Era uma vez uma menina que queria achar a chave pra tudo. Descobriu que a chave estava num lugar muito pertinho dela e ficou frustrada por ter demorado a descobrir. Num ímpeto, jogou a dita cuja pra lá de onde jamais se acha alguma coisa e foi dormir. Sonhou com travesseiros, lagartixas e um olho bem grande parado no meio do sonho, escancarado, olhando pra ela. Fez uma força muito grande pra fechar o olhão sinistro, mas ele estava preso a uma tomada e, na confusão, se soltou. Depois desse dia ela tentou me convencer de que sua vida está bem melhor, de que ela agora sabe da verdade. Eu a vejo falar sozinha e acho engraçado; os médicos acham patológico; os pais acham louco. Ela vive hoje em um local isolado. Ela fala comigo, ela me conhece, como isso pode ser louco? Como se enxerga a loucura, como se mede? Gosta de flores e coelhos, nunca fez mal a nenhum dos dois. Se ela é calma, por que remédios para ansiedade? Se ela é feliz consigo mesma, por que remédios para depressão? As pessoas não a compreendem. Linda, doce... e só. Tudo que ela queria era achar a chave para si. Soube um belo dia que a chave para si a separava do mundo. Não teve medo, não havia o que perder. Vive longe dos homens, mas depende deles para as coisas mais mundanas. Não se dá conta. É amada por alguém que não importa, coloca roupas que independem da hora certa. Vive sem estado civil, sem bandeira. Dorme e acorda. Há muito tempo deixou de sonhar. Conversa com os caracóis dos seus longos cabelos, e isso lhe basta. Como seria se isso bastasse pra você? Um pouco louco, né? Não se acanhe! É assim que a banda toca...
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