O grito... o grito persiste, meio rouco, meio alucinado, reacionário sem revolução. Chove pelos olhos, janelas da alma, sai em marimbondos, palavras ferrenhas, pela boca que cansou de bendizer. Quem foi que disse que seria fácil assistir de camarote aos nossos desencontros de credo, raça, raiz, de plástico ou de borracha, de pai e mãe e aquele manual de como não ter medo do escuro, como fazer mais amigos, como suportar... Ai que suportar ferroa, arde, e a gente sai zombeteando pelo escuro incerto, pensando em que momento o sol vai nascer e trazer com ele a paz – a igualdade – a justiça – o entendimento – a calma, o dom inestimável da resignação. Acho que no momento da multiplicação das lições de vida, algumas palavras se perderam num sopro (aquelas que amansam, amaciam), e o que sobrou ficou meio duro, puro desalento. Pela janela indiscreta do pensamento passam cobras e lagartos a todo momento – provas da sua pouca fé. Sim, porque hoje começou com intempéries, turbulências, desventuras em série e vai terminar com cansaço bom, senso de propósito, fichas caindo como sementes maduras em solo fértil, arado demais. O afeto... o afeto me persegue como Pepe Le Pew, me encontra nos recônditos das minhas bad vibes e revira tudo, sacode, abre a janela, me traz um café. Olho para as fotos que me cercam enquanto escrevo essas linhas e digo pra mim mesma: não sei, não consigo, não entendo, mas hoje é preciso gritar que o afeto venceu.
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