Outro dia tive um sonho engraçado: sonhei que meu coração tinha sido alugado. Uma coisa mais ou menos assim: o proprietário não poderia cuidar dele por um tempo, e estava prestes a trancar a porta, sair e deixá-lo fechado quando um inquilino apareceu. Havia muito interesse na compra definitiva, mas tal opção não era do interesse de mais ninguém. Assim, ficou acertado: o inquilino se dispôs a cuidar bem do coração por um período limitado mas desconhecido; em troca, passaria a habitá-lo. Por algum tempo, o coração bateu saudável - parecia ter finalmente sido domado. Comia, bebia e acabou por render-se aliviado. Ninguém pode dizer que o coração foi maltratado; pelo contrário, dia após dia foi limpo, acarinhado, bem-quisto e bem alimentado. O problema foi um só: após muitos dias e tantas noites, a comida não matou mais a fome; a bebida não matou mais a sede. O inquilino, preocupado, vendo que o coração murchava a olhos vistos, disse numa manhã de céu estrelado: Você está assim desanimado porque sabe agora que o amor não é filme bonito com príncipe, entrega e destino traçado. Fiquei brava, depois triste. Concluí que o coração deveria ficar um pouco vazio, para respirar e viver outras histórias recheadas de alimento certo. O proprietário concordou, deu-me o tempo necessário para aventurar-me pelas estradas da vida enquanto resolvia as pendências da sua, que não devem demorar a cessar. Um dia ele volta. Nesse dia eu espero parar de sonhar.
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