sábado, 24 de outubro de 2009

Guarda-sol

Tem dias em que fico cansada. De tudo. Até de abrir o olho. Olho em volta e não há nada que possa me trazer felicidade. Como viver cansa... Fazer a mesma coisa, tirar o mesmo sonho da gaveta todos os dias e guardá-lo no lugar quando escurece. Tem dias em que até o inesperado cansa. Incomoda não saber o que vai acontecer daqui a pouco, é entediante saber. E as formiguinhas vão marchando ladeira abaixo... Tem dias em que eu me sinto a lebre que aposta corrida com a tartauga. Já fui tão longe que às vezes me dá vontade de voltar. De parar. De chorar. De dormir e não mais acordar. Como a vida me amolece... Se não existisse a Praça do Papa, não sei o que seria de mim! Nunca serei a tartaruga, a formiga que trabalha enquanto a cigarra canta, por uma simples questão de natureza. A minha me condena a um universo de magia, imaginação, poesia, sonho, canção, que mora dentro de uma caixinha de música com hora para abrir e fechar. Tem dias em que estou tão cansada que não consigo esperar pela hora de vê-la se abrir. Diferente de Little Hans, tenho consciência do que acontece. Lutar contra as coisas também cansa, pensar cansa muito, decidir esgota as energias. Ao meu redor tudo segue - as tartarugas se aproximam a passos lentos e constantes do mercado de trabalho. As formigas cantam e levam coisinhas sem parar, maquinalmente, para suas casas - fazem a contabilidade mensal e trabalham com planilhas domésticas de controle financeiro. As abelhas vendem o mel e premiam seu staff com uma gorda participação nos lucros. Enquanto isso o tempo passa, e meu coração sem querer endurece.

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