Ontem eu cantei depois de muito tempo. Foi despretensioso, foi gostoso... singular. Um pouco peculiar, é verdade, mas de um jeito estranho o universo parece conspirar para que o microfone caia na minha mão. Ontem eu respirei e peguei o tom sem saber explicar nada, sem estudo algum, quase sem educação. Meu corpo sorriu, minha cabeça voou longe, meu coração derramou cada uma daquelas doces palavras, de Chico, de Paulinho, de Cartola... Não é que o samba é a coisa mais bonita desse mundo? Minha boca se abriu sem eu pedir, e dela saíram os versos mágicos que embalam a cadência bonita. Demais. É engraçado como meu organismo reage ao absorver boa música. Me imagino como um daqueles personagens de desenho animado, que sentem um cheiro gostoso ou vêem alguém muito interessante e começam a flutuar naquela direção. Num instante estou lá, pentelhando os músicos. Não quero só ouvir, preciso participar, fico querendo cantar. Quase que desesperadamente. E quando o microfone cai na minha mão, ah! Sinto que minha vida está resolvida, meu segredo descoberto: é como se tivesse vindo ao mundo só pra viver de poesia, pra cantar a poesia... pra fazer isso e aquilo.
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