Quando
penso em escrever uma carta de amor, sempre vem à cabeça um príncipe encantado,
um amor louco de tão idealizado, uma pessoa que, para ser digna de evocar
sentimentos tão genuínos, deve, no mínimo, não existir. E lá se vai aquele
arsenal de caricaturas, superhomens e taylor-made jackets que caem bem em dias
de sol e de chuva a passear pelas minhas fantasias, a despertar suspiros
sôfregos e dores em lugares que não conhecia, necessidades que não sabia que
tinha. Compõem essa lista tipos clássicos: o badboy complicado, o idealista
perdido, o atleta humanizado, o gringo que te canta em outra língua e traz
consigo todos os mistérios de um mundo certamente mais velho que o seu... e
aquele cara que quando teve a chance não compareceu. Pra todos eles há um
presente inventado, uma vida cheia de beleza e emoção que geralmente passa
longe de ser verdade; para nós, um hoje que transforma o que passou em
carneirinhos a serem contados e o amanhã em sonho com cara de programa frustrado. Como
é difícil admitir que se ama alguém que te merece! Parece que não é justo,
que o livro acabou e você estará fadada pra sempre a esse final. Mas afinal o que há de errado com o "que seja infinito
enquanto dure"? Talvez um dia eu descubra o por quê de tanto medo. Acho que uma carta de amor à altura dos meus objetos de fascínio superestimados tinha que começar assim: 'Desde que você se foi me pergunto por que... não foi antes. Quanto você cobra pra assombrar uma casa de três quartos, sala, copa, banheiro e cozinha?' Enquanto ela não sai, agradeço a todos os personagens dos meus contos e poemas,
que de alguma forma deixaram que eu vivesse uma história sem cortes e sem
censura, cheia de verdades e dilemas, pra chamar de minha.
Nota: amar alguém que te merece é geralmente confundido com amar alguém PORQUE essa pessoa te merece - é bem mais fácil dar uma medalha a quem ganhou a corrida, não é? Vale lembrar que, em se tratando de amor, a praticidade mandou um abraço lá de longe...
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