domingo, 28 de novembro de 2010

Papai Noel

Eu achava que você era um cara legal. Sério. Via em você a concepção do sujeito bom, que de peito aberto encarava os leões, cobras e lagartos espalhados pelo seu dia. Aos vinte e tantos anos encontrou-se às voltas com seu destino - pediu duas cervejas e teve com ele uma longa conversa de pai para filho. Desapontou-se com a descoberta de que o pai era mesmo você, não havia dúvidas. Tomou então uma decisão importante, que mudaria o curso de tudo: abdicou do conforto mundano para ouvir sua essência. Era hora de exercer o dom de ajudar - hora de salvar o mundo...
Se a gente parar por aqui, há duas interpretações importantes:
1) Sua ingenuidade chega a ser bonita;
2) Não importa quão maltraçado seu caminho estiver, não importa em que momento você se perdeu - tudo é uma questão de palavra, e palavra não volta atrás.
Esses dias estava dirigindo pela cidade e me surpreendi com a quantidade de cores novas e interessantes dos carros de agora. Comentei com meu marido e ele calmamente me pediu que tirasse os óculos escuros. Senti um frio na barriga ao perceber que as cores eram as mesmas de sempre, sem brilho especial ou novidade alguma. Achei que você era um cara legal, mas tive que tirar os óculos por um breve instante. Mesmo que isso não te interesse, agora não acho mais.

2 comentários:

  1. Quem é este homem? Ou são todos iguais.

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  2. Um herói de guerra ou um santo beatificado; um sonhador, um revolucionário, um amigo antigo, o cara aí ao lado - esse homem não tem sequer o privilégio da exclusividade. Há sempre muita gente querendo dar uma de Papai Noel.

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