Éramos três e caminhávamos aflitas por uma estrada desconhecida. Eram quatro e vinte da tarde e o sol já não brilhava mais. Era um dia bege sem nuvens, e eu atravessava preocupada todas as conjugações do verbo ser sem saber se era ou se estava. Esperava por alguém que pudesse me salvar de mim mesma. Éramos três - eu, a dor e a consciência - e tentávamos em vão chegar a algum lugar sem que soubéssemos o endereço. Acreditávamos no rumo impenetrável dos destinos. A dor gerava energia; a consciência gerava dor. Caminhamos assim por um bom tempo, caladas, dependentes, unidas pela necessidade de um foco. Sentei-me em um velho banco de praça, tão empoeirado quanto velhos amigos e doces lembranças. A dor não quis sentar-se. Fiz um grande esforço e sorri - ela não resistiu e se foi, ofendida. Peguei a consciência pela mão. Estava fria, trêmula; tinha medo do que viria depois. Com calma, consegui convencê-la a produzir outra coisa que não o erro, impregnado de náusea e pecado, tristeza e julgamento. Inicialmente ela fechou os olhos, descrente, como um pai de família que perde o emprego após trinta anos de serviços prestados e não acha que pode fazer outra coisa. Dei-lhe força, e disse-lhe com todas as letras que cada um de nós poderia ser o que quisesse. Só então, meio sem como ou por quê, percebi que acreditava naquela frase. Minha amiga sorriu e cedeu-me o colo. Com suas mãos suaves afagou-me os cabelos. Começou a me explicar que esse era um exercício diário... A noite caiu e me cobriu com seu manto de estrelas; adormeci sem saber como terminava o conselho.
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