e muitos nunca usaram um computador, dá pra acreditar? Bangladesh tá toda aqui, Paquistão e Índia vieram pra ficar, e o povo não para de se multiplicar, por causa dos inúmeros benefícios do governo para os filhos de Londres. Fui do núcleo rico ao pobre da novela, gente, de norte a leste, passando ocasionalmente pelo oeste, que é lindo também. O que me chamou atenção foi a questão do preconceito - ele existe, mas vem de onde menos se imagina...
Me despeço em vibe lerê-cinza - que situaçãaaaaaaao, hein, Fabricets?
Bjos, bjos, bjos!!!
Bom, como várias pessoas já me perguntaram sobre minha casa, trabalho, enfim, esse tipo de coisa, sinto que agora dá pra responder tudo isso sem rodeios e sem expectativas de uma mudança radical, até porque já rolou tanta água debaixo dessa ponte que o rio secou.
Comecemos do começo. Érika, brasileira, solteira, 28 anos, chegou em Londres direto em casa de Madame Satã. Paguei £60 de táxi do aeroporto até a minha casa, porque minha grande amiga Marinão... digamos que... atrasou-se um pouco para me buscar, e como a conheço bem e de outros carnavais, entendi que ela devia estar sonhando com a minha chegada, numa nuvem azul, no meio do nirvana. Vocês devem estar se perguntando: tudo bem, você teve que pegar um táxi, mas sessenta pilas britânicas? Digamos que com 50% de deslumbramento e 50% de toupeirice, peguei o black cab, que é o táxi mais caro da cidade. Mas quando você acaba de chegar, achando que é uma pessoa internacional com dinheiro internacional, nada é problema! Sendo assim, paguei as £60 pilas achando que eram R$60 - que já é carérrimo pra um tx - e comecei minha jornada.
Nas primeiras semanas, decidi que iria curtir a vida adoidado, e vcs já sabem da missa a metade - fui a vários lugares legais, tomei todos os tipos de bebida, conversei com todo mundo que podia pra testar meu inglês, resumindo - a todo vapor! Me sentindo uma cidadã RICA de Londres, não me dei conta de que meus frágeis reaizinhos bravamente se despediam de seus irmãos em minha conta bancária e partiam rumo ao matadouro do consumismo. Resultado: hora de procurar um emprego!
Comecei a trabalhar num restaurante japonês como empacotadora de delivery e em pouco tempo fui promovida a atendedora de telefone do delivery/empacotadora, e em um mês já queriam que eu fosse garçonete/atendedora/empacotadora - ganhando o mesmo salário de £5.75 por hora. As gorjetas iam pra um mesmo potinho, que eles diziam dividir igualmente entre os garçons. 1) ganhei gorjeta quando trabalhei de garçonete, mas não vi a cor; 2) como eu não era oficialmente garçonete, as minhas gorjetas iam oficialmente para bolsos alheios; 3) numa escala de A a Z, o restaurante, do lado da minha escola e da minha casa, fica ao norte de K, e eu me mudei pra S, o que significa que gastava mais tempo pra ir e voltar do que trabalhando; 4) depois de duas semanas, reduziram meu horário de trabalho de 24 para 14 horas. Não preciso falar com vocês que um belo dia cheguei lá e disse que não voltava no próximo, que o chefe falou que precisava de mim e que eu tinha que ir no fim-de-semana e que eu cortezmente disse que iria, cheguei em casa e mandei uma mensagem pra ele dizendo que apesar de meu trabalho ser sensacional, altamente bem-remunerado e ultra conveniente, minha torpeza, vileza, insensibilidade e falta de espírito de equipe mandavam um abraço apertado de adeus...
Nesse meio-tempo, a escola rolando - e eu sem saber o que fazer. Até que tive a brilhante idéia de IR À ESCOLA pra variar! Conversei lá e me deram umas férias até eu resolver a vida. Aí começou uma nova saga - a saga da sobrevivência. A essa altura os reais que não tinham ido para o front foram mantidos reféns pelos juros e taxas do Banco do Brasil, e morreram lutando por dignidade, coerência e bom senso nos bancos brasileiros. Só não distribuí meu currículo em ambientes carcerários e áreas ligadas à prostituição - mas já sabendo que se o bicho pegasse, era só ligar pra filipina, hehehe.... E vocês podem imaginar que com toda a minha panguice, não deu certo - "Vc já trabalhou na área?" "Eh... não." "Nunca?" "Que eu me lembre? Não." "Nem um pouquinho assim, diz que sim, não seja assim, vai, siiiiiim?" "Bem, deixa eu ver... não."
E assim foi, até que num ímpeto de desespero... eu entrei no gumtree.com, o site em que se procura tudo e se acha mais ainda, e postei três anúncios. 1) posso ser sua babá - amo crianças, sou super divertida, vamos quebrar sua casa, blablabla; 2) professora de inglês brasileira procura emprego na área educacional; 3) cantora e compositora procura banda de rock sossegado, estilo Velvet. Adivinhem em qual recebi a primeira resposta...
Acertou quem optou pela alternativa 1 - uma mãe me escreveu querendo que eu fosse babá de seu filhinho de 2 anos. E se eu fosse uma psicótica, gente? Essa galera não tem medo do desconhecido mesmo... Anyway, já estava pensando em quanto iria cobrar, olhando o endereço no googlemaps, quando de repente meu telefone toca. MEU EMPREGO ATUAL! Simples assim! Me ligaram 10 minutos depois que eu postei a mensagem, meia hora depois já estava fazendo a entrevista - detalhe: fui a pé pra entrevista - e no dia seguinte já estava lá às 9 da manhã pro treinamento. O lugar se chama TLE - The Learning Edge! - e eles oferecem cursos gratuitos de inglês, matemática, informática, ajuda com o currículo, esse tipo de coisa. Os cursos são online e os alunos podem estudar em casa ou ir ao learning centre, que é basicamente um laboratório de informática. Sou monitora desse curso, e de segunda a sábado, de dez às quatro da tarde, ajudo a galera - mais a usar o computador do que a fazer o curso, porque os alunos são ou estrangeiros com passaporte britânico ou ingleses mais pobres, e muitos nunca usaram um computador, dá pra acreditar? Bangladesh tá toda aqui, Paquistão e Índia vieram pra ficar, e o povo não para de se multiplicar, por causa dos inúmeros benefícios do governo para os filhos de Londres. Fui do núcleo rico ao pobre da novela, gente, de norte a leste, passando ocasionalmente pelo oeste, que é lindo também. O que me chamou atenção foi a questão do preconceito - ele existe, mas vem de onde menos se imagina...
Me despeço em vibe lerê-cinza - que situaçãaaaaaaao, hein, Fabricets?
Bjos, bjos, bjos!!!
Desembaraço
Eu gostaria de dizer
que se pudesse ser
e sentir
o que sempre quis saber
e correr e voar
o mais alto a sorrir,
seria o que o mundo espera
que não aconteça;
eu iria subir e eles diriam:
"Desça!"
E então eu daria um grito bem forte
e despejaria plumas
em meu salto
para a
MORTE!...
que se pudesse ser
e sentir
o que sempre quis saber
e correr e voar
o mais alto a sorrir,
seria o que o mundo espera
que não aconteça;
eu iria subir e eles diriam:
"Desça!"
E então eu daria um grito bem forte
e despejaria plumas
em meu salto
para a
MORTE!...
Desembaraço
Eu gostaria de dizer
que se pudesse ser
e sentir
o que sempre quis saber
e correr e voar
o mais alto a sorrir,
seria o que o mundo espera
que não aconteça;
eu iria subir e eles diriam:
"Desça!"
E então eu daria um grito bem forte
e despejaria plumas
em meu salto
para a
MORTE!...
que se pudesse ser
e sentir
o que sempre quis saber
e correr e voar
o mais alto a sorrir,
seria o que o mundo espera
que não aconteça;
eu iria subir e eles diriam:
"Desça!"
E então eu daria um grito bem forte
e despejaria plumas
em meu salto
para a
MORTE!...
Observação
Gente, os capítulos foram escritos no semestre passado, enquanto eu estava viajando, por isso não reparem se algumas notícias forem um pouco ultrapassadas...
Observação
Gente, os capítulos foram escritos no semestre passado, enquanto eu estava viajando, por isso não reparem se algumas notícias forem um pouco ultrapassadas...
terça-feira, 3 de março de 2009
Capítulo 10 - O tempo, o trânsito...???!!!
Gente,
Antes de começar mais um relato de aventuras, gostaria de saber que putaria é essa que está acontecendo na minha cidade linda e querida, da qual tenho muito orgulho, mesmo que as pessoas aqui nem saibam pronunciar o nome. Que história é essa de "gente cuidando de gente", como é que tantos dos meus conterrâneos compraram esse peixe podre que tá cheirando aqui do outro lado??? Nem conheço o outro, mas pelamordideus, gente, esse tá pior que o nosso amigo collorido - façam-me o favor de enxotar essa figura pitoresca rapidamente - tô com vergonha por ele, já que pelo visto ele não tem nenhuma. Como meu jargão do momento é "volta pro mar, oferenda!", mandem ele de volta pra Ipatinga, pra brincar de Banco Imobiliário com papai.
Também acompanhei pelo youtube a atrocidade do momento, o sequestro da menina que acabou em morte, mais uma evidência do despreparo misturado à falta de noção de nossa polícia e autoridades. Mas esse massacre da mídia, dilacerando o coração dos familiares e amigos, sugando cada gota de desgosto e desespero, só vai durar até a próxima calamidade, não é mesmo? A Suzana que matou os pais, o cara que matou a avó, o João Hélio, a Isabela, o maníaco do parque, Fernandinho Boa-Vida-Beira-Mar, as mulheres desaparecidas na UFMG, um vai dando lugar ao outro e a Rede Globo, seguida das suas pequenas amiguinhas, se esbalda com a dor alheia, porque já que dói em mim só de ficar sabendo, imaginem a dor das famílias, tanto do assassinado quanto do assassino, a vergonha, o desespero, a raiva, o desejo de vingança. É uma pena que se torne normal viver em guerra.
Aqui do outro lado as novidades são muitas, todos os dias. Eu vim pra cá com dois pares de tênis, duas jaquetas, uns jeans e achei que era isso mesmo. O problema foi que no verão minhas jaquetas já apresentavam algumas falhas no quesito me manter quentinha. Deixa estar, pensei, se bobear esse tempinho vai perdurar até dezembro, quando, de acordo com os seres locais, faz frio pra canário nenhum botar defeito. Pensem comigo: estamos em outubro, certo? OUTUBRO!!! Não se assustem quando eu contar pra vocês que NEVOU AQUI ONTEM!!! EU VI!!! ATÉ TIREI FOTO!!! Sinceramente, foi a coisa mais surreal que já me ocorreu - e vocês sabem que são tantas que não estão no gibi... Sem palavras. Começou a chover granizo, e já foi impressionante, porque aconteceu de uma hora pra outra e foi muito forte - o jardim da minha casa ficou cheio de pedrinhas, e o teto da cozinha, que é transparente, ficou todo coberto. Como se não bastasse, poucas horas depois, a Renata, com quem eu moro, me chamou pra ver a NEVE! Que isso, gente, eu aqui no meio de outubro, me esforçando pra sobreviver, não reclamando muito do frio pra ninguém achar que eu vim da roça ou que estou reclamando à toa, já que no dia em que comentei de leve com um polonês que o ventinho tava bem friinho, ele me lançou um "na Polônia a temperatura média num período relativamente frio é menos vinte". Quase que eu falei "pois é, meu filho, é por isso que eu nasci no Brasil e vc na geladeira, né?". Então agora acho que vocês vão conseguir imaginar a situação aqui. Ou como diria meu ilustríssimo amigo Fabricets Paragoncélis, situaçãaaaaaaaaaaaao! O mais frio que eu já tinha experimentado foi o frio do Retiro antes de ficar bêbada e sem roupas apropriadas... Só me tranquilizei um pouco ao ver que TODO MUNDO aqui tá empacotado também. É mais ou menos assim: nós, seres europeus, estamos acostumados ao frio e a sentir frio e a evitar o frio também. Que graça tem isso afinal?
Agora preciso contar pra vocês minhas primeiras impressões do trânsito aqui. Começo dizendo que não é um lugar onde um membro da BHTrans gostaria de passar as férias. O trânsito aqui é chocante! E quando digo isso, não pensem que é só porque a mão de toda a cidade é contrária e que por isso tem escrito no chão LOOK LEFT ou LOOK RIGHT ou LOOK BOTH WAYS. Já tinha contado pra vocês que quase fui atropelada várias vezes nas primeiras semanas. Não, gente, simplesmente eu descobri algumas coisas surpreendentes que mudaram minha vida. Pra começar, se você estiver dirigindo em um lado de uma via de mão dupla e vir uma vaga do outro lado, vc simplesmente diz: OBA! e estaciona lá. Simples assim, na contra-mão total. Acho que até contei que quando eu fazia isso em BH o Bruno ficava frenético, né? Aqui pode, lindo! As chamadas baianadas são a lei do trânsito local, e não existe nem buzina pra quem faz aqueles famosos balões no meio de vias congestionadas - na verdade a galera até tenta se espremer pra dar um espaço pro pobre coitado que só quer ir pra lá, uai, o que é que tem? Acho que a grande maioria das ruas é muito estreita, e os ônibus passam chutando a barraca e o pau, a velhinha e o chapado, e as bicicletas passam junto com os ônibus, e as motos passam as bicicletas, e os tx passam frenéticos, ah, esqueci de dizer - todos esses veículos trafegam pela mesma via, chamada BUS LANE, principalmente quando o trânsito tá bravo, ou seja, sempre. Todo mundo dirige frenético e você é só um tomatinho com uma placa escrito "por favor me exploda". As pessoas usam o meio-fio pra estacionar, sem exceção, pra vocês não ficarem pensando que isso só se aplica às donas de casa e aos maiores de 60 anos. A grande maioria da população ainda não foi apresentada ao termo "baliza". Como boa observadora que sou, tive um insight: ENTÃO É POR ISSO QUE TODO MEIO-FIO AQUI É PEQUENO! A galera tem preguiça até de estacionar o carro! Mas também com esse frio aliado à gorda ajuda do governo, não dá pra culpá-los, né mes? Como se não bastasse, estou eu voltando pra casa, passando pela mesma rua por onde passo todos os dias, quando vejo um carro estacionado com a metade no passeio. Pensei com meus botões, natural... olhei o de trás: do mesmo jeito. Olhei pra frente e vi que todos os carros estavam com a metade em cima do passeio, que já é minúsculo. Aí é que vem o melhor: olhei pro chão e vi que os pontilhados marcando a área de estacionamento só delimitavam o espaço pra MEIO carro, obrigando os motoristas a estacionarem no passeio. Em outras palavras, se a metade do carro não ficar no passeio, você pode ser multado porque estará ultrapassando a área de estacionamento, criada pelo órgão local de trânsito, ao perceber que a via estava muito estreita para o fluxo! Vou ver se mando uma foto só pra vocês verem que é verdade, porque falando ninguém acredita...
E falando em multa, acreditam que eu fui multada aqui??? Quando eu digo pra vocês que acontecem coisas surreais comigo, podem crer, galera! Ah, mas isso é história pra outra história.
Espero que se divirtam - e hasta lo próximo episódio!!!
Antes de começar mais um relato de aventuras, gostaria de saber que putaria é essa que está acontecendo na minha cidade linda e querida, da qual tenho muito orgulho, mesmo que as pessoas aqui nem saibam pronunciar o nome. Que história é essa de "gente cuidando de gente", como é que tantos dos meus conterrâneos compraram esse peixe podre que tá cheirando aqui do outro lado??? Nem conheço o outro, mas pelamordideus, gente, esse tá pior que o nosso amigo collorido - façam-me o favor de enxotar essa figura pitoresca rapidamente - tô com vergonha por ele, já que pelo visto ele não tem nenhuma. Como meu jargão do momento é "volta pro mar, oferenda!", mandem ele de volta pra Ipatinga, pra brincar de Banco Imobiliário com papai.
Também acompanhei pelo youtube a atrocidade do momento, o sequestro da menina que acabou em morte, mais uma evidência do despreparo misturado à falta de noção de nossa polícia e autoridades. Mas esse massacre da mídia, dilacerando o coração dos familiares e amigos, sugando cada gota de desgosto e desespero, só vai durar até a próxima calamidade, não é mesmo? A Suzana que matou os pais, o cara que matou a avó, o João Hélio, a Isabela, o maníaco do parque, Fernandinho Boa-Vida-Beira-Mar, as mulheres desaparecidas na UFMG, um vai dando lugar ao outro e a Rede Globo, seguida das suas pequenas amiguinhas, se esbalda com a dor alheia, porque já que dói em mim só de ficar sabendo, imaginem a dor das famílias, tanto do assassinado quanto do assassino, a vergonha, o desespero, a raiva, o desejo de vingança. É uma pena que se torne normal viver em guerra.
Aqui do outro lado as novidades são muitas, todos os dias. Eu vim pra cá com dois pares de tênis, duas jaquetas, uns jeans e achei que era isso mesmo. O problema foi que no verão minhas jaquetas já apresentavam algumas falhas no quesito me manter quentinha. Deixa estar, pensei, se bobear esse tempinho vai perdurar até dezembro, quando, de acordo com os seres locais, faz frio pra canário nenhum botar defeito. Pensem comigo: estamos em outubro, certo? OUTUBRO!!! Não se assustem quando eu contar pra vocês que NEVOU AQUI ONTEM!!! EU VI!!! ATÉ TIREI FOTO!!! Sinceramente, foi a coisa mais surreal que já me ocorreu - e vocês sabem que são tantas que não estão no gibi... Sem palavras. Começou a chover granizo, e já foi impressionante, porque aconteceu de uma hora pra outra e foi muito forte - o jardim da minha casa ficou cheio de pedrinhas, e o teto da cozinha, que é transparente, ficou todo coberto. Como se não bastasse, poucas horas depois, a Renata, com quem eu moro, me chamou pra ver a NEVE! Que isso, gente, eu aqui no meio de outubro, me esforçando pra sobreviver, não reclamando muito do frio pra ninguém achar que eu vim da roça ou que estou reclamando à toa, já que no dia em que comentei de leve com um polonês que o ventinho tava bem friinho, ele me lançou um "na Polônia a temperatura média num período relativamente frio é menos vinte". Quase que eu falei "pois é, meu filho, é por isso que eu nasci no Brasil e vc na geladeira, né?". Então agora acho que vocês vão conseguir imaginar a situação aqui. Ou como diria meu ilustríssimo amigo Fabricets Paragoncélis, situaçãaaaaaaaaaaaao! O mais frio que eu já tinha experimentado foi o frio do Retiro antes de ficar bêbada e sem roupas apropriadas... Só me tranquilizei um pouco ao ver que TODO MUNDO aqui tá empacotado também. É mais ou menos assim: nós, seres europeus, estamos acostumados ao frio e a sentir frio e a evitar o frio também. Que graça tem isso afinal?
Agora preciso contar pra vocês minhas primeiras impressões do trânsito aqui. Começo dizendo que não é um lugar onde um membro da BHTrans gostaria de passar as férias. O trânsito aqui é chocante! E quando digo isso, não pensem que é só porque a mão de toda a cidade é contrária e que por isso tem escrito no chão LOOK LEFT ou LOOK RIGHT ou LOOK BOTH WAYS. Já tinha contado pra vocês que quase fui atropelada várias vezes nas primeiras semanas. Não, gente, simplesmente eu descobri algumas coisas surpreendentes que mudaram minha vida. Pra começar, se você estiver dirigindo em um lado de uma via de mão dupla e vir uma vaga do outro lado, vc simplesmente diz: OBA! e estaciona lá. Simples assim, na contra-mão total. Acho que até contei que quando eu fazia isso em BH o Bruno ficava frenético, né? Aqui pode, lindo! As chamadas baianadas são a lei do trânsito local, e não existe nem buzina pra quem faz aqueles famosos balões no meio de vias congestionadas - na verdade a galera até tenta se espremer pra dar um espaço pro pobre coitado que só quer ir pra lá, uai, o que é que tem? Acho que a grande maioria das ruas é muito estreita, e os ônibus passam chutando a barraca e o pau, a velhinha e o chapado, e as bicicletas passam junto com os ônibus, e as motos passam as bicicletas, e os tx passam frenéticos, ah, esqueci de dizer - todos esses veículos trafegam pela mesma via, chamada BUS LANE, principalmente quando o trânsito tá bravo, ou seja, sempre. Todo mundo dirige frenético e você é só um tomatinho com uma placa escrito "por favor me exploda". As pessoas usam o meio-fio pra estacionar, sem exceção, pra vocês não ficarem pensando que isso só se aplica às donas de casa e aos maiores de 60 anos. A grande maioria da população ainda não foi apresentada ao termo "baliza". Como boa observadora que sou, tive um insight: ENTÃO É POR ISSO QUE TODO MEIO-FIO AQUI É PEQUENO! A galera tem preguiça até de estacionar o carro! Mas também com esse frio aliado à gorda ajuda do governo, não dá pra culpá-los, né mes? Como se não bastasse, estou eu voltando pra casa, passando pela mesma rua por onde passo todos os dias, quando vejo um carro estacionado com a metade no passeio. Pensei com meus botões, natural... olhei o de trás: do mesmo jeito. Olhei pra frente e vi que todos os carros estavam com a metade em cima do passeio, que já é minúsculo. Aí é que vem o melhor: olhei pro chão e vi que os pontilhados marcando a área de estacionamento só delimitavam o espaço pra MEIO carro, obrigando os motoristas a estacionarem no passeio. Em outras palavras, se a metade do carro não ficar no passeio, você pode ser multado porque estará ultrapassando a área de estacionamento, criada pelo órgão local de trânsito, ao perceber que a via estava muito estreita para o fluxo! Vou ver se mando uma foto só pra vocês verem que é verdade, porque falando ninguém acredita...
E falando em multa, acreditam que eu fui multada aqui??? Quando eu digo pra vocês que acontecem coisas surreais comigo, podem crer, galera! Ah, mas isso é história pra outra história.
Espero que se divirtam - e hasta lo próximo episódio!!!
Capítulo 10 - O tempo, o trânsito...???!!!
Gente,
Antes de começar mais um relato de aventuras, gostaria de saber que putaria é essa que está acontecendo na minha cidade linda e querida, da qual tenho muito orgulho, mesmo que as pessoas aqui nem saibam pronunciar o nome. Que história é essa de "gente cuidando de gente", como é que tantos dos meus conterrâneos compraram esse peixe podre que tá cheirando aqui do outro lado??? Nem conheço o outro, mas pelamordideus, gente, esse tá pior que o nosso amigo collorido - façam-me o favor de enxotar essa figura pitoresca rapidamente - tô com vergonha por ele, já que pelo visto ele não tem nenhuma. Como meu jargão do momento é "volta pro mar, oferenda!", mandem ele de volta pra Ipatinga, pra brincar de Banco Imobiliário com papai.
Também acompanhei pelo youtube a atrocidade do momento, o sequestro da menina que acabou em morte, mais uma evidência do despreparo misturado à falta de noção de nossa polícia e autoridades. Mas esse massacre da mídia, dilacerando o coração dos familiares e amigos, sugando cada gota de desgosto e desespero, só vai durar até a próxima calamidade, não é mesmo? A Suzana que matou os pais, o cara que matou a avó, o João Hélio, a Isabela, o maníaco do parque, Fernandinho Boa-Vida-Beira-Mar, as mulheres desaparecidas na UFMG, um vai dando lugar ao outro e a Rede Globo, seguida das suas pequenas amiguinhas, se esbalda com a dor alheia, porque já que dói em mim só de ficar sabendo, imaginem a dor das famílias, tanto do assassinado quanto do assassino, a vergonha, o desespero, a raiva, o desejo de vingança. É uma pena que se torne normal viver em guerra.
Aqui do outro lado as novidades são muitas, todos os dias. Eu vim pra cá com dois pares de tênis, duas jaquetas, uns jeans e achei que era isso mesmo. O problema foi que no verão minhas jaquetas já apresentavam algumas falhas no quesito me manter quentinha. Deixa estar, pensei, se bobear esse tempinho vai perdurar até dezembro, quando, de acordo com os seres locais, faz frio pra canário nenhum botar defeito. Pensem comigo: estamos em outubro, certo? OUTUBRO!!! Não se assustem quando eu contar pra vocês que NEVOU AQUI ONTEM!!! EU VI!!! ATÉ TIREI FOTO!!! Sinceramente, foi a coisa mais surreal que já me ocorreu - e vocês sabem que são tantas que não estão no gibi... Sem palavras. Começou a chover granizo, e já foi impressionante, porque aconteceu de uma hora pra outra e foi muito forte - o jardim da minha casa ficou cheio de pedrinhas, e o teto da cozinha, que é transparente, ficou todo coberto. Como se não bastasse, poucas horas depois, a Renata, com quem eu moro, me chamou pra ver a NEVE! Que isso, gente, eu aqui no meio de outubro, me esforçando pra sobreviver, não reclamando muito do frio pra ninguém achar que eu vim da roça ou que estou reclamando à toa, já que no dia em que comentei de leve com um polonês que o ventinho tava bem friinho, ele me lançou um "na Polônia a temperatura média num período relativamente frio é menos vinte". Quase que eu falei "pois é, meu filho, é por isso que eu nasci no Brasil e vc na geladeira, né?". Então agora acho que vocês vão conseguir imaginar a situação aqui. Ou como diria meu ilustríssimo amigo Fabricets Paragoncélis, situaçãaaaaaaaaaaaao! O mais frio que eu já tinha experimentado foi o frio do Retiro antes de ficar bêbada e sem roupas apropriadas... Só me tranquilizei um pouco ao ver que TODO MUNDO aqui tá empacotado também. É mais ou menos assim: nós, seres europeus, estamos acostumados ao frio e a sentir frio e a evitar o frio também. Que graça tem isso afinal?
Agora preciso contar pra vocês minhas primeiras impressões do trânsito aqui. Começo dizendo que não é um lugar onde um membro da BHTrans gostaria de passar as férias. O trânsito aqui é chocante! E quando digo isso, não pensem que é só porque a mão de toda a cidade é contrária e que por isso tem escrito no chão LOOK LEFT ou LOOK RIGHT ou LOOK BOTH WAYS. Já tinha contado pra vocês que quase fui atropelada várias vezes nas primeiras semanas. Não, gente, simplesmente eu descobri algumas coisas surpreendentes que mudaram minha vida. Pra começar, se você estiver dirigindo em um lado de uma via de mão dupla e vir uma vaga do outro lado, vc simplesmente diz: OBA! e estaciona lá. Simples assim, na contra-mão total. Acho que até contei que quando eu fazia isso em BH o Bruno ficava frenético, né? Aqui pode, lindo! As chamadas baianadas são a lei do trânsito local, e não existe nem buzina pra quem faz aqueles famosos balões no meio de vias congestionadas - na verdade a galera até tenta se espremer pra dar um espaço pro pobre coitado que só quer ir pra lá, uai, o que é que tem? Acho que a grande maioria das ruas é muito estreita, e os ônibus passam chutando a barraca e o pau, a velhinha e o chapado, e as bicicletas passam junto com os ônibus, e as motos passam as bicicletas, e os tx passam frenéticos, ah, esqueci de dizer - todos esses veículos trafegam pela mesma via, chamada BUS LANE, principalmente quando o trânsito tá bravo, ou seja, sempre. Todo mundo dirige frenético e você é só um tomatinho com uma placa escrito "por favor me exploda". As pessoas usam o meio-fio pra estacionar, sem exceção, pra vocês não ficarem pensando que isso só se aplica às donas de casa e aos maiores de 60 anos. A grande maioria da população ainda não foi apresentada ao termo "baliza". Como boa observadora que sou, tive um insight: ENTÃO É POR ISSO QUE TODO MEIO-FIO AQUI É PEQUENO! A galera tem preguiça até de estacionar o carro! Mas também com esse frio aliado à gorda ajuda do governo, não dá pra culpá-los, né mes? Como se não bastasse, estou eu voltando pra casa, passando pela mesma rua por onde passo todos os dias, quando vejo um carro estacionado com a metade no passeio. Pensei com meus botões, natural... olhei o de trás: do mesmo jeito. Olhei pra frente e vi que todos os carros estavam com a metade em cima do passeio, que já é minúsculo. Aí é que vem o melhor: olhei pro chão e vi que os pontilhados marcando a área de estacionamento só delimitavam o espaço pra MEIO carro, obrigando os motoristas a estacionarem no passeio. Em outras palavras, se a metade do carro não ficar no passeio, você pode ser multado porque estará ultrapassando a área de estacionamento, criada pelo órgão local de trânsito, ao perceber que a via estava muito estreita para o fluxo! Vou ver se mando uma foto só pra vocês verem que é verdade, porque falando ninguém acredita...
E falando em multa, acreditam que eu fui multada aqui??? Quando eu digo pra vocês que acontecem coisas surreais comigo, podem crer, galera! Ah, mas isso é história pra outra história.
Espero que se divirtam - e hasta lo próximo episódio!!!
Antes de começar mais um relato de aventuras, gostaria de saber que putaria é essa que está acontecendo na minha cidade linda e querida, da qual tenho muito orgulho, mesmo que as pessoas aqui nem saibam pronunciar o nome. Que história é essa de "gente cuidando de gente", como é que tantos dos meus conterrâneos compraram esse peixe podre que tá cheirando aqui do outro lado??? Nem conheço o outro, mas pelamordideus, gente, esse tá pior que o nosso amigo collorido - façam-me o favor de enxotar essa figura pitoresca rapidamente - tô com vergonha por ele, já que pelo visto ele não tem nenhuma. Como meu jargão do momento é "volta pro mar, oferenda!", mandem ele de volta pra Ipatinga, pra brincar de Banco Imobiliário com papai.
Também acompanhei pelo youtube a atrocidade do momento, o sequestro da menina que acabou em morte, mais uma evidência do despreparo misturado à falta de noção de nossa polícia e autoridades. Mas esse massacre da mídia, dilacerando o coração dos familiares e amigos, sugando cada gota de desgosto e desespero, só vai durar até a próxima calamidade, não é mesmo? A Suzana que matou os pais, o cara que matou a avó, o João Hélio, a Isabela, o maníaco do parque, Fernandinho Boa-Vida-Beira-Mar, as mulheres desaparecidas na UFMG, um vai dando lugar ao outro e a Rede Globo, seguida das suas pequenas amiguinhas, se esbalda com a dor alheia, porque já que dói em mim só de ficar sabendo, imaginem a dor das famílias, tanto do assassinado quanto do assassino, a vergonha, o desespero, a raiva, o desejo de vingança. É uma pena que se torne normal viver em guerra.
Aqui do outro lado as novidades são muitas, todos os dias. Eu vim pra cá com dois pares de tênis, duas jaquetas, uns jeans e achei que era isso mesmo. O problema foi que no verão minhas jaquetas já apresentavam algumas falhas no quesito me manter quentinha. Deixa estar, pensei, se bobear esse tempinho vai perdurar até dezembro, quando, de acordo com os seres locais, faz frio pra canário nenhum botar defeito. Pensem comigo: estamos em outubro, certo? OUTUBRO!!! Não se assustem quando eu contar pra vocês que NEVOU AQUI ONTEM!!! EU VI!!! ATÉ TIREI FOTO!!! Sinceramente, foi a coisa mais surreal que já me ocorreu - e vocês sabem que são tantas que não estão no gibi... Sem palavras. Começou a chover granizo, e já foi impressionante, porque aconteceu de uma hora pra outra e foi muito forte - o jardim da minha casa ficou cheio de pedrinhas, e o teto da cozinha, que é transparente, ficou todo coberto. Como se não bastasse, poucas horas depois, a Renata, com quem eu moro, me chamou pra ver a NEVE! Que isso, gente, eu aqui no meio de outubro, me esforçando pra sobreviver, não reclamando muito do frio pra ninguém achar que eu vim da roça ou que estou reclamando à toa, já que no dia em que comentei de leve com um polonês que o ventinho tava bem friinho, ele me lançou um "na Polônia a temperatura média num período relativamente frio é menos vinte". Quase que eu falei "pois é, meu filho, é por isso que eu nasci no Brasil e vc na geladeira, né?". Então agora acho que vocês vão conseguir imaginar a situação aqui. Ou como diria meu ilustríssimo amigo Fabricets Paragoncélis, situaçãaaaaaaaaaaaao! O mais frio que eu já tinha experimentado foi o frio do Retiro antes de ficar bêbada e sem roupas apropriadas... Só me tranquilizei um pouco ao ver que TODO MUNDO aqui tá empacotado também. É mais ou menos assim: nós, seres europeus, estamos acostumados ao frio e a sentir frio e a evitar o frio também. Que graça tem isso afinal?
Agora preciso contar pra vocês minhas primeiras impressões do trânsito aqui. Começo dizendo que não é um lugar onde um membro da BHTrans gostaria de passar as férias. O trânsito aqui é chocante! E quando digo isso, não pensem que é só porque a mão de toda a cidade é contrária e que por isso tem escrito no chão LOOK LEFT ou LOOK RIGHT ou LOOK BOTH WAYS. Já tinha contado pra vocês que quase fui atropelada várias vezes nas primeiras semanas. Não, gente, simplesmente eu descobri algumas coisas surpreendentes que mudaram minha vida. Pra começar, se você estiver dirigindo em um lado de uma via de mão dupla e vir uma vaga do outro lado, vc simplesmente diz: OBA! e estaciona lá. Simples assim, na contra-mão total. Acho que até contei que quando eu fazia isso em BH o Bruno ficava frenético, né? Aqui pode, lindo! As chamadas baianadas são a lei do trânsito local, e não existe nem buzina pra quem faz aqueles famosos balões no meio de vias congestionadas - na verdade a galera até tenta se espremer pra dar um espaço pro pobre coitado que só quer ir pra lá, uai, o que é que tem? Acho que a grande maioria das ruas é muito estreita, e os ônibus passam chutando a barraca e o pau, a velhinha e o chapado, e as bicicletas passam junto com os ônibus, e as motos passam as bicicletas, e os tx passam frenéticos, ah, esqueci de dizer - todos esses veículos trafegam pela mesma via, chamada BUS LANE, principalmente quando o trânsito tá bravo, ou seja, sempre. Todo mundo dirige frenético e você é só um tomatinho com uma placa escrito "por favor me exploda". As pessoas usam o meio-fio pra estacionar, sem exceção, pra vocês não ficarem pensando que isso só se aplica às donas de casa e aos maiores de 60 anos. A grande maioria da população ainda não foi apresentada ao termo "baliza". Como boa observadora que sou, tive um insight: ENTÃO É POR ISSO QUE TODO MEIO-FIO AQUI É PEQUENO! A galera tem preguiça até de estacionar o carro! Mas também com esse frio aliado à gorda ajuda do governo, não dá pra culpá-los, né mes? Como se não bastasse, estou eu voltando pra casa, passando pela mesma rua por onde passo todos os dias, quando vejo um carro estacionado com a metade no passeio. Pensei com meus botões, natural... olhei o de trás: do mesmo jeito. Olhei pra frente e vi que todos os carros estavam com a metade em cima do passeio, que já é minúsculo. Aí é que vem o melhor: olhei pro chão e vi que os pontilhados marcando a área de estacionamento só delimitavam o espaço pra MEIO carro, obrigando os motoristas a estacionarem no passeio. Em outras palavras, se a metade do carro não ficar no passeio, você pode ser multado porque estará ultrapassando a área de estacionamento, criada pelo órgão local de trânsito, ao perceber que a via estava muito estreita para o fluxo! Vou ver se mando uma foto só pra vocês verem que é verdade, porque falando ninguém acredita...
E falando em multa, acreditam que eu fui multada aqui??? Quando eu digo pra vocês que acontecem coisas surreais comigo, podem crer, galera! Ah, mas isso é história pra outra história.
Espero que se divirtam - e hasta lo próximo episódio!!!
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